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04 Fevereiro 2021 | Renata Vomero

“Deram valor ao nosso trabalho, pela necessidade de consumo”, reflete Iafa Britz sobre o momento atual

Produtora brasileira revelou suas perspectivas para o mercado de cinema em 2021

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(Foto: Divulgação)

Minha Mãe é Uma Peça, Se Eu Fosse Você, Nosso Lar, Linda de Morrer, M8- Quando a Morte Socorre a Vida, As Canalhas e Divã são apenas alguns dos títulos que contam com a assinatura de Iafa Britz.  Essas robustas produções revelam a força da produtora, uma das mais importantes do país.

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No mercado há mais de 20 anos, ela viu a indústria passar por diversas fases, encarou suas crises, mudanças de governo, altos e baixos. No entanto, é muito difícil escolher um momento que seja tão duro como o que estamos vivendo agora.

“O raio caiu três vezes no mesmo lugar: pandemia, crise da Ancine e crise política”, comentou a produtora em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor.

Com a Migdal Filmes, produtora que fundou há mais de dez anos, ela e a equipe aguardam o momento mais seguro de retomar aos sets, tocando pequenos projetos e aproveitando o momento para desenvolver e organizar tudo para 2022, que é quando acredita que haverá normalização.

Momento este que o público estará em busca de histórias com mensagens positivas, de superação, os chamados filmes feel good. Para ela, inclusive, a pandemia deve estar entre essas narrativas, mas mais como um pano de fundo, já que se tornou a nossa realidade.

“A gente está vivendo também uma mudança dramatúrgica, porque essa criação acontece em torno da nossa vida, da nossa realidade, não dá para ignorar que a gente está vivendo uma pandemia mundial”, analisa.

Enquanto este momento não chega, nem os saudosos tapetes vermelhos, resta entender que a linguagem cinematográfica tem se consolidado cada vez mais na hora de se comunicar com o público, que está mais próximo do audiovisual, agora em casa.

“O audiovisual, a mídia, nós, como realizadores, temos um lugar de resistência, de resiliência, a gente tem oportunidade de falar e ser ouvido. Me sinto contribuinte com a sociedade, isso me dá força para continuar. No nosso caso a nossa ferramenta é muito poderosa, 2020 sedimenta também o poder do audiovisual”, finalizou.

Em entrevista ao Portal Exibidor, Iafa Britz falou sobre o que espera para 2021, como enxerga o papel do streaming no mercado, o consumo do público, e suas expectativas para o futuro. A entrevista faz parte de uma série especial com os principais nomes do mercado brasileiro, entre eles Patrícia Cotta e os diretores da Vitrine Filmes.  

Quais são as expectativas para o mercado de cinema em 2021?

Entendo que, diante da crise política e sanitária do país, e com todas essas confusões, 2021 vai ser um ano de seguir administrando uma crise de insegurança seja dos empresários, mas do público também. Acho que teremos uma continuação de 2020, é a minha percepção e o que tenho escutado dos colegas, assim: “vamos lá, precisamos remar, seguir pedalando para a bicicleta não cair”. A gente vai ter um 2021 difícil, de instabilidade, de insegurança, que atinge diretamente o consumidor. Talvez seja um ano para deixar as coisas organizadas e os negócios adiantados para 2022.

2020 foi um ano que pegou todo o mercado de surpresa, como você se preparou e está se preparando para este ano?

De uma perspectiva pessoal, 2020 foi muito desgastante porque foi muita novidade, uma necessidade de ter uma perspectiva de futuro, de querer saber uma data limite. O ser humano está acostumado a todas as circunstâncias desde que você tenha uma data do A e a data do B, isso foi algo que ouvi do Adhemar Oliveira. Tudo o que parou ali em março, a gente replanejou para julho, depois agosto, setembro e aí parou de ser cronograma e passou a ser tudo para o ano que vem, mas 2021 chegou rápido e agora os cronogramas que estavam para fevereiro, março, a gente está empurrando mais para frente. Talvez agora com um pouco mais de resiliência, a gente entendeu um pouco mais a dinâmica.

Do ponto de vista da Migdal Filmes, nossas séries e filmes, a gente só está esperando o momento certo e seguro para começar a produzir, se isso vai ser abril, junho, julho, se vai ser no fim do ano, eu não sei. Eu chutaria segundo semestre. Esse tempo está sendo para desenvolver os projetos, roteiros. Tem vários projetos aguardando a etapa final, e aí também entra o problema da Ancine, porque tem projeto todo financiado esperando para captar. É desesperadora essa questão. O raio caiu três vezes no mesmo lugar: pandemia, crise da Ancine e crises políticas. É isso o que a gente está fazendo, estamos preparados, estamos desenvolvendo muito, aproveitando esse tempo para isso e ficar minimamente estruturado para quando tiver as oportunidades de voltar para filmar, quando for seguro para todo mundo.

Quais tipos de histórias você acha que as pessoas terão mais vontade de assistir depois da pandemia?

