17 Dezembro 2018 | Roberto Sadovski

Estúdio do cineasta Luc Besson perde mais de US$ 100 milhões

EuropaCorp está vendendo vários de seus ativos para não encerrar suas atividades

Uma coleção de apostas equivocadas, fracassos nas bilheterias e investigações criminais tiveram impacto negativo nas contas da EuropaCorp, produtora francesa que tem como cabeça o diretor Luc Besson. Ele próprio é o centro de parte das perdas financeiras experimentadas pela empresa, que viu investidores e parceiros se afastarem após nove mulheres apresentarem denúncias que vão de assédio a estupro. 

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No relatório que aponta os números da empresa pelo último semestre, a EuropaCorp registrou uma perda de US$ 101 milhões, que afunda ainda mais os últimos dados, já em queda livre, com US$ 95 milhões negativos em julho. O estúdio aponta como um dos fatores a baixa performance de seus títulos nas bilheterias americanas, mas o buraco é mais embaixo. 

Claro que fracassos nas bilheterias ainda são os culpados mais explícitos, em especial a ficção científica Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, dirigido pelo próprio Luc Besson, que ano passado faturou US$ 225 milhões, o que mal cobriu o orçamento pesado de US$ 180 milhões. O filme, mesmo com uma campanha de marketing pesada, não conseguiu despertar interesse no público ianque, que transformara outros filmes de Besson em sucesso no território norte-americano, como Lucy (2014) e o clássico moderno O Quinto Elemento (1997). 

O problema mais grave, porém, é apontado pelo tratamento dado ao thriller Anna, em que Besson dirigiu Helen Mirren. O filme entrou em pré-produção em 2016 e teria distribuição da Lionsgate nos Estados Unidos. Mas o distribuidor engavetou o longa, orçado inicialmente em US$ 11 milhões, depois que as denúncias de abuso sexual contra o cineasta foram expostas pela mídia francesa. Besson, por sinal, atua como CEO interino da EuropaCorp desde que seu predecessor, o executivo Marc Shmuger, deixou o cargo.

A EuropaCorp, mesmo perdendo dinheiro, tenta manter-se no jogo. Para isso, o banco de investimentos Messier Maris & Associates entrou em cena na busca de potenciais investidores para ajudar a tapar o buraco. A solução enquanto alguém com carteira gorda não se apresenta é vender o estoque. A empresa abriu mão de seu departamento de TV na França por US$ 13 milhões e ainda busca fechar negócio com a Gaumont por seu catálogo da produtora Roissy Films. Seu próprio arquivo de filmes hoje tem valor estimado em US$ 160 milhões. As movimentações recentes aliviaram o débito da empresa em US$ 10 milhões, mas a EuropaCorp ainda encara uma conta de US$ 251 milhões, com um naco de US$ 136 milhões vencendo em outubro do ano que vem, e o restante esperando um acerto até abril de 2020. 

O rombo só não foi mais acentuado porque a margem operacional estabilizou-se em US$ 10,6 milhões positivos, respiro trazido pela falta de despesas em distribuição no território norte- americano. O acordo com a STX já chegou ao fim. O próprio Besson tem apostado justamente em distribuição para equilibrar as contas da empresa. Um acordo de três anos com a Pathé pode desemperrar o line up da EuropaCorp, tirando da gaveta Nous Finirons Ensemble, hoje em pós-produção com o diretor Guillaume Canet, e o próprio Anna de Besson. 

A estratégia em enxugar as despesas reduziu a produção da EuropaCorp de doze filmes em 2014 para cinco a partir de agora, equilibrando produções em inglês e em francês. Mas Luc Besson deve ver seu poder na empresa diminuir consideravelmente: Anna é o último filme pronto para ser lançado, e todo investimento futuro deverá ser exaustivamente discutido com seus novos parceiros comerciais, em especial a Pathé. Em outras palavras, nada de aventuras caras como Valerian para Besson satisfazer suas inquietações juvenis. A EuropaCorp também está reduzindo seu custo total onde puder. De 170 funcionários em 2015, hoje mantém quarenta. E a escola de cinema de Besson, que fazia brilhar seus olhos, encerrou as atividades em julho.