A União Internacional de Cinemas (UNIC), grupo comercial que representa os exibidores e suas associações nacionais em 39 países europeus, publicou o seu Relatório Anual sobre os resultados de 2022 e as expectativas para o segundo semestre de 2023. As informações foram retiradas do release da própria UNIC e de seu relatório, divulgado no último dia 20. 

Os resultados observados ano passado foram ótimos o suficiente a ponto da Gower Street Analytics (empresa expert na análise do mercado de cinema) aumentar sua previsão de bilheteria global de 2023 para US$ 32 bilhões, 10% acima da estimativa inicial de US$ 29 bilhões anunciada em dezembro. Os números a seguir explicam mais do sentimento positivo do mercado. 

2022, após dois anos em baixa por causa da pandemia e suas consequências, demonstrou o interesse do público em retornar às salas escuras, especialmente quando há grandes lançamentos ou um line-up diversificado nos cinemas. Com quase 809 milhões de ingressos vendidos na Europa em 2022, o aumento registrado na região foi de 36,2%, se comparado a 2021, e a bilheteria atingiu importantes US$ 6,2 bilhões, um aumento de 53,8% em relação ao ano anterior.  Entretanto, a arrecadação de 2022 ficou 33,8% abaixo a 2019.

O desnível entre o aumento da porcentagem de ingressos vendidos e da arrecadação não foi detalhado, mas é possível supor que seja uma das alternativas a seguir (ou a soma de ambas): ingressos mais caros e clientes optando por cinemas com formatos premium.

Considerando apenas a União Européia e o Reino Unido, foram vendidos mais de 655 milhões de tickets, com um valor estimado de US$ 5,5 bilhões em arrecadação - números 62,7% e 68,5% maiores do que 2021, respectivamente. Nesse recorte, o aumento na arrecadação acompanhou o número de ingressos comercializados.

Os melhores aumentos porcentuais de bilheteria de 2022, porém, foram observados na Eslovênia (182,3% melhor do que 2021), Romênia (142%), Lituânia (133,5%), Áustria (96%) e Alemanha (93,5%). Em números absolutos de venda de ingresso, o ranking ficou com França (152 milhões), Reino Unido (117,3 milhões), Alemanha (78 milhões), Espanha (61,2 milhões) e Itália (44,5 milhões). 

Os bons números ficam ainda melhores se considerarmos que nos primeiros meses de 2022 muitos cinemas ainda estavam enfrentando restrições por causa da pandemia, sem contar a baixa oferta de filmes durante o primeiro semestre. Além disso, há a questão da guerra entre Ucrânia e Rússia, que enfraqueceu a economia continental pelo aumento do preço gás, altamente necessário durante o inverno europeu e controlado quase que majoritariamente pela Rússia (que diminuiu o suprimento aos países que a sancionaram).

Mas para que a recuperação fosse forte, mais importante do que uma grande variedade de ofertas foram os lançamentos nacionais. Por exemplo, alguns países lideraram no quesito com uma grande porcentagem de produções locais exibidas nos cinemas: Turquia (46% das exibições foram nacionais), França (41,1%), República Tcheca (33,5%), Alemanha (27%) e Dinamarca (26%).

Alguns países, vale citar, emplacaram ao menos um filme nacional no top cinco dos mais vistos em 2022, sendo eles: Albânia (2x), Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia (2x), Espanha, Estônia (3x), Finlândia, Lituânia (2x), Noruega, Polônia, República Tcheca, Romênia, Rússia (2x), Sérvia (2x) e Turquia (2x). 

Os filmes europeus de maior sucesso no continente, por sua vez, foram o franco-belga Que Mal Fizemos Todos a Deus? (3,8 milhões de ingressos vendidos), o britânico Belfast (3,7 milhões), o espanhol As Aventuras de Tadeo e a Tábua de Esmeralda (3,2 milhões), o alemão School of Magical Animals - Part 2 (2,6 milhões) e o espanhol Pai a Gente Só Tem Um - 3 (2,4 milhões). 

Isso não significa, porém, que os blockbusters e filmes conceituados em premiações não foram importantes. Na verdade, muito pelo contrário, visto que Avatar: O Caminho da Água se tornou a maior bilheteria da região EMEA (sigla em inglês para Europa, Oriente Médio e África), com quase US$ 800 milhões arrecadados. Vencedor da Palma de Ouro do ano passado, Triângulo da Tristeza foi lançado em mais de 40 mercados internacionais e registrou globalmente mais de US$ 25 milhões.

No total, 370 filmes estrearam nas telonas europeias em 2022, bastante acima dos 290 lançamentos de 2021, mas muito aquém dos 480 que entraram em cartaz em 2019.  

Avançando para 2023, o primeiro trimestre do ano na Europa foi 27% melhor do que o mesmo período do ano anterior, enquanto a EMEA registrou um aumento notável de 32%. Alguns países, inclusive, conseguiram o incrível feito de superar os três primeiros meses da média pré-pandêmica, como foram os casos da Holanda (3,3%), Áustria (2%) e a Noruega, que igualou os resultados de 2019, além de Espanha e Itália, que quase alcançaram os resultados do mesmo ano. E essa tendência positiva continuou em maio com o mercado internacional (sem considerar os dados da China), atingindo o mesmo nível do período 2017-2019. 

“Todos os dados apresentados no Relatório Anual da UNIC para 2022 confirmam o que já sabíamos: que o público adora a tela grande. Não é surpresa, portanto, que estúdios e grandes distribuidoras tenham reafirmado sua confiança e compromisso com lançamentos exclusivos nos cinemas, reconhecendo as telonas como os locais privilegiados para vivenciar a magia do cinema. Uma lista de filmes rica e variada continua sendo fundamental para atrair o público existente e para formar o novo”, comemorou Phil Clapp, presidente da UNIC.

As pesquisas também apontaram que, em toda a Europa, o público mais jovem frequentemente vai aos cinemas, sendo a opção de entretenimento fora de casa preferida deles e também a mais acessível. Mas alguns desafios permanecem, como a necessidade de um fluxo mais constante de diversidade nos filmes e o aumento do custo das operações.