04 Setembro 2024 | Gabryella Garcia
Filmes de Plástico comemora consolidação no mercado e mira crescimento ainda maior: "Somos atrevidos e gostamos de arriscar"
Celebrando mais de 15 anos de existência, a Filmes de Plástico é uma das homenageadas da Expocine 2024
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Em 2024 a produtora Filmes de Plástico está celebrando 15 anos de existência e, após um começo de dificuldades, como é a realidade de todas as produtoras independentes do Brasil, começa a se consolidar cada vez mais e ganhar espaço no cenário nacional do audiovisual. Prova do sucesso da produtora mineira que é liderada pelos diretores André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurilio Martins e pelo produtor Thiago Macêdo Correia, é o fato de a Filmes de Plástico ser a responsável por Marte Um (Embaúba Filmes), grande destaque do cinema brasileiro em 2022 e que levou oito troféus para casa no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2023. Além disso, recentemente a produtora expandiu ainda mais sua atuação no mercado com o lançamento da distribuidora Malute, voltada para o cinema nacional independente.
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Diante de toda a trajetória que proporcionou o crescimento do audiovisual para além de Rio de Janeiro e São Paulo, a Filmes de Plástico será uma das homenageadas neste ano na Expocine 2024, que acontecerá entre 8 e 11 de outubro para todo o mercado do cinema. Em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, Thiago Correia e Gabriel Martins repassaram toda a trajetória desde o dia 1º de abril de 2009 e também fizeram projeções para o futuro.
O marco inicial da Filmes de Plástico foi ainda nos tempos de estudantes dos quatro amigos, quando Maurílio e Gabriel estavam finalizando suas graduações em cinema no Centro Universitário Una e foram responsáveis pelo curta-metragem Filme de Sábado. "O Filme de Sábado foi um filme feito no final de 2008 quando o Gabriel montou tudo e precisava dessa assinatura. Gabriel e Maurílio estavam formados e com essa vontade de abrir uma produtora, que era o sonho de todos os estudantes naquele momento. Em um brainstorm muito aleatório surgiu o nome de Filmes de Plástico e o dia que é o marco do corte desse filme, da finalização do Filme de Sábado, é o dia que a gente considera o marco inicial da produtora", relembrou Thiago.
Hoje os quatro amigos se definem como "naturalmente atrevidos" e destacam que gostam de experimentar e arriscar, mas, no início, foi necessário entender o mercado do audiovisual brasileiro na prática para vislumbrar sucesso, sobretudo no campo de editais. O diretor Gabriel Martins afirmou que o caminho foi árduo até a produção de Ela Volta na Quinta, primeiro longa-metragem produzido pela Filmes de Plástico. Mas, após entenderem a melhor forma de se posicionar no mercado e causar impacto, hoje a produtora definitivamente conquistou seu espaço no mercado brasileiro.
"Aos poucos fomos conseguindo entender melhor esse mercado e o campo dos editais do cinema independente. A gente foi entendendo pouco a pouco e comendo pelas beiradas, como se diz aqui em Minas. Entendemos como podíamos chegar e criar um impacto e nossos filmes foram evoluindo com isso. Nós sempre tivemos muita ambição. (...) Em 2019 tivemos dois longas circulando em um mesmo ano e, com unhas e dentes, fomos abrindo o caminho no mercado junto com a valorização da crítica. É um espaço que foi sendo forjado por uma identidade muito forte e peculiar nossa e que nos trouxe até onde estamos agora", destacou Gabriel.
Essa identidade forte citada por Gabriel, inclusive, fez a Filmes de Plástico dar um passo a mais no mercado brasileiro para tentar suprir aquela, que na visão de seus fundadores, é uma das principais lacunas do mercado brasileiro: a distribuição. Para Thiago, o maior desafio de se fazer cinema no Brasil é fazer os filmes chegarem ao público, ainda mais levando em consideração a concorrência com blockbusters de Hollywood que possuem um investimento e orçamento infinitamente maiores. Nesse contexto, a distribuidora Malute chegou ao mercado no mês de agosto deste ano e fará sua primeira distribuição com o longa O Dia Que Te Conheci, que chega aos cinemas neste mês.
