Exibidor

Publicidade

Notícias /mercado / Efeito "Ainda Estou Aqui"

21 Março 2025 | Gabryella Garcia

Oscar de "Ainda Estou Aqui" coloca Brasil nos holofotes e pode ajudar na internacionalização: "Situação excepcional"

Participação em grandes festivais internacionais como Berlim e Cannes também comprovam "momento de ouro" para o cinema brasileiro

Compartilhe:

(Foto: Divulgação)

No dia 2 de março de 2025, o Brasil fez história ao vencer o Oscar de Melhor Filme Internacional com Ainda Estou Aqui (Sony) e, sem dúvidas, isso pode ser considerado um divisor de águas na história do cinema nacional. Os olhos e holofotes do mundo se voltaram para o Brasil e definitivamente vivemos um dos momentos mais propícios para a internacionalização de nossas produções. Aproveitando o momento, o Portal Exibidor conversou com Morris Kachani, gerente executivo do Cinema do Brasil, e com o cineasta brasileiro Bernardo Barreto, que atualmente vive em Los Angeles, para falar sobre as expectativas de sucesso de novas produções brasileiras em todo o mundo.

Publicidade fechar X

Nos Estados Unidos, maior mercado cinematográfico do mundo, por exemplo, o Brasil ainda é um país desconhecido (cinematograficamente falando) e a própria questão linguística se torna uma barreira a mais. Entretanto, vivendo no país há alguns anos, o cineasta Bernardo Barreto sente que a resistência está diminuindo e que a vitória de Ainda Estou Aqui pode abrir ainda mais portas para o cinema brasileiro.

"Poucos filmes brasileiros chegam nos Estados Unidos e aqui é muito blindado em relação a outras culturas, apesar de estar mudando um pouco nos últimos dez anos. Temos muitas histórias para contar e o Brasil tem uma cultura riquíssima e ainda é desconhecido para o resto do mundo. Sinto que sempre tivemos muita receptividade na Europa e sempre houve muita curiosidade com a nossa forma de viver, mas aqui nos Estados Unidos, até então, o Brasil era visto como um lugar um pouco destacado da América Latina e exótico. Acho que um dos fatores que também dificulta a entrada de produções brasileiras em outros mercados é a língua, porque tudo que não é inglês tem alguma dificuldade de penetração no mercado. Sinto que isso está mudando nos últimos anos com players que tentam globalizar as produções e também sinto que o americano está aprendendo a ler legendas, que era algo que não estava acostumado", destacou Barreto.

Kachani, por sua vez, também apontou que a resistência com produções brasileiras está diminuindo no mercado, mas chamou a atenção para uma barreira que ainda existe na exibição e distribuição.

"Há cada vez menos resistência no mercado internacional com produções brasileiras e existe uma curiosidade imensa pelo potencial criativo do país. Percebo que há muito interesse e o Brasil já construiu, com sua produção recente e histórica, um espaço. Agora precisamos trabalhar isso e potencializar. Há resistência internacional quando falamos em salas de exibição, por exemplo. Não é simples emplacar um filme brasileiro pelas salas mundo afora e existem mercados que são particularmente mais fechados e outros que são mais interessados e abertos à produções brasileiras como a França, por exemplo. Quando entramos na questão de distribuição e salas de exibição, é um pouco mais complicado, mas há sim um interesse crescente na internacionalização no sentido de criar um ambiente de negócios favorável para a exportação da nossa produção", explicou o gerente do Cinema no Brasil.

Apesar das dificuldades - sejam linguísticas, de exibição ou de distribuição -, a participação brasileiras em alguns dos maiores festivais de cinema do mundo mostram que sim, há interesse e o "efeito Ainda Estou Aqui" pode fazer o cinema nacional viver um momento único da história quando pensamos em conquistar espaço e mercados. Nos Festival de Berlim, por exemplo, o filme brasileiro O Último Azul, de Gabriel Mascaro, venceu o Urso de Prata do Grande Prêmio do Júri e, além disso, Kachani destacou que houve um aumento de 30% no volume de vendas e negociações de produções brasileiras em relação ao ano de 2024.

"Um indicativo desse crescimento de intensidade da nossa atividade em termos de internacionalização das produções nacionais é bem recente, no Festival de Berlim. Levamos 35 empresas para o festival e tivemos um resultado muito positivo com um incremento de 30% no nosso volume de vendas e negociações com relação ao que foi no ano passado. O Brasil bateu recordes em Berlim e foi o quarto país com maior número de filmes exibidos nos painéis de Berlim, além de vencer o Urso de Prata. Tivemos belas produções brasileiras ali, como o filme da Lúcia Murat, por exemplo, e todos foram muito aplaudidos. A acolhida foi muito boa e também tivemos a estreia de filmes como 'A Natureza das Coisas Invisíveis', e estamos com boas possibilidades e muito felizes em poder dividir esse momento auspicioso do audiovisual brasileiro", disse.

