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24 Janeiro 2025 | Renata Vomero

Após ano de grandes resultados, Diamond Films tem como meta consistência, consolidação e ampliação de line-up

Portal Exibidor fez entrevista exclusiva com Vinicius Pagin, diretor geral da distribuidora

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(Foto: Divulgação)

A Diamond Films entra em 2025 com objetivos de quem vive seu ponto mais alto até o momento: consistência no trabalho, line-up ampliado e diversificado e manutenção de resultados. Resultados esses que fizeram de 2024 o maior ano da história da empresa no Brasil: crescimento de 115% de público e 124% em receita comparando ao ano anterior.

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Mas os resultados não vieram da noite para o dia, e muito menos foram um golpe de sorte, pelo contrário, eles vêm na esteira de uma série de modificações na dinâmica corporativa da distribuidora, marcadas pela chegada do diretor geral Vinicius Pagin, e a partir de muito estudo, comprometimento, paciência e sem medo do risco. Com isso, a distribuidora emplacou quatro filmes entre os 50 melhores títulos do ano, com destaque para Guerra Civil, Longlegs - Vínculo Mortal, Imaculada, Terrifier 3, Beekeeper e Ferrari. Sem contar os vencedores do Oscar: Anatomia de Uma Queda e Zona de Interesse.

“O que nos deixa muito felizes com relação a 2024 é que a gente não teve uma concentração como 2022, isso é motivo de muito orgulho como grupo. Não é um resultado apoiado em um título, um fenômeno, ou algo assim, a gente tem consistência de filmes e lançamentos, em diversos tamanhos, e isso nos deixa muito confiantes com o trabalho que estamos fazendo”, ressaltou Vinicius Pagin, em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor.

E, realmente, foram 28 títulos lançados ao longo do ano e cada um deles foi trabalhado da melhor forma possível para que encontrasse seu público e pudesse ter seu potencial maximizado, característica principal da distribuidora. Ou seja, lançar cada filme sem medo do risco, da possível perda, mas trabalhando para ser o mais assertivo possível.

“A ideia do trabalho foi tentar organizar um pouco em como maximizar o nosso potencial, analisando calendário, chegando no público. Entender que vamos ter alguns grandes e outros pequenos. Isso foi um pouco da mudança de nossa postura, para sempre tentar alcançar o potencial máximo de cada um. Somos uma empresa que trabalha com line-up, uso a meu favor e não contra mim o fato de trabalhar de 25 a 30 filmes no ano, então, em um mês, posso trabalhar para tentar acertar 3 de 2 filmes ou até mesmo, nenhum, mas a empresa vai continuar saudável no mês que vem. Esse entendimento de como a gente trabalha foi a grande mudança de forma de pensar”, afirmou.

E, com isso, vem sendo trabalhado um tripé muito forte, que conta com uma programação estratégica, que busca espaços no calendário e melhores datas para lançamentos, acompanhada de um maior investimento em marketing e comunicação, alavancado pelo bom uso de dados do recente histórico dos filmes lançados.

Dessa forma, diminui-se o risco, aumenta-se a expertise em como lançar os filmes e, mais ainda, amplia o entendimento de como é esse público de cinema de agora, que tem um perfil bastante específico e mais faminto por filmes originais, independentes e que se diferenciam dos enlatados Hollywoodianos.

“Chegou um grupo que pré-pandemia tinha entre 12 e 15 anos, hoje tá no início dos 20 anos ou menos. Essa pessoa tem hoje um hábito de consumo muito mais diversificado por conta dos serviços que têm na casa dela. [...]Esse público que aprendeu a ver filme turco, espanhol, série alemã, conteúdo coreano, começa a buscar linguagens, histórias e até pessoas diferentes, com isso começa a se abrir uma oportunidade de mercado que estava acabando no pré-pandemia”, comentou.

Dito isso, a partir de todo esse entendimento de público, o histórico acumulado de títulos e aprendizados e o momento propício de mercado, a Diamond se prepara para ampliar seu line-up em 2025, com objetivo de entregar consistência e manutenção de resultados. 2025 é um ano de consolidação.