A gente está vivendo também uma mudança dramatúrgica, porque essa criação acontece em torno da nossa vida, da nossa realidade, não dá para ignorar que a gente está vivendo uma pandemia mundial. Acho que as pessoas vão querer ver coisas leves, que tragam sentimento de conforto, filmes com mensagens positivas, com mensagens de esperança, é isso o que acho que as pessoas estão precisando. Acho que vai ter uma onda de filmes feel good, de superação. Acredito que a pandemia não vai ser o foco dos projetos, não é o que as pessoas vão buscar, mas ela vai estar nas histórias de qualquer forma, nas histórias contemporâneas, seja numa comédia romântica, seja no que for, isso de alguma forma estará inserido numa dramaturgia. A pandemia vai ser incorporada em alguns projetos, como algo vivenciado, ou que passou. A nossa sociedade será uma nova sociedade, será diferente de alguma forma. Mas em termos de gênero serão coisas que fazem crescer, com mensagens de esperança, mesmo que seja um drama, seja um feel good.  Acho que vai ter uma nova leva de conteúdos espiritualizados, como este filme Soul da Disney.   

Como tem sido a experiência de retomar as filmagens em meio a todos os protocolos de segurança?

Quando a pandemia começou estávamos no início da pré-produção de séries, então, desativamos tudo. Agora em fevereiro vamos rodar um filme no Uruguai, cuja história sempre foi planejada para ser lá, porque é um road movie de mulheres. A gente aproveitou, como nosso produtor está lá, e organizou, então, você chega lá e tem que ficar um tempo de quarentena, é custoso e arriscado. Mas dentro do arriscado, a gente se sentiu seguro suficiente, nem precisou de adaptações de roteiro, porque já ia ser lá. No Brasil, fizemos coisas pequenas. É emocionalmente custoso, financeiramente custoso e por outro lado tem um deadline, são tantas coisas. A gente está num período de maior resiliência, vai ser o que tiver que ser.

O streaming está cada vez mais consolidado, como isso impacta o trabalho dos produtores?

O streaming é uma realidade, assim como a pandemia, é uma forma de consumo que se consolidou. Gerações que não estavam acostumadas, aprenderam a mexer no streaming, estão fascinados. Em 2019 tentei ensinar mil vezes meus pais a usarem e eles desistiram no meio e agora eles aprenderam e estão amando. Tem toda essa mudança de comportamento e de consumo, isso impacta na nossa vida como impactava em 2019, como sabíamos que ia acontecer. Aumenta a demanda de conteúdo, isso é positivo, o que é muito bom para todo mundo, para o consumidor, para o produtor, todos. O cinema vai continuar existindo, a experiência do tapete vermelho é uma vivência que você só vive realmente no cinema, o contato com o público, jornalistas, aquelas mil fotos. O cinema no telão vai continuar sendo uma experiência única. É uma janela que vai continuar sendo importante para trazer credibilidade para elenco, produtores, diretores, quando acontece no cinema é diferente. Mas a quantidade que vai ser feita direto para televisão vai ser muito maior, que não vai ser uma coisa ruim. Tem muitos filmes que lançamos no cinema que poderiam ir direto para televisão, porque lançar no cinema é um esforço enorme. Tudo isso são movimentos que foram acelerados na pandemia.

O que a gente ainda está atrasado é com relação a regulamentações, acordos. A gente, como sociedade e indústria, vai pagar um preço porque elas não se desenvolveram. A gente quanto país não está organizado para receber essa montanha de novas plataformas e isso vai virando uma bola de neve. Seguimos desenvolvendo filmes que têm potencial de ir para o cinema e filmes para o streaming também, assim como séries. Como será nossa regulamentação? Não só para proteger, mas também para estimular. Entendo que nesse governo pelo menos, isso não vai se desenvolver.

Algo que aconteceu este ano foi uma mudança de percepção e de darem valor ao nosso trabalho, pela necessidade de consumo. O audiovisual, a mídia, nós, como realizadores, temos um lugar de resistência, de resiliência, a gente tem oportunidade de falar e ser ouvido. Me sinto contribuinte com a sociedade, isso me dá força para continuar. No nosso caso a nossa ferramenta é muito poderosa, 2020 sedimenta também o poder do audiovisual.  

Quais são seus palpites sobre como será o futuro do cinema?

O cinema vai continuar sendo essa grande vivência, vai continuar sendo um programa, algo para a família e será cada vez mais uma experiência. A experiência do tapete vermelho vai continuar sendo uma experiência para os produtores e plataformas. Acho que vai ser uma mistureba, vai tudo misturar com tudo. O cinema vai continuar sendo uma grande janela, muitas vezes a mais importante, mas ela não será mais a única e muitas vezes ela não vai ser necessária. A escolha do filme e do consumidor que vai para o cinema vai ter que ser mais filtrada. O tipo de filmes serão esses enormes, blockbusters e também os filmes mais autorais. A palavra da vez é resiliência, a gente está vivendo uma coisa única e eu quero que meus filhos sejam felizes, tenham um planeta, um país. Tem que estar pronto para o pior e para receber o melhor também. Será um ano de muita briga, eles passarão, nós passarinho.

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