14 Setembro 2016 | Fernanda Mendes
“O cinema não está mais atrelado à projeção em uma sala escura”, afirma social media
Em “aulão” oferecido pelo Centro Europeu de Curitiba, Gil Baroni acredita na convergência entre internet e cinema e deseja mudar a mentalidade do mercado
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Enxergar a internet como uma ferramenta aliada às estratégias de distribuição e exibição, pode ainda ser um tabu para o mercado cinematográfico. Mas para Gil Baroni, diretor, produtor e social media, o bom uso da rede é obrigatório para o cinema, deixando de lado preocupações como as chamadas janelas.
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“Dizer que o cinema morrerá porque tem a internet e as pessoas preferem assistir em casa, na minha opinião, é um pouco ingênuo. Porque o público vai querer sair de casa para assistir um bom filme se ele se sentir atraído. É um evento social. Por isso é preciso mudar a mentalidade de que o que é mais importante para um longa é a janela cinema”, afirma Baroni.
Segundo pesquisa realizada pelo Google em maio de 2015, por exemplo, no Brasil, 74% das pessoas que desejaram ir ao cinema começaram o programa pela internet, com pesquisas no YouTube ou na própria plataforma de buscas.
Ainda, outro estudo realizado pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) em parceria com o Instituto Ipsos, apontou que em dezembro de 2015, o número de pessoas que disseram ter ido ao cinema cresceu 100%, passando de 17%, em 2007, para 35%, em 2015.
E foi justamente a internet como instrumento de potencialização da divulgação de um longa o assunto abordado pelo produtor em sua MasterClass realizada na sede do Centro Europeu em Curitiba no mês de agosto.
Mudanças
E como a convergência com a internet pode se tornar efetiva para a indústria do cinema? Segundo Baroni, hoje a produção cinematográfica não é algo inalcançável e está a um clique de distância. Com o empoderamento do celular, cada um tem a possibilidade de registrar o que quiser, fazendo a sua própria distribuição e interação com o público. E é exatamente por isso que o exibidor e distribuidor precisam estar antenados com essa tendência e trazer isso a favor da divulgação do filme.
“Atualmente há outras possibilidades de exibição e divulgação que não podem ser excluídas do mercado. O cinema não está mais atrelado a uma projeção em uma sala escura. Ele também está acontecendo o tempo todo na internet”, completa.
O BAFTA – British Academy of Film and Television Arts, maior premiação de cinema no Reino Unido, entendendo justamente que a distribuição está em constante mudança, anunciou recentemente que agora passará a aceitar lançamentos que não cumpram a antiga regra de terem ao menos 10 exibições em cinemas durante o período de uma semana.
A alteração dos requisitos para produções participantes da premiação é resultado, segundo comunicado oficial do evento, do crescimento de plataformas online como Netflix e Amazon, nas quais muitos filmes independentes são lançados.
Estratégia
Participando das estratégias de divulgação de produções como Chico Xavier, SOS Mulheres Ao Mar 1 e 2 e mais recentemente, o aguardado É Fada!, Baroni afirma que o sucesso da comunicação está ligado a um engajamento nas redes sociais, possibilitando a interação do público e proporcionando, por exemplo, discussões acerca do pano de fundo de uma produção, fazendo com que os internautas sejam os principais divulgadores de um filme.
“É muito mais inteligente você direcionar a sua divulgação para o seu público-alvo do que jogar em uma mídia que nem se sabe qual o alcance. E isso as redes sociais proporcionam. Em É Fada!, por exemplo, em que a protagonista é vivida por uma menina do mainstream da internet, somente um vídeo sobre o longa em seu canal do Youtube tem mais de 5 milhões de visualizações e 702 mil curtidas. Isso não se alcança em lugar nenhum”.
E não faltam exemplos bem-sucedidos para longas que investiram pesado em divulgação na internet: Ninfomaníaca, Deadpool e o campeão de bilheterias atualmente, Esquadrão Suicida. A lista é enorme. No entanto, essa estratégia ainda está engatinhando aqui no Brasil.
“É assim que o cinema precisa ser pensado e o Centro Europeu tem essa preocupação. Me chamaram justamente para dar aulas que possam estimular esse pensamento”, finaliza o produtor.
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