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23 Abril 2025 | Gabryella Garcia

Produtora Bahaez chega ao mercado apostando na representatividade LGBTQIAPN+ para se tornar referência

Sócios Alice Chiappetta e Henrique Osse concederam entrevista exclusiva ao Portal Exibidor

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(Foto: Divulgação)

A produtora Bahaez chegou ao mercado audiovisual brasileiro com a missão de ampliar a representatividade LGBTQIAPN+ nas telas e, mesmo em pouco tempo, já começa a acumular participações em grandes festivais e entregar campanhas publicitárias para grandes marcas. Com a missão de revolucionar a indústria, o projeto é encabeçado pelos sócios Alice Chiappetta e Henrique Osse, que concederam uma entrevista exclusiva ao Portal Exibidor.



A motivação para entrar no mercado surgiu de uma inquietação dos sócios, que ao mesmo tempo que sentiam a falta de representatividade na indústria, também sentiram a necessidade de ocupar esse espaço e ser uma voz ativa dentro do mercado.

"Nós sempre conversamos muito e tínhamos vontade que esse tipo de conteúdo e propostas estivessem mais presentes nas telas porque era algo que a gente sentia necessidade. Também começamos a sentir que haviam poucos espaços para isso, e quando tinham, meio que passavam um pano e questionavam se precisava mesmo. Esse tipo de narrativa não fazia muito sentido para a gente e as conversas foram evoluindo até que decidimos pensar em como fazer isso juntos", explicou Henrique, que é graduado em Comunicação Social e Cinema pela FAAP e trabalha há mais de 10 anos nas áreas de Produção Executiva e Produção para filmes e séries de cinema e streaming.

Além dessa percepção, Alice, que é técnica em Artes Cênicas e graduanda em Cinema e Audiovisual pela ESPM-SP e em Ciências Sociais pela USP, também destacou que a representatividade LGBTQIAPN+ também tem que se fazer presente nos cargos de tomada de decisões, e não apenas como uma espécie de "cota" nas demais funções.

"Entendemos que muitas vezes os criativos, os roteiristas vinham com isso, ou até diretores e diretoras, mas nós não temos uma estrutura completa que concorda e fortalece [produções de temática LGBT] e se torna muito difícil ir para frente porque infelizmente cada vez mais nós vemos narrativas LGBT sendo canceladas depois de uma temporada ou tendo cenas cortadas e censuradas. Nesse cenário precisamos ter uma produção executiva também que bata na mesa e fale que tem público, que conseguimos demonstrar esse público e conseguimos fortalecer e unificar isso", disse.

A experiência de Alice no audiovisual, inclusive, começou ainda em 2013 quando começou a editar curta-metragens para youtubers antes de, em 2016, idealizar e fundar o Cinecolband, uma escola de cinema criada por alunos e para alunos. Mas, além da inquietação que surgiu da vivência dentro do mercado, a dupla de sócios também buscou referência de projetos bem-sucedidos para que o sonho se tornasse realidade e acabou encontrando na Tailândia.

"A ideia de criar a nossa produtora foi muito fortalecida por movimentos que estão acontecendo fora do Brasil também. Tivemos uma reunião com o Ministro das Relações Exteriores da Tailândia e também com a embaixadora, e a Tailândia está tendo um movimento muito forte de GL's e BL's que são girls love e boys love. Notamos que em cerca de dois ou três anos eles se transformaram em uma indústria gigantesca e, além disso, uma votação feita no Lesbocine, por exemplo, teve 12 milhões de votos em uma semana e o top 12 de casais sáficos eram todos da Tailândia, aí nos perguntamos onde estavam os casais brasileiros e como poderíamos fomentar isso. Tivemos uma reunião com eles justamente por sermos da área e sermos produtores LGBT, e por essa conexão que temos com esse público. A partir daí a ideia foi juntar toda nossa expertise de produção com esse público que já temos acesso para fomentar conteúdos LGBT e comprovar que conseguimos ter esse conteúdo no mercado", relembrou Alice.

