29 Janeiro 2025 | Redação
Spcine completa 10 anos e mira crescimento sustentável: “Audiovisual virou um grande ecossistema e está se expandindo”
Empresa se tornou referência mundial em políticas de atração de filmagens e democratização do audiovisual
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A Spcine completou 10 anos no dia 28 de janeiro e, na celebração de uma década de existência, revisitou sua trajetória de desafios e também comemorou resultados expressivos alcançados. Em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, a presidente da Spcine, Lyara Oliveira, fez um balanço da atuação da empresa na cidade de São Paulo e também destacou a necessidade de um crescimento sustentável que contemple as novas tecnologias que estão surgindo.
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Com o objetivo de fortalecer a indústria cinematográfica e de produções audiovisuais na capital paulista, a Spcine é uma empresa estatal vinculada institucionalmente à Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de São Paulo (SMC). É inegável que ao longo de sua existência a Spcine potencializou o setor na cidade de São Paulo e os números comprovam os avanços que aconteceram. Com o Circuito Spcine, por exemplo, 32 salas de cinema em territórios periféricos da cidade ajudam a democratizar o cinema. Deste total, são 28 salas gratuitas e quatro salas com ingressos a preços populares que variam entre R$ 2 e R$ 4. A iniciativa, vale destacar, já acumula mais de 2,2 milhões de espectadores desde 2016.
Além da democratização do audiovisual, a Spcine também se tornou referência mundial em políticas de atração de filmagens e, desde 2016, a São Paulo Film Commission já atendeu 7.604 produções, transformando a capital paulista em um destino privilegiado para produções nacionais e internacionais. Lyara, inclusive, destaca ambas iniciativas como um dos principais marcos da trajetória da Spcine.
"Com certeza a criação da Film Commission e a criação do Circuito Spcine foram dois momentos marcantes nessa trajetória. A Film Commission fez avançar muito a visão e o pensamento sobre como produzir na cidade de São Paulo, como filmar a cidade de São Paulo e mostrar a cidade de São Paulo. O Circuito Spcine, por sua vez, é um programa muito específico e especial que é pensado e desenhado para a cidade de São Paulo e tem se mostrado um programa extremamente eficiente, tanto do lado de fomentar a difusão do audiovisual levando a experiência de cinema a todos os cantos da cidade, quanto do lado de levar essa experiência para o munícipe e proporcionando também acesso e democratização ao munícipe paulistano", disse.
O trabalho da Spcine, entretanto, é bem mais amplo do que a Film Commission e o Circuito Spcine sugerem, e Lyara também aponta a articulação com o governo como um grande marco nessa década de existência. Nessa trajetória de sucesso, por exemplo, foram investidos R$ 106 milhões em recursos para apoiar 718 projetos no setor audiovisual, incluindo recursos próprios, da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa e da Ancine, através do Fundo Setorial do Audiovisual. Para se ter ideia, em 2024 a Spcine executou 100% dos recursos dos editais da Lei Paulo Gustavo voltados ao audiovisual paulistano, que contemplaram linhas de apoio à produção, à capacitação, à pesquisa, à formação e à qualificação, além da realização de festivais, eventos e mostras do setor audiovisual.
"Outro marco muito importante é o início do processo de quando a Spcine iniciou as articulações junto ao governo federal para que a Spcine executasse recursos do governo federal destinados ao setor audiovisual na cidade de São Paulo. (...) tivemos um período em que essa relação não aconteceu, mas felizmente em 2024 voltamos a conseguir restabelecer essa conexão com o governo federal que é tão importante e que faz com que o fluxo de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual chegue ao setor produtivo paulista", destacou a presidente da Spcine.
Essa articulação, aliás, não se dá apenas com o governo, mas a Spcine também atua como um elo entre os mais diversos setores da produção audiovisual. O Fórum Spcine, criado em 2022 em período pós-pandemia, é prova dessa atuação. Na 3ª edição do Fórum, realizada em 2024, foram 3.500 participantes. "O Fórum Spcine começou como um momento de encontro, mas rapidamente percebemos que também é um momento muito importante e uma ação que se tornou importante para o setor audiovisual paulistano, então o Fórum Spcine se tornou um importante expoente de circulação do audiovisual paulistano e de interlocução dos profissionais e das empresas", afirmou Lyara.
