15 Junho 2016 | Natalí Alencar e Vanessa Vieira
"Exibidor pode ser protagonista na formação de um novo público", diz Tata Amaral
Cineasta completa 30 anos de carreira e lança amanhã (16) novo longa-metragem
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A história profissional da cineasta Tata Amaral começou 30 anos atrás e já faz duas décadas desde o lançamento do seu primeiro trabalho solo como diretora: Um Céu de Estrelas, um dos três filmes escolhidos pela crítica como os mais relevantes dos anos 1990. Agora Tata se prepara para lançar Trago Comigo, seu novo longa-metragem que chega aos cinemas amanhã (16) com distribuição da Pandora Filmes.
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Em entrevista ao Portal Exibidor, a diretora conta que pretende abrir projeto de crowdfunding ou financiamento coletivo para remasterizar Um Céu de Estrelas e, se possível, relançá-lo nos cinemas já em formato digital. Mas, por enquanto, é Trago Comigo quem ganha mais atenção de Tata, que afirma não ter um projeto preferido dentro de sua trajetória de 30 anos por que sempre fica “mais apaixonada pelo último” que, por ora, é o longa que estreia amanhã. “Tenho muita expectativa de que as pessoas possam ver o filme. Ele trata de um tema muito sério, que é a memória do Brasil, mas tem muito humor e quem assiste, sai surpreendido. Mas é uma luta para fazer as pessoas irem ao cinema, então espero que se deixem cativar pelo longa”, comenta.
Para a cineasta, o mercado brasileiro exibe pouco o cinema autoral porque esse tipo de conteúdo “dá trabalho”, não vem com toda a estratégia pronta e com o “selo de sucesso” do cinema comercial. Tata defende que o gosto pelo blockbuster foi formado no público durante décadas, então, quando uma nova história chega à telona, é preciso criar uma audiência para ela.
“O cinema brasileiro em geral não tem tanta disponibilidade de trabalhar o público do filme. Os exibidores e distribuidores precisam nos ajudar a reeducar o espectador”. Ela compara ainda o desenvolvimento do “gosto” da audiência com as mudanças de escolha dos consumidores baseadas em propagandas e campanhas como as de alimentos.
A diretora acredita que o cinema norte-americano é dominante no Brasil porque “nos habituamos a gostar dele”, mas afirma que não há nenhum problema em se ter contato e gosto por culturas estrangeiras. “O problema é quando essa cultura se torna hegemônica, a única”. Portanto, Tata defende que os mercados de exibição e distribuição tanto do cinema quanto da televisão têm de protagonizar a construção de novos públicos. Como exemplo de agentes ativos do mercado, ela cita o Espaço Itaú de Cinema, o Reserva Cultural e o CineSesc. Este último ainda recebe destaque da cineasta por ter boa qualidade de projeção e exibir filmes “que não passam em lugar nenhum”.
Em relação às salas de cinema, Tata afirma que o circuito exibidor brasileiro teve uma melhora “incrível” nos últimos anos, mas que precisaria ser três vezes maior com salas menores e em todas as partes das cidades em vez de só nas áreas centrais. “Porque cinema é para todo mundo”, afirma e exemplifica com o projeto do Circuito Spcine, que tem o objetivo de abranger a capital paulista inteira. “Isso é muito importante, São Paulo pode virar uma capital cinematográfica”. Tata elogia o trabalho da Spcine e o considera inédito no País por criar lugares que levam a experiência coletiva da sala de cinema para as pessoas.
A diretora lembra que capital paulista já tem posto de alta relevância para o mercado de cinema nacional já que o eixo Rio-São Paulo é conhecido por concentrar a produção audiovisual brasileira. E é exatamente a descentralização da produção que Tata aponta como um dos pontos fortes do trabalho de entidades como a ANCINE. “Finalmente estamos conhecendo a cara do audiovisual no Brasil, você conhece os personagens e as preocupações do Pará, do Mato Grosso, de Santa Catarina, de Alagoas”.
Para Tata, a sala de cinema é um espaço especial para se conhecer essas diferentes histórias. Entre as salas preferidas da cineasta estão as do Espaço Itaú Augusta, do Reserva Cultural, do Museu de Imagem e Som de São Paulo – MIS e do CineSesc, com um destaque mais carinhoso para o Caixa Belas Artes. “Foi a sala da minha adolescência, tudo acontecia lá. Comecei a namorar meu primeiro marido lá”, conta.
Campanha diferente para conteúdo diferente
O lançamento de Trago Comigo, que debate a memória da ditadura militar, também conta com uma ação de divulgação diferenciada junto ao projeto #TragoComigoUmaLembrança: uma série de 48 vídeos exibida em 48 horas que traz relatos verídicos de pessoas que foram torturadas durante esse período. O número “48”, inclusive, refere-se ao consenso de que, quando capturado, o torturado precisava suportar 48 horas antes de ceder informações para que seus colegas pudessem mudar de endereço ou de planos. Os vídeos já começaram a ser publicados nas páginas oficiais do longa no Facebook e Instagram.
Trago Comigo conta a história de Telmo, um diretor de teatro aposentado que foi membro da luta armada durante a ditadura militar e chegou a ser preso por seis meses na época. Porém, Telmo não se lembra de nada desse período fora alguns lapsos momentâneos. Para tentar descobrir o que aconteceu, ele decide criar uma peça de teatro sobre aquele momento da sua vida.
Atualmente, Tata está também no processo de finalização de uma série chamada Causando na Rua que será lançada no canal Cine Brasil. Na produção, a cineasta abordará o ativismo artístico na rua.
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