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30 Junho 2023 | Gabryella Garcia

"Um Dia Cinco Estrelas" é uma comédia para a família com mensagens sutis para a sociedade

Filme dirigido por Hsu Chien aborda questões de família, empoderamento feminino e novos modelos de relacionamentos sem forçar a barra e de maneira divertida

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(Foto: Divulgação)

A comédia brasileira está voltando aos cinemas após um período de baixa do gênero nas telonas, sobretudo após fazer grande sucesso nos streamings e deixar as salas de cinema um pouco mais vazias, mas a estreia de Um Dia Cinco Estrelas (Downtown/Paris) chega, em 6 de julho, para subverter essa lógica. O longa é para toda a família e traz mensagens sutis, sem forçar a barra, sobre amizade, empoderamento feminino e novos modelos de relacionamento ao longo de toda a trama.

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O filme se apresenta utilizando uma fórmula comum em muitos grandes sucessos, que é a reprodução de situações corriqueiras do nosso dia a dia. A trama se desenvolve ao redor da história de Pedro Paulo, interpretado por Estevam Nabote, em seu primeiro dia como motorista de aplicativo. A ideia força uma conexão imediata com o público, afinal, quem nunca chamou um motorista por aplicativo?

O Portal Exibidor assistiu ao filme e teve a oportunidade de conversar com o diretor Hsu Chien, com o ator Estevam Nabote e com as atrizes Aline Campos, Nany People e Danielle Winits sobre as expectativas para a estreia de Um Dia Cinco Estrelas e a importância das mensagens passadas ao longo da produção.

Hsu Chien pontuou que apesar do momento de dificuldade enfrentado pelo cinema nacional, sua missão como diretor é não desistir e trabalhar para que o filme seja um grande sucesso e convença as pessoas a irem até os cinemas prestigiar um filme nacional. "É um desafio e a gente sabe que o cinema brasileiro, pela pandemia e também pelo governo que acabou de sair, levou um suco em suas bilheterias. A volta do público para assistir a um conteúdo nacional ainda está engatinhando e os filmes estão indo muito devagar porque o streaming absorveu todo esse público. As pessoas estão literalmente com preguiça de sair de casa para ver um filme no cinema e saem para ver apenas os grandes filmes, então estamos empenhados nessa missão [de trazer o público de volta aos cinemas para assistirem ao conteúdo nacional]", disse.

Uma das apostas do diretor é a produção de uma comédia que contempla toda a família, uma vez que, em suas palavras, "as pessoas estão precisando se divertir". Para isso, a fórmula escolhida foi a da reprodução do microcosmo do povo brasileiro, representando todas as raças, gêneros e classes sociais. "É uma família muito grande e espero que o público entenda toda a alegria com que a história é contada. O filme também tem nuances porque além da comédia, traz momentos de emoção e do drama da relação entre uma mãe e um filho", complementou.

No decorrer da história o personagem interpretado por Estevam Nabote começa a trabalhar como motorista de aplicativo em seu Opala dos anos 1970 para ajudar sua família e realizar o sonho de sua mãe, interpretada por Nany People, de viajar para Buenos Aires. Estevam, inclusive destaca que muitas famílias vão se identificar com o filme, porque ele fala muito sobre a valorização da família e também das amizades.

"Hoje em dia está todo mundo muito no automático e o Pedro Paulo também entrou no automático. O que dá força para ele é a família e as pessoas que ele vai conhecendo e se identificam com a história dele. É muito sobre amor e a amizade de um desconhecido que faz corridas de aplicativo. As pessoas criam carinho pelo Pedro Paulo e isso dá uma lupa para a gente na vida real passar a observar mais as pessoas, suas histórias e o próprio motorista de aplicativo e conversar com ele. O filme tira a gente um pouco do automático e coloca na vida real falando muito sobre amor e família, e essa família não precisa nem ser de sangue".

Falando em família, Nany People também nos contou que Dona Nilta, sua personagem, tem muito em comum com ela mesma. "Eu realmente sou muito maternal e acolhedora. Sou mineira e mineira, quando chega visita em casa, a gente dá a cama para a visita deitar. É cultural isso de dar a cama. Essa coisa de ser acolhedora e ser maternal demais é algo que tenho da Dona Nilta e me identifico, até porque sou canceriana".

Além da questão familiar, o filme também acaba tratando do empoderamento feminino. Manu, que é a personagem de Aline Campos, é casada com Pedro Paulo e se mostra como uma mulher guerreira e de muita força. Ela é a provedora do lar, até invertendo uma lógica machista e arcaica de nossa sociedade de que a mulher deve ser sustentada, e também responsável por resolver diversos problemas que acontecem ao longo da trama. O mais interessante é que a mensagem de empoderamento é passada de forma sutil e natural durante o desenvolvimento da história, sem nenhum tipo de forçação de barra.

