11 Novembro 2015 | Fábio Gomes
Longa quer levar obra de Nelson Rodrigues para nova audiência
"Ninguém Ama Ninguém" chega aos cinemas dia 19 de novembro
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Um dos maiores dramaturgos do Brasil terá mais uma vez sua obra adaptada para o cinema. O trabalho de Nelson Rodrigues chega às telonas na adaptação intitulada Ninguém Ama Ninguém... Por Mais de Dois Anos, que reúne uma série de contos do autor.
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O longa estreou no Festival do Rio e está sendo exibido no Festival de São Paulo e, segundo o diretor Clovis Mello, o objetivo do filme é apresentar o escritor para uma geração que cresceu sem ler os trabalhos de Nelson.
“Nos últimos 15 ou 20 anos, poucos filmes baseados na obra de Nelson Rodrigues foram produzidos. Então, é uma memória que está se perdendo. É um dramaturgo tão importante e foi ficando esquecido e acabou perdendo espaço para temas como favela e violência. Então é incrível como a gente se deparou com jovens de 20 anos que nunca haviam tido contato com Nelson”, afirma em entrevista ao Portal Exibidor.
O cineasta acredita que seu filme irá conversar com uma audiência especializada e entendida sobre literatura, uma vez que a linguagem do filme é mais rebuscada. “A Europa vai distribuir e não tem muitas cópias, não tem muitas salas. Sabemos que o público de Nelson é um público muito especifico, é um público mais iniciado”, explica.
Exatamente por conta disso, Mello acredita que os festivais tiveram papel fundamental na divulgação do longa, pois neste tipo de evento uma produção consegue encontrar seu tipo de espectador. “Os Festivais são grandes vitrines, pois quando o filme vai bem ele vira notícia que se dissemina muito rápido. Os meios estão voltados para isso e faz com que ele tenha uma divulgação acelerada. Além de exibir para um público mais entendido e, assim, nossa crítica fica mais fiel”, completa.
Confira um bate-bola com o cineasta:
Como você escolheu falar de Nelson Rodrigues?
Nelson está intimamente ligado a minha infância e adolescência. A vida carioca nos anos 60 foi permeada por essa “maldição de Nelson”. Ele jogava uma luz nos desejos mais íntimos da sociedade. Então, não havia uma empregada ou um marido infiel que não temesse aquela crônica que era publicada no fim de semana. Além de me lembrar as melhores coisas da minha adolescência, como o linguajar, a segunda intenção... fora que ele é o melhor dramaturgo brasileiro. Foi sem nenhuma intenção mercadológica, foi uma afinidade pessoal com essa obra.
Acredita que os textos de Nelson seguem atuais?
Temos no filme uma passagem sobre uma família de classe média alta, uma jovem senhora que prefere ter criadas brancas para não ter o risco do marido se interessar por nenhuma delas. É uma temática que continua atual e, apesar de ter passado quase 60 anos desses textos, o racismo segue forte na sociedade. Tem diversos temas que ainda estão presentes. O desamor faz com que a pessoa se afaste de você e seja feliz com o outro. Cada conto tem alguma relação com o que a gente viu.
Não seria mais interessante ter trazido essas histórias para o mundo atual?
Com o advento do celular e da internet provavelmente muitas traições seriam reveladas, não ficariam impunes por muito tempo. Então a tecnologia inviabilizaria muitas dessas traições, apesar que pessoas que traem vão continuar criativas a vida inteira.
Como os curtas se ligam no filme?
Usamos como elemento de ligação um bar fictício onde acontece o último dos contos. O garçom do bar seria uma espécie de centralizador disso tudo. A amarração foi meio assim.
Quais são as principais dificuldades de um filme de época?
As dificuldades são de produção, pois há o custo dos figurinos, que precisam ser criados para o longa. Além disso, tínhamos dez horas para gravar no bar e perdíamos pelo menos quatro horas para tirar as coisas modernas e transformar o lugar em um bar de época, no final dos anos 60. Fora isso, no final da diária precisávamos colocar tudo de novo em seu lugar. Então, chegávamos de manhã e montávamos tudo e a noite fazíamos a desmontagem.
Acredita que esse tipo de filme de época tem espaço nos cinemas?
A televisão faz isso muito bem. A televisão faz com muita propriedade e são muito bem feitas. No cinema é feito com muita cautela. O público cansa muito com um texto mais rebuscado. Então é muito difícil navegar nesse mar. Até a própria distribuidora e o público veem com receio o filme de época, mas histórias como essas não podem ser atualizadas pois perderiam muito de sua graça.
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