10 Abril 2013 | Redação
Dublagem exerce papel social e cultural
Para Jorge Barcellos filmes legendados e dublados sempre terão seu espaço no mercado
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O mercado de dublagem cresce entre 10% a 20% por ano. Segundo banco de dados do portal Claquete.com, a quantidade de cópias dubladas aumentou quase 40% entre 2008 e 2011.
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Com 45 anos de experiência, Jorge Barcellos pode não ser muito conhecido pelo nome, mas certamente você já ouviu a voz dele em alguma produção cinematográfica.
Radialista, ator, locutor e dublador, ele é o diretor da Sigma, principal empresa de dublagem do mercado brasileiro conhecida por seu trabalho em grandes filmes. Em entrevista concedida à Revista Exibidor, ele comentou um pouco sobre a sua carreira e sobre suas perspectivas para o mercado de dublagem no Brasil.
Revista Exibidor - Comente um pouco a sua experiência artística, especialmente no mercado cinematográfico.
Jorge Barcellos - Comecei minha carreira profissional na Rádio Gaúcha como rádio-ator e produtor em 1961. Fiz um curso de Produção e Direção de Televisão em 1963 e fui promovido pela TV gaúcha, hoje RBS. Trabalhei nesta emissora de Televisão até 1966, produzindo, dirigindo e atuando. Em 1967 vim para São Paulo onde acabei entrando para a área de dublagem na antiga Gravasom, a empresa pioneira neste setor no Brasil. Fui contratado como dublador durante cinco anos da Álamo, empresa especializada em dublagem. Cursei Rádio e TV na FAAP. Fui Diretor Artístico e Comercial da Megasom entre 1984 e 1995, empresa que se tornou uma das maiores do mercado brasileiro.
Simultaneamente comecei minhas atividades na TV Cultura, o que foi uma fonte de grande aprendizado. Lá eu era locutor e apresentador. Apresentei quase 200 concertos com os maiores músicos do Brasil e do mundo. Apresentei um programa chamado Espaço 2, participei como locutor de vários cursos, português, inglês, alemão, geometria, etc. Apresentava juntamente o programa Panorama das Artes, que mais tarde passou a se chamar Em Cartaz, com Isabel de Lisandra, posteriormente com Karen Rodrigues e depois com Madalena Nichols.
Exibidor - E a Sigma?
Barcellos - Com o encerramento das atividades da Megasom em 1995, dei continuidade ao meu trabalho nesta área fundando, com o apoio da Disney, a Sigma, empresa com a qual trabalho até hoje. Durante toda minha carreira como diretor de empresa, trabalhei para quase todas as grandes empresas Produtoras e Distribuidoras de filmes, tais como Buena Vista (Disney), Columbia Pictures (hoje Sony Pictures), Warner, Fox Film do Brasil, entre outras. Cuidamos da dublagem de filmes muito importantes, tais como: Uma Cilada para Roger Rabbit (Who Framed Roger Rabbit), O 13º Guerreiro (The 13th Warrior), Dick Tracy (Dick Tracy), todos os cartoons Disney, Bem Amada (Beloved), Temple Grandin (Una donna straordinaria), O Diabo Veste Prado (The Devil Wears Prada), Crash – No Limite (Crash), Quem quer ser um Milionário (Slumdog Millionaire), Coração Livre (Crazy Heart), Piaf - Um Hino de Amor (La Vie En Rose), Instinto (Instinct), Labirinto (Labyrinth), Ao Entardecer (Evening), Austrália (Australia), Wall Street 1 e 2, Hotel Ruanda (Hotel Rwanda), Diário de Um Banana 2 (Diary of a Wimpy Kid: Rodrick Rules), Busca Implacável 2 (Taken 2), Romeu Apaixonado, etc.
Exibidor - Como você avalia o crescimento de versões dubladas nos lançamentos internacionais nos cinemas brasileiros?
