Exibidor

Publicidade

Notícias /mercado / Entrevista

25 Fevereiro 2025 | Renata Vomero

Com "Ato Noturno", Marcio Reolon e Filipe Matzembacher se consolidam no cinema nacional e LGBTQIA+

Realizadores foram selecionados pela terceira vez no Festival de Berlim e concorreram ao Teddy Award, prêmio que já venceram em outra edição

Compartilhe:

Cena de "Ato Noturno", que integrou a seleção do Festival de Berlim (Foto: Divulgação)

A 75ª edição do Festival de Berlim marcou, mais uma vez, o bom momento do cinema nacional. Também selecionado este ano, na Mostra Panorama e concorrendo ao Teddy Award (reconhecimento dado pelo festival aos filmes de temática LGBTQIA+), Ato Noturno, dos diretores e roteiristas Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, foi ovacionado em sua exibição no festival e marca a terceira vez dos realizadores em Berlim, onde já venceram o Teddy Award, em 2018, por Tinta Bruta.

Publicidade fechar X

“Estamos muito felizes com nossa trajetória. Sempre realizamos os filmes que queríamos, sem concessões. E creio que os filmes transmitem muito bem isso. Além disso, nossos filmes têm criado conexões com público ao redor do mundo, sendo distribuído em diversos territórios, circulado em centenas de festivais e frequentemente encontramos pessoas que nos acompanham desde nosso primeiro longa-metragem. Essa sempre foi nossa meta: sermos honestos com os nossos desejos em nosso cinema, e, ainda assim, criar uma conexão com o público. E estamos muito felizes que nosso novo filme ‘Ato Noturno’ esteja sendo tão bem recebido. A estreia ocorreu dia 14, em Berlim, e a recepção foi linda. Estamos em êxtase até agora. Isso só nos dá mais energia e prazer em desenvolver os projetos que estamos trabalhando atualmente e pretendemos filmar em breve”, disseram os cineastas em entrevista ao Portal Exibidor.

Ato Noturno é um suspense erótico que acompanha Matias, um ator em início de carreira que busca sua primeira grande chance ao estrelato em Porto Alegre, participando de um respeitado grupo de teatro. Quando a notícia de que uma grande série será rodada na cidade chega à trupe, a já saliente rivalidade entre o protagonista e seu colega de apartamento, Fabio (Henrique Barreira), se acirra. Mas Matias tem um obstáculo ainda mais desafiador se quiser conseguir o papel do galã: para ter uma chance de realizar seu sonho, o jovem terá que esconder parte de quem é e ceder às convenções de gênero.

Talvez em outro contexto a ambição prevalecesse diante da individualidade. No entanto, ao se envolver com Rafael (Cirillo Luna), um político que vive um teatro à sua maneira, manter suas vontades em segredo se torna uma dinâmica tão opressora, quanto estimulante.

O reconhecimento em festivais - e, veja bem, estamos aqui falando da Berlinale, um dos mais importantes eventos de cinema do mundo - vem sendo fundamental para garantir aos filmes da dupla uma vitrine para o exterior, assegurando que seus longas cheguem em outros países e sejam assistidos. Mas também para o Brasil, entendendo a força comercial que os filmes ganham quando fazem essa carreira de prestígio nestes eventos.

Mais do que isso, centrados na temática LGBTQIA+, os longas dos realizadores conseguem chegar a um número maior de pessoas, tocar o público, levantar discussões e, sem dúvida, gerar interesse para que outros cineastas e profissionais criem também suas histórias e sejam responsáveis por crescer a representatividade em tela e fora dela.

“O que precisamos é um número maior de realizadores diversos, fazendo filmes diversos que respondam aos seus desejos, medos, sonhos e angústias. Essa diversidade atrás e na frente das câmeras traz filmes únicos e frescos, que conseguem ter um diálogo universal, já que todos temos os mesmos sentimentos, mas que também abordam conflitos mais específicos de determinadas comunidades. O que é muito importante”, ressaltaram.

Outro assunto de total importância é sobre o mercado brasileiro no momento. Embora o cinema nacional esteja passando por uma fase de ouro, com forte presença nos principais festivais, é evidente a inconstância do apoio ao cinema a depender dos governos ou dos momentos históricos e econômicos.

“O cinema brasileiro sempre viveu de ciclos. Uma cultura de produção e circulação começa a se organizar, mas uma nova onda de ataque à cultura e ao seu financiamento, aliada à falta de educação e ao monopólio predatório estadunidense no mercado nacional nos faz retroceder. Estamos neste momento ocupando importantes espaços nacionais, mas precisamos de políticas públicas duradouras que façam com que nosso país tenha um cinema estável e não por temporadas”, concluíram.

Produzido por Jessica Luz e Paola Wink, o filme já tem distribuição garantida no Brasil pela Vitrine Filmes, mas não tem data de lançamento confirmada. 

Compartilhe:

  • 2 medalha