03 Março 2025 | Redação
"Ainda Estou Aqui" faz história ao trazer primeiro Oscar para o Brasil enquanto "Anora" leva principais prêmios da noite
Filme dirigido por Sean Baker levou 5 estatuetas para casa, das 6 categorias em que concorria, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz
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Fernanda Torres pediu para não ter clima de Copa do Mundo na torcida pelo Oscar mas, em pleno Carnaval, seria praticamente impossível segurar a euforia brasileira. A torcida, aliás, deu certo. Ainda Estou Aqui (Sony) conquistou o primeiro Oscar do Brasil ao ser premiado como Melhor Filme Internacional. Além disso, Anora (Universal) foi o principal destaque da noite ao conquistar cinco estatuetas, incluindo Melhor Filme. As informações são dos portais IndieWire, Deadline e The Hollywood Reporter.
A cerimônia realizada ontem (2) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, no Dolby Theatre, em Hollywood, trazia muitas incertezas em seus principais prêmios, como Melhor Filme e Melhor Atriz, por exemplo. O grande destaque, sem dúvidas, foi Anora que praticamente "varreu" todos os prêmios que disputou. Indicado em seis categorias, o longa de Sean Baker levou cinco estatuetas para casa, sendo derrotado apenas em Melhor Ator Coadjuvante, quando Yura Borisov perdeu para Kieran Culkin em sua atuação por A Verdadeira Dor (Disney).
Mas, antes de citar outros vencedores da noite, vamos destacar um filme específico que fez Hollywood ter um gostinho do que é o Carnaval na noite deste domingo. Antes mesmo da premiação, Ainda Estou Aqui já havia feito história ao se tornar o primeiro longa brasileiro a ser indicado como Melhor Filme, principal categoria do Oscar. Além disso, o longa foi um dos selecionados como Melhor Filme Internacional, enquanto a Fernanda Torres foi indicada a Melhor Atriz e repetiu o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada na mesma categoria por sua atuação em Central do Brasil em 1999.
Os prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz não vieram para o Brasil, ambos ficaram com Anora e Mikey Madison que desbancou as favoritas Demi Moore e Fernanda Torres. Mas, na categoria de Melhor Filme Internacional, o reconhecimento veio e o longa brasileiro desbancou Emília Pérez (Paris Filmes), seu principal concorrente. O Oscar, inclusive, coroou uma temporada brilhante de Ainda Estou Aqui que acumulou mais de 40 prêmios incluindo Melhor Roteiro no Festival de Veneza e Prêmio Goya Melhor Filme Ibero-Americano, além do prêmio de Melhor Atriz para Fernanda Torres no Globo de Ouro.
Após o anúncio feito por Penélope Cruz, o diretor Walter Salles subiu ao palco e celebrou o cinema brasileiro em seu discurso, além de exaltar três mulheres: Eunice Paiva, e Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, as duas atrizes que deram vida à Eunice no filme.
"Em nome do cinema brasileiro, é uma honra receber esse prêmio. Isso [mostrando a estatueta] vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir. Esse prêmio vai para ela: Eunice Paiva. E também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro", disse.
Anora, como dito anteriormente, foi o principal vencedor da noite e levou para casa os prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem. Isso significa um aproveitamento de quase 100%, uma vez que o longa foi indicado em seis categorias e perdeu apenas o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. Emília Perez, por outro lado, foi o filme com o maior número de indicações (13), mas levou para casa apenas os prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante, com Zoe Saldaña, e Melhor Canção Original, com "El Mal". Aqui também vale destacar produções que tiveram múltiplas indicações e saíram de mãos vazias do Dolby Theatre: Um Completo Desconhecido (Disney), com oito indicações, Nosferatu (Universal), com quatro indicações, Sing Sing (Diamond Films) e Robô Selvagem (Universal), com três indicações, e Nickel Boys, com duas indicações.
Além de Anora e Emília Pérez, outros filmes que levaram mais de um prêmio para casa foram O Brutalista (Universal), que venceu Melhor Ator com Adrien Brody, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora; Duna: Parte Dois (Warner), que venceu Melhor Som e Melhores Efeitos Visuais; e Wicked: Parte Um (Universal), que venceu Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino.
Entre as distribuidoras, considerando apenas o Brasil, a Universal (Anora, O Brutalista e Wicked) foi a grande vencedora da noite com dez estatuetas. Na sequência, aparecem Warner (Wicked) e Paris Filmes (Emília Pérez) com duas; e Sony, Disney, Mares Filmes, Imagem Filmes, Diamond e Netflix com uma estatueta cada. Ainda houve três produções premiadas sem distribuição no Brasil.
Curiosidades e destaques da cerimônia
Ao ganhar o prêmio de Melhor Filme, Anora foi apenas a quarta produção na história a fazer a dobradinha Oscar e Palma de Ouro, de Cannes. Os outros a conseguirem tal feito foram Farrapo Humano (1946), Marty (1956) e Parasita (2020). Na entrega do prêmio de Melhor Filme, inclusive, a equipe exaltou o cinema independente.
