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06 Outubro 2023 | Gabryella Garcia

Formação de público é essencial para internacionalização de filmes brasileiros na América Latina

Painel destacou a importância de legendas, dublagens e até mesmo de cartazes para diferentes públicos como forma de internacionalizar produções no exterior

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(Foto: Mariana Pekin)

Um dos grandes desafios do cinema nacional na atualidade é encontrar uma forma de levar as produções brasileiras para outros países da América Latina e, nesse sentido, a Expocine 2023 foi o palco da renovação do acordo latino-americano de distribuição. O documento foi assinado ontem (5) e hoje, antes do início do painel Como internacionalizar filmes em territórios latino-americanos?, o diretor e roteirista Juan Zapata, também fundador da Zapata Filmes, celebrou o acordo.

"Ontem foi realizada a 3ª reunião da Latinópolis e renovamos o acordo latino-americano depois de 15 anos para, a partir de 2024, pensarmos uma programação em conjunto. São mais de 60 salas na América Latina e devemos chegar em 200 até o final do ano, pois já estamos em negociações. Esse é o maior acordo da história da América Latina e vamos fazer o maior circuito de programação. Agradeço muito a Expocine", disse.

Após o agradecimento, Zapata deu início ao painel, do qual foi o moderador. As reflexões acerca de formas de internacionalizar filmes em territórios latino-americanos ainda contou com a participação de Fabíola Cavalcanti, supervisora do Pontos MIS, projeto do MIS-SP, Leonardo Torres, presidente da Red Salas, do Chile, e Yuli Rodriguez, produtora e membra da Comunidade de Exibição Cinematográfica do México.

Hoje, no contexto continental, a produção brasileira é vista entre todas as nações da América Latina como aquela que é mais pensada para o próprio país e mercado interno. Para mudar esse cenário, o primeiro passo é mudar a mentalidade e querer dialogar com o público estrangeiro. Para isso, Leonardo Torres elencou algumas questões que devem fazer parte do processo de internacionalização, e também, de união dos países da América Latina.

"O primeiro elemento que dificulta a internacionalização é a língua. O Brasil é o único país do continente que fala português e apesar de estarmos próximos, não podemos nos comunicar. Também precisamos pensar na legenda, pois um filme sempre deve ser preparado para fazer frente ao público. Existem filmes que são universais aqui na América Latina e devem se preparar com alguns elementos básicos. É preciso saber o público de destino e também ter um cartaz atraente para diferentes públicos. A abertura de filmes em outros territórios é importante, por isso devemos aprender a nos ver nas telas e trabalhar na formação de espectadores. As pessoas devem se sentir capazes de acessar um filme e o primeiro passo para não querer entrar em uma sala de cinema é não entender o cartaz do filme. Queremos que o cinema nos una e, por isso, precisamos formar espectadores para o cinema latino-americano", refletiu.

Um ponto crucial para conseguir formar espectadores é criar uma necessidade de consumo para o público. O cinema tem que se preocupar em contar histórias que proponham e tenham impacto social e poder de transformação para se tornar algo mais universal. Nesse sentido, a produtora mexicana Yuli Rodriguez pontuou que o cinema brasileiro e o mexicano, por exemplo, focam muito em uma realidade interna e local, dificultando o processo de internacionalização.

"Precisamos fazer com que um filme seja visto e viaje, mas nos concentramos muito na nossa realidade. Chegamos em um momento que terminamos um filme e temos um sistema de transmissão, mas não sabemos o que fazer com isso. É um problema de origem e vejo que no México acontece algo parecido com o que acontece no Brasil. Somos mercados grandes e importantes, mas o México está ao lado dos Estados Unidos e, apesar da força da indústria mexicana, ficamos bastante fragilizados diante dos Estados Unidos. Temos 7.500 salas de cinema no México, o triplo do Brasil, mas depois da pandemia o consumo de produções no México é de menos de 3,5% e o restante é dominado por produções dos Estados Unidos. Quando falamos do consumo de cinema latino-americano, o número cai para menos de 1%. Precisamos de um compromisso de produtores, programadores e exibidores para trabalhar na formação do nosso público. O cinema dos Estados Unidos já tem um público formado e atende as salas comerciais de todo o mundo, então temos que fazer a mesma coisa. É complexo entrar nesse sistema, mas para conseguirmos a internacionalização é fundamental formar um público", disse.

