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09 Agosto 2023 | Redação Exibidor

100 dias de greve: o quê avançou nas negociações de roteiristas e atores em Hollywood?

Enquanto roteiristas completam 100 dias de greve nesta quarta-feira (9), atores estão paralisados há 27 dias e as perspectivas de acordo ainda são baixas

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(Foto: Divulgação)

Já se passou quase um mês desde que o sindicato dos atores (SAG-AFTRA) declarou greve e se juntou aos roteiristas que estão parados há exatos 100 dias. Desde então pouca coisa mudou nas negociações com a Aliança dos Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) e, apesar de ser difícil medir os impactos para a indústria cinematográfica, as primeiras consequências já começam a ser sentidas. Em meio ao adiamento de produções e também do Emmy Awards 2023, considerado o "Oscar da televisão", enxergar o fim do impasse ainda parece ser algo distante. As informações contidas a seguir são do Variety, Deadline e The Hollywood Reporter.

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Em relação às demandas dos atores, estão em pauta melhores salários, salários mínimo mais altos e regulamentos sobre as audições autogravadas, além de medidas protetivas contra o uso da inteligência artificial, algo que os estúdios, segundo a categoria, cogitava utilizar para "criar réplicas eternas".

A principal exigência do Sindicato dos Roteiristas dos EUA (WGA), por sua vez, gira em torno de remuneração, não só pelo aumento em si, que não aconteceu desde o boom dos streamings, como a própria bonificação tradicional dos contratos de filme e televisão que prevê pagamentos residuais por exibições ou em cima dos lucros e, em ambos os casos, isso não acontece com as plataformas de streaming. As exigências dos roteiristas totalizam US$ 343 milhões, enquanto essas empresas faturam juntas US$ 1,306 trilhão anuais. Ou seja, as reivindicações são de apenas 0,0262% do montante.

O último capítulo dessa novela é bem recente, visto que na última sexta-feira (4) WGA e AMPTP se reuniram pela primeira vez em três meses em Los Angeles para tentar resolver o impasse. As discussões, entretanto, não avançaram. O WGA chegou a divulgar um comunicado explicando que a AMPTP estava disposta a considerar o aumento de alguns pagamentos mínimos para roteiristas de TV e discutir assuntos relacionados à inteligência artificial. No entanto, questões sobre a preservação de salas de roteiristas e valores residuais mantiveram um bloqueio na conversa.

Ontem (8) após a tentativa de negociação, Chris Keyses e David Goodman, representantes dos roteiristas nas negociações, inclusive emitiram um comunicado chamando o marco de 100 dias de "um marco de vergonha para o AMPTP".

"O agente de negociação de Hollywood e seus estúdios membros são totalmente responsáveis ​​pela paralisação da indústria por mais de três meses e pela dor que ela causou aos trabalhadores e a todos os outros cujos meios de subsistência dependem desse negócio", afirmaram Keyser e Goodman. "Em última análise, os estúdios não têm escolha a não ser fazer um acordo justo. Até lá, continuamos decididos e unidos", completaram.

As discussões, inclusive, ganharam uma nova personagem antes de a reunião acontecer. De acordo com o Variety, ainda na sexta-feira, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, pediu aos sindicatos e estúdios que cheguem a um acordo "imediatamente" para que a indústria volte ao trabalho. Ela afirmou que está disposta a se envolver pessoalmente para ajudar a acabar com as greves.

"É fundamental que isso seja resolvido imediatamente para que Los Angeles volte aos trilhos e estou pronta para me envolver pessoalmente com todas as partes interessadas de qualquer maneira possível para ajudar a fazer isso", disse.

Ainda é difícil dizer quais serão os reais impactos da greve para a indústria, até pelo fato de não haver no horizonte uma perspectiva de resolução para os problemas, mas uma grave crise que pode acometer o setor a partir de 2024 começa a dar seus primeiros sinais. Além da proibição da participação dos talentos em ações promocionais de lançamentos, assim como dar entrevistas relacionadas às estreias, participar de eventos e festivais da indústria e promover produções em redes sociais, os primeiros adiamentos de produções começam a ser anunciados, causando um grande temor no futuro próximo da indústria cinematográfica.

Recentemente a Sony Pictures anunciou a alteração da data de lançamento de 18 produções, que incluem Homem-Aranha: Além do Aranhaverso, Kraven - O Caçador, Venom 3, Bad Boys 4 e um novo filme da franquia Karatê Kid. Durante a divulgação de seu balanço trimestral a Paramount não chegou a anunciar o adiamento de nenhuma produção, mas o CEO Bob Bakish revelou que a empresa está contando com filmes já concluídos para manter seu estoque de lançamentos nos cinemas e também disse torcer para que a greve tenha uma rápida solução. "Quero reiterar que estamos esperançosos de que possamos resolver isso como uma indústria mais cedo ou mais tarde, porque todos nós gostaríamos de voltar ao negócio de produção de conteúdo. Mas, no curto prazo, estamos trabalhando para mitigar o impacto para nossos consumidores e outros constituintes", disse.