“Para 2025, a ideia que a gente tem é que seja um ano de continuidade do nosso crescimento. Crescemos em mais de 100% em 2024, queremos olhar para uma manutenção de patamar. Estamos olhando para continuar em um cenário que a gente continue entregando resultados consistentes”, reforçou.

Ainda podendo adquirir novos títulos durante o ano, as apostas da Diamond para 2025, neste momento são (as datas podem ser alteradas):

Conclave: com oito indicações ao Oscar e a estreia desta cine-semana (23 de janeiro)

Better Man - A História de Robbie Williams: estreia em 6 de março

Nas Terras Perdidas: previsão de estreia em abril

Na Zona Cinzenta: previsão de estreia em maio

A Vida de Chuck: previsão de estreia em agosto

Deep Water: previsão de estreia em agosto

The Smashing Machine: sem previsão de estreia

ZOOpocalipse - Uma Aventura Animal: previsão de estreia em outubro

Greenland 2: previsão de estreia no último trimestre

Com isso, a expectativas para o ano são:  “A ideia é manter uma consistência, 2023 foi para organizar a casa, em 2024 foi tentar aproveitar os espaços e mostrar o trabalho e 2025 é para mostrar que não foi um espirro, não foi sorte, não é apenas uma onda, não foi sem querer, que estamos trabalhando com consistência”, concluiu. 

Confira a entrevista na íntegra:

A Diamond teve um ano de 2024 bastante marcante, sendo tratado como o melhor da história de vocês, com crescimento de mais de 100% em renda e público. Qual o balanço que fazem deste ano?

Em público a gente cresceu 115% e 124% em receita comparando ao ano anterior. Para a Diamond é o maior ano de sua história no Brasil, tanto em público quanto em renda. A gente tinha 2022 como nosso maior ano, em que tínhamos a maior parte de ingressos e receita concentrados em “Órfã 2”, ele ainda é o maior resultado da empresa, foi ali na Semana do Cinema, sendo o único lançamento inédito daquela semana. Hoje em dia você vê dez ou 12 títulos disputando espaço na Semana do Cinema, aquela foi a melhor e “Órfã 2” foi o melhor lançamento também dessas ações até agora. Aquele foi um ano muito especial para a empresa, em 2024 fechamos com 4,5 milhões de pessoas, contra 3,9 milhões em 2022, foi um crescimento de público razoável, na casa dos 20%. Só que o crescimento de receita é de quase 50%, a gente sai de R$60 e poucos milhões, para quase R$93 milhões de bilheteria. O que é um resultado muito bom para a gente, estamos muito felizes com isso. Tem outro elemento legal para nós do Brasil, a Diamond foi muito bem em todos os mercados, mas o Brasil teve a melhor performance de todos os escritórios da Diamond. A gente olha para o lado e vê que o resultado dos filmes impulsiona também, mas temos um tempero nosso aqui.

2024 foi um ano muito bom, a gente teve uma boa leitura de mercado. Nossos dois melhores filmes saíram nos dois piores meses do ano, considerando o cenário. A gente tem um cenário de mercado, e todos sabem disso, lidamos com isso com tranquilidade, que tem uma questão de distribuição de espaço, quantidade de espaço. Quando a gente sente que há espaço, a gente consegue contribuir mais. Então, em momentos de alta concentração, a gente acaba tendo ou mais dificuldade ou nem lançando o filme. A gente tem que escolher nossas melhores possibilidades de composição de tudo. Fomos muito felizes em conseguir olhar o calendário e conseguir compor uma programação em um cenário em que tivemos lançamentos que foram meses depois do mercado americano e, que em comparação, foram muito melhores, então, têm algumas coisas que a gente conseguiu fazer pensando estrategicamente onde posicionar os 28 lançamentos do ano e conseguimos fazer uma distribuição muito boa.

E o que nos deixa muito felizes com relação a 2024 é que a gente não teve uma concentração como 2022, isso é motivo de muito orgulho como grupo. Não é um resultado apoiado em um título, um fenômeno, ou algo assim, a gente tem consistência de filmes e lançamentos, em diversos tamanhos, e isso nos deixa muito confiantes com o trabalho que estamos fazendo. E foi o que eu disse em outro evento, a Diamond deixa de ter um patamar de fazer dois milhões de ingressos em um ano, para ir fazer quatro milhões, mas de forma consistente. Quando surgir o novo “Orfã”, sabe-se lá que filme vai ser, a gente vai para um cenário de seis ou sete milhões de ingressos, acredito que temos line-up para isso. Mas antes precisamos estruturar e entender o mercado, que segue em constante mudança.

