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19 Fevereiro 2025 | Yuri Codogno

Wagner de Assis comemora o sucesso de seus filmes nos cinemas: "Existe espaço para contar todas as histórias se elas forem boas"

Cineasta conversou com o Portal Exibidor e deu detalhes de futuros longas da produtora Cinética

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(Foto: Divulgação)

Cineasta responsável por clássicos nacionais das últimas duas décadas, Wagner de Assis - junto à sua produtora, Cinética -, teve um importante ano de 2024, com fortes filmes em desenvolvimento e também o lançamento de Nosso Lar 2 - Os Mensageiros. Mas esse é apenas o início de um brilhante futuro que começa em 2025, quando estrearão mais filmes e darão sequência a outros projetos.

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O Portal Exibidor conversou com Wagner de Assis, que fez um balanço do cinema nacional e contou o que podemos esperar da Cinética daqui para frente. A entrevista pode ser lida na íntegra ao final da matéria.

O ano passado foi, antes de tudo, o restabelecimento do cinema nacional após o conturbado período da pandemia e de suas consequências. A Cinética, aliás, foi a responsável pela primeira grande estreia brasileira de 2024, com Nosso Lar 2: Os Mensageiros (Disney) entrando em cartaz e levando mais de 1,6 milhão de espectadores aos cinemas, sendo também o primeiro filme brasileiro que abriu na liderança desde o começo de 2020. 

Conseguimos finalmente lançar a continuação do ‘Nosso Lar’, que ficou tantos e tantos anos para sair. E o filme performou muito bem, teve uma abertura espetacular, uma quinta-feira espetacular, mobilizou bastante (...) e acabou ficando em quarto lugar no ranking final, a segunda melhor abertura [do ano], porque ‘O Auto 2’ acabou fazendo uma abertura espetacular também”, comemorou Wagner de Assis.

A chegada de Nosso Lar 2 também trouxe à tona a questão do público poder se ver representado nas telonas. Isso porque os dramas lançados por Wagner de Assis carregam o espiritismo (e às vezes apenas a questão espiritual) em sua narrativa, de forma que os espectadores possam se identificar com conflitos e situações vistas nas telonas.

“Que bom que estamos ali dizendo ‘olha, esse tema interessa, faz parte do cotidiano das pessoas, esse tema é potente, ele é relevante porque ele não é só do mundo espírita, ele é para todas as pessoas’. A ideia de falar sobre espiritualidade em geral é uma coisa que interessa a todo mundo. Gosto da palavra ‘espiritual’ porque ela engloba isso tudo. E entendo que existe espaço para contar todas as histórias se elas forem boas. O meu lema é ‘uma boa história bem contada’, é isso que temos que procurar e isso é o que estamos olhando por esse ambiente de literatura ou mesmo por um ambiente de uma maneira um tanto quanto original, esse ambiente que falamos de espiritualidade”, explicou o cineasta. 

Dentro dessa ideia e dessas narrativas, a Cinética também está planejando um 2025 bastante contundente, visto que são dois lançamentos programados para esse ano. Para o segundo semestre, estreia As Irmãs Fox (Disney), uma história estadunidense que reverbera no Brasil sobre as pioneiras do espiritualismo moderno, as irmãs Kate, Maggie e Leah Fox, que em 1848 começaram a se ver diante dos fenômenos espirituais, e o longa acompanha a trajetória e a queda delas, pois acabaram sofrendo consequências do pioneirismo. 

“Assim fecho uma trilogia: falar do Kardec, do Chico como documentário e agora das Irmãs Fox, contando essa história que é muito importante do ponto de vista de como as novas realidades se apresentam e como é que se lida com elas. O filme é falado em inglês, filmamos uma parte no Brasil, uma parte nos Estados Unidos e são atrizes americanas. Ele é basicamente americano ou de origem americana, que fala inglês fluentemente”, revelou Wagner de Assis. 

Também para esse ano tem a estreia de Advogado de Deus (Sony), uma continuação do trabalho da escritora Zíbia Gasparetto, que inspirou Ninguém é de Ninguém (2023), servindo também como sequência para o filme lançado há dois anos. O longa traz um outro olhar totalmente diferente sobre espiritualidade e envolve a justiça dos homens e a justiça de Deus, mostrando como o passado afeta o presente e como tem que transformar o seu presente por causa disso.

