06 Setembro 2023 | Yuri Codogno
O2 Play comemora uma década de existência: "estou empolgado pelos próximos dez anos"
Distribuidora será uma das três homenageadas na 10ª edição da Expocine
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Em 2023, a O2 Play está celebrando dez anos desde sua fundação, comemoração essa que vem acompanhada de incontáveis momentos marcantes e de grandes lançamentos para as telonas. Além disso, a distribuidora será uma das três homenageadas na 10ª edição da Expocine, principal evento do mercado de cinema da América Latina e que acontece entre os dias 3 e 6 de outubro em São Paulo.
Até o momento, a distribuidora lançou esse ano os nacionais Raquel 1:1, O Homem Cordial, Brichos 3 - Megavirus, Môa - Razi Afro Mãe, As Quatro Irmãs e Urubus, além dos internacionais, em parceria com a MUBI, Holy Spider, Close, Os Cinco Diabos, Medusa Deluxe e Passagens. E agora em setembro a O2 Play está prestes a estrear, também em parceria com a MUBI, o média-metragem Estranha Forma de Vida (14/09) e, na semana seguinte, o documentário Elis & Tom, só tinha de ser com você.
Mas não para por aí. “Fico empolgado com as possibilidades de filmes novos que nós temos com a MUBI, como outros que estamos negociando e queremos muito em breve anunciar. Inclusive espero na Expocine poder falar mais sobre isso”, revelou Igor Kupstas, diretor da O2 Play, que cedeu entrevista exclusiva ao Portal Exibidor para falar sobre os dez anos da distribuidora.
A transcrição da conversa na íntegra pode ser lida ao final desta matéria.
“Começar já foi um marco, porque começar uma distribuidora dentro de um grupo que já tinha outras empresas foi uma coisa muito legal. Nossos três primeiros filmes são projetos que trabalhei muito, e até muito sozinho neles, porque a O2 Play começou bem embrionária, então foi Cidade Cinza, Latitudes e Junho - O Mês que Abalou o Brasil. E muito no começo também consegui um contrato com a Apple para a gente entregar conteúdos no iTunes”, ressaltou Igor, explicando como sentiu que estava indo pelo caminho certo.
Dez anos depois, entre filmes internacionais, nacionais e séries, a O2 Play possui mais de 70 produções distribuídas no currículo. Entretanto, Igor enxerga que não sente que passou uma década, muito por conta de não ser um trabalho repetitivo: “Pelo contrário, estou empolgado pelos próximos dez anos. Mais coisa vai acontecer, vai mudar, mais desafio, mais possibilidades e acho isso vivo. As dificuldades fazem parte da rotina… se você não tiver dificuldade você não está vivo. Fico feliz com a gente ter conseguido passar esses dez anos tendo mais vitórias do que derrotas”.
Mas Igor também destacou alguns empecilhos enfrentados nos últimos anos, como a pandemia, a eleição de Bolsonaro e todas as consequência de ambos os fatos, como cinemas fechados por um ano (e por mais um ano funcionando de maneira parcial) e a ausência de filmes, especialmente nacionais, em cartaz. Além disso, há a questão de como houve mudanças no status quo das pessoas, modificando seus costumes e afins.
“As pessoas precisam comer todo dia, mas não precisam ir ao cinema todo dia. É uma atividade que ao mesmo tempo é essencial para a vida, mas em momento de crise, você corta, se adapta, se distrai no YouTube ao invés de sair de casa. Então novas tecnologias mudam tudo que fazemos, uma nova situação muda como fazer, uma nova economia muda como se faz, consome e gasta”, explicou Igor.
Entre os desafios, o executivo também detalhou cronologicamente quais foram os maiores, começando por iniciar a empresa e conectá-la à cultura do grupo O2. Depois, conseguir os primeiros produtores, filmes e construir uma equipe de qualidade, assim como conhecer como atuar junto aos órgãos públicos e também começar o movimento de trabalhar junto aos streamings, um diferencial que a O2 Play trouxe ao mercado.
