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10 Junho 2016 | Fábio Guedes

Livro retrata início das exibições em São Paulo

Autor destaca particularidades das salas paulistanas no período de 1895 a 1930

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(Foto: Editora Senac São Paulo)

A experiência de ir ao cinema no início do século XIX em São Paulo, os projetos arquitetônicos das salas e as diversas histórias relacionadas aos perigos por trás das precárias estruturas dos exibidores daquela época são alguns dos destaques do livro “Salas de Cinema – e história urbana de São Paulo (1895-1930) | O cinema dos Engenheiros”, que acaba de ser lançado pela editora Senac São Paulo.

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Doutor em História do Cinema pela ECA/USP – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e um dos mais notórios pesquisadores do universo cinematográfico do país, José Inácio de Melo Souza reuniu fotos, cartões postais e, sobretudo, documentos e projetos estruturais que ajudam a retratar a forte preocupação da Prefeitura paulistana em precaver os inúmeros incêndios provocados pelos rolos de filmes projetados, produzidos até então com materiais inflamáveis.

“Esse controle da Prefeitura, por meio dos engenheiros, criou uma certa particularidade nas salas de São Paulo em relação às de outras cidades, como a projeção fora da cabine. Tudo para evitar os incêndios, que acabavam ocorrendo também por outros motivos”, afirma o autor.

Nessa entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, ele conta mais detalhes sobre o livro, relembra histórias de cinemas antigos e comenta o perfil do público nos primórdios da exibição no Brasil. 

Como surgiu a ideia do livro?

A ideia surgiu da carência de imagens sobre os cinemas antigos em São Paulo. Num primeiro momento, tínhamos dois ou três cartões postais, mas de fotografia praticamente nada. A partir daí comecei a procurar este assunto, a pesquisar. Foi esse o ponto de partida.

Alguns desses cinemas retratados no livro ainda estão ativos?

Ativos, não. Mas alguns prédios ainda estão de pé, como o Theatro São Pedro, no bairro da Barra Funda, que foi aberto como cinema. E outros se transformaram em comércio e outros empreendimentos.

Como eram os cinemas no início do século XX, período retratado no livro?

No começo eram muitos precários, simples, mas sempre procuravam ter uma estrutura de teatro italiano, que era o que dominava naquela época, com plateia, cadeira de primeira, de segunda, balcão, balcão nobre, frisa etc. Eram mais ou menos construídos em forma de ferradura, em arco. Mas até 1912 eram muito precários, mais no estilo de barracão, cobertura de zinco, parede de madeira, cadeiras bem pequenas e simples.

Que tipo de público costumava frequentar estes cinemas?

Como os ingressos eram muito baratos, equivalentes a uma passagem de bonde, tinha um público muito grande formado por crianças e mulheres. Mas também atingia todas as classes. No centro da cidade, por exemplo, os cinemas eram frequentados pela elite que morava lá. São os casos do Bijou, Radium e Íris. Mas não eram grandes cinemas também.

E estes cinemas do centro tinham algum outro diferencial?

Eram lançadores, ou seja, todos filmes novos passavam por eles e depois seguiam para os bairros. Eram uma espécie de vitrine.

E sobre os riscos de incêndio, como era feita essa fiscalização?

Normalmente, faziam a fiscalização depois que acontecia o incêndio. Aí descobriam que tinha erro, onde devia ser coluna de ferro era de madeira, onde devia ter canaleta de conduíte para eletricidade estava embutido na madeira. Esses cinemas eram muito precários, de madeira, então qualquer faísca os sujeitava a pegar fogo, como o caso do Teatro Politeama. Graças a Deus não aconteceram grandes tragédias, mas os riscos eram grandes.

Um dos destaques do livro é a preocupação da Prefeitura em evitar os incêndios causados pelos materiais inflamáveis dos rolos de filmes. Como isso repercutiu na disposição das salas de exibição em São Paulo?

A Prefeitura, por meio dos engenheiros, controlava muito os cinemas. Exigiam, por exemplo, que as cabines de exibição ficassem na parte de fora, pelo medo da explosão dos filmes, que eram feitos com materiais de alta combustão. Isso deu uma certa particularidade a São Paulo em relação as outras cidades que não adotaram esses cinemas com a projeção fora da cabine e do fundo para a frente. Hoje estamos acostumados à cabine de trás para frente. Naquela época o projetor estava atrás da tela. Isso foi uma imposição da Prefeitura, que tinha medo que esse filme de alta combustão pudesse causar uma tragédia. Tudo para evitar os incêndios, que acabavam ocorrendo também por outros motivos.

Serviços

Título: Salas de Cinema – e história urbana de São Paulo (1895-1930) | O cinema dos Engenheiros

Editora: Senac São Paulo

Número de páginas: 398

Valor na Editora: R$ 130,00

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