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07 Maio 2018 | Vanessa Vieira

Acessibilidade e parceria comercial são apresentados ao mercado pela ETC

Seminário com direito à participação de pessoas com deficiência reuniu profissionais de produção, distribuição e exibição

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(Foto: Portal Exibidor)

Desde 2015, com a Lei Brasileira de Inclusão, o termo “acessibilidade” começou a ser cada vez mais frequente no cotidiano do mercado exibidor e distribuidor de cinema, saindo da acessibilidade física com rampas e elevadores para também a acessibilidade de conteúdo. E, depois de um adiamento de um ano para a chegada de tecnologias para esse fim nos cinemas, o prazo começa a se aproximar novamente: dessa vez está para 16 de novembro deste ano.

Pensando nisso, a ETC Filmes, empresa especializada em soluções de tradução, legendas e acessibilidade de conteúdo, realizou nesta sexta-feira (04), em São Paulo (SP), uma apresentação especial para o mercado de cinema, explicando desde a história da deficiência até os detalhes dos recursos que deverão estar disponíveis até novembro. No encontro, foram reunidos profissionais de mais de 30 empresas do setor.

História e marco para o mercado

Para Thais Ortega, coordenadora de acessibilidade e roteirista de audiodescrição, o evento, que contou com audiodescrição e tradução em LIBRAS ao vivo, foi um marco para o mercado, especialmente por essas questões terem causado “polêmicas” quando chegou a obrigatoriedade de oferece recursos de acessibilidade. A executiva, que conduziu todo o seminário, contou detalhes da história da deficiência desde a pré-história, quando não existiam meios para sobrevivência para pessoas com deficiência, até os dias atuais.

“Embora a história da deficiência seja tão antiga quanto a humanidade, a convivência real da sociedade com essas pessoas é um fato recente, com cerca de 100 anos. Ainda estamos muito longe da verdadeira inclusão”, comentou.

Quanto à Instrução Normativa 128, de 2016, que previa a chegada da acessibilidade aos cinemas ainda em 2017 (antes do adiamento para 2018), Thais afirmou que, embora muitas pessoas tenham reconhecido a importância da IN 128, a profissional entende que ela caiu “como uma bomba” no mercado. “Veio de supetão e mexeu com o orçamento e o planejamento de vocês”.

Porém, a profissional acredita que neste ano a IN deve ser cumprida já que agora existem soluções tecnológicas que garantem, por exemplo, um acesso individual à acessibilidade de conteúdo. Ou seja, sem impactar a experiência cinematográfica dos demais espectadores. Uma dessas soluções conta como fornecedora a Riole, com a qual a ETC Filmes anunciou parceria durante o encontro.

A primeira vez que o agora chamado “Kit Cinema” da empresa foi apresentado ao setor foi na Expocine 2017, marcando a entrada da Riole nesse mercado. Os produtos da companhia foram ainda expostos na CinemaCon 2018. Segundo Thais, a ETC passa a ser parceira comercial da Riole nessas soluções.

Outra parceria anunciada foi com a iQ Agenciamento, que resultou na criação do primeiro canal de cultura 100% acessível. A ideia do canal é principalmente de formação de público.

Perspectiva de dentro

O encontro contou com a participação de pessoas com deficiência como Edgar Jacques, que conta com baixa visão e é consultor de audiodescrição. O profissional questionou sobre a deficiência estar na pessoa ou no ambiente. “Tudo o que foi pensado hoje foi pensado para quem ouve e vê. O que começamos a pensar hoje é que existem pessoas que pensam tanto quanto, consomem tanto quanto, mas que não conseguem ter acesso a tudo. Uma vez que o ambiente esteja adaptado a todos, não existe deficiência”, disse.

Pensando nisso, Thais listou algumas das “tarefas” que fazem parte da decisão de ir ao cinema, indo desde a escolha do filme até a compra na bombonière, o pré-show e a saída da sala. “A acessibilidade de conteúdo só garante que o filme em si seja acessível, mas e todo o resto da experiência? Precisamos criar os cinéfilos entre essas pessoas, que são um público a ser considerado”.

Da comunidade surda, a representante foi Thaisy Paio, modelo, youtuber e influenciadora que tem surdez total. Ela explicou que as pessoas com deficiência auditiva precisam de dois recursos de acessibilidade – a LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) e a legenda descritiva – porque muitas delas não foram alfabetizadas inicialmente em português, mas em LIBRAS. Ou vice-versa.

Quanto à solução de usar um avatar em vez de um intérprete humano para LIBRAS, Thaisy contou que a comunidade surda não é a favor do avatar para o cinema. Isso porque essa solução é mais robótica e automática, enquanto o intérprete humano inclui emoção e um estudo melhor das LIBRAS em vez da simples tradução. Ela comparou o avatar a uma tradução direta do Google, funciona, mas tem falhas.

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