Esse é um ponto, aliás, que merece destaque, visto que a parceria começou com a Netflix, quando a empresa quis lançar O Irlandês e Dois Papas nos cinemas. “De repente, tinha na minha mão um filme do Martin Scorsese com o Robert De Niro e Al Pacino e o filme do Fernando Meirelles com o Anthony Hopkins para lançar em cinema. A parte mais gostosa foi ver o público indo na sala. Então, como fã de cinema, foi um prazer e sensacional para mim trabalhar um filme do Scorsese e, como fã de cinema, foi sensacional entender o que já achava na prática”, disse Igor, ressaltando que para ele era óbvio que as pessoas iriam querer assistir a esses filmes nas telonas, mesmo sabendo que rapidamente estariam na Netflix.
O resultado é a história que sabemos: a O2 Play ficou conhecida não apenas pelos seus trabalhos com filmes nacionais, mas também pelas obras internacionais que traz ao cinema - nos últimos anos especialmente em uma forte parceria com a MUBI. Inclusive, você pode ler sobre Igor comemorando o sucesso de Aftersun nos cinemas nacionais, em que conseguiu se sustentar por dez semanas em cartaz, vender 50 mil ingressos e arrecadar mais de R$ 1 milhão apenas com esse filme.
Por fim, Igor também destacou que fica contente em saber que, este ano, a homenagem da Expocine aos distribuidores foi dividida em três empresas que comemoram uma década em 2023: “Fiquei feliz de ver essa homenagem de dez anos para as três companhias [H2O Films e Diamond FIlms, que terá sua entrevista publicada em duas semanas], porque esse mercado não é tão grande. A gente se conhece, colabora, compete, se ajuda, às vezes briga, mas isso é muito saudável. Que bom que os três estão aí e ninguém faz nada sozinho. É muito poderoso lembrarmos que o cinema é coletivo. Não só na produção, ele é coletivo na distribuição, na hora de marcar no cinema, no exibidor, somos tudo parceiro. E quando vai bem, vai bem para todo mundo”.
CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:
Como surgiu a iniciativa de criar a O2 Play?
A O2 Play surgiu quando o Paulo Barcellos, que era diretor da O2, me apresentou o Paulo Morelli, um dos sócios da O2, porque o Paulo Morelli tinha uma ideia de criar uma plataforma de streaming para filmes brasileiros antigos e eles estavam interessados nesse ambiente de streaming que começava.
Paralelamente a isso, o mercado também estava animado com as possibilidades do Fundo Setorial e eles também tinham, de certa forma, um desejo de criar uma distribuidora. Então fiz um projeto para o Paulo Morelli e para o Paulo Barcellos, que depois apresentei para os sócios todos, para o Fernando Meirelles e para a Andréa Barata Ribeiro, do que achava que tínhamos que fazer. Assim: “olha, acho que essa distribuidora pode ser uma distribuidora que trabalha do cinema ao digital” e defendi, em um primeiro momento, que a O2 não fizesse a sua plataforma de streaming, que era uma coisa que na época era muito cara, e se tornasse um agregador, com a gente representando os filmes para outras plataformas.
Eles já tinham 20 anos de produtora, de finalizadora, então eles sabiam trabalhar arquivos digitais, sabiam trabalhar vídeo e aí apresentei o projeto da O2 Play, que para mim seria essa distribuidora que trabalharia do cinema ao digital e seria esse elemento de agregador também de filmes para o vídeo on demand como uma coisa forte. E essa foi a origem.
Quais foram os marcos iniciais da distribuidora?