"É muito importante ter personagens e assistir a histórias de mulheres como a Manu. Ela é a pessoa que segura a carga mais pesada ali na história, mas sinto que ela gosta disso. Existe uma zona de conforto de ser sempre forte e guerreira, e hoje olhando de fora eu posso dizer para a Manu, e também para a Aline, que é preciso dividir um pouco esse peso porque ninguém precisa ser essa fortaleza sempre, mas às vezes é necessário. É uma personagem muito empoderada e muito forte que deu muito prazer, orgulho e alegria em poder viver", contou à Exibidor.

Novos modelos de relacionamentos também são abordados de maneira divertida e sutil no filme. Sem spoilers, mas podemos adiantar que há uma família composta por três pais, uma mãe e uma criança, além de uma mulher traída por seu marido e seu cabeleireiro que mantém uma relação amigável com ambos. Danielle Winits, inclusive, destacou a importância desse tipo de mensagem de liberdade, ressaltando a importância do cinema nacional para eternizar histórias e ensinamentos.

"Acho fundamental nos autorizarmos a entender tudo isso porque parece que hoje em dia existem juízes que estão do lado de fora e querem desautorizar nosso acolhimento. Se eu me acolho e me permito acolher é uma escolha minha. Acho fundamental o acolhimento de todas as formas de amor e acho que o cinema tem esse poder de eternizar as histórias e pegar na massa mais até do que outras mídias, porque o cinema eterniza e você pode revisitar e voltar com ele depois de tempos. Por mais que a gente não quisesse estar doutrinando e ensinando, a gente precisa estar fazendo isso sobre algumas questões tão básicas e que já deveriam nascer com as pessoas, não deveriam ter que ser aprendidas.

Expectativas e importância de uma boa estreia

O cinema nacional vive um momento de dificuldade e pouca força dentro das salas de cinema, uma vez que as produções brasileiras tiveram apenas pouco mais de meio milhão de espectadores até o momento. Mas, se Um dia Cinco Estrelas tem um motivo para se animar, é que o filme nacional mais assistido até o momento em 2023 foi uma comédia. Desapega (Imagem Filmes) levou mais de 150 mil pessoas para os cinemas neste ano, inclusive, também dirigida por Hsu Chien

Nany People, apesar de otimista para a estreia, também chamou de "cruel" a obrigatoriedade que os filmes têm de vingarem logo nas primeiras semanas para conseguirem se sustentar ao longo do tempo. "Isso é muito cruel e é o oposto do que acontece no teatro, quando a peça vai ganhando força no boca a boca e o sucesso da peça vai acontecendo. Isso é muito cruel com o cinema e principalmente por ser a indústria que mais emprega pessoas no audiovisual. A gente está estreando praticamente saindo de um lockdown, saindo de casa de novo, e vai ser maravilhoso poder ver uma sala de cinema lotada com um filme nacional e que conta uma história que todo mundo vai se apaixonar. É muito legal porque dá uma catarse muito grande nas pessoas e elas vão se identificando com os personagens que vão dando um jeitinho brasileiro".

Apesar do momento de dificuldade enfrentado pelo cinema nacional, que foi apontado também pelo diretor Hsu Chien, Danielle Winits destaca que a fórmula do filme, voltado para toda a família, tem um grande trunfo que é o período de férias escolares.

"Acho fantástico a gente estar voltando e esse filme estar estreando no período de férias. Eu tenho um filho e para mim isso é sensacional. As pessoas já estão com vontade de voltar para os cinemas, porque ficamos muito tempo dentro de casa, e isso é uma motivação a mais para as pessoas saírem de casa com toda a família. As férias dão uma facilidade maior de ir ao cinema e passamos um período muito doloroso confinados dentro de casa. É muito significativo a gente poder estar de volta com as comédias nacionais sendo feitas de uma forma tão brilhante e a gente poder fazer as pessoas saírem de casa e terem uma rotina de ir ao cinema e se divertirem com um filme nacional".

No final do bate-papo com a Exibidor, Aline Campos também deixou um recado pedindo para que o público prestigie o cinema nacional. "Esse momento de férias é super oportuno para irem ao cinema logo na estreia, porque isso vai fortalecer muito o cenário do cinema nacional. No fundo sei que todos amam cinema porque não tem nada igual a uma tela de cinema e assistir a um filme na tela de cinema. Assistir na estreia é importante porque isso faz com que os filmes ganhem mais força e permite que cada vez mais filmes brilhantes sejam produzidos para todo mundo", finalizou.

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