Mas no geral, em 2024, temos um cenário que segue com essa ideia de consolidação de um novo momento, desde a minha chegada em 2023 a gente mudou bastante de estrutura e processos, continuamos contratando pessoas. O time é basicamente o mesmo que a gente tinha, algumas peças novas foram adicionadas, mas foi muito de mudança de postura perante o line-up. Um benefício que é do grupo, a mudança de perfil de aquisições, que aconteceu em meados da pandemia, fez com que a gente tenha filmes mais comerciais, mais originais. A gente está vivendo um mercado, se formos olhar há cinco anos, bastante diferente do pré-pandemia, o mercado independente está se colocando em outro lugar, então, conseguimos aproveitar esse cenário.

Então, 2024 foi uma composição de três elementos muito evidentes, uma questão é: a gente soube aproveitar o cenário, os efeitos das greves de 2023, que fizeram abrir um espaço que a gente conseguiu encontrar. Outro ponto é o efeito das aquisições dos últimos anos, a gente tinha um line-up diversificado para levar ao mercado; e o último é o crescimento do investimento em comunicação e marketing. Estamos trabalhando para fazer melhor, mas estamos investindo muito mais. Acho que o resultado é reflexo disso também. O independente tem um trabalho difícil e fico muito orgulhoso, quando olhamos para o lado e vemos filmes com o mesmo perfil, que são filmes originais, não baseados em nenhuma propriedade intelectual, que é o perfil do mercado independente em sua maioria, distribuídos por diversos distribuidores, estamos fazendo trabalhos muito legais.

Foi um ano muito feliz para a gente.

Você está falando dessa diversificação de line-up e a importância disso para o ano. Quais títulos de 2024 você destacaria?

Os filmes que tiveram os melhores resultados. Obviamente, “Guerra Civil” foi o maior do ano para nós, havia uma expectativa muito boa e conseguimos entregar um ótimo resultado. Era um filme que não era fácil vender, a gente sentiu o calor do ambiente. Ainda assim, fizemos um excelente resultado naquele período do mês de abril, que é péssimo para a indústria. Talvez uma das maiores surpresas do ano foi o “Longlegs”, nosso segundo melhor filme do ano, se você fosse me perguntar no início do ano passado, eu provavelmente não iria citá-lo como um dos principais. É um trabalho contínuo de aproveitar o momento, entender o ambiente, é um grande destaque. Olhando o contexto foi um ano excelente em terror, tivemos também o “Imaculada”, que apostamos bastante e investimos bem, diferente dos outros dois, ele entrou em um momento bastante competitivo, um pouco antes das estreias de junho; e o próprio “Terrifier”, que a gente conseguiu crescer bastante com relação ao segundo filme, ele se tornou um ícone e a gente trabalhou muito para aproveitar, de novo, o mercado independente é raro ter uma franquia, então, além disso, ter esse ícone para trabalhar, foi muito legal. A gente aprendeu muito com “Fale Comigo”, em 2023. A gente bebeu muito nessa água também.

Uma coisa interessante de falar, e é legal de ver essa mudança de comportamento, dos nossos cinco filmes de melhor público, todos foram com classificação para maiores de 18 anos. Que, sabemos, é super restritivo, tem uma parcela considerável do público que é menor de idade.  Essa é uma questão que nos impactou negativamente, a gente sabe que tem um público que deixa de comprar o ingresso. É um cenário que contando com o line-up diverso que tivemos, se fosse uma classificação indicativa melhor, poderíamos ter conquistado números ainda melhores. Claro que filmes de terror têm elementos que eles proíbem, fiz um levantamento, e em 2024 teve 51 filmes com classificação 18 anos, é o mesmo número somando 2017, 2018 e 2019. Então, houve alguma modificação, em 2021 teve uma nova publicação da portaria [do Ministério da Justiça], em que houve uma mudança na forma de enxergar o filme para maiores, mas algo não está certo. Precisamos olhar para isso e do ponto de vista comercial também impacta. Tem muito filme que talvez fosse um pouco demais.