Começar, para mim, já foi um marco, porque começar uma distribuidora dentro de um grupo que já tinha outras empresas foi uma coisa muito legal, então entender como é que é ter uma iniciativa que se conecta lá dentro. Os primeiros filmes foram coisas importantes para nós. Nossos três primeiros filmes são projetos que trabalhei muito, e até muito sozinho neles, porque O2 Play começou bem embrionária, então foi Cidade Cinza, Latitudes e Junho - O Mês que Abalou o Brasil. E muito no começo também consegui um contrato com a Apple para a gente entregar conteúdos no iTunes. Então quando começamos a ter uns filmes e tivémos o contrato com a Apple, foi uma grande vitória, porque representar a Apple no Brasil era para poucas companhias ainda. Então foi bem forte e senti que estávamos indo no caminho certo.
Como avalia a trajetória de vocês?
É muito louco, porque você vai ficando um pouco mais velho, você começa a entender um monte de clichês. Então um clichê, por exemplo, é que parece que não demorou tanto para passar dez anos. Não sinto [esse tempo] e dez anos é uma coisa grande demais. Dez anos…
Essa foi uma jornada de tudo. Foi uma jornada de conhecimento, de crescimento, foi uma jornada intensa. A gente trabalha com muito filme brasileiro - essencialmente filme brasileiro - e filme brasileiro depende, como a maior parte dos lugares do mundo, de dinheiro público [para financiar o cinema local] e o dinheiro público foi uma coisa que, ao mesmo tempo que houve uma certa explosão, houve um crash. Então teve o TCU mexendo com a Ancine, a eleição do Bolsonaro, o fim do Ministério da Cultura. Teve desde fundo setorial com dinheiro nunca antes visto e um potencial enorme, com cinema brasileiro brilhando em Cannes, até o medo de entender que tudo isso podia cair por água abaixo. Então a nossa trajetória é acompanha de tudo isso: desde a filmes que foram muito bem e filmes que me deixaram muito contente, filmes que ganhamos dinheiro, até essa insegurança de “estou planejando ano que vem com Fundo setorial e com produção brasileira. Vou ter Fundo Setorial, vou ter produção brasileira ano que vem?”. Então o que sinto é que a cada seis meses nós mudamos a empresa, a cada seis meses a empresa está precisando ajustar o rumo, entender o caminho, entender o que está acontecendo no mercado e soubemos fazer isso e é por isso que temos dez anos, ao mesmo tempo que é por isso que me mantenho empolgado com a atividade.
Parte da razão de me sentir bem com dez anos é que não sinto que é repetição, não é repetitivo. Pelo contrário, estou empolgado pelos próximos dez anos. Mais coisa vai acontecer, vai mudar, mais desafio, mais possibilidades e acho isso vivo. Isso é muito gostoso e é muito saudável. O cabelo vai ficar branco, mas as dificuldades fazem parte da rotina… se você não tiver dificuldade você não está vivo. Então superar elas e tentar ir atrás. Fico feliz com a gente ter conseguido passar esses dez anos tendo mais vitórias do que derrotas.
Qual sua visão sobre o atual momento e o futuro do mercado audiovisual no Brasil?
Digo que temos que mudar a cada seis meses porque, se você avaliar só os últimos três, quatro anos, por exemplo, quem poderia falar que ia ter uma pandemia? Quem poderia falar que ia ficar um ano praticamente sem cinema, um segundo ano com muito pouco cinema? O terceiro ano da atividade voltando às vezes super bem e às vezes não voltando direito. Então o nosso mundo muda porque ele é impactado por tudo, o mundo do cinema e o mundo do entretenimento são super conectados.
As pessoas precisam comer todo dia, mas não precisam ir ao cinema todo dia, é uma atividade que ao mesmo tempo é essencial para a vida, mas em momento de crise, você corta, se adapta, se distrai no YouTube ao invés de sair de casa. Então novas tecnologias mudam tudo que fazemos, uma nova situação muda como fazer, uma nova economia muda como se faz, consome e gasta. Tem que estar de olho em tudo isso e tentar antecipar de alguma forma no seu modelo de negócio como você trabalha o teu produto e como é que você se promove, o que é que você compra, como você investe.
