30 Janeiro 2025 | Yuri Codogno
Mais espaço para curtas-metragens pode ser o diferencial no surgimento de novos cineastas e formas de narrativas
Portal Exibidor conversou com Anderson Jesus, diretor de "Mergulho", sobre o papel de curtas-metragens e do cinema preto na indústria
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O desenvolvimento de curtas-metragens muitas vezes não recebe a devida atenção do mercado, mesmo que, em boa parte das vezes, sejam considerados a porta de entrada de cineastas para a indústria audiovisual. Além disso, é um formato que permite mais o experimento e novas formas de narrativas, algo de supra importância para que o cinema esteja sempre se atualizando.
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Para falar sobre o assunto, o Portal Exibidor conversou com Anderson Jesus, um dos diretores do curta-metragem Mergulho, que desde 2022 vem percorrendo inúmeros festivais com diversas premiações. Também aproveitamos o espaço para falar sobre o cinema preto no Brasil. A entrevista pode ser lida na íntegra ao final da matéria.
“O filme de curta-metragem é muito importante para que as pessoas possam fazer um caminho de entrada no audiovisual. Existem outros caminhos, só que quando se trata de cinema, o curta-metragem [...] permite que a gente experimente. Você não tem compromisso com bilheteria, mas tem compromisso com a essência do cinema, com a experimentação, com a responsabilidade de contar uma história com começo, meio e fim num tempo curto, e isso trabalha muito a nossa criatividade”, disse Anderson Jesus.
Como prospecção de cineastas, a partir de curtas-metragens os profissionais podem começar a ser reconhecidos, especialmente concorrendo a prêmios. E a experiência adquirida, por ser uma produção mais enxuta, pode ser válida para diferentes frentes, como roteiro, direção, produção, entre outros cargos.
Sobre Mergulho, o filme foi apresentado em importantes festivais, como Madrid Indie Film Festival, Black Star International Film Festival - Gana, New York Indie Shorts Awards - EUA 2023, DJARFOGO International Film Festival - Cabo Verde. E venceu prêmios de Melhor Direção no Pupila Film Festival; Melhor Filme em Júri Popular no FestAruanda, Mostra Livre de Cinema e Festival Satyricine Bijou; além de prêmios de melhor atuação para a Atriz Lena Roque e os atores Willian Costa e Nill Marconde.
“Mostramos toda a nossa capacidade de produção, toda a nossa qualidade de fazer - inclusive com pouco recurso - porque esse filme foi feito com recursos próprios. Na medida do possível nas premiações, estávamos sempre trazendo as pessoas que trabalharam na produção para acompanhar, para se sentir parte disso, temos um grupo fechado hoje só das pessoas que trabalharam nesse projeto, então assim foi um divisor de águas na vida de muita gente, principalmente na minha”, explicou o cineasta.
A ideia de desenvolver Mergulho, por sua vez, surgiu a partir de Marton Olympio, que codirige o filme com Anderson Jesus. A trama foi pensada para apresentar ao mundo um recorte das famílias negras brasileiras, além de refletir como é o cinema preto no Brasil.
“Quando Marton apresentou essa história para mim, notei que tinha muito a ver comigo, tinha muito a ver com a minha história, essa relação conflituosa com o pai, então imediatamente me identifiquei com o contexto, com o roteiro. É uma história linda, uma história de família, uma história de amor, apesar dos conflitos. É um filme que retrata conflitos que acontecem em muitas famílias, mas que em famílias pretas ela tem uma outra carga. Foi um convite maravilhoso que recebi. E ficamos muito felizes com o resultado que ele deu, rodando vários países”, explicou Jesus.
Mas, apesar do sucesso do filme, não há planos de transformá-lo em um longa-metragem, visto que os próprios cineastas entendem ser uma produção que se encerra na própria ideia, sem abrir espaço para uma expansão ou continuidade da trama.
Entretanto, não é possível falar de Mergulho sem citar o cinema preto no Brasil, visto que a desigualdade na oportunidade de pessoas brancas e pessoas negras dentro do audiovisual nacional continua sendo extrema. E o curta-metragem funciona, de certa forma, como uma metalinguagem para o assunto, que nos últimos anos felizmente vem ganhando mais espaço - apesar de, ressaltando novamente, estar muito além do ideal.
