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13 Maio 2016 | Vanessa Vieira

Plataforma de cinema sob demanda pode otimizar ocupação de salas de cinema

Fundador do Kinorama aponta vantagens da novidade para o exibidor

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(Foto: Kinorama)

Após seu lançamento no RioContentMarket - RCM 2016 em março, a plataforma Kinorama de cinema sob demanda agora se prepara para iniciar suas atividades logo no início do segundo semestre deste ano. A solução fundada por Raphael Erichsen, em parceria com a Taturana e o Catarse, tem o objetivo de ser um meio para filmes que não chegariam ao circuito exibidor normalmente e também terem espaço na telona sem atrapalhar a programação do complexo nem competir com blockbusters. A plataforma ainda pode ser usada para criar sessões de longas com demandas retardatárias.

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O primeiro filme a ser exibido por meio da plataforma de crowdfunding (financiamento coletivo, em tradução livre) – também conhecida como ticketfunding por se relacionar com o cinema – será anunciado ainda neste mês, no dia 27. Já a exibição deve ser agendada para julho, quando a solução será aberta ao uso de todos.

“Acreditamos muito na experiência coletiva da sala escura e queremos fazer com que o cinema seja um ponto de cultura, de contato. Precisamos formar mais espectadores e fazer com que as pessoas tenham hábito de ir ao cinema. Por isso, temos de levar para o exibidor o filme que não está lá. Porque o título que está nas telonas, já tem seu público", explicou Erichsen em entrevista ao Portal Exibidor.

Confira na íntegra o bate-papo com o fundador da plataforma:

Como surgiu a ideia do Kinorama?

Eu sou produtor e realizador da 3 Film Group, empresa que hoje é a incubadora da startup Kinorama, e, em 2014, lançamos dois documentários: o Radical - A Controversa Saga De Dadá Figueiredo, uma cinebiografia, e o Ilegal, que entrou em 25 salas de exibição e ficou entre as maiores bilheterias de documentário daquele ano. Já o Radical não conseguimos fazer com que chegasse aos cinemas. O filme participou de festivais, ganhou prêmios em Portugal e em New York, mas, no Brasil, pela falta de dinheiro e pela maneira como a cadeia exibidora é feita, não entrou nas salas de cinema. Hoje em dia tem essa correria: você entra em cartaz e tem que “performar” muito rápido para conseguir manter a produção em exibição. Entendo que isso se dá pela forma que o circuito é feito, que é a mesma maneira pela qual ele é feito há muito tempo: sem aproveitar o que temos disponível hoje para se programar por demanda.

E aí surgiu a ideia de criarmos uma ferramenta para termos acesso às salas de cinema. Mas quando começamos a falar com outros players do mercado, vimos que uma série de outras demandas estavam reprimidas além das dos produtores. Elas poderiam ser desde filmes estrangeiros que não chegam ao circuito brasileiro até filmes brasileiros, sessões para pessoas com necessidades especiais ou blockbusters com demanda retardatária. Essas sessões especiais ainda são feitas de maneira muito intuitiva e analógica, mas com a tecnologia é possível fazer isso efetivamente sob demanda. Dessa maneira você consegue também identificar onde estão essas demandas e criar essas exibições. Queremos fazer com que o espectador escolha o que vai assistir nas salas de cinema.

Quando começamos a pesquisar essa solução, vimos que não estávamos inventando a roda. Existe uma plataforma chamada Tugg, por exemplo, que é norte-americana e que chega a fazer 400 sessões por mês de cinema sob demanda. Depois de um ano pesquisando, chegamos à essa plataforma que chama Kinorama, que começaremos a operar no segundo semestre. Em março, lançamos um edital de cinema sob demanda, justamente para escolher o filme que será o case inaugural. Agora estamos no período de avaliações.

Como foram formadas as parcerias com o Grupo Espaço de Cinema e a Taturana?

O Grupo Espaço é o nosso principal exibidor parceiro hoje em dia. É claro que queremos ampliar com o tempo, queremos mais salas e já tem outros exibidores entrando em contato conosco. Já a Taturana tem um papel importante porque, sabemos que é difícil levar as pessoas para a sala de cinema, principalmente para produções menores, e acreditamos que a parceria com eles venha a ajudar nesse sentido. Isso porque a Taturana mapeia o mercado há um tempo e já tem uma rede de pessoas que chamamos de “embaixadores“: aqueles levam outras pessoas aos cinemas.

Temos parceria com o Catarse, que é o maior site de financiamento coletivo do Brasil, e também com a ABPITV - Associação Brasileira de Produtos Independentes de Televisão que, junto ao Programa Cinema do Brasil, nos ajudam o tempo todo a articular nossas ideias. São eles que nos possibilitaram lançar a plataforma no RioContentMarket, o que foi importante para nós porque não sabíamos como o mercado receberia o Kinorama. O feedback foi muito maior do que esperávamos com vários produtores querendo ver seus filmes nos cinemas e acreditamos que essas pessoas serão os articuladores para a plataforma ganhar escala. O cinema precisa de demanda e a plataforma de escala para funcionar.

Quais as principais vantagens que o Kinorama traz para o exibidor?

A média de ocupação das salas de cinema no Brasil é de cerca de 20%, com uma receita bruta em torno de R$ 2 bilhões, e queremos otimizar isso encontrando uma maneira inovadora de ocupar um circuito que já está posto, mas está voando com aviões vazios. Diversificando o conteúdo, encontraremos novos públicos para encher as salas que ficam vazias à tarde, por exemplo. E se aumentarmos 1% dessa taxa de ocupação, já falaríamos de R$ 100 milhões a mais de receita.

A ideia é que a sessão promovida por meio do Kinorama seja igual a uma sessão comum, com mesmo valor de ingresso, meia-entrada, tudo igual. Só que o “pulo do gato” é que a exibição só é confirmada com 60% dos ingressos vendidos. Uma vez que você tem o número mínimo de pagantes para aquela sessão acontecer, aí ela é colocada na programação. Então, nossa ideia é não atrapalhar o exibidor, que conhece muito bem os seus horários e pode determinar quais sessões que disponibilizará. Acreditamos que a própria plataforma vai ganhar espaço, mas sabemos que vai demorar. Ganharemos credibilidade e o exibidor poderá achar interessante colocar um filme do Kinorama em um horário mais nobre, por exemplo.

Hoje exibidores como a Cinemark, por exemplo, já fazem sessões especiais. A diferença é que você pode fazer a mesma coisa usando a plataforma e já saber que vendeu os ingressos previamente, saber quantas pessoas vão e se vale a pena ou não fazer aquela exibição.

Também não queremos mudar a relação que existe entre o exibidor e o distribuidor. Entraremos na cadeia exibidora como um serviço a mais e nos monetizaremos com uma porcentagem do valor do tíquete, assim como fazem empresas como a Ingresso.com.

Como essas sessões serão marcadas?

O financiamento coletivo por demanda não é tão automático quanto parece. Quando um espectador pedir por um filme na cidade dele, nós responderemos com uma série de perguntas. Tem todo um trabalho para avaliar a demanda. No caso do produtor, ele já vai estar dentro de uma estratégia para o filme.

A plataforma Kinorama estará disponível, a partir de julho, em seu site oficial.

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