21 Maio 2018 | Fernanda Mendes e Vanessa Vieira
Festival de Cannes 2018 premia várias nacionalidades e é palco de polêmicas
Principal prêmio vai para diretor japonês e debates sobre Netflix e igualdade de gênero são destaques
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A 71ª edição do Festival de Cannes aconteceu entre 8 e 19 de maio na cidade de Cannes, na França. Neste sábado (19), inclusive, foi realizada a tradicional cerimônia de entrega dos prêmios do evento, marcada por troféus para as mais diferentes nacionalidades que abordassem questões sociais. O festival teve o longa japonês Shoplifters (Imovision) como vencedor do principal troféu, a Palma de Ouro, que foi entregue ao diretor Hirokazu Kore-eda. Outro asiático a receber um prêmio importante foi o cineasta sul-coreano Lee Chang-Dong, contemplado com o Prêmio da Crítica por seu longa Burning.
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A ausência de filmes franceses nos maiores prêmios foi alvo de crítica da imprensa local, enquanto veículos internacionais como Variety e The Hollywood Reporter apontaram uma descrença no evento.
Da França, apenas Le Livre d’Image de Jean-Luc Godard foi premiado com a Palma de Ouro Especial (lembrando que estreará somente na TV, não nos cinemas). Já os Estados Unidos foram representados especialmente por BlackKklansman (Universal), que ficou com o troféu Grand Prix e menção honrosa no Prêmio do Júri Ecumênico, com o vencedor dessa categoria sendo Capharnaüm, da libanesa Nadine Labaki, que ganhou também o Prêmio Especial do Júri.
A América Latina ficou de fora dos principais prêmios, mas o Brasil a representou na categoria independente Queer Palm, que premia filmes com temática LGBT. O curta O Órfão, de Carolina Markowicz, ficou com o troféu.
Confira todos os vencedores ao fim do texto.
Polêmicas e debates
Após o último ano, quando muitas polêmicas envolveram a participação da Netflix no festival, desta vez a empresa de streaming não compareceu ao evento. “Se fôssemos exibir nossos filmes para 600 pessoas em Cannes teríamos que aceitar não transmitir para os nossos milhões de assinantes na França que usam Netflix. Então obviamente que não fomos a Cannes”, afirmou o CCO da Netflix, Ted Sarandos em outro evento, chamado MoffettNathanson Media & Communications Summit, realizado nos Estados Unidos.
A polêmica da participação de empresas de streaming no festival francês também foi abordada em artigo especial do Portal Exibidor.
Outros assuntos delicados também tiveram espaço no festival como a questão de igualdade de gênero. O grupo 5050x2020 liderou um protesto em que 82 profissionais do mercado cinematográfico entraram no tapete vermelho em silêncio. A atriz Cate Blanchette também estava no protesto. O grupo, inclusive, lançou oficialmente o programa “Compromisso de Programação para Paridade e Inclusão em Festivais de Cinema” com o objetivo de registrar os gêneros dos cineastas e também da equipe principal de todas as produções, podendo, assim, melhorar a transparência em torno dos processos de seleção, listando publicamente os membros dos comitês. A ideia é levar o projeto para outros festivais ao longo do ano.
O Festival de Cannes 2018 também lançou um número telefônico e um e-mail para atender denúncias de abusos sexuais e ainda organizou o seminário “Take Two: Próximo Passo para o Movimento #MeToo”. “É muito importante que os líderes de toda a sociedade entendam que essa questão é sobre liderança em muitas maneiras. Nós sabemos dos manifestos e ouvimos as testemunhas, então como líderes nós precisamos tomar uma ação. Se nós não estamos prontos para tomarmos decisões, então devemos deixar nossos cargos. A hora chegou”, reforçou Alice Bah Kuhnke, ministra da cultura e democracia na Suécia. Durante o festival, o prêmio Mulher em Movimento foi para a diretora estadunidense Patty Jenkins e para a cineasta espanhola Carla Simón.