Vocês vêm consolidando um tripé bastante importante dentro da empresa, conectando boas campanhas de marketing, uma programação assertiva e investimento em análise de dados. Como analisa essas frentes da empresa e o que esperar da atuação da Diamond em 2025?

Toda distribuidora é uma empresa de marketing essencialmente, a gente está vendendo um filme. A grande diferença do nosso mercado para qualquer outro, é que a gente constrói as coisas do zero. Quem vende suco de laranja, é o mesmo produto o ano todo. Para a gente, muda muito lançar um filme em uma data X ou Y tendo como concorrente A, B ou C. A avaliação do ambiente em que a gente está inserido é fundamental, se eu pude contribuir em algo aqui, além das mudanças de processo, é eliminar o efeito do medo do risco, a gente não vir com o “se não der, vamos perder muito”, a gente tenta trabalhar muito para entender o ambiente contido, para não ter nenhum entendimento errado do tamanho do filme e sua expectativa. Trabalhamos para que o filme tenha o melhor desempenho possível e para que a gente “não perca”. É uma mudança que implementei quando cheguei, é a forma que a gente trabalha, para maximizar os filmes que a gente tem, seja um filme de tamanho pequeno, seja grande, é fazer o melhor para aquele filme.

É maximizar o entendimento dos produtos, com os 30 filmes por ano, preciso achar um cenário que não atrapalhe a mim mesmo e esse é o nosso maior desafio, os independentes são ativados pelo mercado americano e são filmes de “n” players em que acontece de lá fora saírem no mesmo fim de semana. Isso se transforma num complicador para a gente, o mesmo para os filmes de premiação, que o mercado lança perto das premiações, temos quatro este ano, fica um amontoado. Isso nos obriga a olhar dentro da margem que temos e encaixar esse quebra-cabeças. É um pouco entender isso.

Quando a gente olha cenário de data e calendário, é preciso pensar em como falar com as pessoas, então, reestruturamos quase tudo em termos de comunicação. A gente usava terceirizados e incorporamos tudo internamente no que diz respeito à agregação de informação, porque não fazia sentido a gente não ter esses números, precisamos aprender com essa informação. Preciso que esses dados sejam meus para construir a inteligência em torno disso, a gente precisava construir um histórico, temos agora quase dois anos, conseguimos ter dados na nossa comunicação e assertividade. Ainda mais que nossa campanha em cinema é super curta, são dez ou quinze dias, então nossa velocidade de manobra é pequena, se não acompanho os dados é jogar para o alto e esperar acertar em algum lugar. A ideia do trabalho foi tentar organizar um pouco em como maximizar o nosso potencial, analisando calendário, chegando no público. Entender que vamos ter alguns grandes e outros pequenos. Isso foi um pouco da mudança de nossa postura, para sempre tentar alcançar o potencial máximo de cada um. Somos uma empresa que trabalha com line-up, uso a meu favor e não contra mim o fato de trabalhar de 25 a 30 filmes no ano, então, em um mês, posso trabalhar para tentar acertar 3 de 2 filmes ou até mesmo, nenhum, mas a empresa vai continuar saudável no mês que vem. Esse entendimento de como a gente trabalha foi a grande mudança de forma de pensar.

Se olhar minha trajetória aqui, entrei em abril, até “Fale comigo” foi um cenário muito de entender, de testar, entender resultados e potencial. Até hoje a gente trabalha um pouco assim, porque testes em nosso mercado são constantes, as variáveis mudam muito em cada lançamento, é difícil isolar o efeito. Mas com o tempo você vai diluindo os pontos fora da curva e começa a perceber algumas tendências e aí você começa a aprender sobre o que funciona e a coisa vai rodando.

Como você disse, a Diamond conta com filmes independentes, que não são, em sua maioria originais, não fazem parte de franquias ou IPs. Como avalia o cenário para este perfil de filme e também o espectador deste momento atual?

