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01 Dezembro 2020 | Fernanda Mendes

Em crise, cinemas de rua recebem homenagem em Mostra

Com mais salas fechando no País, evento exibe filmes sobre o assunto e promove debates

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(Foto: Divulgação)

Hoje (1) tem início a 2ª edição da Mostra Cinemas do Brasil, evento que exibe 40 filmes em homenagem aos cinemas de rua brasileiros. Neste ano, o tema não poderia deixar de abordar o contexto pandêmico e seu impacto nas salas de rua. A mostra vai até dia 31 de dezembro no site www.mostracinemasdobrasil.com.br e contará, em paralelo, com mesas de debate.

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O projeto é idealizado por Eudaldo Monção Jr. que, em 2017, lançou junto ao Canal Futura o curta-metragem Cine Rio Branco sobre o cinema de rua homônimo no Recôncavo Baiano e, em 2019, através de um edital de intercâmbio, montou uma programação com filmes sobre a mesma temática e promoveu a primeira edição da Mostra Cinemas do Brasil em Belém/PA, no mais antigo cinema do País, o Cinema Olympia. A programação reuniu 24 filmes, que percorreram outras 40 cidades brasileiras.

Em um momento em que as salas de exibição cinematográfica tanto sofrem desafios no mundo todo, a Mostra se faz necessária não só como uma homenagem aos exibidores de rua, que são verdadeiros heróis, como também para discutir este momento crucial. Vemos, infelizmente, cada vez mais salas fechando, como recentemente o Petra Belas Artes (SP), que anunciou seu fechamento temporário em dezembro, e o Cine Joia, em Copacabana (RJ), que encerra suas atividades permanentemente.

“Os cinemas de rua já possuem um perfil de ‘sobreviventes’ nas cidades do país onde ainda existem tais equipamentos. Se antes da pandemia as salas já apresentavam uma certa dificuldade de uma programação regular, com a pandemia, acreditamos que pode prejudicar bastante. É fundamental, mais do que nunca, que o poder público possa apresentar vontade política para os cinemas de rua existentes”, explicam Eudaldo e Priscila Urpia, curadora da Mostra, em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor.

Para Raphael Aguinaga, que reativou o Cine Joia em 2010, o papel do poder público é fundamental para expandir o circuito exibidor, mas acaba sentindo falta desse apoio. “Como se trata de uma parcela do mercado muito pulverizada também não existe uma representatividade do setor”, contou ao Portal. “Essa parceria com o poder público tem que acontecer, pois afinal é a sala de rua que leva o cinema onde os grandes grupos não chegam”. 

Em abril, o Cine Joia deixou de receber o apoio da RioFilme e recentemente também teve seu contrato revogado pela prefeitura da cidade. Aguinaga lamenta a situação e acredita que o futuro para a ampliação do parque exibidor precisa se desvencilhar do crescimento de shoppings centers. “É fundamental encontrar um meio de levar cultura e educação para essas pessoas e um caminho natural seria reativando as mais de 2 mil salas de cinema de rua fechadas em cidades do interior e periferias, mas para isso teria de haver uma nova proposta de modus operandi. Buscar esse caminho sempre foi o nosso propósito, pois o crescimento do circuito exibidor beneficia toda a cadeia produtiva do cinema, uma vez que, com mais salas. temos mais público. Para a produção nacional seria ainda melhor, pois estatisticamente o filme brasileiro encontra um mercado mais favorável fora das capitais”.

Eudaldo e Priscila ainda lembraram do PEAPE (Programa Especial De Apoio Ao Pequeno Exibidor) lançado pela Ancine em julho, que liberou junto ao BRDE (Banco Regional De Desenvolvimento Do Extremo Sul), uma quantia de R$ 8,5 milhões para mais de 100 exibidores no Brasil como forma de auxiliar em manutenção, folha de pagamento e outras dívidas que se acumularam enquanto estavam fechados. Mas para muitos a quantia não foi suficiente, caso do cinema de rua na Zona Norte do Rio de Janeiro, o Ponto Cine (RJ), administrado por Adailton Medeiros.  “É preciso entender que mesmo fechado os custos continuam (aluguel, condomínio, luz, internet, contador e colaboradores - diga-se, nenhum demitido). Com certeza não será o PEAPE com esse ínfimo valor que salvará o Ponto Cine”, lamentou o exibidor na época.

Por isso, muitos exibidores ainda dependem de vaquinhas virtuais, contribuições por parte do público e os organizadores da Mostra acreditam que parcerias em geral, até com consulados, por exemplo, podem ser uma saída.

“A Ancine não enxerga o nano-exibidor, aquele que administra apenas uma sala: a agência considera pequeno exibidor quem tem até 10 salas de cinema, que é uma operação completamente diferente de uma unidade stand alone. O resultado é que falta uma política para apoiar a sala de rua no Brasil”, lamenta Aguinaga.

Com tanta história, os cinemas de rua são pontos de encontro para a população de pequenas e até – por que não? – capitais do país. Mexem não somente com o íntimo do público, mas com os entornos.

“É interessante até mesmo para os principais grupos exibidores que existam salas de rua, pois elas são como nascentes que formam público para todos os players. O exibidor hoje compete com as plataformas digitais e nessa guerra não pode abrir mão do aliado poderoso que poderia ser um circuito com mais capilaridade”, finaliza Aguinaga.

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