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14 Abril 2023 | Cobertura: Yuri Codogno / Texto: Renata Vomero

Valorização do coletivo: os caminhos para o futuro da experiência cinematográfica

Painel do Rio2C reuniu Patricia Kamitsuji, Camila Pacheco, Iafa Britz, Monica Portella e Paulo Samia

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(Foto: Exibidor)

O último dia de conferência do Rio2C foi marcado – e não coincidentemente – por encontros que tiveram como tema principal a discussão sobre a valorização das salas de cinema e a experiência única que ela proporciona.

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Um deles reuniu Camila Pacheco, diretora executiva de marketing da Sony América Latina; Iafa Britz, produtora e fundadora da Migdal Filmes; Monica Portella, diretora de Marketing e Vendas da Rede UCI Cinemas; e Paulo Samia, CEO do Uol. Com o nome de “O Futuro do Cinema e como qualificar a experiência cinematográfica”, o painel foi moderado por Patricia Kamitsuji, veterana do setor de exibição e distribuição e especialista de mercado.

Aliás, Patrícia abriu a conversa apresentando uma série de dados e informações da indústria brasileira e da América Latina para situar todo mundo quanto ao momento que estamos vivendo. Algumas dessas informações da Comscore dão insights importantes para os players e profissionais do setor.

Um dos principais deles são os dados gerais de renda de 2022, que representou 17,4% de crescimento global de bilheteria, em US$26 bilhões. No Brasil, houve aumento de arrecadação de 101,9% (R$1,8 bilhão) e 84,5% de público, que chegou a quase 100 milhões.

Com isso, o Brasil subiu para a 11ª posição no ranking global, ficando atrás de EUA, China, Japão, Reino Unido e Irlanda, França, Coreia do Sul, Alemanha, Austrália, México e Espanha. Além disso, ficamos entre os cinco países com o maior crescimento da América Latina, que sozinha deu um salto de 90% em 2022.

Outros insights também trazidos mostram o sucesso das duas edições da Semana do Cinema, que ofereceu ingressos a R$10 em setembro do ano passado e fevereiro deste ano. Nas duas ocasiões, o público geral foi de mais de 3 milhões de espectadores, colocando os fins de semana em questão entre os de melhor desempenho no ano.

“O cinema vai existir pelo simples motivo que hoje milhares de pessoas saem de casa para ir ao cinema e não vão só para assistir a um filme, vão para socializar, ter uma experiência. É sobre isso que vamos falar aqui e como vamos aumentar essa frequência, que estamos precisando”, destacou Patricia.

Com isso, Camila Pacheco entrou em cena para destacar os desafios e os processos que envolvem o trabalho da distribuição. O segmento é responsável não só por levar o filme ao público, mas por desenvolver a estratégia mais assertiva para isso e também tornar o título sedutor para que o espectador vá ao cinema consumi-lo.

“Nosso trabalho na distribuição é cada vez mais oferecer experiências diferenciadas, com conteúdos, com ações, e trazer relevância para o cinema. Ele é um trendsetter, fala de coisas que viram assunto, tendência, referência e isso é o que gera urgência e motivação para irem ao cinema, elas querem fazer parte dessa conversa. Uma sigla que se usa muito inglês é o FOMO (Fear of Missing Out), você precisa estar naquela conversa e fazer parte daquilo”, destacou a executiva.

E impossível não tocar neste tema com a distribuidora sem relembrar o sucesso de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, lançado em 2021 e dono da retomada aos cinemas na pandemia. Por aqui, o filme levou mais de 17 milhões de pessoas à sala escura e é a segunda maior bilheteria da história do país.

Camila trouxe o filme para exemplificar o quanto ele elevou a experiência de cinema ao destacar a vivência em coletivo e o quanto ela é especial e gera essa relação afetiva com a sala escura e o conteúdo que está em tela.

“A sala de cinema virou um estádio de futebol e gosto dessa analogia porque o cinema é onde as paixões são exemplificadas e o cinema é o templo das paixões e serve para qualquer tipo de paixão, não só por filme de heróis, mas de comédia, drama, terror. Isso reverberou no recorde”, ressaltou.

E a meta da distribuição é alcançar isso em todo filme, entender do que ele se trata, para qual público é e como chegar nessas pessoas. Outro case importante foi o lançamento de A Mulher Rei, em setembro do ano passado, em que a distribuidora trouxe a estrela Viola Davis ao Brasil, dada toda essa divulgação e burburinho para o longa, o país se tornou o maior mercado para ele.

Como próximo lançamento, está Ninguém é de Ninguém, baseado no livro de Zíbia Gasparetto, que trata de temas importantes para a sociedade, como relacionamentos tóxicos e abusivos sob o espectro da espiritualidade. Para divulgar o filme, Camila destaca a ação em parceria com a Cinemark para a realização de uma sessão debate com elenco do filme e uma juíza especializada em violência doméstica.

“Isso se aplica para tudo, claro que tem filmes com maior e menor investimento, mas fomentar aquele filme para uma determinada parcela da população, uma determinada audiência. Não importa, o trabalho é o mesmo, o raciocínio é o mesmo”, concluiu.

