09 Abril 2024 | Redação
A união de todos os elos: estúdios e exibidores discutem caminhos de cooperação para atender novas demandas
Primeiro dia da CinemaCon reuniu executivos internacionais e dos Estados Unidos para falar sobre os desafios de fidelização do público e maneiras de atingir novos espectadores
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Foi dada a largada para a maior convenção do mercado de cinema do mundo e, como acontece tradicionalmente, a CinemaCon abriu sua programação com uma agenda voltada para discutir o mercado internacional, chamado de International Day. A discussão, que reuniu executivos da área de exibição e também executivos dos estúdios, girou em torno de estratégias para reaproximar o público das salas escuras. A partir dos primeiros debates, a CinemaCon estreou sua programação oficial.
O evento que acontece até quinta-feira (11), em Las Vegas, discutiu os caminhos que deverão ser tomados por estúdios e exibidores para se enquadrarem nas novas tendências de consumo que surgiram no universo cinematográfico após a pandemia de Covid-19. Embora as bilheterias globais tenham alcançado uma boa recuperação em 2023 e iniciado 2024 de uma maneira acima das expectativas no primeiro trimestre, apesar da falta de grandes lançamentos e blockbusters, a preocupação com os novos hábitos ainda tiram o sono dos executivos, visto que a bilheteria global de quase US$ 34 bilhões do último ano ainda está 15% abaixo da média de 2017-2019.
"Você é o Que Você Assiste: O Cinema Como Tecnologia de Ponta", apresentado pelo vencedor do Prêmio Pulitzer e especialista em dados, Walt Hickey, foi o primeiro painel do dia. Durante 30 minutos Hickey abordou a neurociência e explicou como os cientistas foram capazes de medir o dióxido de carbono nos cinemas e como isso determinou a satisfação ou insatisfação do público diante do filme assistido.
Colocando censores nos ar-condicionados das salas de cinemas, os cientistas fizeram um teste durante a exibição do filme Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (Paris Filmes) e a análise indicou que o nível de dióxido de carbono vai diminuindo dentro da sala de cinema se o público gosta do filme, e aumenta se o filme não estiver agradando os telespectadores, quando o público começa a ficar ansioso, se mexendo bastante nas poltronas e querendo se retirar da sala.
Na sequência, o painel "Mudando Gostos e Mudando Paisagens" contou com Rebecca Kearey, vice-presidente executiva e chefe de operações comerciais e internacionais da Searchlight Pictures, Miguel Mier, diretor de operações do Cinépolis, Helen Moss, vice-presidente sênior de distribuição internacional da Paramount, e Toshi Yamasaki, presidente do Toho-Towa Company Limited.
A executiva da Paramount destacou a necessidade de estúdios e exibidores trabalharem juntos "para levar algo novo para o público que ele não consegue em casa". Como exemplo de iniciativas que consigam trazer esse tipo de experiência para o público, Moss citou ações conjuntas feitas pela Paramount e exibidores no filme Missão: Impossível - Acerto De Contas Parte 1 que foram chamadas de "Missão Possível". "O que é que o dinheiro não pode comprar? Eu faço parte deste evento e você não", completou.
Rebecca Kearey também pontuou que experiências que cativam o público não precisam necessariamente ter um alto custo para os exibidores. A executiva citou ações feitas pelo ArcLight Cinemas, no sul da Califórnia, onde os funcionários do cinema apresentavam os filmes antes de sua exibição e também traziam curiosidades sobre o filme ou o cineasta, garantindo percepções além de som e imagem. "Existem pontos de contato que não custam muito dinheiro para conseguir fidelizar os clientes. Você não precisa colocar muitas máquinas de café expresso no saguão. Há pequenas coisas para atrair as pessoas", destacou.
Citando filmes da própria Paramount, Moss também falou sobre ações que cativam o público com uma experiência diferente como no filme As Tartarugas Ninja: Caos Mutante, onde havia cheiro de pizza em determinados momentos do filme, e em Bob Marley: One Love, onde alguns cinemas disponibilizaram um karaokê com algumas músicas nas sessões de lançamento da produção.
