18 Abril 2025 | Redação
Filmes de Hollywood devem perder espaço no mercado chinês após guerra fiscal iniciada por Donald Trump
Administração de Cinema da China anunciou que reduzirá a importação de filmes dos Estados Unidos
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No dia 2 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu início a uma guerra tarifária que se desdobrou para a indústria cinematográfica e afeta diretamente os dois maiores mercados de filmes do mundo. Após o governo Trump divulgar que produtos chineses teriam tarifas de até 245% nos Estados Unidos, a Administração de Cinema da China (CFA na sigla em inglês) comunicou que a situação "inevitavelmente reduzirá ainda mais a preferência do público local pelos filmes americanos". As informações são dos portais Variety, The Hollywood Reporter e G1.
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Chamado de "Dia da Libertação" por Trump, em 2 de abril, o governo dos Estados Unidos criou uma série de tarifas para diversos parceiros comerciais do país, incluindo a China, e as chamadas tarifas recíprocas variavam entre 10% a 50% dependendo do país. Como resposta ao "tarifaço" que atingiu mais de 180 países, a China anunciou uma medida de retaliação taxando os produtos dos Estados Unidos em 84% e, a partir daí, se iniciou uma guerra que parece distante do fim. Posteriormente, os Estados Unidos elevaram as taxas sobre produtos importados da China para 145% e, como resposta, os asiáticos responderam com taxas de 125% sobre itens americanos, além de outras medidas. No capítulo mais recente da guerra, nesta terça-feira (15), um comunicado oficial no site da Casa Branca dizia que a China encararia tarifas de até 245% como resultado das "ações retaliatórias" do país asiático.
No meio dessa guerra, a Administração de Cinema da China, órgão que regulamenta os lançamentos e cotas de filmes no país, divulgou um comunicado no dia 10 de abril dizendo que a importação de filmes dos Estados Unidos seriam reduzidas.
"Seguiremos as regras do mercado, respeitaremos a escolha do público e reduziremos moderadamente a importação de filmes americanos. A China é o segundo maior mercado cinematográfico do mundo. Sempre aderimos a um alto nível de abertura ao mundo exterior e apresentaremos mais filmes de excelência do mundo para atender à demanda do mercado", dizia o texto.
O anúncio, aliás, acendeu um sinal de alerta em Hollywood, uma vez que a China possui o segundo maior mercado cinematográfico do mundo. A bilheteria chinesa de Um Filme Minecraft (Warner), principal estreia da semana passada, por exemplo, equivale a 10% da arrecadação total internacional do longa-metragem, com US$ 14,7 milhões. Além disso, no ano passado, filmes americanos arrecadaram US$ 585 milhões (hoje equivalentes a R$ 3,4 bilhões) na China.
Mas, apesar da preocupação em Hollywood, Trump pareceu não se importar com a decisão da CFA. Horas depois do anúncio do órgão chinês, o presidente dos Estados Unidos participou de uma coletiva de imprensa e foi questionado sobre a decisão. "Acho que já ouvi coisas piores", respondeu Trump, rindo e sorrindo enquanto os repórteres da sala também riam.
Na China, vale destacar, as autoridades detêm controle absoluto sobre a distribuição de filmes no território. Filmes estrangeiros só podem ser distribuídos formalmente na China por meio de uma das duas empresas estatais centralizadas e são importados como parte de uma cota limitada de 34 filmes com "participação na receita", pelos quais o estúdio recebe uma parte da bilheteria, ou em condições de "taxa fixa" (também conhecida como "compra"). Os direitos na China são licenciados por uma empresa local por um valor fixo.
Apesar de uma política protecionista, a China se tornou um mercado cada vez mais crucial para lançamentos de grandes estúdios, com filmes como Vingadores: Ultimato (Disney), Velozes e Furiosos 7 (Universal) e Avatar: O Caminho da Água (Disney) gerando centenas de milhões de dólares nos cinemas chineses. Avatar, inclusive, atingiu a incrível marca de US$ 246 milhões apenas nos cinemas chineses.
Diante do cenário, a projeção de recuperação do mercado cinematográfico chinês também pode ser afetada. Em 2024, a receita total de ingressos caiu 24% no país, arrecadando "apenas" US$ 5,8 bilhões, mas em 2025 a projeção é que o número aumente 30% e chegue a US$ 7,6 bilhões. É bem verdade que muito desse aumento se deve a animação chinesa Ne Zha 2, que já arrecadou mais de US$ 2,11 bilhões antes de ser destronada por Minecraft, mas para atingir os números projetados e consolidar a recuperação as redes de cinemas chinesas também estão apostando em uma programação com grandes sucessos como Superman (Warner) e Missão: Impossível - O Acerto Final (Paramount), por exemplo, para ajudar a preencher os assentos e manter a recuperação do mercado.
Em meio ao impasse, algumas fontes afirmaram ao The Hollywood Reporter que a Administração de Cinema da China havia aprovado no dia 7 de abril a estreia de Thunderbolts (Disney) nos cinemas em 30 de abril, o que não seria possível se uma proibição fosse aprovada. Ainda que o lançamento ainda não esteja 100% confirmado, a tendência é que a redução não impeça a chegada dos maiores filmes de Hollywood e, a expectativa, inclusive, é que Thunderbolts tenha uma excelente arrecadação também nas telas IMAX da China.
Por fim, enquanto diminui a presença hollywoodiana e trabalha para incentivar a própria produção local, o 15º Festival Internacional de Cinema de Pequim começa amanhã (18) destacando o crescente alcance global do cinema chinês com sua iniciativa "Distribuição e Promoção Internacional de Filmes Chineses", apresentando prêmios e um fórum de alto nível do setor. O evento reconhecerá os principais atores que promoveram os filmes chineses nos mercados internacionais e, além disso, três filmes chineses estarão competindo no Prêmio Tiantan, que é o principal prêmio do festival, em produções que trazem perspectivas únicas sobre a valorização do cinema chinês.
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