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06 Setembro 2018 | Roberto Sadovski

Mercado está cauteloso com o Festival de Toronto

Escândalos e fracassos deixam estúdios menos propensos a arriscar em filmes independentes no festival canadense

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(Foto: Vox)

Alguns anos atrás, o Festival de Toronto, que começa sua edição 2018 neste fim de semana, estendendo-se até 16 de setembro, era a última parada dos filmes que aquecem os cinemas para a temporada de premiações do ano seguinte. Depois de Veneza e Telluride, a cidade canadense torna-se um desfile de celebridades e executivos, estes de olho em até duas dúzias de filmes por dia para investir no que pode ser um sucesso financeiro e artístico.

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Mas o panorama de Toronto 2018 começa com os bolsos apertados. Não pela falta de recursos, mas por cautela. Tome por exemplo o drama provocador I Love You Daddy, sobre um roteirista de TV que perde o chão ao ver a filha adolescente se tornar objeto do desejo de um diretor mais velho. A distribuidora The Orchard apostou no projeto, dirigido e estrelado por Louis CK, e investiu US$ 5 milhões no título. Menos de um mês depois, porém, o comediante foi alvo de uma investigação que revelou casos de assédio e exposição indecente por sua parte. A polêmica prejudicou o filme, que terminou sem chegar aos cinemas. Louis terminou comprando I Love You Daddy de volta do distribuidor.

O escândalo expôs a fragilidade com que o cinema como negócio se encontra depois da avalanche provocada pelo movimento #MeToo e as denúncias que derrubaram uma fileira de poderosos em Hollywood, como peças de dominó. O resultado foram contratos mais rígidos no quesito moralidade, para prevenir que um filme apontado como sucesso em potencial seja posteriormente prejudicado pela vida pessoal do talento envolvido. "Você tem de fazer seu dever de casa", diz o VP de produção da The Orchard, Paul Davidson.

A outra consequência desse abalo social na estrutura do Hollywood é a determinação dos estúdios em controlar com mais afinco seus produtos. Em outras palavras, distribuidores como Annapurna e Fox Searchlight tem se ocupado em desenvolver seus próprios projetos do que trazer a sacola para Toronto. A A24, que comprou ano passado o drama Lady Bird, conseguindo um retorno de U$S 50 milhões nas bilheterias, chegou em Toronto este ano com filme próprio: o drama Mid90s, de Jonah Hill, que em outras épocas seria foco de leilão entre distribuidores.

Levar um filme independente para um festival como Toronto é uma aposta incerta, mas continua sendo o caminho para produtores menores, que só conseguem alguma tração em seus produtos com o apoio do clamor popular. É uma matemática que pode dar muito certo, como Eu, Tonya, comprado ano passado pela Neon por US$ 5 milhões, mas que rendeu US$ 30 milhões depois de meia dúzia de indicações ao Oscar. Ou muito errado: ótimos filmes revelados em Toronto, como Uma Razão Para Viver, com Andrew Garfield, e Mesmo Se Nada Der Certo, com Mark Ruffalo, terminam sem encontrar seu público ao estrear em circuito.

O Festival de Toronto continua sendo uma grande festa, um festival sem o hermetismo de Cannes ou a inacessibilidade de Sundance. Executivos, celebridades e cineastas lotam as sessões, dividindo espaço com o público, ávido para também descobrir a "próxima grande novidade". Este ano Toronto vai receber Nasce Uma Estrela, com Bradley Cooper e Lady Gaga; o drama The Front Runner, que pode garantir uma indicação ao Oscar para Hugh Jackman; O Primeiro Homem, biografia de Neil Armstrong com Ryan Gosling e o diretor de La La Land; e Viúvas, filme de ação do mesmo diretor de 12 Anos de Escravidão, que promete um thriller urbano com forte elenco feminino. Todos, claro, de olho no Oscar.

Entre os polos, os executivos de estúdios como Sony Classics e Amazon continuam de olho nas produções sem um contrato de distribuição. Mesmo com o clima de cautela, é impossível não prestar atenção em filmes como The Death and Life of John F. Donovan, primeira produção americana do queridinho dos festivais, Xavier Dolan, que atraiu Natalie Portman e Kit Harrington em seu elenco. Ou American Dharma, documentário de Errol Morris (Sob a Névoa da Guerra) sobre Steve Bannon, assessor de Donald Trump que despendou do pedestal do poder.

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