“É muito importante perceber, não só no audiovisual, mas em todas as áreas, o número de pessoas pretas que estão em posição de destaque ou em posição de decisão. Há um estudo recente da própria Ancine que diz que apenas 3% de todo o mercado audiovisual é formado por pessoas pretas em posição de criativos. O que acho é que alguns movimentos que estão sendo feitos de inclusão a partir de cotas e tal em editais é um caminho importante para que a gente consiga alguma igualdade”, lembrou Jesus.
O cineasta lembrou também que uma total igualdade dificilmente será alcançada, pois são décadas de protagonismo branco nas produções audiovisuais. Mesmo assim, há ações para melhorar a participação de minorias sociais em cargos de maior relevância. Algumas dessas são através de editais e iniciativas que, de fato, possam contemplar toda a cadeia de produção audiovisual, fomentando ainda mais o audiovisual e ocasionando em pessoas pretas que possam almejar e trabalhar na produção de conteúdos que sejam populares e que possam gerar também bilheteria.
Anderson Jesus também ressaltou como o cinema e outras formas de mídias podem influenciar a opinião pública: “O audiovisual brasileiro, em partes, funciona como formador de opinião, como veículo de cultura, de educação, de informação. Ele foi, durante muito tempo, responsável por parte da sociedade enxergar pessoas pretas de outra maneira, com a desculpa de que estavam ali de alguma maneira retratando a realidade, reforçando estereótipos a partir de produções do passado, que colocavam pessoas pretas em situações controversas, em condição de subalterno, em condição de vulnerabilidade ou em condição de opressão. Tudo isso víamos nas produções no Brasil”
Assim, é importante ter pessoas pretas na parte de criação, roteirização, produção de conteúdos audiovisuais, porque dessa forma deve educar a população a partir de um olhar imparcial. Mais do que isso, seria delegar da maneira correta e direcionar tudo da maneira como deveria ser feito, transformando a sociedade a partir de um olhar não-viciado, sem enviesamento e a partir de um ponto de vista mais racional.
“Não digo transformar o audiovisual, mas desconstruir o tipo de audiovisual ou o tipo de cultura que nós disseminamos para a sociedade a partir do audiovisual. Então é muito importante que a gente esteja em condições e em posição de tomar essas decisões e de contar nossa própria história”, finalizou Anderson Jesus.
CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:
- Como surgiu a ideia de desenvolver “Mergulho”?
A ideia do “Mergulho” surgiu a partir do Marton. Ele é o criador da história e ele fez a história baseada na história de vida dele. Quando ele apresentou essa história para mim, notei que essa história tinha muito a ver comigo, tinha muito a ver com a minha história, essa relação conflituosa com o pai, né? Conflitos familiares, brigas, violência. Então, na minha casa também tinha isso, eu também tinha esse problema, então imediatamente me identifiquei com o contexto, com o roteiro. E aí, quando ele me convidou para fazer, eu não pensei duas vezes. Porque eu adorei o texto e achei que tinha tudo a ver comigo. É uma história linda, uma história de família, uma história de amor, apesar dos conflitos. É um filme que retrata conflitos que acontecem em muitas famílias, mas que em famílias pretas ela tem uma outra carga, né? Ela tem um outro significado. Então, pra mim foi muito importante fazer esse filme porque é também a história da minha vida, reflete um pouco também das emoções e sentimentos que permeavam. Foi um convite maravilhoso que eu recebi tanto para produzir como para co-dirigir junto ao Marton. E ficamos muito feliz com o resultado que ele deu, rodando vários países. Inclusive, a indicação que tivemos o ano passado para melhor filme de curta metragem brasileiro do Festival de Cinema do Rio… a gente não levou, mas só de estar entre os indicados já foi uma vitória muito grande, foi uma conquista muito grande e ficamos muito felizes em ter esse reconhecimento.
- Apesar do Brasil ser um país diverso e multiétnico, a desigualdade ainda é extremamente visível em basicamente todos os setores da sociedade. E no audiovisual infelizmente ainda há um abismo muito grande entre as oportunidades que cineastas brancos e pretos recebem. Como você enxerga que o setor (seja por via pública ou privada) deve agir para que essa diferença comece a, de fato, diminuir?