A gente pode dividir em duas personas diferentes. Existe uma geração que envelheceu no cinema, que tinha entre 25 e 30 anos antes da pandemia e hoje está entre 35 e 40 anos, e que muda seu comportamento de consumo. É um público que está acostumado com o modelo tradicional de cinema, em um mercado que estava se concentrando em apenas alguns títulos, que desde 2010 mais ou menos foi se afunilando em menos títulos. Aconteceram diversos efeitos simultâneos, ou quase juntos, a pandemia, o fim do VPF, a digitalização completa, o surgimento de diversos streamings, a compra da Fox pela Disney, tudo isso aconteceu tudo no mesmo período. O que foi que causou o que? Não dá para saber. Mas o mix disso tudo nos trouxe onde estamos. Para a Diamond, a gente olhando esse mercado, viu que existia muito mais clientes do que antes, logo, tenho mais chance de ser um player relevante para esses clientes. Então, preciso me preparar, preciso adquirir conteúdos.

Além disso, é uma empresa que está no mercado há muitos anos, então, tinha 20 e tantos anos de catálogo acumulado, no momento das consolidações das plataformas, a Diamond foi um player que teve como oferecer para a América Latina uma oferta muito boa para quem tivesse necessidade de catálogo e conteúdo. Entendemos essa oportunidade e estamos aproveitando até hoje essa leitura de ambiente. A partir disso, você se capitaliza e, ao se capitalizar, você começa a adquirir mais produtos e mudar o perfil daquilo que está comprando ou você começa a comprar mais e ganha mais chances de acertar a partir disso.

Tudo isso vem acompanhado de uma mudança de ambiente, em que aconteceu um monte de coisa ao mesmo tempo, junto a uma nova geração de pessoas que chegou. Chegou um grupo que pré-pandemia tinha entre 12 e 15 anos, hoje tá no início dos 20 anos ou menos. Essa pessoa tem hoje um hábito de consumo muito mais diversificado por conta dos serviços que têm na casa dela. Eu vi o Marcelo [Lima] falando em entrevista que o streaming e o cinema se retroalimentam e eu concordo com isso. Tem pesquisas que apontam isso, porque é algo que a pessoa gosta. Esse público que aprendeu a ver filme turco, espanhol, série alemã, conteúdo coreano, começa a buscar linguagens, histórias e até pessoas diferentes, com isso começa a se abrir uma oportunidade de mercado que estava acabando no pré-pandemia. Onde isso muda? No número absoluto. O filme médio fazia 700 mil, 1 milhão ou 1 milhão e meio de ingressos, esse filme vai fazer agora 250 mil, 350 mil ou 400 mil, mas existe esse cenário, existe este comportamento. O que acho que aconteceu, ao meu ver, é que esse público que chegou ainda não é suficiente, em volume, para substituir o público que saiu e que estava acostumado a ir ao cinema ver os grandes blockbusters, mas que hoje fica em casa, porque boa parte desses grandes blockbusters não fala mais com ele. No nosso mercado, no pré-pandemia, a gente não vendeu 1 ingresso por habitante, não chegamos a isso.

Tenho uma crença muito grande que tem um público de pessoas que vai ao cinema e um público que quase não vai, esse segundo público é muito mais difícil de pegar. O público que vem 3x ao ano, se ele vier em uma quarta vez, a gente muda esse mercado. E é para isso que temos que olhar, para a recorrência, o contato, a criação de comunidade, isso faz com que o modelo de negócio consiga mudar e hoje a gente pode participar dessa conversa.

Hoje o Letterboxd existe, há pouco tempo não existia, ali existe uma comunidade e é preciso acompanhar.  Sempre houve o FOMO, a necessidade de participar da conversa, o que muda é a volumetria. Nosso mercado está em processo de recuperação gradual, já disse isso algumas vezes, mas o mercado independente já teve em torno de 25-30% de market share, incluindo cinema nacional. Enquanto a gente não trabalhar para que a diversidade favoreça a indústria, vai ficar concentrando cada vez mais no filme grande na semana e você diluirá menos o seu risco, se este filme não for bem, o mercado não vai também.

Aí a gente tem oportunidade de crescimento, temos que ver como que a indústria, pensando que temos um mercado de exibição muito pulverizado, mas é preciso a indústria se entender e entender que há semanas em que outras oportunidades e outros projetos podem contribuir. O que acontece hoje é uma reação e não uma atitude proativa, é preciso ir testando e mostrando que está dando certo, mas até aí muitos títulos já passaram. É uma mudança de ambiente que a gente está inserido.