Wagner contou um pouco sobre a trama: “É uma história que tem assassinato, que tem crimes no passado e envolve um advogado que tem que defender todo um karma familiar de um grupo de pessoas. Esse advogado é o Nicolas Prattes, que faz o personagem principal, e tem a Beth Goulart também no elenco, fazendo uma das outras protagonistas que é a Maria Júlia”.

Ambos os lançamentos ainda não possuem data de estreia definida. 

Para além das estreias, a Cinética também está desenvolvendo outros dois filmes: Emmanuel (Imagem Filmes), uma espécie de “primeira cinebiografia de um espírito”, contando a história do mentor espiritual do Chico Xavier, sendo um longa que se passa em séculos diferentes, incluindo na Roma Antiga; e Nosso Lar 3: Vida Eterna (Disney), também inspirado nas obras de André Luiz. 

Aliás, Wagner de Assis assina roteiro, direção e produção de todos esses quatro longas. “Não tenho uma apresentação como produtor, mas o realizador produz de qualquer forma. Temos séries em desenvolvimento, que aí tem aqueles N.D.A. que não podemos comentar. E outros projetos de longa também em negociação com outros parceiros em bastante avançadas negociações”, revelou.

Em relação a produtora, a Cinética possui 27 anos de história. Entre os altos e baixos, Wagner considera que a média da empresa é muito boa, conseguindo lançar filmes, documentários e passar pela pandemia, citada como o choque mais complicado dessas quase três décadas, mas que tudo isso só foi possível pela dose de amor pelo cinema e pelo desejo de continuar contando boas histórias. 

“Tem muitas histórias para serem contadas. Na minha curadoria, no meu jeito de olhar, sinto que nem começamos ainda a falar, a contar histórias que falem sobre tantas e tantas coisas envolvidas, que sejam esperançosas e ao mesmo tempo reflexivas. Precisamos falar da sociedade como um todo do ponto de vista espiritual”, exemplificou. 

Outro assunto abordado, por fim, foi a necessidade de que haja mais esforço político (executivo e legislativo) para criar um olhar estratégico de Estado para o audiovisual, de modo que continue sempre, independente do governo que estiver vigente. Entre os exemplos citados, estão a expansão do parque exibidor, a regulação do streaming e a validação da lei do audiovisual.

“O Brasil tem tudo para ser um grande influenciador mundial através do seu cinema. Fico tentando sempre repetir porque é importante que as pessoas fora da nossa bolha, do nosso mercado, vejam e ouçam. E é importante que as autoridades que governam, que legislam, ouçam isso também”, finalizou. 

 

CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA

Antes de falar sobre o futuro, queria saber qual o balanço que você faz do ano passado em relação aos filmes da Cinética?

Bom demais. Conseguimos finalmente lançar a continuação do “Nosso Lar”, que ficou tantos e tantos anos para sair. E o filme performou muito bem, teve uma abertura espetacular, uma quinta-feira espetacular, mobilizou bastante. Foi muito bom poder lançar um filme e logo em seguida poder produzir um outro filme. Tínhamos acabado de produzir um longa do final de 2023 para 2024, que foi “As Irmãs Fox”, e em abril, maio e junho filmamos “Advogado de Deus”, a sequência da Zíbia Gasparetto.

No segundo semestre ficamos mais tateando para onde ir, levantando os projetos novos, que virão esse ano. Mas lançar um a dois filmes e produzir um a dois filmes por ano para uma produtora que já está há tantos anos no mercado é um caminho bacana.

 

E isso em um ano de restabelecimento do cinema nacional…

Além disso, né? Ainda estávamos retomando, acho que agora finalmente deslanchou. Lançamos um filme do 2023, que poderia ter ido mais além do que foi nos cinemas, o “Ninguém de Ninguém”, da Zíbia, que era um filme forte, relevante, tanto que a performance dele nos streamings foi muito superior do que se imaginava. 

Enfim, era fazer as pessoas voltarem a entender que é bacana ver histórias no cinema, que o cinema é um grande lugar para se divertir, para refletir. E aí, pensando no futuro, temos bons ventos soprando.

 

E o “Nosso Lar 2” vendeu quase 1,5 milhão de ingressos.

