30 Março 2016 | Fábio Guedes e Verônica Domingues
Nova distribuidora aposta em produções pernambucanas
Produtora cria “braço” na distribuição para trabalhar com produções locais
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Não bastassem os inúmeros desafios já tradicionalmente impostos a quem se arrisca a distribuir um filme nacional, Mariana Jacob decidiu incorporar um obstáculo adicional a essa complicada missão.
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Ao observar as dificuldades de as produções pernambucanas escoarem pelo restante do País, a então produtora criou, no fim de 2014, a Inquieta, uma distribuidora dedicada a trabalhar exclusivamente com filmes de produtores de Pernambuco.
O primeiro experimento da empresa – que Mariana dirige ao lado da sócia Fernanda Cordel – ocorreu de maneira bem-sucedida no último dia 10 de março, com o lançamento do documentário O Gigantesco Ímã, de Petrônio e Thiago Scorza, que percorreu salas do circuito alternativo de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais.
Nessa entrevista concedida ao Portal Exibidor, ela conta como se deu a sua trajetória até aqui, quais serão os próximos passos da Inquieta e as vantagens de atuar em um cinema tão rico e ao mesmo tempo pouco explorado Brasil afora.
Quando sentiu a necessidade de criar uma distribuidora dedicada aos filmes pernambucanos?
Mariana Jacob: Tenho formação em Publicidade e em Cinema na Espanha e há quatro anos voltei ao Brasil, quando fiz meus primeiros contatos com o mercado audiovisual brasileiro e, consequentemente, o pernambucano. Nesse momento, descobri um novo cinema, com uma nova linguagem, que estava super em alta, mas senti uma dificuldade muito grande de essas produções escoarem pelo País. A criação da Inquieta surge dessa necessidade de adequar melhor este modelo de produção e distribuição.
E como a Inquieta pretende superar essas dificuldades?
Entendo que todo filme tem seu público, seja ele maior ou menor. Temos a obrigação de tentar encontrar esse público e não me aprecia que justo a produção pernambucana seja tão ativa e a distribuição não consiga acompanhá-la. É muito mais complicado criar solidez quando se está longe do eixo Rio-São Paulo, mas tentamos suprir isso com simpatia e muita persistência.
Por outro lado, há vantagens em trabalhar fora do eixo Rio-São Paulo?
A maior vantagem é no entendimento do filme. Não tentamos transformar o filme em algo que ele não é. Isso é fundamental e surge, justamente, da minha qualidade como produtora. Não faço aquilo que eu não gostaria que fizessem com meu filme. Tentamos construir um universo favorável, sempre dentro de uma expectativa realista, mesmo que não seja tão comercial. Além disso, existem muitos filmes que não conseguem chegar em distribuidores do eixo Rio-São Paulo. São documentários, filmes pequenos, muito autorais, de primeiros diretores, e temos a preocupação de fazê-los circularem, pois fazem parte do cinema pernambucano. Estes são dois dos principais pontos que enxergo a favor do nosso modelo.
Você tem notado aumento de interesse do público por este cinema mais experimental?
Eu vejo que existem praças que são muito abertas a esse tipo de cinema. Não é um cinema fácil, que consegue levar muita gente, encher salas e tudo mais, realmente é complicado. E, ao mesmo tempo, não tem verba muito alta de publicidade. É uma fórmula muito complicada para trabalhar, mas vejo muito respeito, interesse e um público fiel. A gente não sai frustrado e isso é o mais importante.
A Inquieta tem conseguido desenvolver relações mais próximas com algum exibidor?
Não temos nenhum tipo de acordo, pois o trabalho que fazemos é totalmente independente. Mas temos muito boa relação com o pessoal do Espaço Itaú de Cinema; o Cine 104, em Belo Horizonte; a Cinemateca Paulo Amorim, em Porto Alegre; o Dragão do Mar, em Fortaleza, dentre outras salas. Temos sim um círculo que cada vez é mais forte e melhor.
Já tem a agenda de filmes que serão lançados neste ano?
O Gigantesco Ímã é o primeiro e até o final do ano devemos lançar mais dois: Todas as Cores da Noite, de Pedro Severien, e Ramo, de João Lucas, Hugo Coutinho, Rafael Amorim e Pedro Andrade. Já estamos também com outros cinco projetos engatilhados para começar a trabalhar em festivais e outras estratégias de distribuição.
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