Apesar do pouco tempo de existência, a Bahaez já marca presença na 34ª edição do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, apresentando o curta-metragem Mania, protagonizado por Clarissa Müller e Sharon Cho, com roteiro e direção de Malu Alves. O curta, aliás, já recebeu o prêmio de Melhor Filme de Romance no Los Angeles Movie and Music Video Awards. Além disso, a produtora já entregou 10 campanhas publicitárias e, foi justamente nessa seara do mercado audiovisual que a dupla enxergou uma dificuldade, mas também uma oportunidade.

"Algo que notamos no início é que antes trabalhávamos exclusivamente com séries e longas e não tínhamos que abrir os olhos também para publicidade, contents, e para experiências de marcas. Mas, assim que criamos a produtora, percebemos que não dá para viver apenas de um fluxo de longo prazo porque até o momento da captação de recursos para um longa ou uma série, também tivemos que nos debruçar sobre a publicidade para ter um fluxo mensal e conseguir se manter para construir a longo prazo o nosso propósito de fazer essa parte do cinema queer", explicou Alice.

Até o momento, aliás, a Bahaez contou com uma parceria com o cantor Jão que rendeu duas propagandas da Adidas, duas propagandas da Samsung e uma websérie da Coca-Cola. Alice, inclusive, destacou que a produtora atualmente está também se alinhando com outros artistas LGBTQIAPN+ para a produção de videoclipes ou contents como uma estratégia de manter a Bahaez mensalmente e ainda seguir dentro de seu propósito de criação.

"Desde o início já tínhamos em mente qual era nossa proposta e, tanto é, que nesse início da produtora já estamos licenciando livros e fazendo com que as coisas aconteçam para que a gente possa, lá na frente, ter tudo o que a gente sonhava pronto ou ao menos sendo feito", completou Henrique.

Para atingir o almejado sucesso, a produtora conta com um diferencial que é ter um contato direto com seu público-alvo, através inclusive do Lesbocine, que hoje é reconhecido como o maior portal LBTQIA+ da América Latina e contou com Alice como uma de suas criadoras. Essa expertise e contato direto com o público, até para a formação de estratégias, é visto como crucial pela dupla de sócios.

"Um incômodo meu e do Henrique é que a gente já tinha trabalhado com outras produções LGBT mas as equipes técnicas, em geral, eram heteronormativas. Muitas vezes eram pessoas cis, muitas vezes homens falando sobre mulher ou vice-versa e a gente não concordava muito com isso. Como produtores sempre procuramos contratar uma equipe majoritariamente LGBT e que fala sobre o que a gente quer falar e ter a preocupação de colocar gente que tem lugar de fala em todos nossos projetos para arredondar essas coisas e conseguir falar sobre diversidade e pertencimento de uma maneira mais plural", completou Alice sobre um dos diferenciais - e também premissa - da nova produtora.

Olhando para o futuro, e um futuro próximo neste caso, a Bahaez já anunciou a adaptação de duas obras de destaque da literatura queer contemporânea: “Liz Flores É Uma Farsa”, da escritora Vic Mendes, e “Apenas Para Garotas”, de Leo Gumz. Além disso, a produtora também prepara uma série LGBTQIAPN+ inédita criada por Luíza Fazio, um curta-metragem que deverá começar a ser gravado em dois meses, e um longa-metragem que contará com nomes como Giovanna Grigio e a Gabi Lisboa no elenco.

"Temos uma meta de em 2026 lançar pelo menos um filme e uma websérie. Temos duas webséries que estamos planejando, as partes de desenvolvimento e produção, para lançar entre julho e agosto de 2026. Além disso, também estamos com uma captação de recursos bem avançada de uma certa forma de um longa que envolve a Giovanna Grigio e a Gabi Lisboa, em um longa da Natália Toledo, então a ideia é conseguir gravar essas produções até o começo de 2026 para ir lançando", disse Alice.

Por fim, tendo o objetivo de se tornar a maior produtora LGBTQIAPN+ do país, Alice reforçou a importância da representatividade para a construção de referências, algo que ela, particularmente, não teve acesso em sua adolescência.

"Nosso objetivo é fazer o que a gente sempre quis ver no mercado , lembrando da nossa adolescência, quando ainda estava se descobrindo e saindo do armário, tinha muito pouco conteúdo. Hoje temos mais, mas ainda é pouco e muitos com uma representatividade não necessariamente positiva, então queremos entregar o que a gente sempre sentiu que precisava existir e esse é nosso principal objetivo", finalizou.

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