É muito importante perceber, não só no audiovisual, mas em todas as áreas, o número de pessoas pretas que estão em posição de destaque ou em posição de decisão. Há um estudo recente da própria Ancine e de outros órgãos também que dizem que apenas 3% de todo o mercado audiovisual é formado por pessoas pretas em posição de criativos (roteiristas, diretores, produtores executivos, produtores, etc). O que acho é que alguns movimentos que estão sendo feitos de inclusão a partir de cotas e tal em editais é um caminho importante para que a gente consiga alguma igualdade. Uma total igualdade não vamos conseguir porque estamos falando de décadas de protagonismo branco nas produções audiovisuais.
Mas minimamente essa é uma das formas que pode encontrar para fazer inclusão de verdade de pessoas pretas em posição de destaque, principalmente em posição de decisão na produção de filmes no Brasil. O que vê normalmente, ou seja, em publicidade, em outras linhas de produção de audiovisual, é que existe uma tentativa de se fazer esse protagonismo, de se fazer essa inclusão de diversidade, só que isso parte de empresas que já são empresas consolidadas, são produtoras consolidadas, produtoras muito grandes que estão aí há muito tempo fazendo esse trabalho, mas que esse protagonismo não é total. É um protagonismo que não é real, entendeu? Mas é importante, é necessário que aconteça, mas ele não é real. Porque quando você vê pessoas pretas em posição de destaque, como protagonistas, aparecendo na frente da tela, só que o dinheiro dessas produções, elas continuam indo para as mesmas produtoras de sempre, né?
O que a gente precisa é que esses editais, ou que iniciativas, de fato, de inclusão, possam contemplar toda a cadeia de produção audiovisual, desde o dono da produtora, até os criativos, até as pessoas que trabalham em outras frentes da produção. Então estamos falando de dinheiro. A gente fala de dinheiro que venha para essa comunidade e que, de alguma forma, possa resultar a continuidade das empresas, a continuidade dos trabalhos, que possa continuar também com a inclusão de diversidade, porque você tendo pessoas pretas na linha de frente da produção, automaticamente você coloca essa produção em posição de poder também olhar para outras pessoas em outras funções, nessa cadeia de produção.
Então, esse olhar mais apurado para incluir pessoas, para trazer pessoas, pessoas que estão começando, pessoas novas, só vai partir realmente de uma maneira sincera, objetiva, de uma maneira que possa realmente transformar a partir do momento que pessoas pretas também estiverem nesses espaços e fazendo essa revolução audiovisual, porque no momento essa revolução é falsa, ela não é uma revolução real, porque quando a gente fala de dinheiro grosso, a gente está falando de valores referentes a produções e que podem fazer toda a diferença na produção e também na vida dessas pessoas.
Estamos falando de distribuição de uma renda maior para uma comunidade maior a partir dessas produções. Então, isso vai fomentar ainda mais esse audiovisual e principalmente vai fazer com que pessoas como nós também possamos almejar, trabalhar na produção de conteúdos que sejam populares e que possam gerar também bilheteria. Voltamos a falar de ganho, voltamos a falar de renda, voltamos a falar de propriedade intelectual, falamos de propriedade de direitos, direitos autorais, propriedade intelectual, então a gente precisa disso, desse tipo de inclusão para que realmente a gente possa fortalecer uma cadeia de diversidade ainda maior e que possa ser realmente uma inclusão efetiva e eficaz.
- Você acredita que o cinema (ou outras mídias audiovisuais) podem ajudar a transformar a nossa sociedade em um lugar melhor? Por quê?
O audiovisual brasileiro, em partes, funciona como formador de opinião, como veículo de cultura, de educação, de informação, e, por que não dizer, de formação também dessas pessoas. Ele foi, durante muito tempo, responsável por parte da sociedade enxergar pessoas pretas de outra maneira, com a desculpa de que estavam ali de alguma maneira retratando a realidade. Na verdade, a gente estava reforçando estereótipos a partir de produções do passado, que colocavam pessoas pretas em situações controversas, em condição de subalterno, em condição de vulnerabilidade ou em condição de opressão também. Tudo isso a gente via nas produções no Brasil.
Então é importante que nós tenhamos também pessoas pretas na parte de criação, roteirização, produção de conteúdos audiovisuais, porque dessa forma a gente vai educar a população, a gente vai educar as pessoas a partir de um olhar realmente imparcial e daquele olhar que realmente é o olhar que precisa ser considerado, porque não é possível que a gente fale de uma determinada camada da sociedade sem incluir essa camada da sociedade.