"A gente sentia que a circulação dos filmes ficava um pouco 'refém' de um método e nós, naturalmente atrevidos, gostamos de experimentar e arriscar na produtora para chegar onde chegamos. Foi arriscando e investindo em nós mesmo, então a ideia da distribuidora veio de sabermos que tínhamos um grande desafio mercadológico. A única possibilidade de experimentações diferentes disso era tendo o poder de decisão nas nossas mãos, e o único jeito de fazer isso de fato funcionar era abrindo uma distribuidora onde a gente tomaria todas as decisões. Obviamente temos limitações orçamentárias então estamos tateando o que podemos fazer e o que pode dar certo. Vamos absorver como aprendizado para os próximos filmes o que funcionar e acho que o surgimento da Malute é um reflexo do que foi a própria história da Filmes de Plástico até hoje", explicou Thiago.
Por fim, os sócios da produtora também destacaram que uma das principais dificuldades para produtoras independentes hoje no Brasil é acessar políticas públicas, mas também fizeram questão de ponderar que a Filmes de Plástico se encontra em um lugar de privilégio hoje e consegue ter esses acessos depois de um início de bastante dificuldades e aprendizados. Diante de um cenário em que se consolidam e crescem cada vez mais, a expectativa dos quatro cineastas periféricos é de um futuro de menos obstáculos para eles mesmos, e para produtores brasileiros independentes em geral.
"Nos próximos anos estamos muito abertos para pensar cada vez mais, agora como distribuidora, em como melhorar a comunicação com o público. Vamos fazer isso de uma forma mais ampla porque a gente deseja criar um lugar de comunicação plena e constante de pessoas que estão junto com a gente acompanhando a evolução dos filmes e também dos modos de produção. (...) Vejo que o futuro tem um caminho de maturidade e de entender essa loucura que aconteceu nos últimos 15 anos. Foram filmes feitos em circunstâncias muito diferentes, com muitas dificuldades, também por momentos políticos, ou até falta de orçamento. A expectativa é daqui para a frente ver a produtora de uma forma mais equilibrada e os projetos sendo executados de uma forma ainda mais madura com esse conhecimento que acumulamos nos últimos anos", finalizou Gabriel.
Confira a entrevista completa:
Como surgiu a iniciativa de criar a Filmes de Plástico e quais foram os marcos iniciais da produtora?
Thiago - A Filmes de Plástico surgiu em 2009 e foi um movimento de encontro de nós quatro (André, Gabriel, Thiago e Maurílio) feito de modos distintos. Todos éramos estudantes na época e dois lugares facilitaram o encontro desse nosso grupo. Um deles era a Escola Livre de Cinema, onde o André, o Gabriel e eu estudamos em momentos diferentes. Fizemos cursos de Técnico de Formação em Cinema, e o Centro Universitário Una, que foi o primeiro curso de graduação de cinema que surgiu em Belo Horizonte, e onde Maurílio e Gabriel estudaram. Maurílio e Gabriel apesar de serem vizinhos e terem nascido e crescido em bairros que ficam a 10 minutos andando de um para o outro, eles são de gerações um pouco diferentes e nunca tinham se visto. De repente na aula, ao se descobrirem pertencentes dessa mesma região, criaram uma conexão meio natural por virem da periferia de Contagem, que é a região metropolitana de Belo Horizonte. Acho que tinha uma questão meio natural de se enxergar no outro, e era basicamente esse grupo de amigos que estavam estudando e vendo possibilidade de fazer cinema.
Na época desses cursos, para além dos cursos em que se tinha possibilidades de produzir alguns curtas-metragens, na Escola Livre se produziam curtas-metragens ao final de cada módulo em 16 milímetros, o Gabriel e o André dirigiram filmes. Na Una tinha o curso de formação, mas também tinha experimentos e essa vontade de experimentar. Em um desses movimentos, o Gabriel teve a ideia de um filme que ia ser rodado com um agrupamento de pessoas pequeno e seria rodado no quintal da casa dos pais dele, na periferia de Contagem. Ele conseguiu apoio para usar uma luz de cinema e criou essa ideia metalinguística desse filme que virou o Filme de Sábado. Filme de Sábado se tornou o marco inicial da produtora e foi um filme que fizemos em um dia. Outra questão muito importante que possibilitou o surgimento da Filmes de Plástico foi uma grande revolução tecnológica, que foi o acesso às câmeras que filmavam em 24 FPS e fizeram com que a gente pudesse experimentar isso e tentar fazer filmes em uma época em que eram necessários outros recursos. Você precisava ter uma câmera, precisava de película, precisava de recurso para ir para o laboratório. E aí, de repente a gente podia fazer isso e montar no computador de casa. Enfim, o Filme de Sábado foi esse filme feito no final de 2008 quando o Gabriel montou tudo e precisava dessa assinatura. Gabriel e Maurílio estavam com essa vontade de eventualmente formados querer abrir uma produtora, que era o sonho de todos os estudantes naquele momento. Em um brainstorm muito aleatório surgiu o nome de Filmes de Plástico e o dia que é o marco do corte desse filme, da finalização do Filme de Sábado, é o dia que a gente considera o marco inicial da produtora, que é 1º de abril de 2009.