E já que a conversa se direcionou para o assunto do cinema nacional e como encontrar público, não é segredo para ninguém o quanto nossas produções ainda enfrentam dificuldades para se recuperar e somar os mesmos valores de antes da pandemia. Só em 2022, o market share do cinema nacional foi de 4,3%, segundo os dados da Comscore.

Para Iafa Britz, é preciso ter um pouco de paciência para trabalhar com esses títulos hoje, pensando em ter bons retornos a partir do próximo ano. No momento, o desafio para os produtores é de justamente encontrar as melhores histórias que reverberem com o público.

“A minha obrigação e dos produtores é encontrar aquilo que o público quer ver, mas não sabe que quer ver. Nosso trabalho é fugir de algoritmos. O que impera em uma sala de cinema é a originalidade e a qualidade”, destacou.

Para tal é preciso trabalhar com uma boa diversidade de pessoas, histórias e formatos na tela grande, acima de tudo, trabalhar com as audiências para que elas pouco a pouco retomem sua relação com nosso audiovisual. Além disso, o estabelecimento de parceria entre os players deve ser fundamental para que toda a indústria possa se beneficiar do enriquecimento da produção nacional.

“Precisa de investimento de tempo e energia, que a cadeia como um todo dê chance para surpresas positivas. Não tem como criar uma franquia do zero se não tiver investimento da produção, distribuição, exibição e comunicação. A gente sabe que o exibidor saiu machucado da sala de cinema, mas para se criar novas franquias, que é o que mercado pede para gente, a gente precisa de ambiente para isso e estamos sem ambiente e precisamos criar políticas para isso, se não tem cota de tela, as empresas precisam ter um compromisso com o cinema nacional”, reforçou a produtora, que segue otimista, com a certeza de que nossa indústria vai somar grandes realizações no futuro.

E se estamos falando do espaço na tela grande, nada melhor do que trazer para a conversa alguém do setor de exibição, de uma das maiores redes do Brasil, a UCI, que celebrou 25 anos de existência no país no ano passado.

Tendo em vista a dura retomada, a empresa vem reforçando a experiência em sala com excelência em serviços e formatos tecnológicos que garantam uma vivência única dentro dos cinemas, com Imax, 4DX, Dolby Atmos e salas VIP.

No entanto, Monica ressalta que o foco principal da empresa neste pós-pandemia vai além disso, vai na ideia de mostrar ao público a particularidade da experiência coletiva que só pode ser vivida dentro da sala escura.

“Rir com o outro, chorar com o outro, levar um susto. Isso expande a experiência, muito diferente de ver em casa. A gente trabalha isso neste pós-pandemia: ‘temos a melhor tecnologia, mas aqui você encontra sua tribo, sua galera’”, ressaltou.

Indo ao encontro desta ideia a UCI criou um projeto chamado Fan Event, em que aproveita os lançamentos que somam comunidades de fãs para ser um espaço especial para essa reunião, que gera identificação e fortalece essa troca coletiva da sala escura.

Outro exemplo é o UCI Day, realizado para celebrar o aniversário da rede.  No dia, normalmente uma segunda-feira, a empresa exibe exclusivamente alguns clássicos e filmes mais antigo. Na última edição, os fãs puderam assistir a Crepúsculo e ter sua paixão pelo filme validada nos espaço de cinema.

Indo na direção de um trabalho mais estratégico para atrair ou reter os clientes, está no centro o UCI Unique, programa de relacionamento da rede, que conta com uma base de mais de 400 mil consumidores ativos (que já foram 700 mil).

Por meio dessa solução, a UCI entende o comportamento do público e cria ações e iniciativas, até mesmo personalizadas, com base em seus gostos e hábitos, até pensando em trazer de volta aqueles espectadores que ainda não retornaram aos cinemas.

E parte desses dados são cruzados justamente com a base da Ingresso.com, adquirida no ano passado pelo Uol, empresa liderada por Paulo Samia. Pode parecer um pouco estranho, mas a presença do executivo no painel veio justamente para fortificar a ideia de que a experiência de cinema passa por um caminho mais longo do que o físico – de produção até a exibição do filme –, ele também envolve a compra de ingresso, os caminhos do cliente para saber daquele filme e até o momento em que volta para casa e avalia a experiência.

“Uma palavra consistente na fala de todas foi a experiência, ela tem que ser fluida em cada momento do consumo. Somos fortes em produção de conteúdo de entretenimento, entendemos que temos que estar em todos os momentos de consumo, para acompanhar cada jornada deste cliente”, comentou. O Uol conta com uma base de 110 milhões de leitores em seus canais.

Já falando exclusivamente da Ingresso.com, há ali um potencial de crescimento ainda maior para chegar no público, entendendo suas principais demandas e aprimorando toda a cadeia e oferta de facilidades, produtos e conteúdos a partir disso. Com isso, há possibilidade de maximizar a receita de toda a indústria e tornar o entretenimento como um grande protagonista.

“Por isso a gente acredita muito no futuro desse formato de conteúdo, no futuro dessa experiência do consumo de conteúdo em salas de cinema e essa é a nossa tese de investimento em adquirir a Ingresso.com. Também queremos participar de outros elos da cadeia, com nosso tamanho, audiência e capacidade de geração de conteúdo”, concluiu.

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