Acredito muito nessa geração nova, que está vendo filme nacional em TikTok, conhecendo grandes clássicos do cinema em outras plataformas e começam a ter repertório para querer ver Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, por exemplo. No passado este tipo de filme não entrava na discussão, é só ver a mudança de perfil de filme nas premiações. Não é a cara do começo dos anos 2000. Há uma mudança de ambiente. Na Diamond a gente está em dois cenários, um de aquisição muito forte, em que a gente olha esse ambiente e vê que há mais vazão, mas tentando sempre reforçar o compromisso com a janela cinema, do nosso lado mostramos que têm espaço para dar certo na sala escura.

Dito isto, quais são as apostas da Diamond para os cinemas em 2025?

Temos vários projetos que vamos olhar com atenção ao longo do ano, é difícil para falar o line-up completo, porque nos mercados ao longo do ano a gente compra muita coisa. Então, em novembro nós adquirimos 12 títulos para a América Latina no AFM, são todos filmes novos, a maioria para 2026 ou 2027, mas tem coisa que sai este ano. Isso vai acontecer agora em Berlim, em Cannes, e por aí vai. Mas posso listar já dez filmes diferentes que, ao longo do ano, vamos fazer grandes investimentos, estudar o cenário, programar na melhor data possível. Começamos com “Conclave” nesta semana, tínhamos previsto para o ano passado e entendemos que tinha alguma coisa, estamos esperando as indicações do Oscar, que vão acontecer na data de estreia do filme, e acho que isso vai ser bom para a gente. Dublamos o longa ser o mais democrático possível, estar em todas as praças e tirar isso de que o filme do Oscar só é legendado e entra em poucas cidades. Vamos ampliar um pouco esse contexto. Começamos muito forte com ele, com boas expectativas. É um ano bem competitivo, mas temos muita confiança no produto e no projeto.

Mais adiante vem um filme que estamos vendo a carreira fora, mas entendemos que tem aqui uma oportunidade de fazer melhor para que o filme seja maior, que é “Better Man - A História de Robbie Williams”, vamos investir muito nele. É um puta filme! A gente acha que o fato de não ser um ator, ser um macaco em CGI, favorece o filme. A gente vai trabalhar muito nele para lançar agora em março, o longa já é uma ferramenta de vendas muito boa, ele se vende sozinho. O que a gente precisa fazer é mostrar, temos muita coisa preparada para isso.

Depois, em abril, temos uma grande aposta de comunicação e marketing que é o “Nas Terras Perdidas”, baseado no conto de G. R. R. Martin, criador de Game of Thrones. É um filme de ação com fantasia, então, tem esses elementos fantásticos, com seres mágicos em um ambiente pós-apocalíptico, meio Mad Max. Com Milla Jovovich e Dave Bautista, dirigido por Paul W. S. Anderson, responsável por Resident Evil. Temos uma confiança boa nele também.

Ainda em ação, mas mais para frente, ainda estamos esperando a data americana, mas deve entrar no segundo trimestre mesmo. É o novo filme do Guy Ritchie, “Na Zona Cinzenta”, com Jake Gyllenhaal, Henry Cavill, é um buddy comedy, que volta às origens do diretor. Temos o filme que ganhou o prêmio de Toronto, o “Life of Chuckie”, baseado no conto de Stephen King, dirigido por Mike Flanagan e protagonizado por Tom Hiddleston. A história é excelente,  não à toa ganhou o prêmio do público em Toronto. É uma história que não é de terror, embora seja do Stephen King, mas tem um elemento fantástico. Vai ser lançado pela Neon, confiamos muito no trabalho deles.

Olhando para a frente, temos o “Deep Water”, que é um filme de catástrofe. Um avião que cai no meio do mar e as pessoas precisam sobreviver. Mais para outubro temos o “Smashing Machine”, uma biografia com o Dwayne Johnson e Emily Blunt, do mesmo diretor de Joias Brutas. Um filme que o Dwayne Johnson abraçou, comprou os direitos e está entusiasmado demais, é o veículo dele para chegar no drama. O longa tem um investimento alto, cerca de US$70 milhões e lá fora foi vendido para a A24.