E, falando em grandes festivais internacionais e internacionalização de produções brasileiras, é impossível não pensar no Festival de Cannes, que acontece de 13 a 24 de maio. Neste ano, inclusive, o Brasil foi anunciado como o País de Honra do Marché Du Film, comprovando o momento de alta do nosso cinema. O Marché du Film, vale destacar, é o maior mercado e encontro internacional de filmes e profissionais do cinema no mundo.

"Nesse momento foi muito oportuna a ação do Ministério da Cultura no sentido de inscrever o Brasil como país convidado no Marché Du Film, em Cannes. Neste sentido, todos os esforços neste momento estão sendo dirigidos para Cannes, que é o principal festival de cinema do mundo. Teremos uma presença muito forte lá com o stand do Cinema do Brasil, stand da Spcine com a Rio Filmes e o stand do Ministério da Cultura. Temos feito um trabalho integrado para chegar com uma programação conjunta, cruzada e uma presença brasileira muito forte. Agora todos os holofotes estão voltados para Cannes e estamos na expectativa para ver quais filmes brasileiros vão ser selecionados", comemorou Kachani.

Além da forte presença em grandes festivais internacionais, aliada a vitória inédita no Oscar, o cineasta Bernardo Barreto também chamou atenção para outro fenômeno brasileiro que pode ajudar a abrir ainda mais portas na internacionalização de nossas produções: o engajamento brasileiro na internet. Quando Ainda Estou Aqui e Fernanda Torres receberam suas indicações para o maior prêmio do cinema mundial, as redes sociais do Oscar e da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas foram invadidas por brasileiros de uma forma nunca antes vista na história da premiação.

"’Ainda Estou Aqui’ teve um apoio do Brasil inteiro, que é muito forte na internet, e os Estados Unidos sentiram essa força do brasileiro na internet. Isso realmente tem uma importância enorme e o movimento que ‘Ainda Estou Aqui’ gerou é muito significativo para o mercado porque esses números geram mídia e geram dinheiro também. Os Estados Unidos sempre olharam isso com muita atenção para isso", disse Barreto.

Por fim, ambos entrevistados concordaram em suas entrevistas que a vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar abriram as portas da internacionalização para produções brasileiras. Além disso,  Barreto fez um paralelo com o que aconteceu com as produções da Coréia do Sul após a vitória de Parasita (2019) no Oscar 2020.

"As portas estão abertas e realmente sinto isso, mas hoje o mundo muda tão rápido que fica difícil prever alguma coisa. É difícil fazer uma previsão linear sobre o que vai acontecer, mas acho que o Brasil tem muita história para contar, tem muitos talentos e estamos chegando agora em alguns mercados. O bom dessa chegada é que o novo gera expectativa e, se soubermos aproveitar esse momento e tivermos mais algumas produções de sucesso esse ano, isso vai se tornar uma crescente. Isso aconteceu na Coréia do Sul com ‘Parasita’, então com a vitória do Brasil no Oscar a porta fica escancarada e tudo está a favor neste momento", destacou.

Kachani, por sua vez, destacou o aumento da procura de parceiros de outros países para coproduções com o Brasil, inclusive durante o Festival de Berlim, e voltou a destacar que o momento é quase inédito para o cinema brasileiro e que "estamos vivendo uma situação excepcional".

"Tenho certeza que, sem dúvidas, o Oscar vencido por ‘Ainda Estou Aqui’, bem como as nomeações para outras categorias, e outros prêmios que o cinema brasileiro vem conquistando, como o Urso de Prata, em Berlim, colocam os holofotes do mercado internacional sobre o Brasil. Percebemos isso no dia a dia de nossas atividades e temos sido procurados por instituições dos nossos grandes parceiros da Europa como França, Alemanha, Espanha e outros mercados emergentes e estratégicos com interesse de buscar mais parcerias com o Brasil, seja através de de projetos de coproduções internacionais, parcerias entre instituições, acesso a fundos e organizações de trabalhos de distribuição. É um momento muito solar do nosso mercado e realmente estamos vivendo uma situação excepcional", finalizou.

Compartilhe:

  • 0 medalha