14 Outubro 2013 | Fábio Guedes
Saudosismo e ingresso barato atraem público ao Cine Marabá
Veja a trajetória de um dos cinemas de rua mais famosos ainda em operação
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O Cine Marabá há muito perdeu o glamour que o notabilizou entre as décadas de 40 e 70 (Leia a matéria publicada na Ed.11 da Revista Exibidor), mas ainda hoje o seu charme quase octogenário atrai espectadores daqueles gloriosos tempos, quando senhores de paletó e madames com vultosos chapéus disputavam as melhores poltronas para assistir aos lançamentos da época.
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É o caso do assessor jurídico aposentado, Antonio de Souza, de 67 anos, que começou a frequentar o número 757 da Avenida Ipiranga nos anos 1960 junto de seus pais e, pelo menos uma vez por mês, pega ônibus e metrô para ir do bairro do Pari até a República conferir algum novo filme em cartaz no cinema de rua.
“Embora tenha sido todo restaurado, o Marabá conservou vários detalhes da construção daquela época, como o piso, o espelho e o lustre. É bom para recordar os bons tempos, além de ser um programa mais em conta se comparado aos outros cinemas”, avalia.
O ingresso barato e o fato de não estar dentro de um shopping também são fatores que fazem os amigos Ricardo Hugo (25 anos, auxiliar administrativo), Julio Cesar (23 anos, ajudante de produção) e Carlos Eduardo (24 anos, educador físico) constantemente se reunirem no Cine Marabá.
“Não tenho paciência para shopping e é bem mais barato”, resume Julio.
“O ambiente dedicado somente ao cinema é muito melhor. Eu já frequentava aqui antes da restauração, as telas eram muito maiores, qualquer filme ficava bom”, complementa Ricardo.
Igualmente saudoso da época em que o cinema era composto por apenas uma sala de mais de 1.500 confortáveis poltronas, o professor da pós-graduação em cinema da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), Maximo Barro, admite ter ficado frustrado com a divisão do gigante em cinco salas.
“Os lugares eram espaçosos, você não precisava se encolher para dar passagem às pessoas”, afirma.
Abaixo, este senhor de 83 anos conta à Revista Exibidor alguns “causos” colecionados pelo Marabá em seus áureos tempos:
“Causos” do Marabá: (Por Maximo Barro)
Bonde das madames - “Havia um grupo de senhoras do bairro dos Jardins que, em todas as quartas-feiras, tomava um bonde luxuoso, descia na Avenida São João, ia à sessão das 14h no Marabá, de chapéu, e após o filme, às 16h, elas saíam a pé até a Rua Marconi, na livraria Jaraguá, onde tomavam o chá das 5h e ouviam uma palestra do Alfredo Mesquita (fundador da Escola de Arte Dramática) sobre a última grande peça de Paris, o último estilo de Picasso, alguma obra sinfônica que tivesse o aspecto de vanguarda, e depois disso tomavam o mesmo bonde e voltavam para os Jardins, já que lá não tinha cinema. Aí você vê como o Marabá era um programa de elite”
Calçada da fama - “Certo dia,o gerente fechou as portas e as luzes verticais de fora do cinema, inexplicavelmente, também foram apagadas, enquanto um grupo de 7 a 10 rapazes continuou lá a conversar por alguns minutos. Passou, então, alguém de um jornal e viu essas pessoas paradas no escuro conversando na calçada, e,no dia seguinte,deu uma nota sobre o fato. Já no dia posterior à notícia, vários grupinhos de senhores passaram a ficar na calçada à espera de algum jornalista, na expectativa de virar nota no jornal, numa rotina que perdurou por muitos anos”
Trajetória - Cine Marabá
1945: no dia 15 de maio, o exibidor Paulo Barreto de Sá Pinto inaugura o Cine Marabá, com o drama Desde Que Partiste. A fachada de estilo eclético, ornamentos rendilhados, um imenso lustre na entrada e colunas imponentes dão o tom luxuoso do local
1950: em 16 de outubro, promove a estreia de Caiçara, uma das primeiras grandes produções brasileiras, num evento cercado de glamour
1964: com o sucesso da novela “O Direito de Nascer” na TV Tupi e a popularização do televisor, inicia-se o declínio dos cinemas de rua e, consequentemente, do Marabá
1969: com a criação da Embrafilme, que apoiava a produção de filmes nacionais, cresce o apelo pelas pornochanchadas e o Cine Marabá entra na onda, que dura aproximadamente até o final da década de 80
1991: falece o exibidor Paulo Barreto de Sá Pinto. A viúva, Lígia Campos de Sá Pinto,assume a rede ao lado dos sócios Magalhães Rodrigues Lucas e Francisco Lucas
1992: é tombado como patrimônio histórico da cidade
1996: a PlayArte adquire o Cine Marabá e inicia um projeto para a sua restauração
2000: mesmo em condições precárias, torna-se o primeiro cinema brasileiro a contar com o sistema de som Dolby SR (SpectralRecording, um tipo de estéreo analógico)
2007: no dia 16 de agosto, às 20h30, nove pessoas acompanham o filme Duro de Matar 4.01(Die Hard), na última sessão do Marabá antes de ser fechado para a restauração
2007: após ser reaberto temporariamente para exibir “Tropa de Elite”, em 25 de outubro volta a fechar as portas
2009: em 30 de maio, reabre as portas todo restaurado, com sua sala de mais de 1.500 lugares transformada em cinco menores, num projeto que custou R$ 8 milhões
Veja as fotos na galeria do Portal.
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