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05 Fevereiro 2021 | Renata Vomero

O impacto da pandemia na temporada de festivais e premiações

Portal Exibidor fez uma análise sobre o panorama de compras, conteúdos e indicações

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(Foto: AFP)

Há quase um ano a pandemia é a nossa realidade, isso é um fato. Estamos mais próximos de ver um fim? Talvez. A questão é que ela está aí e, assim como em seu início, veio em uma segunda onda que dura desde o fim do ano passado e que está nos dando uma total sensação de “dejà vu”. Cinemas fechando, os mesmos títulos sendo adiados e um burburinho em torno dos festivais e premiações, e é sobre eles que vamos falar aqui.

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Se em 2020 pudemos viver algumas premiações, antes da pandemia começar, vivenciamos também uma cascata de cancelamentos ou remanejamentos constantes, com a grande maioria dos festivais impactados, sendo que muitos deles optaram por encarar um formato híbrido ou até integralmente online. 2021 começamos com o Festival de Sundance, que teve início no dia 28 de janeiro, e que estava programado para acontecer neste formato misto, tendo em vista as reaberturas dos cinemas nos Estados Unidos. A questão é que isso não está acontecendo, então, o digital entra em cena. Além disso, a organização optou por diminuir a quantidade de dias do festival, durando apenas sete dias, quando normalmente acontece em dez dias.

Estamos iniciando este texto por Sundance, ou seja, mesmo neste início de fevereiro, a temporada de premiações ainda não começou. Geralmente o pontapé inicial acontece com o Globo de Ouro, logo no início de janeiro. Neste ano, a cerimônia do prêmio organizado pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) acontecerá em 28 de fevereiro em formato híbrido.

Em 15 de março acontecerá, também nestes moldes, o Critics Choice Awards, que premia tanto o cinema, quanto a televisão, e já teve seus indicados anunciados em série e em 7 de fevereiro serão divulgados os indicados de cinema.

Entrando em abril, teremos o que normalmente acontece em fevereiro. Logo de cara teremos o SAG Awards, prêmio do sindicato dos atores, em 4 de abril. E vem o Bafta, considerado o Oscar do Reino Unido, o prêmio acontecerá no dia 11 de abril. Para os amantes de cinema independente temos o Spirit Awards, em 22 de abril e com Bacurau entre os indicados. E a informação que todos estavam esperando: o Oscar acontecerá dia 25 de abril e a lista de indicados sai em 15 de março. E dizemos mais, o Oscar quer manter sua cerimônia no formato tradicional, ou seja, presencial e com plateia. É melhor o Biden correr com a vacina! 

Critérios de elegibilidade

Duas coisas mudaram para as premiações de 2021. A primeira delas é a liberação dos filmes em formato digital, seja para aluguel, seja para streaming - sem ressalvas - e isso vem impactando as indicações.

Além disso, a maior parte das premiações estendeu o período para elegibilidade, ou seja, o prazo para a estreia do filme nos cinemas. Tanto no Globo de Ouro, quanto no Oscar estão concorrendo os filmes que estrearam entre os dias 01 de janeiro de 2020 até 28 de fevereiro de 2021. O Bafta fez mais diferente ainda, poderão concorrer os filmes que estrearem até o final deste ano. Pois é! É uma transformação e tanto para as premiações que vêm resistindo ao streaming e deixando de lado as possíveis tentativas desses serviços de serem reconhecidos com estatuetas. 

Festivais

Com exceção de Sundance, que já aconteceu, ainda há um burburinho em torno dos festivais, o próximo deles é o de Berlim, que vai acontecer entre 1 e 5 de março, de forma mista, devendo ter um evento à parte no meio do ano com tapetes vermelhos e premières. Além disso, a organização do festival anunciou que seu evento de negócios, o European Film Market acontecerá em formato físico em quatro cidades do mundo, entre elas São Paulo, incluindo Japão, Cidade do México e Melbourne.

Outro festival que veio para bagunçar tudo foi Cannes, que sofreu bastante com a pandemia ano passado e acabou sendo absorvido pelos outros festivais. Tradicionalmente o evento acontece em maio e até pouquíssimo tempo atrás estava firme em manter a tradição, no entanto, a organização confirmou que o festival deve acontecer entre os dias 6 a 17 de julho.

