21 Dezembro 2023 | Yuri Codogno
"Nosso Sonho" é o filme nacional com mais ingressos vendidos em 2023: "Ainda estamos celebrando e digerindo este marco"
Filme fecha o ano com mais de 500 mil ingressos vendidos
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Maior bilheteria do cinema nacional em 2023, Nosso Sonho (Manequim Filmes) apresentou ao público um recorte da vida pessoal e profissional dos cantores e compositores Claudinho & Buchecha. Com mais de 500 mil ingressos vendidos desde seu lançamento nas telonas, a produção manteve boa sustentação enquanto esteve em cartaz, não só pela qualidade do filme, como também pelo ótimo trabalho da distribuidora.
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Felipe Lopes, diretor-geral da Vitrine Filmes e da Manequim Filmes, conversou com o Portal Exibidor sobre o sucesso da cinebiografia.
O executivo ressaltou que um conjunto de fatores - como boa história, emoção, capacidade forte de comunicação e engajamento com o público - são essenciais para alcançar a alta qualidade de uma produção. Mas que, além disso, o trabalho da distribuição, identificando os pontos fortes do longa, e a parceria com os exibidores são essenciais nessa caminhada.
“Sempre vimos o filme com um potencial enorme e investimos de forma coerente. Tivemos um grande circuito com parceria com os exibidores, escolhemos uma data que permitia que o filme estivesse já com um boca a boca na Semana do Cinema [28/09 a 4/10] e contamos com equipe e elenco do filme, além do Buchecha, engajados na campanha. Além disso, buscamos o apoio promocional com a Globo Filmes para que o filme tivesse um apelo no lançamento também na TV aberta”, contou Felipe.
Nosso Sonho entrou em cartaz em 21 de setembro, um semestre em que muitas cinebiografias de personalidades brasileiras ganharam o mesmo tipo de produção, como Elis & Tom, Meu Nome é Gal e Mussum, títulos que venderam boas quantidades de ingressos. Com isso, nota-se uma preferência do público brasileiro por esse tipo de narrativa.
Felipe enxerga que a razão disso é que são histórias as quais todos os tipos de público conseguem se identificar: “As cinebiografias trazem essa proximidade com a realidade, com estrelas que são pessoas reais e enfrentaram dificuldades para chegar ao sucesso, possuem conflitos e superam adversidades. Essa força emocional é um elemento que dialoga com os públicos em geral”.
Tal situação, entretanto, contrasta com o momento dúbio em que o cinema nacional se encontra. Dos aproximados 110 milhões de ingressos vendidos no Brasil este ano, somente 2,5% foram destinados às produções nacionais, segundo o Observatório do Cinema e do Audiovisual, número ainda pior do que os 4,55% observados em 2022. Deste modo, há uma necessidade na recuperação do prestígio na exibição dos filmes nacionais, que em 2019 chegou a corresponder a 13,5% do público anual.
“O consumidor do cinema hoje é aquele que encontra uma motivação para sair de casa e investir em um momento de entretenimento e cultura. Precisamos destacar para este público em potencial o nosso diferencial e aumentar a frequência dos que estão indo ao cinema para que uma diversidade maior de filmes sejam vistos. É importante reforçar o fomento público à comercialização e pensar em políticas públicas e programas privados de formação de público para o cinema brasileiro”, ressaltou Felipe.
Uma medida citada pelo executivo é a importância de eventos como a Semana do Cinema, realizada uma vez a cada seis meses desde o segundo semestre do ano passado, que aumentam as vendas tanto de filmes internacionais quanto nacionais. Sua primeira edição, de setembro de 2022, elevou em quase 300% o número de ingressos vendidos, enquanto as duas seguintes registraram respectivos 2,29 milhões e pouco mais de 1,9 milhão de tickets comercializados entre quinta-feira e domingo, no que convém chamar de “final de semana” no setor cinematográfico nacional.
O executivo foi além e comentou sobre outras ações que poderiam ser tomadas para ajudar as produções nacionais nas telonas, como disponibilizar mais espaço nos cinemas para os filmes brasileiros: “Incertezas [sobre o setor] sempre terão. Precisamos de estratégias e coragem para seguir em frente. ‘Retratos Fantasmas’, lançado pela Vitrine, teve uma desconfiança por ser um documentário, mas a força do filme com a estreia em Cannes e o prestígio de Kleber Mendonça Filho fizeram o filme atingir mais de 83 mil espectadores. Nosso Sonho poderia ter ainda mais público se tivéssemos ainda mais apoio em parte da exibição. Precisamos estar unidos se quisermos ter ainda mais sucessos, com todos os elos da cadeia ganhando”.
O Projeto de Lei da Cota de Tela para os filmes nacionais nas telonas, aprovado pelo Senado anteontem (19), é uma das medidas que podem auxiliar a alavancar a participação das produções brasileiras nos cinemas. O texto ainda vai para a sanção presidencial antes de ser aprovado, mas é importante ter em mente que, sozinha, a Cota de Tela não poderá mudar muita coisa, além, é claro, da necessidade de pensar no atual momento dos exibidores, visto que as produções internacionais são disparadamente a principal fonte de renda dos cinemas, representando 97,5% das vendas de ingressos este ano.
Voltando a Manequim Filmes, vale sempre lembrar que esse selo da Vitrine Filmes que possui o objetivo de gerar espaço para títulos nacionais mais comerciais, nasceu há menos de dois anos. E mesmo com pouco tempo de vivência, conquistou esse importante marco de ter uma produção como o filme nacional mais assistido em 2023.
“Confesso que estamos celebrando muito e digerindo este marco ainda. Quando Silvia Cruz e eu lançamos a Manequim em março de 2022, tínhamos o otimismo e garra junto à equipe de lançamento. Mas o cenário ainda é complicado e com desafios a enfrentar. No ano seguinte, colhermos este resultado, fruto de um trabalho coletivo com nossos departamentos de marketing, programação, negócios e financeiro, mostra que estamos no caminho certo da reconexão do cinema com o público e entregando um trabalho de qualidade e com potencial de atrair mais pessoas para as salas de cinema”, comemorou Felipe.
Para o ano que vem, há outras apostas, como contou Felipe: “A Manequim começa o primeiro semestre apostando em filmes fortes e com potencial de sucesso. Começamos o ano, em fevereiro, com ‘Meu Sangue Ferve por Você’, uma cinebiografia diferente, com a história de amor entre Sidney Magal e sua esposa Magali. O filme emocionou o público no Festival do Rio e na Mostra de SP. Ainda no primeiro semestre, em data a definir, chega ‘Princesa Adormecida’, seguindo a trilogia de livros de princesas modernas da autora Paula Pimenta, que já teve Cinderela Pop adaptado em 2019. Este filme conta com o protagonismo de Pietra Quintela, conhecida do público jovem pelas novelas do SBT, e o retorno de Maísa com o papel do primeiro filme”.
Mas não podemos falar de Manequim Filmes sem citar a Vitrine, que também está trabalhando com ótimas opções para 2024, como: Levante, filme premiado em Cannes com grande engajamento do público LGBT; O Clube das Mulheres de Negócio, novo longa de Anna Muylaert, que tem forte pauta social com um olhar sobre a crise do patriarcado.
E também não podemos esquecer da Sessão Vitrine, que recentemente voltou a ter o patrocínio da Petrobras. “A Sessão Vitrine Petrobras segue com um título por mês trazendo sucessos dos festivais como ‘Sem Coração’, exibido em Veneza, e ‘Bizarros Peixes das Fossas Abissais’, que acabou de ser exibido em Havana. Em breve, novos títulos serão anunciados”, finalizou Felipe.
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