"Se você está tentando fazer filmes independentes, por favor, continue fazendo isso. Precisamos de mais. Esta é a prova", destacou o produtor Alex Coco que foi complementado pelo diretor, produtor, roteirista e editor Sean Baker. "Uma última coisa, quero agradecer à Academia por reconhecer um filme verdadeiramente independente. Este filme foi feito com sangue, suor e lágrimas de incríveis artistas indie e de um filme independente de longa data!", destacou.
Mikey Madison, protagonista do filme que desbancou Demi Moore e Fernanda Torres para conquistar seu Oscar aos 25 anos de idade, fez uma homenagem as profissionais do sexo em seu discurso.
"Quero reconhecer a comunidade de profissionais do sexo. Vou continuar apoiando e sendo uma aliada. Todas as pessoas incríveis, as mulheres que tive o privilégio de conhecer... estão entre os destaques de toda essa experiência incrível. Quero reconhecer o... trabalho de tirar o fôlego dos meus colegas indicados... Isso é um sonho que se tornou realidade. Provavelmente vou acordar amanhã. Obrigada, Sean. Isso tudo é por sua causa. Eu te adoro", disse.
Basel Adra e Yuval Abraham, diretores do documentário vencedor No Other Land também aproveitaram a oportunidade para pedir o fim da guerra entre Palestina e Israel. A produção expõe as desigualdades de longa data enfrentadas pelos palestinos na comunidade de Masafer Yatta, na Cisjordânia, mostrando o avanço do exército israelense na região onde Basel Adra vive.
"Há cerca de dois meses me tornei pai, e minha esperança para minha filha é que ela não tenha que viver a mesma vida que estou vivendo agora; sempre temendo a violência, demolições de casas e deslocamentos forçados que minha comunidade Masafer Yatta está vivendo e enfrentando todos os dias sob ocupação militar", disse Adra.
Fazendo um apelo por unidade, Abraham acrescentou: "Fizemos este filme, palestinos e israelenses, porque juntos nossas vozes são mais fortes. Nós nos vemos. A destruição atroz de Gaza e seu povo, que deve acabar, os reféns israelenses brutalmente capturados no crime de 7 de outubro, que devem ser libertados. Quando olho para Basel, vejo meu irmão, mas somos desiguais. Vivemos em um regime onde sou livre sob a lei civil, e isso ainda está sob leis militares que destroem sua vida e ele não pode controlar. Há um caminho diferente, uma solução política. Sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os nossos povos, e devo dizer, como estou aqui, a política externa neste país está ajudando a bloquear esse caminho", disse antes de ser aplaudido.
Por fim, também vale destacar que direto da Letônia, Flow (Mares Filmes) se tornou o primeiro filme independente a vencer na categoria de Melhor Animação. Para se ter uma ideia, o orçamento total de Flow foi de apenas € 3,5 milhões e os responsáveis pela produção utilizaram um software gratuito para criar todas as cenas, o que foi suficiente para derrotar gigantes como Disney e Universal.
Confira todos os vencedores:
Melhor Filme
- - Anora (Universal)
Melhor Direção
- - Sean Baker, por Anora (Universal)
Melhor Atriz
- - Mikey Madison, por Anora (Universal)
Melhor Ator
- - Adrien Brody, por O Brutalista (Universal)
Melhor Atriz Coadjuvante
- - Zoe Saldaña, por Emília Pérez (Paris Filmes)
Melhor Ator Coadjuvante
- - Kieran Culkin, por A Verdadeira Dor (Disney)
Melhor Roteiro Original
- - Anora (Universal)
Melhor Roteiro Adaptado
- - Conclave (Diamond Films)
Melhor Filme Internacional
- - Ainda Estou Aqui (Sony) - Brasil
Melhor Animação
- - Flow (Mares Filmes)
Melhor Montagem
- - Anora (Universal)
Melhor Fotografia
- - O Brutalista (Universal)
Melhor Trilha Sonora
- - O Brutalista (Universal)
Melhor Som
- - Duna: Parte Dois (Warner)
Melhor Canção Original
- - "El Mal", de Emília Perez (Paris Filmes)
Melhor Direção de Arte
- - Wicked: Parte Um (Universal)
Melhor Figurino
- - Wicked: Parte Um (Universal)
Melhor Maquiagem & Cabelo
- - A Substância (MUBI/Imagem Filmes)
Melhores Efeitos Visuais
- - Duna: Parte Dois (Warner)
Melhor Documentário
- - No Other Land (sem distribuição no Brasil)
Melhor Documentário de Curta-Metragem
- - The Only Girl in the Orchestra (Netflix)
Melhor Curta-Metragem em Live-Action
- - I'm Not a Robot (sem distribuição no Brasil)
Melhor Curta-Metragem em Animação
- - In the Shadow of Cypress (sem distribuição no Brasil)
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