E após esses mais de 15 anos de estrada, como vocês avaliam a trajetória de vocês dentro do mercado audiovisual?
Gabriel - A nossa história teve muito a ver com uma construção de ir aos poucos e ir conseguindo entender melhor esse mercado, entender melhor o campo dos editais do cinema independente, e como que a gente poderia sobreviver enquanto produtora pensando também na evolução dos editais. Os editais públicos, através de arranjos regionais de outras políticas começaram a ter mais espaço para produtoras como a nossa, que estão fora do mercado e estão construindo o seu currículo, então a gente foi entendendo muito pouco a pouco e comendo pelas beiradas, como se diz aqui em Minas. Fomos entendendo como podíamos chegar e criar um impacto. Os nossos filmes foram evoluindo com isso, evoluindo enquanto tamanho de orçamento e evoluindo enquanto propostas. Sempre tivemos muita ambição. O nosso primeiro longa-metragem, Ela Volta na Quinta, é um filme feito com orçamento de curta-metragem, então a gente foi aos poucos evoluindo os aspectos da nossa produção e abrindo espaço pela qualidade dos filmes e deixando os filmes e as ideias serem o carro-chefe, sempre produzindo muito. Sempre tivemos uma produção muito rica principalmente de curtas metragens, mas eventualmente de longas a ponto de sermos uma produtora pequena. Em 2019 tivemos dois longas circulando em um mesmo ano e com unhas e dentes fomos abrindo o caminho no mercado junto com a valorização da crítica. É um espaço que foi sendo forjado por uma identidade muito forte e peculiar nossa e que nos trouxe até onde estamos agora. Até essa produtora com esse tempo de estrada e com um legado grande, porque nós realmente fomos produzindo os filmes e abrindo caminho.
E dentro dessa trajetória de vocês, como surgiu e entrou no caminho e radar de vocês a distribuidora Malute?
Thiago - A Malute é uma ideia que a gente vem tateando há um tempo porque produzir cinema é difícil. Todo mundo fala e é quase um clichê, mas o maior desafio de todos é fazer os filmes chegarem ao público. Evidentemente desde que a Filmes de Plástico surgiu existe uma grande crise de distribuição e os filmes não tinham como chegar no cinema. Quando veio o Fundo Setorial tem uma demanda e os filmes chegam ao cinema, mas como ter recursos para chegar aos cinemas? De repente começam alguns recursos mas não necessariamente isso se aplicava ao que era ofertado no sentido de espaço nas salas. Estamos há anos e anos discutindo Cota de Tela, mas de repente tem o lançamento de um blockbuster, como os filmes da Marvel, e fica com 90% de ocupação. Onde os filmes brasileiros que estão estreando vão ter escoamento? Para além disso, a própria formação do público, então a distribuição é um desafio e muitos bons filmes, filmes com potencial de comunicação, não conseguem chegar ao público por falta de recursos de marketing.
Às vezes, por exemplo, filmes produzidos por majors que têm condições de fazer propaganda em televisão facilitam para acessar o público porque vão ter mais salas. Eles vão ter o marketing e os filmes menores não tem isso, então como fazer isso acontecer? É um desafio muito grande e a gente se sentia de certo modo condicionado a modelos que estavam sendo estabelecidos. Refletindo as limitações dessas circunstâncias todos a gente sentia que a circulação dos filmes ficava um pouco “refém” de um método do que era possível. Nós somos naturalmente atrevidos, gostamos de experimentar e arriscamos na produtora para chegar onde chegamos. Foi arriscando e investindo em nós mesmos, então a ideia da distribuidora veio de sabermos que tínhamos um grande desafio mercadológico, isso era um fato, e pensamos situações e circunstâncias que possibilitassem experimentações de ideias diferentes que podem não funcionar, mas talvez possam funcionar. O único jeito disso poder acontecer é tendo o poder de decisão nas nossas mãos, e o único jeito de fazer isso de fato funcionar era abrindo uma distribuidora onde a gente tomaria todas as decisões. No momento atual da Malute vamos ter O Dia Que Te Conheci, nossa primeira distribuição, então estamos tateando nas nossas decisões. Obviamente também temos limitações orçamentárias, então estamos tateando o que podemos fazer e o que não podemos fazer, o que pode dar certo e o que talvez não dê certo. Mas vamos absorver como aprendizado para os próximos filmes o que funcionar. Acho que o surgimento da Malute é um reflexo do que foi a própria história da Filmes de Plástico até hoje.