É, foram 1,6 milhões de ingressos. Nós atravessamos o carnaval, então foi um carnaval que não teve muita muita força nos cinemas, porque era o carnaval em que as pessoas estavam voltando a brincar de carnaval. 

Depois estreou no streaming também e ficou na liderança durante semanas.

 

Foi o primeiro filme brasileiro desde o início da pandemia que liderou no final de semana de estreia.

Na verdade, fizemos uma abertura, se não me engano, era a melhor abertura desde o Paulo Gustavo. Uma abertura espetacular e acabou ficando em quarto lugar no ranking final, a segunda melhor abertura, porque “O Auto 2” acabou fazendo uma abertura espetacular também. E está bom, porque o nosso gênero, que chamo de drama, não chamo de filme espírita porque não gosto da ideia do espiritismo ser gênero de cinema. Mas o espiritual, a ideia do sobrenatural, do espiritual como auxílio ao gênero, então estamos fazendo filmes que não são comédias - consideradas como o grande gênero brasileiro - ou filmes pontuais com o viés político, como “Ainda Estou Aqui”, que aí é um grande fenômeno.

Então que bom que estamos ali dizendo “olha, esse tema interessa, faz parte do cotidiano das pessoas, esse tema é potente, ele é relevante porque ele não é só do mundo espírita, ele é para todas as pessoas”. A ideia de falar sobre espiritualidade em geral é uma coisa que interessa a todo mundo. Então o filme estar colocado nesse lugar, como quando lançamos o “Nosso Lar”, em 2010, e “Nosso Lar” e “Tropa de Elite” lideravam o circuito brasileiro, não só em exibição como em renda e público. Então você vê: são filmes completamente diferentes e que demonstram que existe muita gente querendo ir assistir a esse cinema. Muita potência para se preencher a sala de cinema.

 

Sim, concordo em gênero e grau quando você fala que não é gênero, mas a temática religiosa, e não apenas no espiritismo, como os filmes evangélicos, estão subindo muito, tem uma uma crescente também dos filmes católicos. Como é que você enxerga esse movimento dos filmes com a temática religiosa? E a importância deles para o cinema nacional?

Isso reflete um pouco o que é o Brasil, uma maravilhosa miscigenação de culturas, religiões e doutrinas e muitos aspectos espirituais, e gosto da palavra “espiritual” porque ela engloba isso tudo. E entendo que existe espaço para contar todas as histórias se elas forem boas.

Para mim, o meu lema é “uma boa história bem contada”, é isso que temos que procurar e isso é o que estamos olhando por esse ambiente de literatura ou mesmo por um ambiente de uma maneira um tanto quanto original, esse ambiente que falamos de espiritualidade. Isso que que pode e deve-se falar.

O “Ninguém é de Ninguém” é uma experiência maravilhosa, porque o livro da Zíbia era um drama conjugal, né? Um quarteto amoroso, um quase quarteto amoroso, na verdade, é uma tragédia conjugal olhada do ponto de vista da espiritualidade. Então, você olha obsessão, você olha ciúmes, você olha a morte de um ente, de um de um cônjuge que continua vivo no mundo espiritual, e como é que isso impacta. Então esse olhar para as coisas do mundo espiritual envolvidos com a nossa vida, acho que podemos e devemos e é onde quero continuar contando histórias. 

 

Sem contar as pessoas poderem se identificar na tela.

E aí claramente você vai achar ali o que que você gosta, o que curte, ou vai dar chance a conhecer outras coisas. É um tema relevante para o mundo hoje, acho que o espiritual é um tema relevante. Nós estamos muito assodados, né? O mundo tá muito pressionado. Muito dividido, muitas vezes. O espiritual diz que não existe divisão. Nós somos os mesmos, cada um com sua característica, mas não existe divisão. Então, tenho aí um olhar que não deixa de ser importante e pedagógico, por vezes, ou educativo, mas acima de tudo tem um olhar que é universal.

Enfim, se nos identificarmos com boas histórias, por mais que você esteja falando de gente que fracassou muito na vida, como o caso do “Nosso Lar 2”, que são três projetos de vida fracassados, como é que você resgata? Como é que você ajuda? Como é que você ampara? Isso faz parte do ambiente espiritual, o acolhimento, novas chances, outras oportunidades, outras formas de ver, e entender que não existe o fracasso para sempre. Claramente você pode recomeçar. Isso para mim reverbera, pelo menos em mim reverbera, reverbera em milhares de pessoas, quem sabe milhões. Então, isso pode estar muito nas telas do cinema, sim. 

