13 Dezembro 2024 | Redação
"O Auto da Compadecida 2" mantém elementos clássicos de Suassuna para conquistar público: "Precisamos voltar a gostar do Brasil"
Nova produção mantém humor, críticas sociais, fé e religião, características marcantes das obras de Ariano Suassuna
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Depois de 25 anos, um dos maiores clássicos do cinema nacional estará de volta às telonas com O Auto da Compadecida 2 (H2O Films), que estreia em 25 de dezembro. Desta vez, sem a obra original de Ariano Suassuna para guiar o roteiro, os diretores Guel Arraes e Flávia Lacerda se apoiaram em pilares marcantes do trabalho do escritor, como humor, religião e crítica social, para retratar o Brasil de forma descontraída e também resgatar o orgulho de ser brasileiro através da cultura. Para entender melhor a construção dessa aguardada sequência, o Portal Exibidor participou de uma coletiva de imprensa com o elenco do novo filme e o diretor Guel Arraes.
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O primeiro filme foi um sucesso absoluto, levando cerca de 2,2 milhões de espectadores aos cinemas e, na nova obra, Guel enxerga um momento parecido do país, precisando de alguma forma resgatar o orgulho de ser brasileiro através de suas próprias histórias.
"Estamos em um momento que o Brasil está muito fragilizado e muito esculhambado, é um país que nos deixa perplexos. Sempre quando nos sentimos tão perdidos, acho que a cultura é um negócio que nos dá chão e nos sustenta. Esses personagens [do filme] falam com o Brasil inteiro e a cultura é um dos pontos de afirmação que temos. Esses personagens eram um instrumento muito bom para falarmos disso de uma maneira leve e bacana. A gente precisa voltar a gostar do Brasil para voltar a entender o Brasil, porque acho que não estamos entendendo. Aí juntamos esse nosso prazer e emoção pessoal com a história desse filme com essa quase missão de fazer o novo filme", destacou o diretor.
Enquanto o primeiro filme, que conta as aventuras do pobre e mentiroso sertanejo João Grilo, interpretado por Matheus Nachtergaele, foi baseado na premiada peça Auto da Compadecida que foi originalmente escrita em 1955, o segundo filme mostra o retorno de João Grilo à pequena Taperoá depois de 20 anos desaparecido.
A produção mostra o reencontro de João com seu velho amigo Chicó e o sertanejo sendo recebido como uma celebridade após ressuscitar. Em O Auto da Compadecida 2, João Grilo é disputado como principal cabo eleitoral pelos dois políticos mais poderosos da cidade e, tentando ganhar um dinheiro, as coisas saem diferente do planejado e João Grilo acaba sendo alvejado por um cangaceiro. Durante a coletiva, Selton Mello, que dá vida a Chicó, falou sobre o reencontro com o amigo de maneira descontraída.
"Quando vi o Matheus pronto e quando ele colocou o dentinho torto, que é como se fosse a cueca vermelha do Superman, olhei aquilo como milhões de brasileiros vão olhar e falei que era o João Grilo. Depois era só fazer e brincar. Era só se divertir e nos divertimos e nos emocionamos porque quando a gente se diverte e se emociona, consegue divertir e emocionar", disse o ator.
Matheus Nachtergaele ainda destacou que João Grilo e Chicó mudaram as vidas dele e do amigo Selton e, concordando com Guel Arraes sobre os elementos da cultura brasileira, comparou os personagens do filme com personagens do folclore brasileiro. "Guel e Ariano nos deram os maiores personagens cômicos da dramaturgia brasileira. Esse presente foi se estendendo por 25 anos porque depois da estreia d'O Auto a gente foi jogado como palhaços dentro do coração de cada brasileiro. Todos os sorrisos que recebemos na rua, Selton e eu, é um pouco para João Grilo e Chicó. Essa é uma dádiva que se estende para nós há 25 anos e há 25 anos João Grilo convive comigo diariamente. Quando aconteceu esse pequeno milagre de a gente poder vestir de novo esses personagens e heróis brasileiros me enchi de medo e responsabilidade para continuar esse trabalho. João Grilo e Chicó são um pouco míticos como saci-pererê e curupira, como Iara e mula-sem-cabeça, então são personagens de todo mundo", disse.
A nova produção traz uma estética visual que remete a um tom fabular e teatral, não deixando de lado a atmosfera criada por Suassuna, com muitos elementos arraigados em sua literatura como humor, crítica social, amizade, fé, religião, injustiça social e luta pela sobrevivência. Para Guel Arraes, um dos principais desafios, inclusive, foi criar a nova história como se fosse o próprio Ariano Suassuna escrevendo e, para isso, alguns pilares eram inegociáveis.
"Mantivemos coisas básicas que são os personagens fieis aos originais e também tinham alguns pilares que a gente meio que escreveu na parede que não poderiam faltar, uns quatro ou cinco itens. Tinha que ter o patrão e o empregado, a religião oficial e a religião popular, por exemplo, e sem saber qual era essa história que a gente ia contar ela tinha que passar por esses pilares porque é a mensagem social da obra e acho que conseguimos cumprir isso", explicou o diretor.
Por fim, Nachtergaele reforçou que os pilares clássicos da obra de Suassuna são pilares para a construção do que é a brasilidade, reforçando o resgate da cultura nacional citada por Guel Arraes no início da entrevista. "O Auto da Compadecida, entre todas as obras do Ariano, é a que é mais uma escada para se achar uma brasilidade. Assim como você se apoia em Machado de Assis para ser brasileiro, coloca a mão no Caymmi para ser brasileiro, coloca a mão nos Novos Baianos para ser brasileiro, você vai montando com Caetano, Gil, Fernanda Montenegro e alcançando alguns degraus para formar uma brasilidade. Acho que O Auto da Compadecida foi isso nos anos 50 quando estreou, depois foi isso no audiovisual, e agora temos a chance de dar mais um passo que tem a ver com celebração e amor", encerrou.
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