Além dessas dificuldades citadas, o mercado audiovisual também se transformou de forma bastante acelerada na última década. Como a Filmes de Plástico observou essas mudanças e como se posicionaram diante delas?
Thiago - A Filmes de Plástico é fruto desses dois momentos que já mencionei. A questão do acesso à tecnologia, uma tecnologia que nos deu liberdade de criação e de experimentação, e a gente também é fruto das políticas públicas. Na virada de 2009 para 2010 a gente conseguiu começar a acessar políticas públicas locais e nos idos de 2014 e 2015 a gente começou a acessar as políticas públicas federais em um movimento que foi muito notório não só para a Filmes de Plástico, mas para as produtoras de todas as regiões do país. Houve uma descentralização e democratização de acesso a esses editais e na época o Programa Brasil de Todas as Telas, do FSA, fez com que produtoras de fora do eixo, como a Filmes de Plástico, se tornassem competitivas com empresas experientes e estabelecidas no mercado. Somos fruto dessas duas circunstâncias e sem isso a Filmes de Plástico talvez tivesse ficado condicionada a um grupo de jovens que tinha muita ambição e muita vontade, mas não podia alcançar algumas dessas questões.
Como essas mudanças foram acontecendo elas possibilitaram que esses “outsiders”, nós como uma empresa de fora do eixo com três cineastas periféricos, eu do interior e dois homens negros, que não somos da elite do cinema, pudessemos nos beneficiar. Nós não nascemos na elite do cinema e o cinema com o qual a gente cresceu, não pertencíamos de fato. Fomos ocupar um lugar “que não era para a gente” mas forjamos esse lugar e aproveitando das situações que nos beneficiaram e modificaram o cinema, nossa resposta foi fincar essa bandeira. Estou falando da Filmes de Plástico, mas também de inúmeros realizadores, produtores e produtoras que também vêm de lugares “marginalizados” e, em um meio tão elitizado, ocuparam um espaço através de sua voz artística e de sua potência de criação de trabalhos. Nossa resposta como Filmes de Plástico foi de estabelecimento dessa nossa ambição, mas compensada pela nossa voz artística e pela confiança de que a gente estava dentro de um jogo que valia a pena estar jogando. Se temos mais incentivos vamos corresponder a esses incentivos e vamos propor nosso projeto. Vamos nos especializar, vamos internacionalizar o nosso trabalho, e os prêmios que ganhamos, o reconhecimento que tivemos, validaram a possibilidade de que de fato vale a pena ter investimento no cinema, que é uma indústria que tem capacidade de circulação e geração de empregos.
A Filmes de Plástico, assim como diversos outros agentes, nessa última década, respondemos a tudo isso. Há um afloramento e uma potencialização do audiovisual com sede de demonstrar que esse é o caminho natural e de um certo modo faz sentido que o audiovisual cresça. De fato ele tem que crescer e nós não estamos pedindo um favor. Com as crises recentes da pandemia e também de um governo que na prática era contra a cultura, acho que o audiovisual se provou forte e mostrou sua força. Proclamaram diversas vezes que era o fim do cinema e o cinema não acabou. O cinema vai continuar existindo e não acabando. Sabemos que existem desafios e falamos aqui, por exemplo, da distribuição, mas existe essa ganha de acharmos o caminho para contornar esse desafio para se reconfigurar e achar um outro modo de manter o audiovisual fortalecido.
Você falou bastante da questão da falta de recursos e dificuldades em acessar editais e políticas públicas. Você consegue elencar quais são as principais dificuldades de ser uma produtora independente no Brasil? Realmente é a falta de incentivos ou há outras questões?
