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05 Outubro 2023 | Yuri Codogno

Painel debate o burnout do entretenimento: "É que nem sexo, quando chegou no clímax, não dá para superar"

Especialistas apontam como o excesso de conteúdo pode prejudicar o público e a indústria

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(Foto: Divulgação)

O ano de 2023 vem levantando a importante questão sobre a quantidade de conteúdos de franquias que têm sido lançados, obrigando o fã a assistir uma infinidade de filmes e séries para entender o que vem pela frente. Além e também unido a isso, tem a questão do alto número de produções que nos cercam, fomentando um sentimento de que não somos capazes de acompanhar tudo e, simultaneamente, fazendo o público se sentir mal por não conseguir essa difícil proeza. 

O painel Burnout do Entretenimento levantou essa discussão na 10ª edição da Expocine e contou com a participação de Marcelo Forlani, co-fundador do Omelete e da CCXP, Aline Diniz, comunicadora e apresentadora do Entre Migas, e com a moderação de Renata Vomero, jornalista do Portal Exibidor.

“Em março, escrevi uma matéria no Portal Exibidor falando justamente sobre esse desgaste do gênero de heróis, possivelmente atrelado a esse excesso de narrativas seriadas que poderiam afastar o público novo e cansar os que já estavam ali, algo que na matéria acabamos chamando de burnout. Depois de um tempo, os números vieram e essa percepção continuou”, contou Renata, explicando de onde surgiu a ideia de fazer o painel. 

De acordo com os especialistas, esse é um fenômeno antigo - para os fãs de super-heróis - que vem justamente das histórias em quadrinhos, em que, de tempos em tempos, eram necessários reboots que permitissem que novos públicos pudessem entrar no meio da história. Desta forma, sempre coube ao público procurar essa porta de entrada, mas agora houve uma intensificação disso. 

“Um dos problemas que a gente tem hoje é justamente esse ‘como vou entrar para assistir o Homem-Formiga 3? Dá para entrar se não vi nada antes?’. São mais de dez anos de Marvel e foi o momento que aumentou o número de produções do streaming, com séries que chegaram. É ruim essa obrigatoriedade… as coisas acabam ficando descartáveis e você tem que fazer escolhas”, desabafou Forlani.

O produtor de conteúdo estava se referindo justamente ao mar de séries que o MCU lançou no Disney+, como WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal, Loki, Gavião Arqueiro, Cavaleiro da Lua, Ms. Marvel, She-Hulk, What if…?, Invasão Secreta e outras que estão para estrear. Todas lançadas justamente a partir de 2020! A jornalista Renata Vomero ainda lembrou que foram 15 lançamentos da Marvel (seja em streaming ou cinema) entre 2021 e 2022, sendo que antes eram cerca de apenas três filmes por ano. 

“Eu já penso nesse desgaste de narrativa dentro do mundo do entretenimento há dez anos. A quantidade de conteúdo que a gente tem para consumir - como filmes, séries, jogos, HQs, livros, entre outros - se transforma em um burnout para o entretenimento. E a Marvel sofre mais porque começou cedo, então teve um sprint que deu longevidade, mas agora está sofrendo. A Marvel precisa avaliar seu plano, porque ir ao cinema não é barato, ter todos os streaming não é barato. É um mundo feito de escolhas que até a gente precisa fazer. E quando conecta a uma plataforma que exige mais tempo, o fã se sente desconfortável pela dificuldade em conseguir se conectar”, ressaltou Aline.

Segundo os especialistas, tudo começou a partir dos anos 2000, quando olhar para as HQs como obras-primas se tornou interessante. Assim veio X-Men (2000) e Homem-Aranha (2002) e, logo depois, a Marvel marca o início do MCU com Homem de Ferro (2008), começando com os grandes arcos de uma enorme franquia. Isso porque, em uma sequência dentro da franquia, o segundo filme tende a ser maior e a ideia era crescer em arrecadação e público.

Para os painelistas, o problema é que todo mundo pegou essa fórmula e tentou fazer dar certo. “É legal olhar para essa construção de franquias, como a maior que foi Star Wars lá atrás, que tinha essa coisa seriada. Tinha um gancho pro próximo filme, que por sua vez deixava um gancho pro próximo. E isso funcionava com essas pequenas franquias. Mas era muito mais sobre os personagens do que sobre os atores. Sinto que a Marvel foi a primeira, mas é curioso olhar porque lá atrás, com a união de séries de TV com o cinema, eu achava que as coisas precisavam ser ligadas, mas não a ponto de ficar difícil de entender”, contou Aline.

Aline também lembra que o dinheiro não fica apenas na venda de ingressos, streamings e etc, mas que são licenciamentos, mercadorias e afins, de modo que fazia sentido explorar ao máximo isso. 

Ainda sobre a Marvel, Forlani comentou sobre as expectativas do público em relação aos lançamentos e fez uma comparação um pouco inusitada: “A gente teve um momento de ápice muito grande com Vingadores: Ultimato. Foi uma grande construção do Universo Marvel desde Homem de Ferro, então deu tudo errado [na trama de] na Guerra Infinita e o pessoal achou que [o que iria vir depois de Ultimato] tinha que ser maior. Não dá! É que nem sexo, quando chegou no clímax, tem que dar um tempo, não dá para superar aquilo”.

Aline completou dizendo que quando todos os filmes viram evento, nenhum é evento. Além disso, ressaltou que a Marvel, no momento, é um carro andando que não tem como trocar o pneu: não é possível reebotar sem terminar as sagas em aberto, então tentam se adaptar com a franquia em andamento. 

Outro ponto abordado foi a questão do excesso de produções que existem no momento. “No passado, havia um cronograma e eu conseguia me programar para assistir cada uma dessas séries. E chegou um tempo [com o enorme número de séries lançadas anualmente] que comecei a me ver presa dentro de casa e entendi que se eu continuasse fazendo aquilo, eu só ia fazer aquilo. E se eu estou me sentindo assim, imagina o fã. Ter que escolher entre DC e Marvel e diferentes streamings. Ao mesmo tempo, isso é bom porque segmenta e você consegue assinar apenas o que quer ver, mas é ruim porque segmenta, vira a guerra das bolhas”.

Em relação a uma possível solução, nem Aline e nem Forlani enxergam algo palpável, porque a indústria deveria diminuir o ritmo e produzir menos conteúdo, mas possivelmente não fará isso porque irá interferir no lucro.  “O catálogo é tão extenso, tem tanta coisa. Se os estúdios não desacelerarem e não vão fazer isso, não sinto que exista uma solução. Tem gaveta [de conteúdo] para muito tempo”, alertou Aline.

Forlani, porém, lembrou que essa exacerbação de conteúdo pode ajudar no surgimento de quem quer fazer algo mais original: “Isso abre espaço para uma A24, para quem quer apostar e fazer coisas diferentes. Fica aí essa lacuna para que venham criadores, que venham roteiros malucos. Se não fosse por isso, o Nolan não existiria. E a gente precisa abrir espaço para que essas histórias existem”.

Lembrando que alguns dos filmes que mais arrecadaram em 2023, mesmo relacionados a importantes marcas, personagens e até mesmo importantes cineastas do mundo, foram os que não pertenciam a alguma franquia, como Barbie, Super Mario e Oppenheimer.

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