20 Fevereiro 2019 | Renata Vomero
Demanda por alimentação saudável nos cinemas brasileiros ainda é tímida
Exibidores comentam sobre os hábitos alimentares dos consumidores durante as sessões
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Uma pesquisa encomendada pelo Chilean Blueberries, comitê de exportadores de frutas chilenos, revelou a quantidade de calorias ingeridas pelos britânicos quando vão ao cinema. Eles comem 2.500 calorias em doces de bombonière e mais de 3.000 em nachos. O estudo trouxe a informação de que se consome em torno de 1.795 calorias entre doces, hot dogs e pipoca, o que é o equivalente ao consumo recomendado para uma mulher em um dia.
Levando em consideração que um adulto vai em média sete vezes ao cinema por ano, o total de calorias anual chegaria a 12.565. Foram 2.000 entrevistados e 4 a cada 10 deles gostariam que os cinemas oferecessem opções mais saudáveis para comer. Mix de castanhas, frutas frescas, palitos de cenoura e chips de banana estão entre as sugestões mais citadas entre os entrevistados.
45% dos participantes disseram que os cinemas e outros espaços de lazer têm o dever de ofertar comidas mais saudáveis para os clientes. E 1 em cada 4 deles acredita que esses locais são parte responsável pelo problema da obesidade infantil.
A questão do valor dos snacks também foi levantada, 90% dos ingleses consultados acham as comidas muito caras e 50% deles aceitariam pagar um pouco mais caro no ingresso do filme caso a comida fosse mais barata. 9 em cada 10 dos entrevistados levam suas próprias comidas ao cinema ao invés de pagar pelos preços julgados abusivos.
Brasil
O Brasil não conta com uma pesquisa recente acerca dos hábitos alimentares durante as sessões de cinema, nem sobre as preferências dos brasileiros neste momento de lazer. Ainda assim, é possível tirar algumas conclusões tendo como base as observações feitas pelas redes de cinema do país.
Apesar do crescimento na oferta de produtos como hot dogs, nachos e doces, a pipoca continua sendo a principal escolha na hora de assistir a um filme. “Pipoca e refrigerante ainda representam 80% das vendas da bombonière”, diz Sidnei Podryhula, Gerente de Alimentos e Bebidas da PlayArte, que conta com a opção de pipoca com chocolate e pizzas no cinema VIP.
É difícil dizer com precisão quantas calorias teriam um pacote de pipoca no cinema, já que a maioria das empresas não costuma divulgar esses valores. No Centerplex, por exemplo, um pacote de pipoca tem em média 800 calorias. Segundo Fabiana Queiroz, Gerente de Alimentos e Bebidas da rede, não existe uma grande demanda por opções com menos calorias nos cinemas deles: “Não temos uma procura significativa por parte dos nossos clientes por alimentos mais saudáveis ou menos calóricos em nossos complexos”. A mesma impressão tem Sidnei da PlayArte, que complementa com um dado interessante: “Há baixíssima procura por produtos light nas bombonières do cinema, mas notamos nos últimos anos uma diminuição no consumo de refrigerante e aumento de venda de água, sucos e chá gelado”.
De qualquer maneira, isso é algo para entrar no radar das redes de cinema: oferecerem diferentes opções para os diferentes gostos dos clientes. “Estamos testando a aceitação de uma versão light da pipoca salgada no PlayArte Bristol, com a oferta de uma pipoca com 39% a menos de gorduras”, comenta o gerente. A representante do Centerplex, no entanto, não acredita que a demanda por um alimento diferenciado e voltado para uma dieta mais leve deva surgir. “Recebemos solicitações na maior parte por variedades de balas, chocolates e bebidas. Acredito que no momento de lazer, a maior parte dos nossos clientes aproveite para se divertir sem controlar a dieta.”
Mesmo com a ainda escassa oferta de diferentes opções de alimentação no cinema, existe a possibilidade do cliente trazer sua própria comida a ser consumida durante a sessão. Desde 2016 essa prática é liberada, pois o STJ entendeu que proibir o espectador de levar seu próprio alimento poderia configurar venda casada para o cinema, o que não é permitido no Brasil.
Consumo
As bombonières são parte essencial da experiência no cinema e a venda de comidas é parte fundamental da receita das redes brasileiras, tendo isso em vista este tema sempre é atraente para os exibidores. Larry Etter, vice-presidente da Malco Theaters, e que ministra cursos sobre o assunto por meio da NAC (National Association of Concessionaires), trouxe, em sua vinda ao Brasil, importantes dicas de como impulsionar essa frente nos cinemas. Entre as sugestões está a importância de compreender a necessidade do público, este pode ser um momento importante dos exibidores estarem atentos à possível necessidade dos clientes de se preocuparem com o tipo de alimentação que consomem. Para isso, é necessário que os cinemas estejam informados a respeito da demanda de seus consumidores, em curso especial oferecido na Expocine de 2017, Etter bateu na tecla da importância de serem efetuadas pesquisas e coleta de dados para que as redes sejam certeiras na sua oferta de alimentos. Ele reitera que, com essas informações, as redes não precisam disponibilizar uma quantidade gigante de produtos nas bombonières, mas sim, aqueles que seu público mais se identifica.
Durante a CinemaCon de 2018, um painel apresentado pela NAC traçou o perfil dos consumidores de bombonières dos EUA. Um dado interessante apresentado na conversa foi que “31% das pessoas querem ir ao cinema de acordo com o que o cinema oferece de bombonière”. Assim como no Brasil, os americanos também preferem a pipoca, segundo os palestrantes, ela é a opção favorita entre 38% dos consumidores.
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