29 Setembro 2017 | Fernanda Mendes
Encontro Spcine reforça que acessibilidade de conteúdo precisa de aprimoramento
Profissionais contaram sobre obstáculos na tradução do conteúdo e o planejamento que é necessário
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A obrigatoriedade para colocar a acessibilidade de conteúdo nas salas de cinema rendeu diversos debates durante a Expocine 2017. Durante o Encontro Spcine, que reuniu uma programação que mesclou teoria e prática, o assunto foi debatido do ponto de vista dos produtores.
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Cid Torquato, secretário municipal da pessoa com deficiência de São Paulo, abriu a discussão ressaltando a importância do envolvimento de todas as partes do mercado para propor essa nova solução à sociedade. O político não acredita que esta nova lei será implementada até novembro nos cinemas. Para ele, é um processo de aprimoramento e muitos obstáculos a serem superados. “O mercado tem que estar unido para propor para a sociedade algo que seja plausível em termos de adoção e de cumprimento da lei”.
Solange Almeida, da Ktalise, também reforçou o papel fundamental do planejamento dos produtores incluindo a acessibilidade. Para ela, não adianta o exibidor passar um conteúdo que não foi pensado para ser acessível desde o começo. Existem já diversos mecanismos que podem auxiliar nesse processo, como o apoio financeiro que a ANCINE lançou para a produção. “As pessoas deficientes vão receber o produto de outra forma. Esse mercado todo começa a trabalhar em conjunto. É um ecossistema”.
Tradução
São diversas questões a serem aprimoradas para que se possa atrair o público às salas de cinema e que esteja em coerência com a demanda dos deficientes visuais e auditivos. Os intérpretes de LIBRA, por exemplo, também precisam se adaptar ao novo formato. “Eles lidavam com outros tipos de produto, tinham práticas e preços que não dialogavam com a realidade do mercado”, contou André Mardouro da Conteúdo Acessível. Segundo o profissional, uma tradução malfeita pode acarretar em uma comunicação malfeita com o espectador.
Guido Lemos, da Assista Tecnologia, também atentou para o regionalismo que a língua de sinais carrega, assim como a língua portuguesa, o que seria preciso um trabalho de unificação da linguagem por meio da acessibilidade de conteúdo. Além disso, há muitas palavras que não tem tradução ainda para LIBRAS, o que acarreta a necessidade da expansão do dicionário da língua brasileira de sinais. “É importante também que o intérprete seja um ator ou que possa se adequar à história porque ele fará parte daquele filme”, contou.
Outro ponto é a escolha entre a interpretação de LIBRAS por meio de um avatar ou um humano. Uma pesquisa apresentada por Guido apontou que quando os surdos viram um filme com tradução de avatar conseguiram responder 80% das respostas sobre o conteúdo após a sessão. Já com um intérprete humano, os deficientes auditivos responderam 85%.
Público
Em paralelo com o aprimoramento da implementação da lei nos cinemas, a formação de público ainda é uma dúvida que paira sobre o mercado exibidor. “Esse público nunca foi habituado a sair de casa e experimentar a programação cultural da cidade. A gente faz uma sessão acessível e os deficientes não vão. Faz parte do processo habituá-los a essas janelas”, contou Mardouro.
Aliás, o trabalho para formar público envolve a maior atenção do exibidor em relação ao potencial dessa nova fase do cinema. Inclusive, Guido Lemos contou que o potencial é tanto que ficou surpreso ao apresentar a solução em uma reunião com os conselheiros da DCI. Um dos integrantes da instituição – e vice-presidente da Universal Pictures – ficou extremamente empolgado em levar isso aos EUA, já que seu filho é cego e se emocionou ao utilizar a solução pela primeira vez.
A ferramenta que inclui legenda em LIBRAS, close caption e audiodescrição está sendo desenvolvida por diversas marcas no mercado e pode, além de atrair o público deficiente visual e auditivo, também os deficientes intelectuais e os idosos. “Até o momento os exibidores têm percebido pouco que essa solução pegará uma fatia muito importante de público potencial. Quando perceberem, as coisas podem caminhar com mais facilidade”, completou Mardouro.
Confira a cobertura do primeiro, segundo e terceiro dia do evento.
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