Também em outubro temos a animação “Zoopocalipse”, a gente está com ela e a data americana é no início do ano. A gente quer pegar o dia das crianças e Halloween, que tem tudo a ver. Estamos a ponto de confirmar a nova data, mas é um filme que a gente acredita muito, a animação independente é algo que está bem adormecido. É de dois diretores que trabalharam com o Carlos Saldanha na Bluesky. Estamos muito ansiosos para poder trabalhar nesse filme.

Para fechar essa lista, eu diria o “Greenland 2”, que temos um desafio muito grande, porque em português lançamento como O Desafio Final e agora vem o dois (risos). A gente vai ter que pensar sobre isso! Foi um filme que funcionou muito bem na pandemia, foi muito importante na reabertura do mercado. É uma sequência com mais de US$50 milhões de orçamento. É um filme de luta contra o tempo e catástrofe. Confiamos muito nesse filme.

Estamos confiantes de, além de tudo o que falei, termos os filmes do final do ano e mais os dos festivais que vamos adquirir ao longo do ano. Temos bastante coisa para trabalhar, esse é um pouco do nosso perfil de trabalho. O que gosto desses projetos é que eles possuem elementos que podem atingir um público bom, razoável, grande e a gente vai trabalhar para atingir os maiores públicos possíveis. Então, é entender um pouco mais esse ambiente, oferecer ao mercado e ao público final opções de entretenimento que podem ou gerar algum tipo de conversa ou gerar um programa legal entre a família e os amigos. Esse é um pouco do nosso modelo de trabalho.

Para 2025, a ideia que a gente tem é que seja um ano de continuidade do nosso crescimento. Crescemos em mais de 100% em 2024, queremos olhar para uma manutenção de patamar. Estamos olhando para continuar em um cenário que a gente continue entregando resultados consistentes. Começamos muito bem com “Babygirl” e acho que essa é a tendência do ano, muitos projetos, muitos meses com vários títulos nossos, mas sempre aproveitando ao máximo o potencial de cada um deles, de acordo com seus públicos e tamanhos.

E quais são as expectativas para 2025?

A expectativa é de continuar o crescimento. Queremos ampliar um pouco o número de títulos lançados, estamos em 28, passando dos 30 já confirmados para este ano, claro que depende das datas americanas, possibilidade de premiações. A ideia é manter uma consistência, 2023 foi para organizar a casa, em 2024 foi tentar aproveitar os espaços e mostrar o trabalho e 2025 é para mostrar que não foi um espirro, não foi sorte, não é apenas uma onda, não foi sem querer, que estamos trabalhando com consistência.

Acreditamos que com a quantidade de projetos que a gente tem, trabalhando cada um, investindo mais e fazendo boas escolhas, obviamente, entendendo os espaços e contextos que a gente tem no mercado, a gente possa continuar crescendo. O mercado tem espaço para esse crescimento, então, não acho que é devaneio pensar nisso e ter uma participação de mercado um pouco maior.

Desde a pandemia, acho que 2025 é o único ano redondo, limpo, sem greves ou outras questões…

Tem duas coisas aí, por um lado é muito tudo o que você disse, é um ano sem “veja bem”, sem asterisco, por outro lado é um ano de muita responsabilidade justamente por conta disso. Então, é trabalhar para virar independente de tudo.

Nossa postura é entender o que tem de diferente e não ser ultradependente de um line-up, “ah mas esse aqui é difícil”, o negócio é potencializar o que tem. Uma atitude do mercado mais proativa, com mudança de postura é fundamental, do produtor ao exibidor, para que a gente não fique em dezembro lamentando porque não teve um grande hit. Temos muitos elementos positivos que nos ajudam, um público novo interessado em coisas diferentes, franquias grandes voltando, temos o cinema nacional extremamente aquecido, então, é aproveitar isso daí e trabalhar para que se mantenha. É uma postura importante da gente como indústria, de entender o mercado, o ambiente, para que a gente tenha um 2025 bom e que 2026 seja ainda melhor e por aí vai. Claro que não depende só do Brasil e das empresas daqui, mas é um cenário em que a gente precisa de fato trabalhar para que essa melhora contínua venha e estamos aqui trabalhando para isso. 

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