31 Outubro 2018 | Roberto Sadovski
Halloween: Filmes de terror que marcaram o Brasil
“Tubarão”, “O Exorcista” e “King Kong” também foram fenômenos nos cinemas brasileiros
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O diretor Sam Raimi disse certa vez que o melhor caminho para um cineasta começar a profissão é fazer um filme de terror. “São mais fáceis e mais baratos de fazer”, comentou. “Mesmo se a qualidade for duvidosa, ele ainda vai rodar o mundo... os fãs adoram!” Raimi não está errado, e ele é a prova da própria teoria. Seu primeiro filme, afinal, foi o clássico cult A Morte do Demônio, lançado em 1981 quando o futuro responsável por Darkman e pela trilogia Homem-Aranha tinha apenas 22 anos.
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Ao longo dos anos, jovens cineastas mergulham no mundo do cinema apostando no cinema fantástico justamente para tentar garantir que seus primeiros trabalhos ao menos sejam vistos. A estratégia funciona. Festivais voltados ao cinema de terror são populares em todo o mundo. Filmes assustadores raramente são sinônimo de bilheterias gordas, mas invariavelmente experimentam longas carreiras em cartaz (como seu custo é pequeno, a margem de lucro é sempre positiva) e tem público cativo.
Claro que o ocasional fenômeno inflama as bilheterias e mostra o poder do gênero. É o caso do reboot de Halloween, atualmente em cartaz no Brasil, onde está fazendo uma carreira de sucesso – êxito espelhado no mercado norte-americano e também no resto do mundo. Em menos de duas semanas em cartaz, o filme distribuído pela Universal já soma US$ 175 milhões nas bilheterias mundiais – com um custo de produção de US$ 10 milhões.
Ao mesmo tempo em que o assassino Michael Myers mata suas vítimas nos cinemas, o circuito brasileiro conta com outros exemplares do gênero, como A Casa do Medo: Incidente em Ghostland (Paris Filmes), A Primeiro Noite de Crime (Universal) e o sucesso A Freira (Warner), que já acumula uma renda de R$ 76 milhões. Até o fim do ano, o gênero coloca nos cinemas Operação Overlord (Paramount), O Parque do Inferno (Paris Filmes), Cadáver (Sony), O Chamado do Mal (Imagem), A Maldição da Freira (PlayArte) – além do nacional O Segredo de Davi (Elo).
Na história do cinema no Brasil, as grandes bilheterias do gênero também foram fenômenos de sua época, filmes que transcenderam seu nicho para se tornar clássicos modernos. Mesmo com a alternância da preferência do público ao estilo do terror, ainda impressiona a quantidade de pessoas tocadas por certos filmes. Porque o gênero vive em ciclos, como os slasher films dos anos 80, a invasão nipônica nos anos 90, a desconstrução do começo do novo século até a dominação da temática sobrenatural atual, representada pelos filmes do universo Invocação do Mal e pela bem-sucedida adaptação de Stephen King IT – A Coisa. Mas o trio que ocupa o pódio merece seu lugar por serem produções atemporais, impactantes e, até hoje, assustadoras.
KING KONG (Paris Filmes, 1976)
Um dos “filmes de monstro” mais famosos de todos os tempos, King Kong primeiro surgiu em 1933 com o clássico absoluto de Merian C. Cooper. Sua primeira refilmagem teve direção de John Guillermin, gênio do cinema-catástrofe. Na nova versão, mais agressiva e visualmente impressionante que a original, Jeff Bridges é o guia de uma exploração patrocinada por uma empresa de petróleo que aporta numa ilha isolada, encontrando seu habitando mais notório: um gorila gigante de fúria assassina, que tem os instintos aplacados pela beleza de uma jovem Jessica Lange.
Se os efeitos especiais não envelheceram tão bem, o King Kong dos anos 70 tem o grande mérito de devolver os filmes de monstro ao mainstream e de apresentar a criatura a uma nova geração de fãs – no Brasil, o filme foi um fenômeno que levou mais de 7 milhões de pessoas aos cinemas, ficando atrás naquele ano somente de Dona Flor e Seus Dois Maridos. Peter Jackson arriscou mais uma refilmagem de King Kong em 2005, e a criatura voltou aos cinemas em ritmo de aventura com Kong: A Ilha da Caveira, de 2017, e em breve em Godzilla II: O Rei dos Monstros, marcado para 2019.
O EXORCISTA (Warner, 1973)
Até essa adaptação do romance de William Peter Blatty, levada aos cinemas por William Friedkin, os filmes de terror pertenciam ao gueto do cinema B. O Exorcista quebrou essa barreira e legitimou o gênero como arte e também como sucesso comercial. Um fenômeno sem precedentes, o terror sobrenatural deixou plateias em todo o mundo atônitas, com relatos de pessoas desmaiando e sendo retiradas das salas congeladas de pavor. Embora nem todas as histórias fossem reais, tudo contribuiu para a mítica em torno do filme, que foi um sucesso absurdo nas bilheterias mundiais, tomando o topo da preferência do público brasileiro quando chegou aqui em 1974, consolidando-se como o maior filme daquele ano com pouco mais de 8 milhões de cinéfilos apavorados.
O fenômeno reacendeu o interesse no tema das possessões demoníacas, que até hoje conduz parte do cinema do gênero, muitas vezes em variações do próprio O Exorcista com grau de sucesso variado – exemplares recentes como O Exorcismo de Emily Rose (2005) e O Ritual (2011) ganharam status cult ao longo dos anos.
TUBARÃO (Paramount, 1975)
É quase impossível racionalizar o tamanho do impacto que Tubarão teve nas bilheterias mundiais quando ele foi lançado na metade dos anos 70. Dirigido por um jovem talento chamado Steven Spielberg, o filme praticamente solidificou a temporada do verão americano como o período mais lucrativo do cinema norte-americano, faturando então impensáveis US$ 470 milhões (com um orçamento de US$ 7 milhões), e colocando num pedestal quase inatingível, que só foi superado dois anos depois quando George Lucas mudou o cinema para sempre com Guerra nas Estrelas.
No Brasil, entretanto, a história foi diferente. Tubarão foi o campeão incontestável nas bilheterias, atraindo na época pouco mais de 13 milhões de pessoas, número que só foi batido duas vezes em toda a história do cinema brasileiro: a primeira em 1998, quando Titanic levou quase 18 milhões de pessoas aos cinemas, ocupando o topo do ranking nacional; a segunda esse ano, com os 14,5 milhões que foram assistir a Vingadores: Guerra Infinita. Ainda assim, Tubarão ocupa um terceiro lugar de respeito. Depois de sua estreia, muitos brasileiros passaram um bom tempo sem encarar o mar. E é esse o efeito de um bom filme de terror: arrepiar até a alma.
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