29 Abril 2019 | Fernanda Mendes e Renata Vomero
Exibidores e distribuidores comentam o domínio de Vingadores nas salas de cinema
Distribuidor e produtora de “De Pernas Pro Ar 3” alegam ter perdido espaço por conta do filme da Marvel
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O fenômeno de Vingadores: Ultimato está mexendo com o mercado brasileiro. A grande polêmica gira em torno do domínio massivo que o filme apresenta nas salas de cinema, deixando outros longas como De Pernas Pro Ar 3 sem muito espaço.
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A situação, aliás, chegou a extremos, tendo cinemas que trocaram de última hora sessões do filme nacional para exibir o aguardado longa da Marvel. As fotos dos tickets da Cinemark e Cinépolis que citavam a troca da sessão circulam nas redes sociais e até mesmo a protagonista do filme, Ingrid Guimarães, se revoltou. “Falta de respeito total”, lamentou.
Os produtores e distribuidores reclamam da falta de uma regulação para impor o número máximo de salas para que os blockbusters sejam exibidos. Marcio Fraccaroli, CEO da Paris Filmes, distribuidora da comédia nacional, falou com exclusividade ao Portal Exibidor e, também reclamou da falta de regulação por parte da Ancine.
“Quem tem que agir é a Ancine, a responsabilidade é dela, pois está lá para regular o setor e não regula”, disse. Para o executivo, os cinemas estão criando apenas uma referência para o consumidor, que acredita que que só há um título sendo exibido nas salas. Ele também citou outros filmes que foram prejudicados como Shazam! e Superação – O Milagre da Fé, dois títulos estrangeiros.
Em reposta, Ricardo Difini Leite, presidente da FENEEC (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas) e diretor de operações da GNC Cinemas, também falou exclusivamente com o Portal Exibidor. “Já foi demonstrado por decisão do tribunal que a limitação de filmes estrangeiros é incondicional e vai totalmente contra qualquer regra de mercado. Como se os produtores de carne reclamassem que os supermercados na semana santa só estão vendendo peixe. Imagina você obrigar os exibidores de um país a exibir Vingadores, um filme desse nível, em 30% das salas e o resto, as 66% das salas praticamente vazias”.
Sobre a troca das sessões do longa nacional por Vingadores, Fraccaroli contou que a produtora do filme, Mariza Leão, já está unindo provas para entrar com um processo junto ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). “Se o Cade atuasse no cinema, o exibidor não faria isso. No fim, prejudica toda a indústria”, disse Fraccaroli.
Procuradas pelo Portal, as redes Cinépolis e Cinemark não responderam até o momento. Mas, Difini defende que a situação foi um caso isolado e isso não representa a prática do mercado como um todo. Aliás, o exibidor também contou que para ele De Pernas Pro Ar 3 teve um desempenho abaixo do esperado desde sua primeira semana (11/04) e a concorrência com Vingadores não pode ser utilizada como justificativa.
“Na semana anterior a Vingadores o De Pernas Pro Ar teve uma média de 504 pessoas por complexo. Neste fim de semana foram 263 espectadores por complexo. Portanto, o que se percebe é que houve uma redução muito grande da média de público, mas a lógica seria que esse público migrasse para os cinemas onde está sendo exibido o filme. Então o certo era aumentar a média de público nos cinemas que restaram com o filme. Isso não aconteceu, diminuiu, portanto isso demonstra que esse filme já teria essa queda”, afirmou.
"Quem tem que agir é a Ancine, a responsabilidade é dela, pois está lá para regular o setor e não regula"
Marcio Fraccaroli, CEO da Paris Filmess
Já Fraccaroli rebate dizendo que o filme abriu “superforte”. Nas palavras do executivo, o filme foi prejudicado pois foi retirado das salas onde estava e passado para salas menores. “E ainda foram cortadas as sessões. Como você diz que o filme não foi bem? Teve vários cinemas que o filme fez uma boa média, mas saiu de cartaz. Além disso, se o filme sai de uma sala de 170 lugares e vai para uma sala de 150 cadeiras, isso prejudica muito”.
Ingrid Guimarães também reivindicou maior espaço para a comédia. Em apresentação durante a Rio2C na semana passada, a atriz comentou que não adianta fazer divulgação sobre o filme se ele está passando em sessões das três horas da tarde em cinemas pequenos e afastados.
Na mesma apresentação, Mariza Leão enfatizou que acredita ser um absurdo apenas um filme ocupar mais de 90% das salas do país. Ela deu como exemplo os países europeus, Alemanha e Portugal onde Vingadores entrou em apenas 30% das salas. “Sabe o que é isso? Soberania de identidade nacional, da qual não podemos abrir mão. Isso aqui não é terra de ninguém não”.
Para Difini a Paris/Downtown errou ao programar o filme neste período. Segundo ele, não há uma estreia nesse nível há anos, desde Avatar (2009), e os exibidores não deixarão de passar Vingadores, pois a demanda é gigante. O mesmo aconteceria, e já aconteceu, com filmes nacionais. Ele dá como exemplo Tropa de Elite, Carandiru e Minha Vida Em Marte. “Minha Vida Em Marte é um exemplo recente, que manteve uma média ótima de público, então o exibidor aumentou a média de sessões e de salas, porque se percebeu um desempenho maravilhoso do filme. Se você tem um filme nacional que tem uma procura expressiva, você dá mais sessões”.
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