E aí entra um novo impasse, com a nova data de Cannes, o festival se aproxima do de Veneza, que acontecerá entre os dias 1 e 11 de setembro, mexendo no calendário de festivais. Ainda não se sabe muito sobre o formato do evento italiano, no entanto, já foi divulgado que o júri será presidido por Bong Joon-ho, premiado diretor de Parasita (Alpha Filmes).

Line-up e programação

Apesar de 2020 ter sido nebuloso, alguns títulos e nomes começam a despontar. Talvez o principal deles seja Nomadland, que venceu o Festival de Veneza e traz a já premiada Frances McDormand como protagonista. O filme também figurou na maior parte das já conhecidas listas da imprensa especializada como o melhor do ano. A produção está marcada para chegar aos cinemas do Brasil em 15 de abril, nas mãos da Disney. E aí entra outra ressalva quanto a isso: a produção é do selo Searchlight Pictures, antigo Fox Searchlight, famoso por ser um imã de estatuetas. Ou seja, é para manter mesmo no radar.

Agora, se analisarmos pelo ângulo das indicações, Mank veio despontando no Globo de Ouro, com seis delas. O filme também está super bem cotado entre a crítica, mas não para por aí, tem um enredo que costuma agradar e muito a academia, tratando a história do roteirista Herman J. Mankiewicz, responsável pelo célebre Cidadão Kane. Se tem uma coisa que Hollywood gosta é de uma história sobre si mesma. Ainda mais se for dirigida pelo grandioso David Fincher.

Entramos com Mank em um terreno que não há a menor possibilidade de passar batido: os streamings. Com selo da Netflix (aqui no Brasil ganhou um lançamento limitado nos cinemas pelas mãos da O2 Pay), Mank é um entre muitos dos filmes que foram lançados pelas plataformas.

Outros títulos que não foram para os cinemas e podem levar estatuetas para casa são Os 7 de Chicago, A Voz Suprema do Blues, Uma Noite em Miami..., O Som do Silêncio, Pieces of a Woman, Borat 2, Destacamento Blood e por aí vai.

Já outros que ainda estão seguindo o lançamento tradicional e que estão chamando atenção são Meu Pai (Califórnia), Bela Vingança (Universal) e Minari (Diamond), ou seja: é bem possível que os cinemas sejam beneficiados com a temporada de premiações, tendo este selo de qualidade para atrair pessoas aos cinemas, o que é tradicional deste período.

Outras duas questões também chamam a atenção. Para esta edição, o Oscar bateu recorde em número de inscritos para a categoria Melhor Filme Internacional: foram 92 deles. Pode parecer bobo, mas em um ano em que Hollywood parece ter empalidecido, as produções estrangeiras ganharam destaque e visibilidade, além de imprimirem um reflexo direto do que aconteceu na premiação passada, em que Parasita (Alpha Filmes), um filme sul-coreano,  que não só levou a melhor na categoria internacional, como também levou as principais daquela noite, ou seja, é um estímulo para que os países invistam mais em seus próprios conteúdos.

Falando sobre eles, os documentários andam também atraindo os olhares. Não à toa, nosso escolhido para representar o Brasil no Oscar faz parte do gênero. É Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou (Imovision). A questão é que as plataformas digitais, principalmente a Netflix, estão ajudando muito a popularizar documentários no mundo todo, o que também atrai maiores investimentos para os filmes do tipo, aumentando, assim, o número de produções e sua visibilidade.   

Aposta

Enquanto falamos sobre 2021, em Sundance já temos um título que agradou tanto que foi foco da maior venda da história do festival e pela primeira vez venceu todos os prêmios da mostra competitiva voltada aos filmes estadunidenses. Este é CODA, dirigido por Siân Heder e que conta a história de uma jovem que sente o dilema entre ficar com os pais surdos, ajudando no negócio ameaçado da família, ou sair de casa e seguir o sonho de fazer música. A produção foi vendida para a Apple no valor de US$25 milhões, o que deixa todo mundo com o radar bem ligado para assistir e na certeza de que será mais um título com força no streaming, desta vez no AppleTV.

Inclusive as compras estão cada vez mais agressivas e isto acontece pela somatória de fatores como a pandemia, a guerra dos streamings, necessidade de ter títulos fortes nos cinemas e a escassez de produções que começa a ser vista por conta das paralisações. Se a demanda for alta e a oferta for pequena, os preços sobem. Agora o que nos resta é pegar a pipoca e ver o que acontecerá nos grandes eventos de cinema em 2021. Quais são as suas apostas?

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