Tive alguns sucessos dentro do nosso escopo que me deixaram muito feliz com os filmes que lançamos em parceria com a MUBI, como Close e Aftersun. Fico empolgado com as possibilidades de filmes novos que nós temos com eles, como o Estranha Forma de Vida do Almodóvar, como outros que estamos negociando e queremos muito em breve anunciar. Terei mais títulos internacionais em breve para anunciar, inclusive espero na Expocine poder falar mais sobre isso. Ao mesmo tempo que sigo um pouco preocupado com alguns filmes brasileiros. Estamos com muita dificuldade de performance em sala e um pouco preocupados com, o que entendo como, um momento de congelar do mercado americano e do streaming. Acredito que o streaming vai entrar numa geladeira agora… eles estão comprando pouco, estão avaliando os momentos, avaliando o próximo passo, eles gastaram muito dinheiro, então você vê que, falando de maneira bem genérica, porque cada um é cada um, mas a sua forma sinto que eles têm uma sintonia. Então você vê a Disney reavaliando como abordar o streaming, você vê a greve do sindicato dos atores, dos roteiristas, preocupados com inteligência artificial e direitos na cadeia audiovisual. Você tem a notícia de mercado de séries e filmes cancelados por grandes streamings. Então o cinema em 2022 e 2023, penso que ele voltou e voltou o suficiente para ajudar a pagar a conta de um licenciamento que caiu um pouco.
Tenho bastante expectativa por um retorno bem ativo do dinheiro público. O dinheiro público não pode ser desprezado, dinheiro público é um alicerce para nosso mercado, é super relevante, seja para produção, para distribuição, para exibição. E se temos dinheiro em caixa, vai ser fantástico ver dinheiro sendo investido nesse momento para toda a nossa cadeia poder voltar a dar um salto. Então a minha expectativa hoje é ter bons lançamentos em cinema. A minha expectativa hoje é de que os streamings depois de um período de congelar voltem a comprar, voltem a produzir, ainda que de outra forma, talvez não tão intensamente quanto a um ou dois anos, mas mantenham esses investimentos e que com o dinheiro público entrando a gente volte até um crescimento muito forte no ano que vem E no outro ano. Então é assim que vejo o mercado e assim que estamos atuando.
E como é que você observa essas mudanças da indústria e como que a O2 Play se posicionou mediante a elas?
A O2 Play sempre tentou ter no seu DNA uma conexão com os tempos atuais, então não à toa um dos primeiros festivais que fui, quando tive possibilidade, foi o South by Southwest, por exemplo. Então, se não me engano, ainda no meu primeiro ano na companhia fui porque me fascinou a ideia de juntar cinema, música, publicidade, games e inovação. Fui quatro ou cinco anos para Austin e cheguei a ser mentor lá num dos anos. Então estudar esse mercado que fazia lançamento simultâneo e janela de ter VoD com cinema é uma coisa que me agradava, assim como conversar com os distribuidores americanos, tentar criar cases no Brasil, entregar conteúdo para os streaming, ser agregador digital. Então essa parte sempre me atraiu, é uma coisa que gosto e que faz parte da nossa história.
Nesse sentido, até por estar um pouco à frente ou em paralelo, a O2 Play conseguiu crescer nesse último período, apesar de todas as dificuldades. E trabalhando, por exemplo, na programação de filmes da Netflix, que é uma coisa que já foi mais polêmica, mas hoje nem tanto, trabalhando com a MUBI, trabalhando com filmes de lançamentos mais curtos. Então tudo isso foi interessante e que trouxemos no nosso DNA e que a gente consegue ainda hoje explorar bastante… foi um pouco sair na frente.