É importante que nós tenhamos aliados, mas é muito importante que a gente também tenha ferramentas e subterfúgios para que possamos tomar as nossas próprias decisões e a gente possa delegar da maneira correta, que a gente possa direcionar tudo da maneira como a gente acha que deve ser feito, ter o poder de decisão ter a caneta na mão é muito importante também para a gente.
Então dessa maneira a gente vai conseguir realmente transformar a sociedade a partir de um olhar não viciado, a partir de um olhar não enviesado e a partir de um olhar mais racional. Eu não digo transformar o audiovisual, mas desconstruir o tipo de audiovisual ou o tipo de cultura que a gente dissemina para a sociedade a partir do audiovisual. Então é muito importante que a gente esteja em condições e em posição de tomar essas decisões e de contar nossa própria história.
- Mudando de assunto, qual a importância dos curtas-metragens para o audiovisual nacional? Podemos dizer que funciona como uma porta de entrada de profissionais para o mercado e também do público para o cinema?
O filme de curta-metragem é muito importante, em primeiro lugar, que as pessoas possam fazer um caminho de entrada no audiovisual. Existem outros caminhos, só que quando se trata de cinema, o curta-metragem, eu gosto muito de fazer curta-metragem porque ele permite que a gente experimente. Você não tem compromisso com bilheteria, mas você tem compromisso com a essência do cinema, você tem compromisso com a experimentação, você tem compromisso com a responsabilidade de contar uma história com começo, meio e fim num tempo curto, e isso de maneira estimula e trabalha muito a nossa criatividade de forma que a gente consegue num tempo curto de filme, contar uma história emocional, trazer poesia, trazer reflexão.
Então, os filmes de curta-metragem têm esse poder e ele não é exatamente um veículo de entrada, porque ele pode ser, mas não é só isso, porque a gente vê, inclusive, outros cineastas grandes, já conhecidos, famosos, que continuam produzindo também filmes de curta-metragem, porque ele tem esse poder, ele tem essa capacidade de penetrar numa outra camada da sociedade.
A partir disso, você também pode passar a ser reconhecido, você pode ganhar prêmios, ter um certo alcance e reconhecimento com o seu nome, ele vai estar no seu portfólio, não só o próprio filme como esses prêmios também. Então, é muito importante que as pessoas olhem para isso, porque é algo que, inclusive, para quem está começando, é bacana, porque a pessoa pode fazer de qualquer maneira. Esse curta-metragem, uma história própria, uma história de terceiros, pode-se filmar com o celular, pode-se filmar de diversas maneiras, e você está ali realmente na essência do cinema, você está ali realmente fazendo um cinema de guerrilha, você tem ali a possibilidade de conhecer o cinema na sua essência.
E também, quem está começando principalmente consegue, na produção de um curta-metragem, atuar em diversas frentes ali, o que é muito importante para a formação de um artista completo, de um profissional completo de produção, de direção, de roteiro. Então, o curta-metragem permite tudo isso, mas ele é, sim, um veículo de entrada nesse mercado e que conta, inclusive, pontuação, na Ancine, e isso é muito importante para que na frente você consiga ter acesso a editais, consiga ter acesso a recursos, a fomento para continuar produzindo. Mas repito, a pontuação por si só não faz tanta diferença, mas é muito importante, é muito importante que a gente tenha ainda mais editais, que sejam direcionados, que tenham esse recorte, justamente para que a gente possa atrair outras pessoas que também comecem a produzir, né?
E que lá na frente serão pessoas bem-sucedidas, serão pessoas que vão entender melhor desse mercado, mas que principalmente vão fazer parte também desse mercado. Eu acho que também pessoas pretas precisam estar em posição de decisão na hora também de fazer as criações de políticas públicas pro audiovisual, né? De criação dos editais, de mapeamento das regiões que precisam ser contempladas com esses recursos, né? A gente precisa estender o alcance do audiovisual pra produção de pessoas em outros estados. Em outros lugares um pouco mais remotos, até pra que a gente possa também conhecer através do olhar dessas pessoas um pouco mais da nossa própria cultura, né? Um pouco mais sobre as demandas, um pouco mais sobre as necessidades daquele grupo, daquela cidade, daquela região.