 

Uma frase que gosto, não lembro onde vi, é ‘não são nossas nossas falhas, nosso passado que nos define, que não define o nosso presente’. 

Absolutamente, a ideia do árbitro é justamente essa. E isso também é um olhar espiritual. O André Luiz, em seu livro, diz: "Nós somos o resultado de quem nós fomos. E nós vamos ser o resultado de que nós somos”. E o Chico Xavier tem aquela frase, “você não pode reescrever o passado, mas você pode recomeçar a escrever o seu presente”. Agora não me lembro direito, mas é uma frase clássica do Chico. Você não pode voltar atrás e fazer um novo passado, mas você pode recomeçar agora.

 

E agora falando sobre o futuro da Cinética, quais são os filmes que estão desenvolvendo e estão planejando para lançar esse ano?

Vamos lançar, se tudo der certo, no segundo semestre, mas “As Irmãs Fox”, que é um drama de uma história americana que reverbera no Brasil e no resto do mundo, porque é uma história sobre as pioneiras do espiritualismo moderno. São três irmãs americanas que em meados de do século XIX, em 1848 e em diante, são basicamente a mesma época do Kardec, começam a se ver diante dos fenômenos das mesas girantes, das batidas, ou seja, fenômenos espirituais.

E elas não sabem como lidar com isso e vão aprendendo de uma forma empírica e o filme é a ascensão e queda dessas irmãs, porque elas acabaram sofrendo consequências do pioneirismo, do desconhecimento, de como lidar com aquilo tudo, de como lidar com mediunidade em suas vidas. Elas tiveram questões entre elas. 

Mas, de qualquer forma, o filme também é uma reparação histórica, porque muitas pessoas acham que elas eram fraude, que elas eram mentirosas, que elas foram produtos fake e claramente, pela história delas e depois pelas provas que vieram depois, elas estavam vivenciando realmente aqueles fatos, aqueles fenômenos espirituais e acabando por divulgar isso nos Estados Unidos de uma maneira tão potente que as reuniões de mesas girantes atravessaram o Atlântico, chegaram na Europa e chamaram a atenção de um tal professor Rivail, que veio a ser o Kardec.

Então assim fecho uma trilogia: falar do Kardec, do Chico como documentário, e agora das Irmãs Fox, contando essa história que é muito importante do ponto de vista de como as novas realidades se apresentam e como é que se lida com elas. Esse é um dos filmes que nós filmamos nos Estados Unidos, o filme é falado em inglês. Filmou uma parte no Brasil, uma parte nos Estados Unidos e são atrizes americanas. Ele é basicamente americano ou de origem americana, que fala inglês fluentemente. 

E essa ano também estamos terminando, estamos preparando uma continuação do trabalho da Zíbia Gaspareto, que é o “Advogado de Deus”, que vamos lançar também junto à Sony. “As Irmãs Fox” será junto da Imagem Filmes, é uma coprodução com a Imagem com a Universal. E a Sony lançou o “Advogado de Deus”, dando continuidade a uma parceria que começou muito bem sucedida no “Ninguém é de Ninguém” e agora estamos lançando o “Advogado de Deus”, que é um outro olhar totalmente diferente sobre espiritualidade, envolve a questão da justiça dos homens, a justiça de Deus. Envolve a questão de como o passado afeta o presente e como você tem que transformar o seu presente por causa disso.

Então é uma história que tem assassinato, que tem crimes no passado e envolve um advogado que tem que defender todo um karma familiar de um grupo de pessoas. Tem que aprender a defender. Esse o advogado é o Nicolas Prattes, que faz o personagem principal e tem a Beth Goulart também no elenco fazendo uma das outras protagonistas que é a Maria Júlia. Esses dois projetos lançaremos esse ano, tudo dando certo. 

E esse ano iremos filmar uma história para mim muito acalentado, de um carinho enorme, que vamos fazer uma espécie de primeira cinebiografia de um espírito, vamos contar a história do Emmanuel, o mentor espiritual do Chico Xavier. E ele descreveu através de alguns livros os fatos de suas vidas anteriores, suas vidas passadas. Então, vamos conhecer de fato quem é esse cara que coordenou o trabalho do Chico espiritualmente. 

