27 Junho 2023 | Gabryella Garcia
CineEurope apresenta números positivos e aponta caminhos para o futuro do cinema pós-pandemia
Experiência do cliente, investimento em formatos premium e maior investimento em campanhas de marketing foram os caminhos apontados para uma retomada
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Entre os dias 19 e 22 de junho exibidores, produtores e distribuidores se reuniram na CineEurope, em Barcelona, para discutir necessidades e caminhos para o futuro do cinema em um período pós-pandemia. Apesar de preocupações e problemas que foram apontados por todas as partes envolvidas, também houve espaço para mostrar otimismo em uma recuperação. Um relatório apresentado pela União Internacional de Cinemas (UNIC), inclusive, apontou que no primeiro trimestre de 2023 houve um aumento de 27% nas bilheterias de todo o mundo em relação ao mesmo período do ano passado.
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De acordo com o Deadline, um dos principais pontos de discussão durante o evento foi a necessidade de os exibidores se atualizarem para fornecer a melhor experiência possível aos clientes. O ponto de partida da discussão foi destrinchar o que deve ser feito para convencer as pessoas a saírem de casa, e uma das estratégias apontadas foi o uso das salas PLF. Além disso, discutiu-se a necessidade de ofertar um conteúdo diversificado e também foi ponto comum entre os presentes que o cenário só tende a melhorar se houver um esforço coletivo de toda a cadeia, com produtores, exibidores e distribuidores.
Sobre a greve dos roteiristas encabeçada pelo sindicato da classe (WGA), um executivo internacional afirmou ao Deadline que a produção ainda não foi afetada. Segundo ele, haverá preocupação apenas se a greve persistir até o mês de setembro.
Andrew Cripps, diretor de distribuição da Warner, também chamou a atenção para uma necessidade de aproximação entre toda a cadeia produtiva e o público em sua fala. Ele afirmou que muitos filmes estão indo realmente mal nas salas de cinema, "pior do que nunca" em suas palavras, e também apontou que o grande desafio é conseguir garantir que a ida ao cinema seja realmente inesquecível para o cliente.
"Podemos fazer melhor e temos que fazer melhor se quisermos atrair o público. Há um segmento do público que não volta ao cinema com regularidade, e isso acontece porque não existem filmes para atraí-los. Todos os estúdios estão produzindo menos depois da pandemia e nós estamos nos atualizando. Acho que ainda não temos a mesma qualidade e diversidade de produtos que tínhamos antes da pandemia e espero que isso mude com o tempo", disse.
Mas, além da qualidade e diversidade das novas produções, um ponto em comum para os especialistas de todo o mundo é que o marketing e a campanha de divulgação dos filmes não estão sendo bem feitos. Em entrevista recente à Exibidor, Gilberto Leal, Presidente do Sindicatos dos Exibidores do Estado do Rio de Janeiro, afirmou que as campanhas de filmes nacionais não conseguem atrair o público para os cinemas. Eddy Duquenne, CEO da Kinepolis, seguiu a mesma linha de raciocínio durante a CineEurope e afirmou que os exibidores precisam usar sua influência e reputação para mitigar essa falha no marketing. O trabalho deve ser feito por toda a cadeia produtiva.
"Acho que como exibidores precisamos aprender a vender filmes e construir uma credibilidade de que, se recomendamos a você um filme que não teve uma grande campanha de marketing, você confie que temos algo que seja necessário de se assistir. Há um caminho muito longo ainda para conseguir construir essa reputação".
Cripps ainda citou uma dificuldade em relação aos orçamentos dos filmes para justificar uma possível falha nas campanhas de divulgação, mas admitiu que algo precisa ser feito nesse sentido. "Se pudermos tornar essas campanhas mais eficazes, todos nos beneficiaremos e traremos esse público de volta aos cinemas".
Lacuna de filmes no outono
O diretor da Warner também apontou como um problema a ser solucionado a sazonalidade dos filmes, pois após uma explosão de grandes blockbusters durante o verão, há um período de vacas magras. "Existem alguns sucessos de bilheteria fantásticos neste verão, mas olhando para o outono, ainda há uma lacuna no cronograma de lançamento. Temos que continuar a tentar oferecer aos consumidores entretenimento durante todo o ano".
Tim Richards, fundador e CEO da Vue International, mostrou otimismo em uma recuperação caso exista um calendário mais "recheado" durante o ano. Para ele, uma seleção completa de filmes é suficiente para voltar aos níveis pré-pandêmicos, entretanto, pontuou que isso ainda não irá acontecer em 2023. Richards destacou a necessidade de mais filmes e disse que o momento atual deve ser utilizado para construir uma base de títulos, seja de obras locais ou hollywoodianas, para que não exista mais essa lacuna. "Acho que temos uma oportunidade única de construir uma nova base para o futuro, realmente começando do zero. Temos a oportunidade de fazer algo especial para criar uma base de longo prazo para a indústria", disse.
Formatos Premium
O relatório apresentado pela UNIC no evento apontou que, em toda a Europa, clientes mais jovens estão constantemente retornando ao cinema e, além disso, o aumento de 4% nos preços médios dos ingressos na Europa desde 2021 mostra que as salas PLF estão se popularizando cada vez mais e, mais do que isso, é um claro sinal de que o público está disposto a pagar mais por um serviço ou experiência premium.
Cripps, inclusive destacou que muitos dos filmes produzidos atualmente são muito propícios a formatos premium. Ele também ressaltou a grande aceitação do público com novas tecnologias, o que pode acabar se tornando um caminho para uma retomada mais rápida dos cinemas.
"Não é por acaso que eles são mais caros, mas esgotam mais rápido. Se você olhar para os consumidores que compram ingressos antecipados, eles tendem a comprar, seja IMAX, Screen X, 4DX, qualquer que seja o formato premium, eles tendem a comprar esses ingressos primeiro. Os consumidores querem uma experiência e acho que devemos continuar a oferecer um diferencial em relação à experiência doméstica".
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