Então, é muito importante que o audiovisual ocupe esse lugar e ele tem esse papel, né? Não só de incluir, mas, principalmente, de também educar. Então, o curta-metragem, ele tem esse papel importante, né? De formação de pessoas nesse mercado. E é, sim, uma porta de entrada interessante para todos.
- Sobre “Megulho”, o filme está super rodado e premiado; Quão importante é para você e os outros membros da equipe ter um filme de tanto sucesso nos festivais?
Eu posso dizer que o “Mergulho”, sendo um curta metragem, mudou completamente minha forma de ver as coisas. Quando me formei em audiovisual, desde os primórdios, quando comecei no audiovisual, na atuação, sempre tive a intenção, a pretensão de trabalhar com televisão, sempre. Meu desejo sempre foi esse, mas o cinema permeia, ele faz parte disso tudo. Ele está dentro desse mercado também. E talvez ele seja realmente a coisa mais pura desse mercado.
Num contexto mundial, o cinema surgiu primeiro. O cinema veio antes da televisão. Então eu tive a oportunidade de conhecer, apesar de já ter feito outros curtas antes, eu tive a oportunidade de conhecer um pouco mais onde o cinema pode me levar, onde o audiovisual pode me levar. E o curta Mergulho abriu portas para mim. Ele foi muito importante. Porque ele me colocou em premiações do mundo todo.
A gente esteve em premiações do mundo todo por mais que a gente não tenha ganho todas elas, nós estivemos lá. Nós rodamos, nós conhecemos, nós mostramos o nosso trabalho. Nós apresentamos o nosso cartão de visitas através desse filme. Mostramos todas toda a nossa capacidade de produção toda a nossa qualidade de fazer inclusive com pouco recurso porque esse filme foi feito com recursos próprios. Ele não foi feito com edital. Ele não tem nenhum tipo de patrocínio, ele não tem nenhum tipo de fomento. A gente fez com recursos próprios do Marton e meu. Então ele abriu portas. Ele foi muito importante e ele veio num momento importante da minha carreira. Para mim foi muito importante receber esse convite para fazer esse filme porque ele abriu portas e ele me colocou em outro patamar enquanto produtor enquanto diretor premiado. Para a equipe foi muito importante, a gente fez um filme com 95% da equipe sendo formada por pessoas pretas.
O fato de termos a nossa própria produtora, de termos os equipamentos, câmeras, ajudou com que a gente conseguisse produzir esse filme. Um filme mesmo sendo com recursos mínimos e próprios, a gente conseguiu fazer essa produção que é um orgulho para todo mundo. Na medida do possível nas premiações a gente estava sempre trazendo as pessoas que trabalharam na produção para acompanhar, para se sentir parte disso, a gente tem um grupo fechado hoje só das pessoas que trabalharam nesse projeto então assim foi um divisor de águas na vida de muita gente, principalmente a minha.
6) Existem planos para transformar o curta em longa-metragem? (Respondido por Marton Olympio)
Não, na verdade não tem não. Teve até um flerte com essa vontade de transformar em longa, mas hoje eu não tenho vontade não, tenho menor vontade de transformar em longa porque eu acho que ele é um filme que já se cabe em 5, entendeu? É um filme que já se encerra na própria ideia e já estamos seguindo aí para outros projetos.
Eu acho que não é tanto sobre o sucesso dos festivais, sucesso é reconhecimento, entendeu? Mas eu acho que fazer um filme, realizar, ver as pessoas se emocionando, eu acho que tá acima um pouco da premiação, sabe? Teve o festival, acho que a gente foi muito, muito, muito, muito, muito bem, o público reagiu muito bem e a gente não foi premiado, sabe? Teve o festival que a gente me abraçou falando assim, nossa, o seu curta é a melhor curta do festival, isso pra mim é um grande prêmio, né? Isso é um reconhecimento muito bacana.
Só queria ressaltar que o cinema salva vidas, é muito importante. Cinema é uma arte que não é democrática, é uma arte elitizada, mas é uma arte que quando ela consegue um alcance mais amplo, ela pode se tornar arrebatadora e pode efetivamente salvar vidas, transformar vidas como transformou a minha, e eu acredito que é do Anderson também.
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