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04 Outubro 2023 | Gabryella Garcia

Falta de incentivos e políticas públicas são entraves para desenvolvimento do turismo audiovisual no Brasil

Painel da Expocine discutiu caminhos para que o Brasil consiga atrair produções audiovisuais que ajudem a fomentar o turismo no país

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(Foto: Mariana Pekin)

O painel Como atrair mais produções internacionais para as cidades brasileiras? aconteceu no segundo dia da Expocine 2023 e trouxe reflexões acerca do turismo e do audiovisual no Brasil. Buscando encontrar meios para que possam caminhar de forma concomitante para atrair investimentos internacionais ao audiovisual brasileiro, a coordenadora da São Paulo Film Commission, Carolinne Golfeto, a head de produção executiva da O2 Filmes, Flavia Zanini, e Christiano Braga, supervisor de economia criativa na gerência de experiências e competitividade internacional da Embratur, fizeram importantes apontamentos sobre o tema. A mediação do debate foi feita por Paulo Vieira, da Revista Poder.

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O turismo audiovisual, inclusive, é visto como uma das top 10 tendências do mercado pós-pandemia e, por isso, há uma grande expectativa para organizar esse segmento no Brasil. Em sua fala inicial, Christiano Braga refletiu sobre as dificuldades, mas também os benefícios do desenvolvimento desse mercado: "Turismo e audiovisual possuem questões diferentes, mas podem andar juntos. O turismo representa 8% do PIB do país e 67% do que se gasta na produção audiovisual vai para outros setores da economia, então precisamos fazer essa aproximação e trabalhar o turismo com uma perspectiva audiovisual. As pessoas tomam a decisão de viajar pelo que veem na tela e temos buscado atrair para o Brasil nos próximos anos essas pessoas, mas o desafio para o desenvolvimento do turismo audiovisual é como atrair as produções internacionais".

Na sequência, Flavia Zanini apontou que uma das principais dificuldades para atrair essas produções é a falta de capacitação das equipes brasileiras além, é claro, dos incentivos oferecidos pelos governos, seja federal, estadual ou municipal. "Quando chega na hora da produção e vamos orçar uma produção, o gringo vem e a primeira pergunta é sobre incentivos, mas também perguntam sobre a equipe. Nossa equipe é excelente, mas devido a maneira como a educação é feita no Brasil, as pessoas não têm oportunidade de aprender inglês. Quando você não tem uma equipe inteira que fala inglês, o profissional vai perder uns 20 minutos no final do dia com questões de tradução e no nosso mercado não pode ter atrasos. Isso gera uma frustração e não conseguimos suprir algumas coisas. Precisamos de mais capacitação e de processos menos burocráticos também, porque esse é um mercado enorme", apontou a executiva.

Recentemente, a série Black Mirror fez filmagens na Parada do Orgulho LGBTQIAP+ de São Paulo e Carolinne Golfeto destacou o potencial da cidade em atrair diferentes produções pelo fato de não ter um cartão postal muito marcante, como o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, por exemplo, e poder "ser todos os lugares e também nenhum lugar". Mas para que esse potencial seja explorado em sua máxima capacidade, ela destacou a importância de incentivos governamentais que possam fomentar o turismo audiovisual.

"Essa flexibilidade que São Paulo tem pode ser uma caminho e uma solução, mas tem que ser acompanhada de uma política pública condizente e de incentivos. É necessário uma política fiscal ou tributária de incentivos para que as produções venham para o Brasil. Outra questão importante é a da equipe, porque não adianta ter uma política eficiente sem uma equipe técnica capacitada, não apenas nas questões criativas, mas também técnicas. Outro ponto muito importante é a questão da estabilidade, é necessário uma política estável para que o Brasil se torne um lugar favorável para filmar no longo prazo agora e daqui 10 anos também. Precisamos ter uma política de estado para o país e não a política de apenas um governo", ponderou a coordenadora da São Paulo Film Commission.

Ainda na questão de incentivos públicos, Braga destacou que a Lei Paulo Gustavo, sancionada pelo presidente Lula (PT) no mês de maio, é um instrumento de extrema importância para conseguir alavancar o turismo audiovisual no país. "O inciso 3 da lei fala especificamente sobre o desenvolvimento das cidades através da cultura, mas os desafios são enormes para organizar esse turismo audiovisual. São mundos diferentes e ao mesmo tempo complementares. Pensando na perspectiva do turismo, não basta que uma produção aconteça no Brasil se ela não gerar uma experiência necessária para que o turista queira visitar nossas cidades. É importante trabalhar nossas políticas para atrair filmagens e criar condições para isso e o governo federal se mobilizar para isso", disse.

Além das questões destacadas como fundamentais pelos painelistas, Carolinne Golfeto também apontou para a necessidade de um levantamento baseado em dados para a criação de políticas, apesar de reconhecer as dificuldades. Ela destacou que esses dados ajudam a visualizar ganhos econômicos e, para ilustrar, afirmou que entre 2019 e 2021 houve um aumento de 200% do investimento internacional em produções brasileiras: "Um ponto fundamental é o levantamento de dados, porque é difícil ter dados do turismo cinematográfico. Várias das nossas conquistas vieram através do levantamento de dados econômicos, como quando mostramos que a cidade de São Paulo perdia R$ 500 milhões por ano com a proibição de filmagens residenciais que vigorou por dois anos".

Um outro ponto apontado como fundamental para o desenvolvimento do turismo audiovisual no Brasil, além da capacitação das equipes, da desburocratização dos procedimentos e do incentivo público, foi o investimento do setor privado também. Flavia Zanini destacou essa necessidade de investimento e comprometimento de instituições privadas, e citou como um exemplo de caminho a ser seguido uma possível parceria com plataformas de streaming que também invistam em produções no Brasil, custeando as despesas junto com as produtoras.

Por fim, no encerramento do painel, Christiano Braga também falou em um momento de retomada do audiovisual no Brasil, depois de quatro anos de um governo que pouco investiu na cultura de uma forma geral. "Estamos vivendo uma oportunidade única de retomada e espero que os anúncios de investimentos no audiovisual que foram feitos pelo governo de fato aconteçam. Estamos em um momento oportuno de articulação na esfera pública, mas esse desafio não pode ser só do governo, o desafio também é público-privado e o momento é oportuno", finalizou.

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