28 Agosto 2019 | Renata Vomero
"Acredito que ainda há espaço para o cinema crescer no Brasil", afirma Afonso Poyart
Com experiência no Brasil e Hollywood, diretor faz análise de ambos mercados
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Quando 2 Coelhos (Imagem Filmes) chegou aos cinemas em 2012, tanto público, quanto crítica elogiaram o longa nacional, que recebeu prêmios em Los Angeles e no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Dirigido e roteirizado por Afonso Poyart, até então um nome desconhecido, a produção chamou a atenção por misturar elementos dos videogames na narrativa e no visual.
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Depois do sucesso do filme, Poyart, partiu para os Estados Unidos onde dirigiu o filme Presságios de Um Crime (Diamond), com Anthony Hopkins, Jeffrey Dean Morgan e Collin Farrell. A produção o colocou de frente a um mercado totalmente diferente do que estava habituado, com os mercados de publicidade e também o de cinema nacional. “O processo é parecido no mundo todo, mas o que eu acho diferente dos Estados Unidos é o fato da indústria ser muito mais solidificada, ramificada e estabelecida. Existem muitos players, formas de financiamento e produtores. Então o mercado é muito gigante e com dinheiro vindo do mundo todo. Presságios de Um Crime, por exemplo, é uma produção independente americana financiada com dinheiro internacional. As diferenças básicas entre o Brasil e os EUA é o foco e o mercado final do cinema nacional, que hoje é mais focado ao mercado local e depois tem carreira em VOD ou TV fechada. Já o filme americano é feito com o mercado internacional extremamente em pauta como uma maneira de recuperar os custos. Claro que filmes brasileiros também têm carreira internacional, mas eu diria que dentro do planejamento de um filme americano, o mercado internacional entra de uma maneira mais larga”, explica o cineasta.
De volta ao Brasil, já como um forte nome na indústria, o diretor também foi responsável pelos lançamentos de Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo (2016, Downtown/Paris) e pela série do GloboPlay, Ilha de Ferro. Agora, o diretor se prepara para lançar, ao lado de Fernando Sanches, o longa Galeria Futuro (H2O Films). A produção é protagonizada por Marcelo Serrado, Otávio Müller e Ailton Graça e conta a história deste grupo de amigos que trabalha em uma galeria comercial que foi sucesso nos anos 1970, mas já está prestes a falir. Então, para não deixarem que ela se transforme em uma Igreja Evangélica, eles decidem vender os alucinógenos que encontraram escondidos na galeria para tentar salvar o espaço.
Com sua retomada no Brasil, Poyart consegue apontar, apesar das incertezas atuais, diversas qualidades no nosso mercado e vê em seu futuro ainda maior força para crescer. “As maneiras de financiar são, de certa forma, democráticas. Claro que não é possível fazer qualquer tipo de filme com esse financiamento, mas existe uma forte quantia presente para se produzir projetos. Pode ser que isso mude, infelizmente. A Ancine está num momento um pouco incerto, mas posso dizer do passado recente que o Brasil tem a característica legal de ajudar pessoas a fazerem seus primeiros filmes e diretores foram criados por conta dessa estrutura. A Ancine ajuda a fomentar o cinema, desenvolver a indústria, criar talentos e isso está presente. Já no cinema americano, existe uma estrutura muito comercial e fica muito mais complexo de entrar, mas, como todo lugar, tem espaço para evolução e para pessoas que querem começar”, opina.
Ainda sem data para estrear nos cinemas, Galeria Futuro deve chegar no circuito já com o olhar analítico de seu diretor e produtor, que acredita que uma boa estratégia para atingir o público é a criação de filmes que tenham apelo comercial, mas que sejam ao mesmo tempo provocativos e intrigantes. “Se você está fazendo um filme para o público, é necessário entender o que ele está consumindo, começando pela escolha da temática, o roteiro e o elenco. Tento sempre conciliar as duas coisas: um filme inteligente, provocativo, ousado e que se conecta com o público. É o que se chama de smart art e já existem diversos filmes nessa classificação, que não são óbvios e, mesmo assim, levam pessoas ao cinema. Hoje temos um momento muito singular para o cinema no mundo todo com a força das novas plataformas e a maneira de consumir audiovisual. Então, quando fazemos algo para o cinema tem que ser pensado para quebrar isso e realmente atrair as pessoas para as salas de cinema, o que não tem sido fácil. Ultimamente as pessoas precisam de um bom motivo para ir ao cinema. É por isso que se tem cada vez mais produção dos grandes filmes, dos blockbusters e grandes franquias. Ou se tem filmes bem pequenos que vão rodar o circuito alternativo, mas não tem mais aquele filme médio que se tinha até os anos 2000. Mas acredito que ainda há espaço para o cinema crescer no Brasil. As pessoas ainda têm muita vontade de consumir esse tipo de audiovisual no cinema, então existe um caminho muito bacana para ser percorrido dentro do cinema nacional”, finaliza Poyart.
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