A O2, como um todo, também teve durante a pandemia um susto, porque produzir é reunir pessoas, e não tinha nem protocolo de Covid e tudo mais, mas uma vez passado esse susto Inicial com a entrada dos streamings no Brasil e a disputa por bom conteúdo, a produção cresceu muito. Então a O2 produtora cresceu bastante nos últimos anos, o entretenimento cresceu muito, então você vê, por exemplo, Cangaço Novo, que é uma série que foi entregue agora na Amazon, indo super bem, As Aventuras de José e Durval, baseado na vida Chitãozinho e Xororó, entregue na Globoplay, também é super popular, super forte. A série de Cidade de Deus que estamos produzindo para a HBO Max. São produtos muito grandes, muito fortes, então é um momento bom para a O2, um momento bom para a produtora, momento bom para a distribuidora e estamos tentando se posicionar de uma forma para acompanhar isso. É claro que com alguma cautela, mas ainda assim pensando bem positivo.
Quais foram as maiores dificuldades e maiores conquistas dos últimos dez anos?
A minha primeira maior dificuldade foi criar a companhia e conectá-la à O2, porque na minha ingenuidade achava que quando eu chegasse na companhia, todas as pessoas iam fazer tudo para mim e não é assim que funciona, porque todo mundo lá era muito ocupado. Elas foram muito simpáticas comigo, me deram uma força, mas no fundo eu tinha que fazer acontecer. Então a O2 cresceu como um departamento muito pequeno numa casa que era muito grande, então também tive que lutar muito para ser prioridade para essas pessoas, para trazer coisas interessantes, para ganhar meu lugar ao sol. Então essa foi a primeira dificuldade: criar e conectar internamente com as pessoas, conectar com a cultura e tentar entender a cultura. Isso é uma coisa que ninguém nunca vai te explicar, é só chegando numa empresa e tentando viver isso para você entender assim. E fico feliz que a minha personalidade e a empresa que criei se conectaram com essa cultura da O2 e vice-versa, senão não teria dez anos.
Depois disso, o desafio foi também, aos poucos, conquistar os produtores brasileiros do que a gente estava fazendo e falando. Então é uma distribuidora que nasce do zero e é aquilo: a O2 é um nome grande, mas ainda assim tinha lançado dois, três filmes. Você fecharia comigo o seu novo filme? Baseado em quê? Então também tive que produzindo cases e conquistando pessoas e viajando, indo a festivais e provando que a iniciativa funcionava, então quando começamos a ter uma equipe um pouco maior, como a Margot Brandão, como o Jair Silva, e se estrutura um pouco mais e começa a aumentar a aquisição… isso foi muito importante, então tem uma equipe um pouco mais estruturada e ter mais projetos.
E aí é a nossa relação com órgãos públicos, como o Fundo Setorial e a Spcine, foram muito importantes também. Nós ganhamos vários editais de distribuição da Spcine, ganhamos vários editais do Fundo Setorial para distribuição, então aprendemos como funciona essa rotina, prestação de contas, que tipo de projeto pode e deve ser aplicado. Esses foram passos muito importantes.
E aí, para destacar mais um elemento, os primeiros filmes da Netflix que lançamos foram muito importantes para nós porque fizemos um trabalho de programação para eles, mas eram filmes muito bons. Então eu que não tinha nenhum tracking record de filme estrangeiro praticamente, só tinha trabalhado essencialmente com filmes brasileiros e, de repente, tinha na minha mão um filme do Martin Scorsese com o Robert De Niro, Al Pacino e o filme do Fernando Meirelles com o Anthony Hopkins para lançar em cinema, fazendo isso em paralelo com a Netflix, uma das maiores empresas de entretenimento do mundo. Mas também ciente de que a janela desses filmes ofendia muitos exibidores, que não gostavam e deixaram claro isso e comercialmente muitos não quiseram os filmes, o que entendi na época e respeitei. Então tivemos que ser muito criativos e manter essa distribuição, entregar o melhor pra Netflix, entregar o melhor para esses filmes e aí a parte mais gostosa foi ver o público indo na sala. Então, como fã de cinema, foi um prazer e sensacional para mim trabalhar um filme do Scorsese e, como fã de cinema, foi sensacional entender o que já achava na prática que era “mesmo esse filme estando daqui a duas semanas na Netflix, o fã de cinema que gosta de sala de cinema e que gosta da arte vai querer ver esse filme na sala de cinema” Para mim era muito óbvio, era impossível que o negócio não desse certo e deu muito certo dentro das salas que conseguimos marcar. Então esses primeiros filmes com a Netflix foram filmes que abriram portas para nós trabalharmos mais filmes internacionais, mais filmes de janela curta e aí ampliar um pouco mais essa nossa atuação além dos filmes brasileiros independentes.
