13 Junho 2019 | Renata Vomero
Seminário sobre mulheres no audiovisual traça panorama do mercado
Evento contou com a perspectiva de Amanda Nevill, do British Film Institute
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Aconteceu nesta quinta-feira (13), no Sesc Avenida Paulista, em São Paulo, o Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, realizado desde 2017 anualmente pela Ancine. O evento, que acontece durante o dia inteiro, teve abertura com fala de Débora Ivanov, diretora da Ancine; de Carolina Costa, Presidente da Comissão de Gênero, Raça e Diversidade da agência, e Rosana Paulo da Cunha, gerente de ação cultural do Sesc-SP.
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A representante do Sesc fez questão de salientar a participação da instituição como fomentadora da arte, cultura e dos direitos humanos. “Temos um trabalho de muita preocupação em fortalecer as ferramentas de difusão das artes em nosso país”, comentou a gestora. Sobre a questão do audiovisual Rosana ressaltou o trabalho do Sesc como uma instituição que tenta impulsionar a participação feminina em filmes. “Queremos trabalhar para aumentar muito a participação, porque igualar com a dos homens ainda é muito difícil a curto prazo, mas pode aumentar”, finalizou.
Débora Ivanov apresentou o trabalho da Ancine quanto a esta questão, comentou que a agência vem atuando em três vetores distintos para aumentar a diversidade nas produções feitas no Brasil. O primeiro deles seria com base em informação e análise de dados, a segunda seria a de articulação e promoção de debate público e a terceira seria pela criação de instrumentos de indução para a diversidade, como editais especiais, sistema de cotas no Fundo Setorial do Audiovisual, entre outras iniciativas.
Presidente da Comissão de Gênero, Raça e Diversidade da agência, recém-criada na Ancine, Carolina Costa apresentou os números ainda desanimadores do setor: apenas 2% dos filmes lançados em 2016 no Brasil foram dirigidos por homens negros e não teve nenhuma mulher negra na direção de longa-metragem. “Vivemos uma epidemia de invisibilidade, o que as pessoas negras vivem no mercado de trabalho pode ser chamado de interdição”, comentou.
Visão britânica
Amanda Nevill, CEO do British Film Institute, que atua de forma semelhante à Ancine no Reino Unido, foi uma das convidadas especiais deste seminário. A executiva subiu ao palco com entusiasmo, já que se coloca no papel de uma pessoa otimista quanto às transformações no mercado cinematográfico no que se trata a inclusão de mulheres e outras minorias.
Nevill lamentou, no entanto, o fato de ainda estarmos lutando por espaço, já que, segundo ela “essa era uma pauta tão evidente nos anos 1970, nunca imaginei que estaria aqui falando disso em 2019”. Nevill comentou que durante os 16 anos que esteve a frente da BFI, só conseguiu no meio do caminho entender que precisaria fazer algo para mudar o cenário na região. “Percebi que se não estávamos em meio à solução, então, éramos parte do problema. E eu sei que eu ocupava uma posição que me dava poder para mudar as coisas”, relevou.
Amanda sentiu algo que pode ser muito comum entre as mulheres que ocupam altos cargos: culpa. Muito desse sentimento surgiu quando notou seu papel em meio a tudo isso, mas decidiu transformar tudo quando viu a pesquisa da BFI sobre todo o arquivo cinematográfico que tinham desde 1911. A pesquisa concluiu que em 100 anos não houve um aumento no número de mulheres nos elencos dos filmes, esse número se manteve o mesmo com o passar do tempo. Além disso, 93% dos filmes eram dirigidos por homens, ou seja, são gerações de pessoas sendo formadas cinematograficamente por meio do olhar masculino sobre as questões da sociedade. “Essa pesquisa também revelou que nós britânicos fazemos mais filmes sobre guerra do que sobre sexo (risos)”, brincou a executiva.
A BFI, então, criou diversas iniciativas para buscar mudar o panorama do mercado e trazer maior inclusão para as produções. A principal delas e motivo de muito orgulho para Amanda é a BFI Diversity Standards, cujo principal objetivo é garantir que as produções que contam com o apoio do instituto se encaixem em pelo menos dois critérios (são quatro ao todo), se os projetos inscritos não estiverem de acordo com esses standards, não ganharão financiamento da BFI. “Conseguimos com isso aumentar muito a diversidade dentro e fora das telas, além disso, convencemos diversos estúdios e até o Bafta a adotarem esse sistema na avaliação dos filmes e na hora de produzí-los”, relevou Nevill.
Outro ponto muito importante no British Film Institute é a questão da capacitação de jovens cineastas, já que muitos ficam longe de Londres e acreditam que não serão capazes de entrar no mercado. O BFI oferece um programa para esses jovens, a BFI British Academy, nele há uma grande formatura ao final do curso com a presença de grandes players do mercado com o intuito de apresentar esses talentos para o setor. Além disso, essa iniciativa tem como um dos focos tranquilizar os pais que também acham que a carreira no cinema não é o ideal para seus filhos. “Bato muito nessa tecla, acho extremamente importante essa comunicação com os pais. Precisamos que esses jovens sejam encorajados a entrar no mercado, pois há uma escassez desses talentos”, revelou a executiva, que finalizou a conversa explicando que o instituto também valoriza muito seus funcionários, oferecendo workshops e cursos voltados para o incentivo à diversidade, além de terem adotado uma política de recrutamento que também tem a pluralidade como principal foco.
O Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual também acontece no dia 14 de junho no Rio de Janeiro.
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