Os 10 anos de sucesso da Spcine, atuando nas mais diversas frentes de democratização e expansão do audiovisual, também são refletidos em pioneirismo. Em 2021, por exemplo, a empresa lançou uma iniciativa até então inédita no Brasil: o cash rebate. "É um programa que favorece as empresas que querem vir de fora, favorece a internacionalização e se torna extremamente atraente para essas empresas porque elas recebem até 30% de retorno financeiro sobre o montante que elas comprovarem gastar aqui na nossa cidade", explicou a presidente da Spcine.
Olhando para o futuro, pensando em seguir fomentando o setor e sendo pioneira e referência mundial, Lyara destaca que a indústria audiovisual evoluiu muito na última década, e para acompanhar esse crescimento, é essencial entender o momento do mercado, mas também da sociedade em que estamos inseridos. Por isso, é inevitável desatrelar o avanço do audiovisual das questões de sustentabilidade.
"Precisamos entender o quanto essa indústria ainda pode crescer, se fortalecer e dar muitos frutos. Tanto frutos na criação criativa, ou seja, na entrega de produtos cada vez mais relevantes, cada vez mais criativos, bem produzidos e produtos que circulem internacionalmente, mas também o quanto esse setor ainda pode crescer enquanto uma indústria que gera recursos, renda e empregos. Temos que entender esse crescimento e um crescimento que seja sustentável, tanto economicamente quanto em termos ecológicos, e um crescimento que também seja inclusivo para todos os profissionais e para todos os tipos de empresas", disse.
Por fim, a presidente da Spcine destacou que desde a sua criação a empresa já estava prestando atenção em novas mídias e tecnologias para além de cinema e TV, mas que agora é essencial se adequar a uma nova realidade para continuar crescendo e fomentando a indústria. "Nosso grande desafio vai ser dar conta de tudo isso porque o audiovisual está virando esse grande ecossistema e está se expandindo. O nosso grande desafio para o futuro é seguirmos dando conta desse ecossistema gigante, diverso, múltiplo e multifacetado que é o audiovisual", encerrou.
A Spcine em números:
- - R$ 106 milhões investidos em recursos para apoiar 718 projetos no setor audiovisual desde 2015
- - R$ 53 milhões divididos em 183 projetos contemplados no ano de 2024, com 100% de execução dos recursos dos editais da Lei Paulo Gustavo voltados ao audiovisual paulistano
- - 7.604 produções atendidas pelas São Paulo Film Commission desde 2016
- - recorde de 1.168 produções atendidas pela São Paulo Film Commission em 2024
- - 32 salas de cinema no Circuito Spcine, sendo 27 salas em CEUs (Centros Educacionais Unificados) localizadas em áreas periféricas
- - 12 salas do Circuito Spcine entregues em 2024
- - Oferta de aproximadamente 800 atividades formativas que impactaram 41 mil pessoas
- - Formação de 50 profissionais em diversos países, como Chile, Estados Unidos, França e México com o lançamento do Edital de Trânsito Internacional, em 2023
- - R$ 40 milhões investidos em 2022 para atrair produções cinematográficas para São Paulo com o programa de cash rebate
- - 3.500 participantes na 3ª edição do Fórum Spcine em 2024
- - Mais de R$ 44,3 milhões investidos em 360 eventos, mostras e festivais de cinema desde 2015
Confira a íntegra da entrevista com Lyara Oliveira:
Qual o balanço que você faz destes 10 anos de Spcine?
Nesses 10 anos de Spcine, foram 10 anos em que a empresa existiu, foram 10 anos de desafios, mas 10 anos também muito frutíferos. A empresa cresceu, amadureceu, e isso aconteceu junto com o setor audiovisual paulistano. Então o que aconteceu na Spcine é também um reflexo do próprio setor audiovisual paulistano, o setor de produção audiovisual na cidade de São Paulo. Tivemos períodos de muito entusiasmo, períodos de muitos recursos, períodos de retração do setor, períodos de dificuldade, passamos pela pandemia que foi um momento muito difícil também, mas felizmente conseguimos sair desse período e continuar avançando. Continuamos evoluindo e foi assim nesses 10 anos da Spcine.
Quais foram os principais marcos nessa década de atuação da empresa?