Thiago - Quero ter um cuidado com essa resposta porque se estamos falando do momento atual, posso falar de momentos distintos da produtora. Obviamente no começo da Filmes de Plástico existia uma dificuldade e nós ainda não tínhamos nos estabelecido, mas hoje não posso falar que a produtora não consegue acessar os recursos. Hoje nós conseguimos e conseguimos competir democraticamente. Seria um equívoco eu dizer que a produtora não tem possibilidade de acesso, mas posso dizer que para produtores independentes de modo geral, a principal dificuldade que se instaura hoje é a necessidade de uma integralização de forças para que um projeto seja lido pelas suas qualidades e métodos. Hoje esse projeto não vai ser feito por relevância artística ou capacidade de bilheteria, seja qual for o perfil da linha pública. Criou-se um sistema de acesso que é limitado e está disponível para quem consiga uma “quantidade de pontos”, ou seja, se você é uma realizadora jovem você só consegue ser lida em um edital se você tiver com uma produtora grande e uma distribuidora grande. Se você se unir a uma nova produtora e uma nova distribuidora, na maior parte das vezes seu projeto não vai ser lido porque você não vai ter uma “nota de corte” para isso. Esse é o maior desafio porque isso quebra a democratização de acesso, então se você não é grande, basicamente você nunca vai existir.
Nesse contexto você diria que falta uma união maior entre todos os elos da indústria? Produção, exibição e distribuição?
Thiago - Acho que falta união, mas não acho que seja a questão desse ponto que eu trouxe. A questão desse ponto é um entendimento melhor da política pública de que ela tem que beneficiar todos e não só uma faixa concentrada. Hoje, de modo geral, o que está acontecendo na política pública audiovisual, especificamente nas decisões do FSA, é que infelizmente eles estão estabelecendo critérios para um projeto ser lido. Você precisa ter um número de pontos X, e para você ter esse números de pontos X, não interessa o seu projeto. O que vai interessar é se você tem experiência como diretora, se a sua produtora tem essa experiência enquanto empresa e se a distribuidora também tem essa experiência. Isso aplicado a todas as linhas cria uma discrepância de que só vai ganhar quem tiver essas possibilidades de acesso, e isso é uma preocupação da ideia de política pública.
Mas também queria deixar muito claro e ter um cuidado nessa resposta porque estou falando de um cenário geral, não quero que isso fique atribuído a algo como “a Filmes de Plástico não consegue acessar os recursos por conta disso” porque esse não é o nosso caso hoje.
E diante de todas essas reflexões e retomada da trajetória da Filmes de Plástico, como vocês descreveriam o momento atual e quais são as perspectivas para o futuro?
Gabriel - Tenho a sensação de que realmente tivemos alguns fechamentos de ciclos com esses últimos projetos, e principalmente entendendo um desses últimos projetos como sendo Marte Um. Acho que isso abriu algumas possibilidades e isso vai em consonância também com a abertura da Malute. Como já foi dito, acho que começamos cada vez mais a querer traçar uma perspectiva e colocar cada vez mais força nessa possibilidade de lançamentos de filmes e de tentar fazer com que nossos filmes cheguem em mais pessoas. Acho que uma coisa que nos frustrou muito nos primeiros trabalhos era entender o quanto é difícil essa etapa de distribuição. Entendemos que contamos com projetos com muito potencial popular, que têm uma comunicação muito forte com o público e que foram se provando a cada filme. Nem sempre isso se concretizava por uma série de circunstâncias que não controlamos, então vejo que nos próximos anos estamos muito abertos para pensar cada vez mais, agora como distribuidora, em como fazer isso melhor.
Vamos fazer isso de uma forma mais ampla porque a gente deseja criar um lugar de comunicação plena e constante de pessoas que estão junto com a gente, acompanhando a evolução desses filmes, e também nos modos de produção. Queremos entender outras maneiras de produzir de formas mais amplas e como melhorar nosso modo de produção para chegar em resultados melhores e com menos obstáculos no caminho. Vejo que esse futuro tem um caminho de maturidade e de entender essa loucura que aconteceu nos últimos 15 anos. Foram filmes feitos em circunstâncias muito diferentes, com muitas dificuldades também por momentos políticos e etcétera, ou até falta de orçamento. A expectativa é daqui para a frente ver a produtora de uma forma mais equilibrada e os projetos sendo executados de uma forma ainda mais madura com esse conhecimento que acumulamos nos últimos anos.
Gostariam de acrescentar mais alguma coisa?
Thiago - Do nosso lado gostaríamos de agradecer porque ficamos muito felizes e, obviamente, entendemos o lugar que ocupamos hoje como um lugar de privilégio. Não é qualquer coisa uma empresa existir há 15 anos, então entendemos a importância disso e seguimos com essa perspectiva de apontar para o futuro trazendo coisas novas. Isso nos enche de entusiasmo e nos deixa empolgados por pensar no que ainda vem pela frente. Por mais percalços que existam nesse caminho de trabalhar com audiovisual ou de lidar com recursos públicos, seguimos muito convictos da força do audiovisual e de que o futuro é brilhante. É apontar para a frente e seguirmos fortes.
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