Só que essa história começa na Roma antiga. Então “Emmanuel” é um épico que vai atravessando épocas e vidas do Emmanuel até chegar nos dias atuais e ver como é que ele e o Chico se encontraram. É uma história de amor também, porque ele tinha uma mulher que é uma alma gêmea de quem ele é separado. Então é um grande desafio logístico, é um grande desafio de produção. 

Estamos vivendo uma época de uma efervescência de inteligência artificial, de uma efervescência de capacidade de efeitos visuais, então vamos se valer disso. Vamos fazer uso dos painéis de LED, fazer o uso dos programas que possibilitam viajar no tempo com credibilidade, agora cada vez mais, é algo que já vem preparando há alguns anos e esse filme é de antes da pandemia e agora é a hora de poder contá-lo de uma maneira boa, dizendo exatamente se você conhece o seu passado, você pode construir melhor o seu presente, você pode entender melhor quem você é. 

E o outro filme que vamos produzir é o “Nosso Lar 3”. Nos resolvemos com a Disney, dessa vez não seguiremos a ordem dos livros do André Luiz. O André Luiz tem livros que viemos seguindo. O “Nosso Lar” é o primeiro livro, “Os Mensageiros” é o segundo livro, o terceiro livro chama “Missionários da Luz” e o quarto livro chama “Obreiros da Vida Eterna”. Dessa vez optamos por pular para o quarto livro, onde vamos basear a partir de uma das histórias do livro, e o filme vai se chamar “Nosso Lar 3: Vida Eterna”, que é uma história de amor também. Amor, resgate, renúncia e esse mundo dessa dimensão paralela que nos rodeia. 

Novamente é um grande desafio, mas vamos lá e vai contar porque é uma boa história e ela merece ser contada. O livro é um best-seller da obra do Chico. Acho que ela merece ser contada. 

 

E você assina a direção de todos?

Direção, roteiro e produção de todos eles. Direção, roteiro e produção, porque é uma coisa que acabo nunca falando, mas somos produtores, né? A Cinética Filmes está aí há 27 anos produzindo. É que não tenho uma apresentação como produtor, mas o realizador produz de qualquer forma. Sou dono da empresa e aí estamos aí tentando fazer viabilizar.

Temos séries em desenvolvimento, que aí tem aqueles N.D.A. que não podemos comentar. E outros projetos de longa também em negociação com outros parceiros em bastante avançadas negociações.

Então vejo que estamos em um vento muito bom, já vem um vento de produção muito bom, esse vento só tende a melhorar com o sucesso do “Ainda Estou Aqui”, com o reconhecimento mais uma vez internacional de uma obra brasileira, esse reconhecimento já existe há muitos anos, mas ele é pontual. Então o grande desafio para nós como indústria agora é pensar como fazer com que outros filmes sigam o mesmo caminho, com que outros filmes continuem performando dentro do Brasil e mostrando para o restante do mundo quem nós somos, quais as histórias que nós contamos. 

E aí precisa realmente um pouco mais de esforço político dos ajustes que precisam ser feitos. Acho que um olhar estratégico para o cinema, para o audiovisual, esse olhar estratégico precisa vir dos cabeças do governo para entenderem a força dessa indústria, não só como geradora de emprego, de imposto, mas de produtos culturais, de valores culturais, ou seja, é uma indústria poderosa, e não por acaso ela é poderosa no mundo inteiro. Então está na hora, mais do que nunca, do cinema ser tratado como um assunto de Estado e não de governo, porque se mudar o governo o audiovisual continua sendo tratado como um importante assunto de Estado, estratégico, com liberdade, com responsabilidade. Isso tudo já mostramos qualidade. 

Então, talvez um prêmio grande de quilate do Oscar venha sedimentar que está na hora de nós não vivermos mais de ciclos no cinema brasileiro, mas viver uma reta, uma uma linha ascendente de produção, de valoração, de exposição, ou seja, os nossos filmes serem vendidos para o exterior, como deveriam. 

O primeiro “Nosso Lar” já passou em mais de 40 países. O Kardec está em mais de 180 países na Netflix internacional e recebo respostas e feedback dessas pessoas quase sempre, todo mês, a cada duas semanas alguém de algum lugar do mundo tá escrevendo para falar sobre isso. Então nós temos produtos que podem e devem ser bem-sucedidos no mercado interno, que deve crescer mais ainda, tem espaço para crescer. 