Pensando aqui nos grandes acontecimentos e grandes marcos da Spcine, diria com certeza que a criação da Film Commission e a criação do Circuito Spcine. Foram dois momentos que fizeram avançar muito a visão e o pensamento sobre como produzir na cidade de São Paulo, como filmar a cidade de São Paulo, mostrar a cidade de São Paulo, isso no caso da Film Commission. No caso do Circuito Spcine é um programa muito específico e muito especial que é pensado e desenhado para a cidade de São Paulo e que tem se mostrado um programa extremamente eficiente, tanto do lado de fomentar a difusão do audiovisual brasileiro, do audiovisual independente e internacional, levando a experiência de cinema a todos cantos da cidade, quanto do lado de levar essa experiência para o munícipe e proporcionando também acesso e democratização ao munícipe paulistano que pode acessar esses conteúdos, que pode acessar a experiência da sala de cinema em diferentes pontos da cidade, em pontos que muitas vezes a sala de cinema está inserida em um dos pouquíssimos equipamentos culturais ou dos pouquíssimos equipamentos de educação e cultura que tem naquelas regiões.
Então é um programa muito especial e que também se tornou referência Brasil afora. Também em relação aos principais marcos, além da circuito Spcine e da Film Commission, outro marco muito importante é o início do processo de quando a Spcine iniciou as articulações junto ao governo federal para que a Spcine executasse recursos do governo federal destinados ao setor audiovisual aqui na cidade de São Paulo. Essas atividades começaram há um tempo e em 2024 foram retomadas, então tivemos um período extenso dessa conexão entre governos federais e Spcine. Tivemos um período em que essa relação não aconteceu, mas felizmente em 2024 voltamos a conseguir restabelecer essa conexão com o governo federal que é tão importante e que faz com que o fluxo de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual chegue ao setor produtivo paulistano.
Também é importante mencionar que o Circuito Spcine passou por um processo de expansão em 2024. Hoje, para além das 20 salas originais que foram implantadas, conseguimos implantar mais 12 salas, todas em CEUs e territórios periféricos aqui na cidade de São Paulo. Programas assim são importantes e entram em evidência durante um período, aí entram em um período de continuidade e depois voltam a entrar em evidência, no caso do Circuito Spcine, nesse momento de expansão. Por fim, um último marco muito importante foi a criação do Fórum Spcine. É importante mencionar que o Fórum Spcine foi criado para ser um momento de encontro do setor audiovisual paulistano pós-pandemia e que a gente queria promover um encontro do setor que estava há muito tempo afastado. As pessoas continuaram trabalhando e as produções aconteceram, mas as pessoas estavam isoladas e o setor em si estava muito carente de um momento de encontro. Quando acontece o primeiro Fórum Spcine é um momento de encontro, mas rapidamente percebemos que também é um momento muito importante e uma ação que se tornou importante para o setor audiovisual paulistano, então o Fórum Spcine se tornou um importante expoente de circulação do audiovisual paulistano e de interlocução dos profissionais e das empresas. Neste ano estamos indo para nossa 4ª edição, que será uma edição celebratória dos 10 anos da Spcine
Quais eram os principais objetivos lá atrás e quais são os objetivos de agora?
A Spcine já nasceu como uma empresa de vanguarda olhando para o futuro do audiovisual e pensando qual era aquele momento que o audiovisual estava passando e já pensando o audiovisual do futuro. Lá atrás, quando a empresa foi criada, foi criada uma empresa de cinema e audiovisual pensando que o audiovisual inclui cinema, mas também TV, games e novas mídias. Obviamente, inicialmente, a Spcine acabou focando suas ações mais no fomento e no incentivo à área cinematográfica. Mas aos poucos, as outras áreas também foram sendo beneficiadas, também foram sendo atingidas com o fomento, o incentivo e os patrocínios da Spcine. Quando a Spcine foi criada, apesar dela já ter essa vocação múltipla, o foco era um pouco mais nas questões ligadas ao cinema, a produção cinematográfica e a difusão cinematográfica. Mas rapidamente as outras áreas também foram sendo acionadas, recebendo fomentos, incentivos e patrocínios.
A Spcine é hoje referência mundial em políticas de atração de filmagens e democratização do audiovisual. Como entende o papel da empresa nessas frentes?