A união também foi defendida entre mercados de nacionalidades distintas. Em seminário do Observatório Audiovisual Europeu, manteve-se o foco na importância das coproduções internacionais para conseguir financiamento, distribuição para outros países, identidades culturais que misturam fronteiras. O evento reuniu produtores, distribuidores, financiadores e executivos do mercado. Ainda da Europa, ocoletivo European Cinemas Network anunciou seus números de 2017: tem mais de 1.000 cinemas e está em 34 países. Esses complexos dedicaram cerca de 58% de sua programação para filmes europeus, gerando 39,2 milhões de ingressos para filmes da região e 73 milhões para os títulos em geral.
Realidade Virtual
O laboratório de inovação chamado Next contou com 25 projetos em VR, incluindo peças de Dunkirk (Warner Bros.) e Isle of Dogs (Fox), além de uma série em três parte da produtora de Darren Aronofsky, a Protozoa Pictures. O espaço ainda teve um cinema para exibições VR equipado com pod-like da Positron, poltronas imersivas Voyager e uma tela VRE – Virtual Reality Experiences.
Mas a imersão não ficou só aí, afinal Cannes também teve o painel “O futuro das tecnologias imersivas”, moderado por Ravi Velhal, da Intel. “Não é algo apenas para nerds. Todas as pessoas irão aproveitar este formato VR. É esperado que arrecade US$ 34 milhões até 2023 e somente neste ano já arrecadou US$ 7,9 bilhões”. Além disso, a marca Trends apresentou uma série de materiais no evento de países como Argentina, Brasil, Espanha e México.
Foco brasileiro
O Brasil também teve destaque no assunto VR com o lançamento do filme Fogo na Floresta, o primeiro documentário em realidade virtual realizado junto a uma tribo indígena.
Nos prêmios, além de ganhar o troféu Qeer Palm, o País ainda teve outros destaques como o Grande Prêmio da Semana da Crítica, dado à coprodução brasileira, francesa e portuguesa Diamantino (Vitrine Filmes). “Estou extremamente feliz e honrado com o prêmio. O reconhecimento é a recompensa ao trabalho árduo, complexo, e à ousadia de um filme que derruba barreiras e paradigmas. O primeiro trabalho internacional da Syndrome não majoritariamente brasileiro, mas que conseguimos realizar com apoio da ANCINE e do FSA”, comemora o produtor Daniel van Hoogstraten em comunicado oficial.
Vencedores do Festival de Cannes 2018
- Palma de Ouro: “Shoplifters”, de Hirokazu Kore-eda (Japão)
- Palma de Ouro Especial: Jean-Luc Godard, por “Le Livre d’Image” (França)
- Grand Prix: “BlackKklansman”, por Spike Lee (EUA)
- Documentário: “Samouni Road”, de Stefano Savona (Itália)
- Prêmio Especial do Júri: “Capharnaüm”, de Nadine Labaki (Líbano)
- Direção: Pawel Pawlikowski, por “Cold War” (Polônia)
- Atriz: Samal Yesyamova (Cazaquistão), por “Ayka”
- Ator: Marcello Fonte (Itália), por “Dogman”
- Roteiro: Alice Rohrwacher, por “Lazzaro Felice” (Itália), empatado com Nader Saeivar e Jafar Panahi, por “Three Faces” (Irã)
- Caméra d’Or (filme de estreia): “Girl”, de Lukas Dhont (Bélgica)
- Curta-metragem: “All these creatures” (Japão), com menção honrosa para “On the border” (China)
- Prêmio da Crítica: “Burning”, de Lee Chang-Dong (Coreia do Sul)
- Prêmio do Júri Ecumênico: “Capharnaüm” (Líbano), com menção honrosa para “BlackKklansman” (EUA)
- Queer Palm: “O Órfão”, curta de Carolina Markowicz (Brasil)
Todos foram exibidos com tecnologia Christie segundo a companhia.
Relembre a edição de 2017.
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