A nossa média per capita de salas de cinema é baixíssima ainda, uma das menores do mundo, se não me engano, e poderíamos ter muito mais salas de cinema, poderia ter mais regulação de streaming para ter mais recurso e fazer as pessoas entenderem, de uma vez por todas, como importante é o estado proteger, gerenciar e fomentar uma indústria como essa, porque ela retorna muito para o estado. É algo que é um dos desafios que temos pela frente, como parte da indústria.

 

Política de Estado fica, política de governo sai…

É isso. Não podemos ficar à mercê de mudanças de governo. Claro que nós agora vivemos num governo que gosta do cinema, né? Que tem demonstrado que gosta do cinema e precisa continuar demonstrando isso. Temos no congresso - quando a gente fala de governo, estamos falando de legislativo e executivo - uma lei importantíssima, que é a regulação dos streamings, por exemplo. Tem a renovação da lei do audiovisual que precisa ser validada, ou seja, isso tudo faz parte de um entendimento maior como nação. Como o Brasil é criador de conteúdo para o mundo.

O Brasil tem tudo para ser um grande influenciador mundial através do seu cinema. Fico tentando sempre repetir porque é importante que as pessoas fora da nossa bolha, do nosso mercado, vejam e ouçam. E é importante que as autoridades que governam, que legislam, ouçam isso também. 

Cinema não é algo barato é na proporção de que o pouco recurso às vezes você consegue entregar qualidade, mas em média você não consegue entregar qualidade com pouco recurso, porque você precisa de gente capacitada, tempo, etc. 

 

E uma outra pergunta para finalizar, agora sobre os 27 anos da Cinética. Queria que você fizesse um balanço dessas quase três décadas e do que podemos esperar da Cinética no futuro.

É bacana isso, porque olhamos para trás e falamos assim: "Nossa, como cheguei até aqui?”. E chegamos literalmente acreditando nos momentos em que estávamos vivendo ciclos muito ruins, acreditando que ia melhorar, brigando, indo para os lugares, dizendo a necessidade de fazer, acreditando nas histórias que contamos. Tem essa resiliência típica do brasileiro de tentar sobreviver e subverter os momentos ruins com alguma energia a mais.

Hoje temos uma indústria audiovisual - e aí a televisão contada junto - extremamente potente. Nesses anos todos tive a oportunidade de escrever novelas na Globo também. Ajudei Elizabeth Jhin em duas novelas, “Além do Tempo” e “Espelho da Vida”. Já tinha trabalhado na Globo nos anos 90. Então tem a TV Globo como uma potência produtora de audiovisual. E agora tem outros lugares também crescendo como potências de realização audiovisual. 

Vejo que entre os altos e baixos, a média foi muito boa. Nós conseguimos lançar filmes, nós conseguimos lançar documentários, conseguimos passar pela pandemia, por exemplo, que foi o choque mais complicado, mas passar crises econômicas, recessões. Tem essa dose de amor mesmo pelo cinema, de amor pelo que você faz que nos permite seguir adiante.

E agora, mais do que nunca, é continuar contando as boas histórias. Tem muitas histórias para serem contadas, muitas histórias. Na minha curadoria, no meu jeito de olhar, sinto que nem começamos ainda a falar, a contar histórias que falem sobre tantas e tantas coisas envolvidas, que sejam esperançosas e ao mesmo tempo reflexivas. 

Precisamos falar da sociedade como um todo do ponto de vista espiritual. Temos hoje epidemia de depressão, epidemias de inúmeras outras coisas que podem ser olhadas do ponto de vista espiritual também. Temos descobertas científicas, estruturas de pesquisas de física quântica que podem ser olhadas do ponto de vista espiritual.

Temos avistamento de ovnis, né? Ou seja, a ideia da possibilidade de que exista vida em outros planetas. Isso também pode ser olhado do ponto de vista espiritual, principalmente. Existem inúmeras informações na literatura espiritual de vidas em outros planetas. Então é ampliar os nossos óculos, colocar esses óculos espirituais e emocionais e às vezes você contar uma história de amor é também espiritual, se você não quiser transgredir as dimensões, e continuar produzindo, é isso que queremos fazer, continuar contando boas histórias, no final das contas. 

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