22 Julho 2015 | Fábio Gomes
Eryk Rocha fala sobre o desempenho em festivais de "Campo de Jogo"
Documentário foi exibido ao redor do mundo e estreia nesta quinta-feira (23) no Brasil
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O cinema de arte busca cada vez mais espaço no Brasil e filmes nacionais estão começando a ter uma carreira de sucesso em festivais e diferentes mercados ao redor do mundo antes de estrear no país. Esse é o caso de Campo de Jogo, documentário dirigido por Eryk Rocha distribuido pela Tucumán Filmes.
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O filme se passa no Rio de Janeiro, perto do estádio Maracanã, palco da grande final da Copa do Mundo de 2014, e apresenta o campo popular do bairro Sampaio. Lá acontece o futebol como expressão genuína da cultura brasileira. Disputado aos domingos, o campeonato anual de favelas reúne 14 times. Cada um representa as cores e os rituais de sua comunidade. Geração X Juventude disputam a final.
O longa foi exibido em importantes mercados ao redor do mundo, de Copenhagen, na Dinamarca, até a Cidade do México, no México. Segundo o diretor em todos os países onde foi exibido ele recebeu um feedback positivo do público e da crítica local. “A sensação que eu tenho é que o filme está emocionando um público muito heterogêneo, tanto de um gosto mais cinematográficos e também do ponto de vista regional, cultural. Parece ser um filme que conjuga tudo isso e esse era o meu desejo inicial. Ele tem uma veia poética junto com uma veia popular, pois já o mostrei para pessoas da comunidade, que não tem relação com cinema, e elas se emocionam”, explicou o diretor.
O sucesso foi tanto que o filme, mesmo com estreia marcada para está quinta-feira (23) no Brasil, conseguiu distribuição internacional. “O longa conta com distribuição na França, nos EUA e ano que vem está programada a estreia em todo o México. Isso me deixa muito feliz, pois é um filme de baixo orçamento, com quatro pessoas na produção, e ele tá ganhando as telas do mundo. Espero que ele possa, mesmo sendo independente, se proliferar nas telas brasileiras”, afirmou o diretor.
Confira um bate-bola com o diretor:
Quais foram as dificuldades de filmar uma partida de futebol?
É sempre um desafio. O desejo inicial era criar um campo de confluência entre o cinema e o futebol, sendo que o objetivo é projetar um território fruto desse encontro entre futebol, cinema e Brasil. Era o nosso desejo trazer essa dimensão épica através do cinema, o campo de jogo é um campo de poesia. Dentro desse diálogo apresentamos o futebol do rito, de pelada, de terra que carrega a nossa matriz cultural. É nesses campos do Brasil a fora que nasceram os nossos craques e uma forma de jogar, uma forma de dançar o futebol. A televisão filma de uma forma específica, tem um olhar racional, robótico. Tem uma transmissão com milhares de câmeras, enquanto o cinema tem um outro desafio de olhar o futebol, que é contraponto midiático televisivo. Descobrir um olhar de como o cinema pode olhar o futebol.
Houve muitas surpresas por ser um documentário?
Isso é um desafio, pois um jogo de futebol é um grande dança, muitos corpos se debatendo, então o que filmar? E ainda tem o componente do imponderável, a gente não sabe o que vai acontecer. A minha matéria prima é o real, como filmar esse real e criar uma dramaturgia em volta disso. Como o cinema pode refletir isso, é um jogo onde co-existe uma guerra e uma dança, esse era o desafio de criar essa linguagem.
Que tipo de experiência você quis passar ao espectador?
Meu desejo é que quando o espectador entre seja como se ele estivesse entrando nesse campo, participando dessa final, sentindo o jogo de dentro, não de fora. Não me interessou ser somente observacional, mas sim de imersão daquele campo, que é um campo de afeto, que é um campo de poesia. É um campo onde o país está dentro de alguma forma, sempre essa ideia da câmera estar dentro do jogo. O cinema estar incorporando esse jogo da sua forma mais bruta, não visceral.
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