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05 Abril 2019 | Renata Vomero

Prazo para fim de VPF se estreita e preocupa pequenos exibidores

Ricardo Difini Leite enviou carta aos estúdios na Cinemacon

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(Foto: Shutterstock)

Nos meados dessa década, quando aconteceu a transição dos projetores tradicionais de 35mm para os digitais, houve uma negociação para que os distribuidores repassassem parte do lucro adquirido para os exibidores, já que aumentariam sua receita nessa transição. No entanto, esse acordo inicial só permitia o repasse para os exibidores que tivessem mais de 500 salas de cinema no Brasil, o que prejudicaria os pequenos empreendedores. Esse repasse é chamado de VPF (Virtual Print Free) e foi feito em diversos lugares do mundo durante essa modernização.

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Pensando nas companhias de menor porte, foi necessário, então, a criação de uma empresa integradora que mediasse essa negociação entre as distribuidoras e os empreendedores do mercado de cinema. No caso do Brasil, a Quanta DGT é a responsável por essa função. Em 2014, a empresa conseguiu um empréstimo do BNDES e da Ancine para a compra desses projetores. “A Quanta ajudou no mapeamento dos exibidores ao redor do país, no registro na Ancine, assumiu a responsabilidade do financiamento perante o BNDES, deu bens como garantia, importou todos os equipamentos de diferentes regiões do mundo, obteve desoneração fiscal em duas esferas, Federal e Estadual para os equipamentos, coordenou a logística de transporte, instalação e ativação de mais de 1000 salas brasileiras, além de monitorar e coletar o VPF de todas as salas do programa. Sem a Quanta DGT, provavelmente muitas salas ao redor do país teriam sido fechadas, por não terem condições financeiras de arcar com os custos da digitalização e de negociar individualmente os contratos de VPF com os Estúdios internacionais e distribuidoras locais”, explica Suzana Lobo, diretora de operações da companhia.

O contrato para o início do VPF entrou em vigor em janeiro de 2014, no entanto, por uma série de questões, como demora nas negociações e problemas na importação dos equipamentos (a carga foi roubada), o primeiro repasse de VPF aconteceu um ano e meio depois disso. Como o contrato tem vigência de seis anos, em dezembro de 2019 ele chega ao fim e os pequenos e médios exibidores estão bastante preocupados quanto a isso.  Esses empreendedores vão ter que arcar do próprio bolso o financiamento dos equipamentos, como revela Ricardo Difini, presidente da FENEEC (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas) e diretor de operações da GNC Cinemas: “Uma empresa que hoje paga uma prestação de R$50.000 por mês, como vai deixar de receber esse VPF, ela no mínimo passa para R$75 mil, é 50% a mais no mínimo e isso chega a 80% em alguns casos para poder pagar o projetor”. Suzana complementa: “A somatória desses fatores acarretou um desiquilíbrio econômico dos contratos e a única forma de reequilibrar a conta seria prorrogar os acordos com exibidores, distribuidoras e refinanciar a dívida com o BNDES/Ancine. Somente com este conjunto de ações nós conseguiremos reequilibrar o projeto”.

Segundo o executivo da federação, isso pode provocar um colapso no mercado exibidor, já que muitos desses empresários devem optar pelo fechamento de seus cinemas, pois não poderão arcar com esses custos. O setor pede uma prorrogação  de um ano e meio, justamente o tempo inicial que não conseguiram receber esses VPFs. “Elas [distribuidoras] continuariam pagando o tempo combinado, que foram os seis anos, não estamos pedindo que paguem mais tempo do que o acordado. Não que elas estejam fazendo nada errado, estão seguindo o tempo do contrato, elas não estão deixando de cumprir algo. Estamos pedindo, porque isso está criando uma dificuldade muito grande. Tem pequeno exibidor que está pensando em fechar, não vai conseguir pagar. Os médios não vão fechar, mas isso vai criar um desgaste financeiro nas empresas”, comenta Difini.

Algumas questões impedem a liberação dessa extensão no prazo, uma delas é que algumas das grandes redes de cinemas conseguiram o VPF com antecedência, por participarem de acordos mundiais, pois são empresas internacionais. No entanto, essas companhias querem fazer parte dessa prorrogação também, para terem ainda mais tempo para retornar esses valores. Outro ponto é que muitas das distribuidoras respondem às suas matrizes no exterior e dependem do aval delas para aceitarem esse novo acordo. Foi por isso que a Difini escreveu uma carta aos distribuidores que estivessem indo para Las Vegas, para a CinemaCon, e que estes entregassem esse texto para seus superiores, na esperança que se sensibilizassem com o problema. “A minha expectativa é que a gente consiga. Eu ficaria muito frustrado se não houvesse essa sensibilidade das distribuidoras. Já que elas também tiveram um ganho grande com a mudança de tecnologia. Não estamos pedindo que aqueles seis anos se tornem sete e meio, estamos pedindo que aquele período perdido seja recuperado”, desabafa Difini.

Quem é responsável pela negociação é a Quanta que tem essa dificuldade esclarecida pela executiva: “As negociações com as distribuidoras nacionais e internacionais estão ocorrendo desde 2017, muitas assinaram a prorrogação, mas algumas estão muito inflexíveis”. Durante a CinemaCon, o Portal Exibidor conversou com Ricardo Laporta, gerente de vendas da divisão Christie no Brasil, ele comentou sobre a situação: “Para alguns clientes que estão buscando inovação, no conceito PLF, talvez seja o momento de ter uma conversa com eles e já estamos tendo, porque o exibidor já está prevendo que o que ele tem agora está ficando obsoleto. VPF é um momento não só de conversar sobre as salas novas, mas as salas antigas”.

Outro problema a vista é que por lei os exibidores deverão equipar suas salas com aparelhos de acessibilidade de conteúdo para deficientes auditivos e visuais. “O pior de tudo é que culminou em todo o investimento que vamos ter que fazer com acessibilidade de conteúdo, que é muito caro. Então, junta esse problema do pagamento dos projetores com isso, vai criar um problema sério. É uma questão que preocupa muito”, finaliza Difini.

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