15 Maio 2019 | Renata Vomero
"Nunca se produziu tanto e nunca as incertezas foram tão grandes", avalia fundador da Moonshot Pictures
Há 20 anos à frente da produtora, Roberto d'Avilla analisa as transformações do mercado
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O mercado audiovisual brasileiro já sofreu as mais diversas transformações: seja por corte de gastos, seja no surgimento de novas tecnologias ou nos padrões de consumo do público. Há quase vinte anos no mercado, a Moonshot Pictures, responsável por sucessos como o Última Parada 174, que foi selecionado para representar o Brasil no Oscar 2009, vem acompanhando essas mudanças ao lado de seu fundador Roberto d’Avilla. “Tenho quase 35 anos de profissão, então, tivemos os desafios que o país todo enfrentou: hiperinflação, cinco moedas, múltiplos planos econômicos. Além dos próprios da nossa área, extinção da Embrafilme em 1990, reconstrução do arcabouço legal, criação da Ancine, aparecimento da TV por assinatura”, comenta o diretor da produtora em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor.
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Uma das maiores mudanças no audiovisual e que impacta fortemente toda a indústria é o modo de consumo e de contar histórias, já que a televisão revolucionou esses padrões, sendo seguida pelo streaming. “Os desafios estão sempre em entender e descobrir novas formas narrativas e descobrir e cultivar talentos”, ele revela. Encontrar talentos, inclusive, é um dos maiores entraves do mercado para o d’Avilla: “As dificuldades que nos são específicas, me parecem ser ainda um déficit de formação profissional estruturada e sólida. Isso em todas as categorias, sejam roteiristas, diretores, produtores ou quaisquer outras especificidades. O nosso meio cresceu como atividade artesanal e muito personificada em poucos talentos, o que não gerou uma tradição e um arcabouço de práticas e conhecimentos estruturantes”.
Tendo em vista as diversas janelas possíveis para levar conteúdo, torna-se um desafio cada vez maior para quem os produz conseguir encaixar esses conteúdos corretamente em cada uma dessas mídias pois para cada janela há seu público específico e as peculiaridades de cada uma dessas plataformas. “Cada produto, para cada meio, para cada público tem imensas especificidades. A cada vez investigamos, pesquisamos, analisamos, comparamos e dedicamos horas e mais horas do nosso desenvolvimento no entendimento de cada tipo de produto e corremos atrás do aperfeiçoamento para controlar as ferramentas narrativas de cada perfil de produto. Mesmo produtos semelhantes (filmes, por exemplo), tem imensas diferenças entre os gêneros”, explica o fundador da Moonshot, que produz também para a televisão, tanto aberta, quanto fechada, e para o streaming.
Claro que em meio a toda essa diversidade de possibilidades e transformações, existem os conflitos gerados neste momento de disrupção trazida por essas novas janelas de exibição, neste caso já impulsionados durante essa temporada de premiações, quando houve maior participação de filmes distribuídos em streaming. Quem está do outro lado da moeda, produzindo conteúdo, faz, evidentemente, uma análise diferenciada sobre esta questão: “Todos os grandes grupos estão se posicionando e moldando seus serviços para esse público da internet. Imensos movimentos de consolidação estão acontecendo a nível global (quem poderia imaginar a Fox sendo comprada pela Disney?) e todas elas têm essa mesma lógica de criar musculatura para competir em todas as frentes com produtos relevantes para o público. Nunca se produziu tanto e nunca as incertezas foram tão grandes”.
Apesar dessas incertezas, para Roberto existe um caminho que deve ser o certeiro: o de bom conteúdo. “Uma coisa sabemos, o que tem valor cada vez mais é o bom conteúdo. Propriedades Intelectuais (séries, filmes, novelas, desenhos, entre outros) que sejam relevantes para o público. O consumidor está atrás de bons conteúdos, que o atraiam, que sejam eficazes narrativamente para envolvê-lo e que contem bem uma história”, finaliza.
Entre os próximos filmes que a Moonshot está desenvolvendo estão as futuras cinebiografias de Silvio Santos e do médium Arigó.
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