Somos realmente referências mas são duas questões bem diferentes. Quando falamos de políticas de atração de filmagens, é todo um complexo de atividades que são desenvolvidas para fazer com que São Paulo se torne uma cidade atraente enquanto polo de filmagens. Para isso, começamos com a criação da Film Commission e ela foi a primeira ferramenta, o primeiro mecanismo que ajudou na facilitação dos processos de filmagem em nossa cidade e tornaram a cidade mais atraente e competitiva junto a outras grandes cidades que são filmadas pelo mundo. A criação da Film Commission foi essa primeira importante ferramenta e depois, é muito importante a gente falar do fomento à infraestrutura. É importante que a Spcine esteja atenta ao fomento e ao apoio às empresas de audiovisual na nossa cidade. Fazemos isso estimulando pesquisas, conversando com o setor e tentando atender a demanda do setor. É muito importante mencionar que em 2022 a cidade de São Paulo, na gestão do prefeito Ricardo Nunes, concedeu uma redução de ISS (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) para as empresas relacionadas ao setor audiovisual e hoje essas empresas pagam um imposto mínimo, uma alíquota mínima de 2%. Então, todas as ações que são voltadas para o fortalecimento da indústria local são mecanismos, são ações que também fortalecem a atração de filmagens para a cidade.
Por fim, um terceiro mecanismo muito importante é obviamente um mecanismo de atração financeira e nós temos isso no nosso programa de cash rebate. O programa de cash rebate é um programa que favorece empresas de fora de São Paulo que venham produzir na cidade de São Paulo, seja realizando coproduções com produtoras locais ou mesmo contratando prestações de serviços das empresas locais. É um programa que favorece as empresas que querem vir de fora, favorece a internacionalização e se torna extremamente atraente para essas empresas porque elas recebem até 30% de retorno financeiro sobre o montante que elas comprovarem gastar aqui na nossa cidade. São esses três mecanismos que eu entendo que fazem com que São Paulo seja uma capital atraente enquanto destino de filmagem. A Film Commission, as nossas ações de fomento e de apoio ao setor local, e esse mecanismo financeiro que é o cash rebate.
Quais lacunas da indústria vê hoje e como a Spcine ainda pode atuar para remediá-las?
A indústria audiovisual na cidade de São Paulo cresceu e amadureceu muito durante esses 10 anos, se tornando mais profissional e muito mais competitiva. O que vemos hoje em termos de lacuna, na verdade não é uma lacuna, é entender o quanto essa indústria ainda pode crescer e ainda pode se fortalecer e dar muitos frutos. Tantos frutos na criação criativa, ou seja, na entrega de produtos cada vez mais relevantes, cada vez mais criativos, bem produzidos e produtos que circulam internacionalmente, mas também o quanto esse setor ainda pode crescer enquanto uma indústria que gera recursos, renda e empregos.
Temos que entender esse crescimento e um crescimento que seja sustentável, tanto economicamente quanto em termos ecológicos, e um crescimento que também seja inclusivo para todos os profissionais e para todos os tipos de empresas. Acredito que esse é o nosso desafio, fazer com que o setor audiovisual paulistano siga crescendo de uma forma sustentável, plena, inclusiva e profissional. Precisamos fazer com que ele siga crescendo nesta direção.
Quais são as perspectivas de futuro para a empresa?
As perspectivas de futuro para a Spcine são bastante amplas e acredito que um grande desafio vai ser dar conta desse ecossistema do audiovisual. Não dá mais para falarmos apenas do setor, mas de todo um ecossistema do audiovisual porque o audiovisual está se expandindo. Se quando a empresa começou lá atrás a gente falava de cinema e TV, mesmo já prevendo as novas mídias, mas de forma um pouco nebulosa, hoje já temos a presença das novas mídias. Temos as plataformas de streaming, a realidade virtual, a realidade aumentada e a inteligência artificial.
Tudo isso são novos mecanismos e novas tecnologias que vão continuar fazendo uso do audiovisual e da linguagem audiovisual, então vamos continuar produzindo muito audiovisual. A Spcine vai seguir fomentando a produção do audiovisual e toda a gestão desse ecossistema, mas entendendo que daqui para a frente a gente tem que pensar também em outras tecnologias que já existem e estão se consolidando, e outras que ainda estão surgindo. Nosso grande desafio vai ser dar conta de tudo isso porque o audiovisual está virando esse grande ecossistema e está se expandindo. O nosso grande desafio para o futuro é seguirmos dando conta desse ecossistema gigante, diverso, múltiplo e multifacetado que é o audiovisual.
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