05 Outubro 2023 | Ana Paula Pappa
Players se reúnem para debater como ocupar o mercado com o audiovisual brasileiro
União da indústria e políticas de investimento permearam a discussão, que contou com a presença de Alex Braga, diretor-presidente da Ancine
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O mercado do cinema nacional sofreu como um todo os prejuízos trazidos pela pandemia e hoje uma de suas principais pautas é a recuperação dos números anteriores a 2020. O painel Da desburocratização à ocupação de mercado: caminhos para o desenvolvimento da indústria, que ocorreu durante o terceiro dia da Expocine 2023, reuniu Alex Braga, diretor-presidente da Ancine, Bruno Wainer, fundador da Downtown Filmes e Felipe Lopes, sócio-diretor da Vitrine Filmes, para um debate mediado por Leonardo Edde, sócio-fundador da Urca Filmes.
O Brasil construiu uma história de crescimento no que diz respeito a produções audiovisuais de qualidade e que são respeitadas em território nacional e internacional. Essa linha do tempo se iniciou há muitos anos, somando esforços governamentais e da indústria por si só, que vem ampliando sua atuação e entregando cada vez mais qualidade em suas produções e canais de distribuição.
No entanto, esta é uma equação de soma que precisa de estratégias e de um olhar crítico para o público nacional e para um país tão complexo como o Brasil. É fundamental que a população consiga se enxergar nas telas, o que exige investimentos de forma ampla e que, para Felipe Lopes, é algo que fortalece a indústria. “Um princípio que norteia muito o meu pensamento enquanto profissional do cinema é a diversidade de linguagem e gêneros. Na Vitrine, temos desde Retratos Fantasmas até Nosso Sonho e conseguimos ver as particularidades de cada um”, explicou.
A união do mercado foi um dos pontos de discussão, com a conclusão de que somente assim será possível lutar por uma ocupação justa e com potencial de internacionalizar as produções brasileiras.
Para Leonardo Edde, a união é essencial e a Câmara Técnica foi um exemplo muito positivo de como isso pode funcionar para desenvolver a indústria cinematográfica. Durante os 20 anos em que a cota de tela esteve vigente, pudemos ver aumento nos números de distribuição e incremento no mercado. “A evolução do cinema brasileiro não prejudica ninguém, mas é preciso ter uma visão holística sobre os investimentos”, completou.
O grande objetivo desse debate é entender como as produções brasileiras podem ocupar mais espaço no mercado. Essa é uma indústria que precisa de volume de diversos tipos para fazer frente com Hollywood, que hoje é o maior concorrente das produções nacionais e a principal referência do cinema mundial.
Bruno Wainer enfatiza que a palavra de ordem é consistência e reforça a necessidade dos filmes autorais e a pluralidade nas produções. “Tínhamos um caminho traçado pelo governo com políticas públicas, mas isso foi destruído durante a pandemia. Precisamos voltar a ter uma estratégia comum entre todos os players para reconstruir o que perdemos e pensar em médio a longo prazo. Dentro disso, cabem produções autorais e títulos competitivos’’, explicou o fundador da Downtown Filmes.
Neste quesito, as regulamentações surgem como formas de garantir alguns acessos e criar possibilidades de crescimento para o audiovisual brasileiro. Ainda segundo Wainer, “o momento pede urgência para que retomemos os números pré-pandemia e agora as políticas públicas irão abranger o cinema popular brasileiro, priorizando o público”.
A cota de tela e a obrigatoriedade de exibição mínima de produções nacionais, tanto em canais pagos quanto nas telonas, são exemplos de políticas que tiveram grande impacto no setor e que precisam ser olhadas com atenção, principalmente neste momento em que estão sendo discutidas no Senado. Aliás, vale ressaltar que na terça-feira (3) a Câmara aprovou - em uma possível resposta ao que aconteceu no próprio Senado no final de agosto - um novo Projeto de Lei para a cota de tela nos cinemas nacionais. Em decorrência da cobertura da Expocine, o Portal Exibidor não pôde apurar a novidade com maior clareza, mas a iniciativa pode ser conferida no site oficial da Câmara dos Deputados.
Alex Braga trouxe o tom mais institucional para a discussão, mostrando que a Ancine está à serviço da sociedade brasileira ao buscar estabelecer as melhores políticas públicas para o mercado. “O que queremos junto com as políticas reguladoras é gerar bem-estar para a sociedade brasileira e isso só pode acontecer com a difusão das obras brasileiras, sabendo que o protagonista é o público e que quem fará a ligação disso são as empresas que atuam neste setor”, completou.
O foco da instituição está nas produções populares, que foram as menos favorecidas nos últimos anos e que contribuem para a formação da identidade do país. “Também não podemos esquecer da questão da acessibilidade para incluir as pessoas com deficiência e de todo o trabalho que a Ancine vem fazendo neste sentido”, ressaltou Braga, já que o acesso à cultura deve ser amplo e irrestrito à população como um todo.
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