02 Agosto 2023 | Gabryella Garcia
"Môa - Raiz Afro Mãe" mostra um capoeirista além do mártir político e conecta Brasil com raízes africanas
Documentário estreia em 3 de agosto e conta com materiais inéditos e acervo pessoal da família e amigos que conviveram com Mestre Môa
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Amanhã (3), no dia em que é celebrado o Dia do Capoeirista, o filme Môa - Raiz Afro Mãe (O2 Play) chega aos cinemas. Com direção e roteiro de Gustavo McNair, a obra busca mais do que contar a história do mestre Môa do Katendê, que foi assassinado em um bar de Salvador pouco antes das eleições presidenciais de 2018 após divergências políticas. Môa foi um dos artífices da revolução ocorrida no carnaval baiano, além de ser compositor e professor de capoeira e, a proposta do filme, é celebrar seu legado para ajudar a eternizar uma história afro-brasileira, além de alçar o mestre capoeirista ao lugar de representante polifônico da cultura brasileira.
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Em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, McNair destacou que Môa não teve o devido reconhecimento ainda em vida por não se tratar de um personagem que atendia aos interesses narrativos da mídia dominante e, por isso falar sobre ele é aprender sobre o Brasil e mais do que isso, é ajudar a recontar uma história que foi apagada por essa mesma mídia dominante.
"Estamos vivendo o desencantamento da democracia racial, e a retomada da narrativa por personagens que representam de fato a nossa diversidade. Neste momento, figuras de mestres como Môa, educadores carregados de sabedoria ancestral, são fundamentais para nos mostrar os caminhos de conhecimento e reconexão com nossa verdadeira história. Uma história recontada, que pode apontar para um Brasil mais possível para todos no futuro", disse.
A obra não será o primeiro filme sobre o mestre capoeirista, em 2018 foi lançado o documentário Quem vai quebrar a máquina do mal?, mas Môa - Raiz Afro Mãe contará com um vasto material inédito de arquivo, fruto de muita pesquisa e da colaboração de fotógrafos profissionais como Pierre Verger, Arlete Soares, Coletivo Zumvi e Lúcia Correia Lima, além de acervos pessoais de família e amigos que conviveram com Môa.
McNair também destacou que o novo documentário vai muito além da vida e obra de Môa, uma vez que se emaranha com a história da população negra no Brasil e ajuda a entender as especificidades da construção social da população brasileira também. "[A obra] atravessa sim sua biografia, que no filme é entrelaçada com a história da ascensão das manifestações negras na Bahia, contextualizando sua importância revolucionária no Carnaval de Salvador nos anos 1970 e 1980, mas como forma não só de conhecimento e acesso à sua obra, mas também de reconexão com nossa história cultural, que tem sua maior riqueza originada da diáspora africana que aporta aqui nos primeiros anos da escravidão, se mistura com a cultura indígena e europeia, e resulta numa cultura original e potente, só possível aqui, que precisamos conhecer e valorizar cada vez mais", destacou.
Môa - Raiz Afro Mãe é um filme que traz grandes expectativas por contar a história de um personagem que vai muito além de um símbolo de luta e resistência política, mas um de seus maiores desafios para conquistar o público e as salas de cinema é atrair um público que não seja aficionado pelo gênero documental para conseguir "furar a bolha". O gerente de programação da O2 Play, Jair Silva, afirmou ao Portal Exibidor que uma das estratégias utilizadas pela distribuidora foi, em um primeiro momento, apresentar o filme para o público realmente interessado nessa obra e nesse gênero mas, além disso, a estratégia de divulgação do filme também buscou se aproximar das raízes de Môa.
"Desde o início, trabalhamos com pessoas e movimentos envolvidos diretamente com o trabalho do Mestre Môa – como na capoeira, na música, no afoxé. O lançamento do filme é no Dia da Capoeira não à toa. A capoeira, que é patrimônio cultural imaterial da humanidade, a capoeira mistura esporte, luta, dança, música e brincadeira, é uma síntese de tudo que o Môa representa. Luta, resistência, raiz. Trouxemos alguns dos nomes que estão no filme, e outros que defendem os mesmos valores do Môa, para trabalhar em conjunto na divulgação", explicou.
O desafio de "furar a bolha", inclusive se apresenta para o filme em um momento que o cinema nacional tenta conquistar espaço nas salas de cinemas, que são dominadas por blockbusters de Hollywood e, para o diretor McNair, um dos trunfos da obra é poder de identificação que pode ter com o público por falar de um Brasil mais unido e trazer um sopro de esperança de que é possível evoluir e avançar.
"É um filme para ver no cinema, porque provoca emoções coletivas, risadas e choros que de uma certa forma são compartilhados por todos, e o cinema, com tela grande e som alto, é perfeito para essas catarses coletivas. É um filme sobre união e esperança, portanto a experiência se completa num espaço coletivo. O objetivo do filme é que ele seja visto pelo maior número de pessoas, e posteriormente vire material educacional, exibido em escolas, debates, centros culturais, etc., contribuindo para que Môa se imortalize no lugar a que pertence, da cultura e educação, não só no lugar do mártir político. E nesse momento de retomada pós-pandemia, estamos felizes em contribuir com um filme sobre o Brasil que ensina, diverte e emociona", encerrou.
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