Dentro desse trabalho conjunto entre estúdios e exibidores para que o público possa ser cativado por uma experiência única, a executiva da Paramount alertou para a falta de informações de pré-vendas fornecidas por exibidores de fora dos Estados Unidos para os estúdios. Nos Estados Unidos, vale destacar, os estúdios possuem acesso a esse tipo de dados. "Fora dos Estados Unidos esse tipo de acesso é incompleto. Conhecimento é poder, e ter acesso a esse compartilhamento de dados ajudaria os estúdios a alterar suas campanhas de marketing", disse.
Já no período da tarde, na programação formal da CinemaCon, as conversas buscaram chamar a atenção para produções de orçamentos mais baixos, deixando os blockbusters um pouco de lado em um primeiro momento de discussão. Mais uma vez exibidores tiveram protagonismo nas conversas, mas dessa vez ao lado de distribuidores.
Essa necessidade de colaboração teve uma discussão em torno da promoção de filmes de orçamento baixo ou médio durante o painel "Força no Meio: Trabalhando Juntos Para Aumentar Filmes de Orçamento Médio", que contou com a participação do presidente, diretor de conteúdo, programação e desenvolvimento dos cinemas B&B, Brock Bagby, da presidente de distribuição da Focus Features, Lisa Bunnell, da presidente de distribuição da Neon, Elissa Federoff, e da vice-presidente de marketing e parcerias da National Amusements, Rebecca Stein. A National Amusements, vale destacar, é a detentora dos cinemas UCI no Brasil.
As executivas da Focus Feature e da Neon argumentaram, citando nominalmente, que filmes como Anatomia de Uma Queda (Diamond), Os Rejeitados (Universal) e Imaculada (Diamond) precisam ter aberturas menores e "espaço para respirar" e conseguirem construir um boca a boca positivo antes de se expandirem mais quando um um público mais amplo está pronto para assisti-los. "Precisamos ser pacientes com esses filmes e entender que para cada filme há um limite para o que é sucesso", destacou Bunnell.
De certa forma alinhada com o que disse Helen Moss pela manhã sobre a importância do compartilhamento de dados entre todos os elos da cadeia cinematográfica, Bunnell também afirmou que quando um filme obtiver bom desempenho e ainda houver demanda nos cinemas, seria possível trabalhar para estender o período de exibição dos filmes antes de levá-los ao streaming. Ainda sobre filmes de baixo orçamento, a executiva também falou sobre as dificuldades de conseguir grandes talentos para esse tipo de produção, tendo em vista que os cachês são menores. "As métricas não são as mesmas para uma empresa especializada e para um estúdio", disse.
Durante o bate-papo, Elissa Federoff também deixou claro que o objetivo das produções de orçamento mais baixo deve ser focar na qualidade do conteúdo. "A quantidade de conteúdo não é o que o público deseja, eles querem qualidade. Precisamos que todos apoiem isso da mesma maneira. Imaculada é um ótimo exemplo disso: foi feito por menos de US$ 10 milhões com Sydney Sweeney, que é uma grande atriz e produtora. Ela apostou em si mesma. O filme estreou em quarto lugar em 20 de março na América do Norte e rendeu US$ 14,1 milhões e US$ 18,5 milhões em todo o mundo", destacou.
Ainda falando sobre maneiras de potencializar os ganhos com filmes de baixo orçamento, reforçando a parceria entre distribuidores e exibidores, a vice-presidente de marketing e parcerias da National Amusements destacou a importância de programas de fidelidade que construam uma relação duradoura com o público, e também sobre a importância de conquistar jovens para que se tornem assíduos nas salas escuras.
"Nosso programa de fidelidade cresceu com o público de 18 a 34 anos e mudamos as recompensas de pontos para cashback. Isso faz uma diferença enorme. Parte considerável dos nossos gastos de marketing também são destinados a alcançar influenciadores que ajudam a atingir um público mais jovem", disse. Na sequência, Bunnell também complementou a colocação de Stein. "Gosto de ver o TikTok como uma forma de educar os mais jovens sobre como ir ao cinema porque eles são o futuro", encerrou.