No Brasil, mais especificamente no estado de São Paulo, a formação de público é uma preocupação do MIS (Museu da Imagem e do Som) através do programa Ponto MIS, que foi criado há 12 anos. Fabíola explicou que existe a preocupação de propagar o cinema latino-americano dentro do projeto para criar uma proximidade com o público, pois, muitas vezes, as culturas latino-americanas se assemelham e as pessoas conseguem se identificar nas personagens.

"Se falamos em formação de público, nós precisamos aproximar a linguagem cinematográfica das pessoas. Nós ampliamos o nosso catálogo para sair do nicho comercial, porque o público já está acostumado e recebe isso diariamente. Nós propomos uma pluralidade no nosso catálogo e a relação com filmes latino-americanos, e suas referências, aproximam o público. Eles encontram identificação com as histórias, com os costumes, e a partir disso também procuramos festivais para exibir esses filmes. Todo mundo cresceu na infância com referências européias e dos Estados Unidos, então precisamos ampliar a referência das pessoas para formar um público de cinema. Trazer pontos de identificação nesses filmes também estimula quem quer produzir alguma coisa e mostrar sua própria referência. Procuramos ampliar as referências e aproximar as pessoas que vão encontrar filmes latino-americanos com suas próprias histórias", explicou Fabíola.

No contexto brasileiro, Leonardo Torres afirmou que nossas produções precisam definir estratégias de onde querem chegar e, após isso, produzirem, por exemplo, cartazes atrativos que cativem audiências mais jovens em todos os países latino-americanos. "Os jovens são o futuro que vamos ter pela frente, então é preciso colocar informações, estabelecer contatos e fazer trailers e sinopses atraentes. O trailer não precisa contar o filme inteiro, podem ser apenas 30 segundos que sejam atraentes. Estamos em uma situação de Davi contra Golias (em relação ao cinema dos Estados Unidos)! Não precisamos odiar Barbie e Oppenheimer, porque um filme grande pode ajudar um filme pequeno e isso é fundamental para trabalhar. Podemos usar 'Barbieheimer' para ter o público e, atingindo uma grande renda, os exibidores terão tempo e espaço para filmes menores, poderão se arriscar. Também é fundamental uma periodicidade semanal, um dia do cinema latino-americano, por exemplo. Não importa o filme, mas a pessoa sabe que sempre em determinado dia terá um filme latino-americano sendo exibido".

Na mesma linha do que disse Leonardo em relação a cativar o público, a produtora Yuli Rodriguez afirmou que definir um objetivo claro para o filme antes de iniciar a produção ajuda a tomar decisões para entender os tipos de linguagens e narrativas que serão empregadas. "São pelo menos cinco mil filmes no mundo todo ano, então preciso ter um objetivo claro do porquê fazer um filme. Filmes locais são mais complicados porque não conseguimos nos conectar, então a universalidade funciona melhor para trabalhar o filme em outros mercados e expandir para a América Latina".

No encerramento do painel, Fabíola Cavalcanti reforçou a questão da linguagem, dizendo que a falta de legendas e até mesmo de dublagens também dificultam a internacionalização das produções brasileiras. "Algumas palavras são muito específicas em cada país, então a legenda é muito importante. Temos que pensar no futuro da distribuição também e uma dica para isso é deixar licenças abertas para dublagens do filme. Fazendo isso, já ajuda bastante na distribuição quando os próprios produtores não conseguem chegar nas distribuidoras", encerrou.

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