Mas, se por um lado as grandes majors estão sentindo quase que imediatamente os impactos das greves, os estúdios independentes poderão se aproveitar da situação, uma vez que o SAG-AFTRA aceitou um acordo provisório para que determinados filmes e programas de TV independentes possam ser rodados durante a paralisação. Entretanto, para conseguirem esse direito, os estúdios responsáveis pelas produções não podem ser associados à AMPTP.

O acordo provisório foi celebrado em 18 de julho, e em um comunicado em seu site, o sindicato dos atores explicou que as produções devem se enquadrar em uma série de regras para conseguirem o acordo provisório que permite o prosseguimento das produções. "A ordem se estende a produções produzidas sob os contratos básicos e de televisão codificados, bem como contratos relacionados, como o contrato cinematográfico de baixo orçamento, contrato de projeto de orçamento baixo moderado, contrato de projeto de orçamento ultra baixo e contratos especiais de nova mídia. No entanto, os produtores que se enquadram no escopo da ordem de greve podem solicitar um acordo provisório. Uma vez que tais pedidos são examinados e, se aprovados pelo SAG-AFTRA, o sindicato oferece um acordo provisório e o produtor aceita devolvendo uma cópia assinada. Uma vez concluído o processo, os artistas podem prestar serviços nessa produção específica sem violar a ordem da greve", dizia o comunicado.

Festivais de cinema ainda não sentem impactos

Apesar da proibição de atores participarem de eventos e festivais da indústria, estes ainda não sofrem com os impactos da greve. O Festival de Cinema de Veneza, o Telluride Film Festival, o Festival Internacional de Cinema de Toronto e o New York Film Festival, por exemplo, vão transcorrer normalmente entre os meses de agosto e outubro.

Mas, embora as datas não tenham sofrido alterações, o Festival de Cinema de Veneza foi impactado pela greve de alguma maneira e teve uma baixa anunciada em sua programação. Muitas produções estadunidenses serão lançadas em Veneza, uma clara mostra de que os efeitos das greves em Hollywood são menores do que o esperado mas, ainda assim, o festival se viu obrigado a retirar de sua abertura Challengers, filme de Luca Guadagnino com Zendaya, Josh O'Conor e Mike Faist. O lançamento foi adiado para 26 de abril de 2024 e, por isso, Comandante, do diretor italiano Edoardo De Angelis foi o novo escolhido para abrir o festival.

O maior impacto até o momento aconteceu com o Emmy Awards 2023, inicialmente previsto para acontecer no dia 18 de setembro. Considerado o "Oscar da televisão", uma nova data depende das negociações entre sindicatos e AMPTP mas, de acordo com o Variety, a intenção era realizar o evento ainda em novembro, permitindo que a premiação seguisse acontecendo durante o outono norte-americano. A Fox, emissora responsável pela transmissão do evento, entretanto, quer levar a premiação para janeiro, uma vez que a empresa sua programação de novembro comprometida com a temporada regular da NFL, principal liga de futebol americano do país. Diante do impasse, o jornal Los Angeles Times divulgou que o Emmy provavelmente aconteça em 21 de janeiro de 2024, já que o Globo de Ouro está marcado para o dia 7 e o Critics Choice Awards para o dia 14 do mesmo mês.

Diretores apoiam greve, mas celebram próprio acordo

O sindicato dos diretores (DGA) conseguiu o acordo que esperava com a AMPTP e hoje celebra conquistas históricas para a categoria. Mas, apesar de não terem entrado em greve, apoiam as demandas de atores e roteiristas e a presidenta Lesli Linka Glatter, reeleita recentemente para o cargo, chegou a afirmar que "o DGA está extremamente desapontado com o fato de o AMPTP não ter abordado de maneira justa e razoável as questões importantes levantadas pelo SAG-AFTRA nas negociações”.

Na última segunda-feira (7), inclusive, o DGA celebrou uma nova conquista em meio a paralisação. Foi instituído um grande plano médico gratuito para membros que se enquadram em certas elegibilidades de requisitos. O novo plano aprovado representa uma tentativa de acomodar os membros do sindicato que se encontram desempregados, já que a maioria das produções permanece interrompida devido às greves de atores e roteiristas e os estúdios se empenhando em grandes propostas.

"Tenho orgulho de anunciar que o Conselho de Curadores do DGA-PPHP aprovou por unanimidade a criação de um importante plano médico gratuito importante para os participantes do Plano de Saúde e seus dependentes elegíveis que foram afetados financeiramente pela paralisação do trabalho. Esse esforço inovador dos curadores dos planos ajudará os participantes do plano que enfrentam dificuldades financeiras a manter a cobertura básica de saúde durante esse período difícil", afirmou Glatter em um comunicado.

O plano relacionado à greve está sendo oferecido inicialmente por um período de três meses, começando em 1º de outubro até o final de 2023. O DGA avaliará uma nova expansão do programa se a paralisação continuar.

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