A ideia geral no primeiro dia de discussões da CinemaCon foi a necessidade de cooperação entre estúdios, distribuidores e exibidores, seja para conquistar um novo público, sobretudo jovem, atingir um novo público, ou até mesmo impulsionar o sucesso de produções que não contam com um orçamento tão grande. As conversas deixaram clara a necessidade de a indústria se adaptar às mudanças de comportamento e criar novas experiências e, tudo isso passa pela urgência de um maior compartilhamento de dados e informações entre todos os elos para que estratégias mais assertivas sejam criadas.
E, além das discussões sobre o atual momento do mercado, o primeiro dia de CinemaCon também reservou espaço para algumas premiações e, após receber o prêmio por sua carreira internacional no cinema, o diretor George Miller que terá seu próximo trabalho, Furiosa: Uma Saga Mad Max (Warner), com estreia mundial no Festival de Cinema de Cannes no próximo mês, antes da Warner iniciar seu lançamento global em 22 de maio, revelou o motivo de continuar fazendo filmes Mad Max, que teve sua estreia em 1979. Muito disso acontece, inclusive, por um "acidente", uma vez que a ideia original não era ambientar a produção em um mundo apocalíptico e quis o destino que, nas palavras do diretor, o filme se tornasse "viciante".
"Era quase impossível fazer sequências de ação nas ruas de Melbourne, na cidade moderna. A ideia era ambientá-lo num futuro distópico simplesmente porque poderíamos jogar em ruas vazias. E isso foi realmente sorte porque acidentalmente o filme, que de outra forma seria naturalista dos dias de hoje, acabou por ser mais alegórico, involuntariamente, e foi isso que levou a Mad Max e é por isso que ainda os faço, porque são muito viciantes", disse.
Mas, as novidades do primeiro dia da CinemaCon não param por aí. Ainda houve espaço para o anúncio de uma grande novidade no mercado asiático. Cadeias de cinema de dois grandes mercados, China e Tailândia, revelaram durante a conferência anual de exibição os seus planos de expandirem seus parques exibidores em Imax.
Na China, o Bona Film Group, que não fecha um novo acordo com a Imax desde a pandemia de Covid-19, anunciou a extensão do acordo já existente para adicionar três salas Imax na região. Os três novos devem estar em funcionamento até 2026 e elevarão para o total de 36 o números de salas Imax da Bona na China. Já na Tailândia também serão adicionadas três novas salas pela Major Cineplex, maior rede exibidora do país. A previsão é que as novas salas sejam inauguradas em 2026 e 2027.
Além dos debates e anúncios, o primeiro dia da convenção foi encerrado pela aguardada exibição de O Dublê (Universal). A noite de abertura da CinemaCon, durante a exibição da Universal, começou com Mitch Neuhauser, representante da NATO, falando sobre as dificuldades da indústria lidar com o pessimismo de algumas pessoas. "Nossa indústria está sempre lutando para provar sua resiliência. Os estúdios estão fazendo o possível para lançar os melhores produtos que possuem para vocês nesta semana", disse.
Ainda antes da exibição do filme, foi feito o anúncio da renovação do patrocínio da Coca-Cola com a CinemaCon por mais cinco anos e, Jim Morre, presidente de distribuição doméstica da Universal, falou brevemente sobre a produção e algumas expectativas. "Agradecemos muito a oportunidade de ajudar no lançamento da CinemaCon 2024. O Dublê é um filme que convida você a se divertir. O público e a crítica estão delirando com ele. Tivemos um lançamento na SXSW em março e o filme é um tributo explosivo", encerrou.
Anteriormente o Portal Exibidor já havia destacado que a delegação estaria em peso na convenção, com pelo menos 90 representantes da indústria nacional na CinemaCon. Ao final do primeiro dia as expectativas se confirmaram e Marcelo Lima, CEO da Tonks e diretor do Cine Marquise destacou a importância do networking realizado no evento e também suas impressões.
"Todos os painéis foram bem destacados e conversei com alguns exibidores que gostaram de todos os painéis. Exibidores brasileiros estão em alta quantidade aqui, são mais de 100 pessoas para trocar, e valeu super a pena a gente se encontrar por aqui", disse.
Cobertura completa:
Players brasileiros desembarcam na CinemaCon.
Novidades tecnológicas anunciadas durante o evento.
As primeiras impressões de "O Dublê", da Universal.
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Michael O'Leary ressalta importância de variedade de títulos nas telonas.
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