20 Julho 2022 | Yuri Codogno
Netflix perde quase 1 milhão de assinantes, mas ações sobem 7%
Estimativa da companhia era de queda de ao menos o dobro de usuários no trimestre
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Dizem que manter as expectativas baixas é um ótimo caminho para obter ótimos resultados. E no caso da Netflix, aparentemente foi isso o que aconteceu. Mesmo após bater negativamente um recorde histórico, com cerca de 970 mil assinantes abandonando a plataforma no segundo trimestre do ano (período de abril, maio e junho), a empresa tem motivos para comemorar.
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A explicação é que a Netflix esperava perder pelo menos 2 milhões de assinantes, enquanto as expectativas de perda dos analistas variavam entre 1,5 milhão e 4 milhões. Então por essa ótica, perder apenas 1 milhão não parece ser um mau negócio. Muito pelo contrário, visto que as ações da empresa subiram 7% em apenas um dia. Os números são do relatório referente ao segundo trimestre fiscal da Netflix (que se encerrou no dia 30 de junho), liberado na noite de ontem, 19 de julho.
A maior queda ocorreu nos EUA e Canadá, em que juntos somaram 1,3 milhão de assinantes a menos, enquanto na Europa e Ásia Ocidental a perda foi de 770 mil. Em contrapartida, na América Latina os números se mantiveram estáveis e na Ásia Oriental e Pacífico houve um acréscimo de aproximadamente 1 milhão de assinantes, suficiente para tornar a equação mais equilibrada. Agora a Netflix possui cerca de 220,67 milhões de pagantes, se mantendo na liderança das plataformas de streaming.
Apesar de melhores do que esperados, os resultados ainda são o início da recuperação da Netflix. Apenas nos últimos meses, as ações das plataformas caíram quase 70%. O relatório também dá a entender que a queda não foi tão grande quanto esperada por causa da estreia da primeira parte da quarta temporada de Stranger Things – lembrando que a parte 2 estreou no primeiro dia de julho, então não é considerada para o relatório. A série Ozark, que teve sua última temporada lançada também no segundo trimestre, foi outra lembrada pelos executivos da plataforma.
Para o terceiro trimestre, a expectativa da Netflix é ganhar 1 milhão de novos assinantes. Mesmo assim, é considerado um valor conservador, especialmente se comparado ao mesmo período de anos anteriores. Muito da cautela se dá por conta da economia atual, mas séries como a quinta temporada de Cobra Kai e a estreia de Sandman, que serão lançados no final do próximo trimestre, podem ajudar a alcançar tais números. Filmes como Agente Oculto e Dupla Jornada também entram nesse balanço das expectativas.
A Netflix atribuiu essa desaceleração do crescimento de assinantes e receita a vários fatores, como o compartilhamento de contas, concorrência e fatores macro, como crescimento econômico lento e o impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Para o futuro, a companhia está programando meios de alcançar novos assinantes (veja mais detalhes abaixo), entretanto também será necessário abrir os bolsos para investir em novas produções. Antes já haviam anunciado que o foco agora seria mais na qualidade do que na quantidade, porém revelaram também que os novos gastos com conteúdo devem chegar a US$ 17 bilhões até o final de 2023.
Se antes a plataforma era conhecida por ter um vasto catálogo com produções de dezenas de outros estúdios, hoje aproximadamente 60% do catálogo são Originais Netflix. Spencer Neumann, CFO da empresa, ponderou que os gastos com conteúdo continuarão a crescer, mas que serão mais moderados: “ficamos mais inteligentes em como podemos direcionar nossos gastos para obter o maior impacto.”
Compartilhamento de conta e plano acessível
Ainda nessa semana a Netflix anunciou que, a partir de agosto, irá cobrar um valor extra para quem compartilhar senha com outras residências, de modo que haverá a opção de adicionar até duas “subcontas” a um perfil já existente. Entretanto nada será acrescido para logins realizados em dispositivos móveis, como tablets, celulares, notebooks e semelhantes.
De início, a taxa será cobrada se for verificado que o login e senha estiver em uso por mais de duas semanas em endereços alternativos ao cadastrado na conta do titular. A Netflix estima que mais de 100 milhões de famílias usam contas pagas por outras pessoas, sendo que 30 milhões estão na América do Norte.
A medida irá valer para alguns países da América Latina, mas, apesar disso, o Brasil, pelo menos até o momento, não está incluso. Argentina, El Salvador, Guatemala, Honduras e República Dominicana foram as nações escolhidas.
No caso de nossos vizinhos, haverá a cobrança de 219 pesos (aproximadamente R$ 9 na cotação atual), enquanto nos outros países o valor será de US$ 2,19 (cerca de R$ 16).
A cobrança por compartilhamento de senhas havia sido anunciada após o levantamento do último trimestre, quando a empresa anunciou que pela primeira vez em uma década havia perdido assinantes
Antes, porém, a Netflix já estava realizando testes em outros países latinos. Desde março a empresa cobra valor extra de usuários da Costa Rica (R$ 13,70), Peru (R$ 16,26) e Colômbia (R$ 10,98) - valores das moedas locais já convertida ao real brasileiro. A plataforma ainda não divulgou o resultado dos testes.
Outra medida para mitigar os prejuízos e tentar conquistar mais assinantes é a implementação de um novo plano com propagandas. Anunciado anteriormente que irá contar com a parceria da Microsoft, agora a Netflix divulgou que a nova providência deve estrear nos primeiros meses de 2023.
O foco é alcançar as quase 100 milhões de famílias que usam contas pagas por outras pessoas. O planejamento da Netflix prevê começar por mercados onde os gastos com publicidade são significativos, assim como também irá ouvir o público e aprender para melhorar a oferta. Portanto, o negócio de anúncios estará em constante mudança, se adaptando ao que a demanda exigir.
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