12 Junho 2019 | Renata Vomero

Comédia romântica: o retorno de um dos gêneros mais queridos do público

Ignorado pelos estúdios nos últimos anos, o estilo volta com nova roupagem e fôlego para (re)conquistar novas audiências

Há mais de 15 anos, uma olhada rápida nas listas de maiores bilheterias norte-americanas do ano indicaria um gênero entre os favoritos do público: as comédias românticas. Um clássico que se fortaleceu entre os anos 1990 e 2000, perdeu força na última década com a chegada e protagonismo das grandes franquias e sequências. No Box Office Mojo, a quinta maior bilheteria do ano de 2000 foi o filme Do Que As Mulheres Gostam (Europa Filmes), que faturou US$ 182 milhões nos EUA e US$ 374,1 milhões mundialmente. Dez anos depois e o gênero deixou de figurar entre os maiores faturamentos: tendo as sequências de Iron Man, Crepúsculo, Toy Story e Harry Potter entre as histórias mais assistidas em 2010. Daí para frente as comédias românticas perderam parte de seu espaço nos cinemas para dar lugar a estas produções mais rentáveis.

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Em 2013, o portal The Hollywood Reporter decretou a morte do gênero, trazendo uma reportagem revelando o quanto as produtoras já não estavam mais aceitando projetos do tipo de profissionais que fizeram nome criando clássicas rom-coms (como as comédias românticas são chamadas nos EUA). Segundo o portal, por conta da tradição de serem filmes que funcionam bem, mas não trazem o rendimento de uma grande produção, eles acabaram sendo deixados de lado e, com isso, perdido o interesse de estúdios e também de jovens atrizes, que passaram a escolher filmes com maior visibilidade, foi o caso das queridinhas Emma Stone e Jennifer Lawrence.

Como o mercado costuma se movimentar de maneira cíclica, no último ano a Netflix notou essa lacuna de comédias românticas que sumiram dos cinemas e decidiu reviver o gênero na plataforma. No ano passado a empresa apostou em uma produção que movimentaria as redes sociais e os portais especializados: A Barraca do Beijo. O filme foi sucesso entre os usuários da plataforma, o que impulsionou, logo em seguida, o lançamento de O Plano Imperfeito e Para Todos Os Garotos que Já Amei, estes últimos com 91% e 97% de aprovação, respectivamente, no Rotten Tomatoes. “A Netflix está sempre em busca de gêneros de filmes e séries que tenham um enorme público potencial, mas, por algum motivo, também tenham uma demanda reprimida. Alguns anos atrás, quando demos o sinal verde para esse tipo de conteúdo, acreditamos que as pessoas ainda queriam comédias românticas. Nosso principal objetivo é entreter nossos membros e nós os ouvimos pedindo por comédias românticas, mas quando olhamos para a falta de produção desse gênero, decidimos fazer algo e aqui estamos hoje”, comentou a empresa exclusivamente para o Portal Exibidor.

A empresa impulsionou a demanda por essas histórias e é visível como já impactou o mercado em todas as suas janelas. Em 2018, uma das grandes bilheterias do ano foi com Podres de Ricos (Warner), que faturou mundialmente US$ 238,5 milhões e nos EUA fez US$ 174,5 milhões. Com um orçamento de produção de apenas US$ 30 milhões, o filme acendeu o alerta entre os analistas de Hollywood sobre a volta do sucesso de comédias românticas nos cinemas.

Ainda assim, é interessante comparar os números atuais com os do auge do gênero. A maior comédia romântica da história foi Uma Linda Mulher (Disney), lançada em 1990 e com faturamento de US$ 463,4 milhões globais. O filme foi a 4ª maior bilheteria do ano nos EUA e traz em si boa parte dos clichês do gênero. Julia Roberts, protagonista da maior parte dos filmes deste segmento dos anos 1990, tornou-se rapidamente uma das maiores estrelas de Hollywood, sendo dona de um dos maiores salários da época. O filme tem 62% de aprovação no Rotten Tomatoes e, apesar de algumas possíveis problematizações, ainda serve de referência para grande parte dos filmes do gênero.

Um outro ponto que ia contra as comédias românticas e que parece ter entrado no campo de visão dos estúdios e distribuidoras, é o fato de que as clássicas retratavam relacionamentos e personagens que não combinavam com a realidade: não são representativos e diversos. O sucesso dessas novas comédias, no entanto, parece revitalizar as questões clichês do gênero, como a mulher que precisa do homem para ser feliz ou dela precisar estar dentro de um padrão estético europeu imposto pela sociedade. “Esses filmes continuam falando sobre o romance de verão, mas com um caminho muito diferente de antes. Há histórias sobre mulheres jovens em busca de independência e amizades de meninos e meninas. Eles parecem uma comédia romântica clássica, mas estão mais sintonizados com o momento atual e em um cenário moderno”, revela a Netflix.

O público jovem parece ávido por esse tipo de histórias, que retratam sua rotina, suas questões, dramas e reflexões. No entanto, o público que se formou com os clássicos como Uma Linda Mulher (Disney) ainda se sentia realmente órfão sem novas produções que seguem o estilo. “São romances de colégio contemporâneos, mas falando para diferentes públicos, de todas as partes do mundo. Além disso, há referências aos clássicos que criam um vínculo com os públicos mais antigos”, explica a plataforma de streaming, destacando o quanto a diversidade de suas narrativas pode atrair maior público.

Apesar de essas histórias não alcançarem valores astronômicos nas bilheterias nos cinemas, como vimos recentemente com Vingadores: Ultimato (Disney), elas ainda são queridas pelo público, que sente falta de vê-las nas grandes telas. Prova disso foi o sucesso de Podres de Ricos (Warner) e de Megarromântico, lançado na Netflix, mas também com lançamento nos cinemas dos EUA. O filme gerou comentários nas redes sociais e apesar de disponibilizado logo na plataforma, garantiu bilheteria de US$ 48 milhões. Além disso, a Netflix ainda afirma que está produzindo novas comédias românticas para os próximos anos.

Tolice seria se fizesse diferente. Em seu último relatório do ano passado, a companhia divulgou que 80 milhões de assinantes assistiram aos novos filmes do gênero durante o verão, além disso, as novidades na plataforma renderam 7 milhões de novos assinantes, o que gera o faturamento de R$ 4 bilhões para a empresa. “Nós não queremos estragar a paixão dos fãs. É natural que continuemos a contar essas histórias, como já estamos fazendo com Para Todos os Garotos que Já Amei, por exemplo. Vimos como as pessoas receberam O Date Perfeito, e há muito mais por vir!”, finaliza. 

As maiores comédias românticas da história são:

• Uma Linda Mulher (1990) (US$463,4 milhões)
• Sex and The City (2008) (US$415,2 milhões)
• Do que As Mulheres Gostam (2001) (US$374,1 milhões)
• Quem Vai Ficar Com Mary? (1998) (US$369,8 milhões)
• Casamento Grego (2002) (US$368,7 milhões)
• Hitch: Conselheiro Amoroso (2005) (US$368,1 milhões)
• Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) (US$363,8 milhões)
• A Proposta (2009) (US$317,3 milhões)
• Melhor É Impossível (1998) (US$314,1 milhões)
• Noiva em Fuga (1999) (US$309,4 milhões)
• O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) (US$299,2 milhões)