Barcellos - O início da TV paga e do Home Entertainment não era ainda bem segmentando. Era destinado a um público de alto poder aquisitivo, com nível cultural alto e por essa razão optou-se pela legendagem dos materiais importados naquele momento. Mas, nós sabemos que entre as décadas de 1960 e 1990, formou-se um público de televisão que assistia somente filmes dublados. Com a expansão das atividades da TV por assinatura e do Home, era de se esperar que todo aquele público acostumado a filmes dublados, passaria a integrar a lista de novos clientes desses novos mercados, o que de fato aconteceu. As pessoas falam muito em classe C, mas, eu acredito que esse público hoje se compõe de todas as classes. O fenômeno da nova classe média, é outro imperativo de mudança nos meios de comunicação para chegar mais perto desse público também. O mesmo se aplica ao cinema.
Exibidor - Há alguma diferença no mercado brasileiro de dublagem em comparação com outros países? Como é o mercado nos EUA e em países da Europa e como é no Brasil?
Barcellos - O mercado europeu está habituado à dublagem desde o surgimento dessa tecnologia. França, Itália, Espanha, Alemanha, entre outros países, exibem normalmente filmes dublados tanto na televisão como no cinema. É um mercado consolidado dessa forma.
Os Estados Unidos não têm um mercado de dublagem na forma como conhecemos aqui e na Europa, até porque eles não têm o hábito de assistir às produções estrangeiras. Eles vivem em um mundo muito fechado para eles mesmos. Quando um filme estrangeiro faz sucesso lá, é normalmente legendado, porque não se destina ao grande público. São muito raras as exceções.
Exibidor - Na sua opinião, porque a dublagem está mais presente no cotidiano do que era há algum tempo atrás?
Barcellos - Acredito que a dublagem exerce um importante papel social no que diz respeito ao acesso à cultura. Em um país que tem milhões de analfabetos ou semi-anafabetos, pessoas que mal conseguem assinar o nome e que não têm a possibilidade de ler legendas, a dublagem é um agente importante, que possibilita que toda essa grande massa possa se informar, se divertir e assistir a obras internacionais importantes que certamente vão contribuir para uma melhor formação cultural desses indivíduos. Essa é uma das razões dela estar mais presente em nosso cotidiano atualmente. Como o mercado está cobrando mais filmes, dubladores e as redes e os distribuidores trabalham no sentido de atender essa demanda, a dublagem está bem mais visível hoje do que antes. Acho também muito importante para os artistas e técnicos brasileiros a expansão do nosso mercado de dublagem.
Exibidor - Quais tendências você vislumbra para esse segmento?
Barcellos - Eu acredito que o mercado brasileiro de dublagem vai ter que passar por uma reciclagem. A maior parte das empresas de dublagem terá que se aprimorar mais, se equipar melhor tecnologicamente, absorver novos talentos, novas vozes, para poder atender a demanda que se imagina para um futuro próximo e poder realmente oferecer a qualidade que o público espera.
Exibidor - Você, como dublador e diretor de dublagem, prefere assistir filmes dublados ou legendados? Por quê?
Barcellos - Na televisão, até pelo tamanho da tela, eu prefiro os filmes dublados. Eu assisto somente aqueles que têm uma boa qualidade de dublagem. Mas também assisto legendados quando filme me interessa e não tem a versão dublada.
Quando um filme é bem dublado, com uma boa tradução, as vozes bem escolhidas e uma boa direção, o filme perde muito pouco para o original, ou não há perda nenhuma, e às vezes fica até melhor e mais interessante.
Exibidor - Como você enxerga o futuro do cinema? Lançamentos 100% dublados ou ainda haverá uma harmonia entre as duas versões?
Barcellos - Eu acredito que o mercado do cinema irá crescer muito ainda na questão da dublagem. Mas não acredito na possibilidade de 100% de filmes dublados para o cinema. Existem os filmes destinados a um grande público, que vão atingir muitas faixas etárias e diversas classes sociais, esses precisam de dublagem. Mas existem os filmes de arte, destinados a um público específico que não aceitaria esse tipo de filme dublado. E não acho que seja somente por um simples preconceito, acho que é para impedir que essas obras percam sua originalidade.
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