Então esses momentos foram os mais importantes: começar a empresa; conectar com a cultura; conseguir os primeiros produtores e os primeiros filmes criar cases; ampliar a equipe, ter pessoas boa do seu lado e começar a criar uma rotina junto com os órgãos públicos; e entregar o que entregamos pela Netflix com ótimos filmes internacionais e uma conversa muito intensa com o mercado sobre o que é legal, que não é legal, vai não vai… foram os principais pontos.
E daí surgiu a parceria com a MUBI?
Acredito em um crescimento constante e conservador. A gente sonha com um pé no chão, então nunca fizemos apostas intensas, não é o nosso perfil colocar tudo em um filme só. Então vamos crescendo aos poucos, experimentando e testando coisas. Então nesse movimento de crescimento, quando tivemos alguns filmes internacionais de janela curta que funcionaram bem, e quando começamos a conversa com a MUBi, falamos de um lugar de fala com propriedade.
Acho que hoje não tem distribuidora nenhuma no Brasil que possa falar com player nenhum por aí com tanta propriedade sobre os efeitos de uma janela curta e como é programar isso com os exibidores, causas e consequências disso, como nós. Então isso atrai, porque temos experiência e podemos comprovar essa experiência.
E o que vem por aí?
Esse setembro para nós vai ser histórico, porque dia 14 lançaremos o Estranha Forma de Vida, um média-metragem do Almodóvar com o Pedro Pascal e Ethan Hawke. O filme foi um fenômeno em Cannes, teve gente que ficou para fora mesmo com ingresso na mão - o que é uma vergonha para Cannes. Ter esse filme aqui no Brasil e ofertar ele para os exibidores é incrível.
E temos também no dia 21 o documentário Elis e Tom, que é o melhor documentário brasileiro dos últimos anos, a Mostra de cinema comprova isso com Prêmio da Crítica.
Por fim, gostaria de dizer mais alguma coisa?
Nessa vida não fazemos nada sozinho, então esses dez anos de O2 Play são meus, mas são de todas as pessoas que colaboraram com a empresa, todas elas que estão hoje e que já passaram pela empresa e de muita gente também externa.
Então o próprio Marcelo Lima, dono da Expocine, do Portal Exibidor. Conheço o Marcelo há uns 20 anos, lembro quando eu era moleque na Europa Filmes e o Marcelo estava lá, acho que começando a Tonks e tentando vender site para distribuidoras e foi mostrar ferramenta dele. E lembro também que conheci o Sandro da H2O Films na mesma época na Europa Filmes, trabalhando em outra agência de publicidade que chamava VM2, agência essa inclusive que trabalhou para a Europa Filmes, e eles me atendiam lá. E lembro muito bem do Vinícius Pagin que está na Diamond Films hoje, mas também foi diretor de programação na Cinemark, também me recebendo bem e sendo muito cordial comigo e com os meus filmes.
Então fiquei feliz de ver essa homenagem de dez anos para as três companhias, porque esse mercado também é uma coisa interessante e gostosa, mas não é tão grande. A gente se conhece, colabora, compete, se ajuda, às vezes briga, mas isso é muito saudável. Então achei legal uma homenagem para os três. Que bom que os três estão aí e ninguém faz nada sozinha. Do mesmo jeito que hoje estou aqui na O2 Play, amanhã posso estar em outro lugar. É muito poderoso lembrarmos que o cinema é coletivo. Não só na produção, ele é coletivo na distribuição, na hora de marcar no cinema, no exibidor, somos tudo parceiro. E quando vai bem, vai bem para todo mundo.
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